O COI e sua tentativa de lei da mordaça
Erich Beting
O Comitê Olímpico Internacional (COI) finalmente divulgou as regras para o uso de mídias sociais pelos atletas que participarão dos Jogos Olímpicos de Londres, no ano que vem. E, mais uma vez, o comitê escorrega ao tentar se relacionar com a internet.
Desde o ano 2000 que o COI tenta entender melhor como usar a internet para ampliar a divulgação dos Jogos Olímpicos. E, desde aquela época, o comitê patina em diversas iniciativas. A melhor mostra disso foi agora, com a decisão que impede os atletas de fazerem menção a patrocinadores pessoais nas redes sociais durante a realização do evento em Londres.
O argumento do COI é que, ao fazer isso, ele protege a propriedade de seus patrocinadores. Uma marca que não paga para estar nos Jogos, na lógica da entidade, não se beneficia da exposição que é dada por uma altleta que disputa o evento.
Na prática, o que o COI faz nada mais é do que aplicar para a internet e, especificamente, para as mídias sociais e sites dos atletas, a mesma regra que utiliza para o evento.
Os Jogos são do COI, e dessa festa participa quem o comitê quer. Não pagou para estar nela? Simplesmente você não pode entrar.
Dentro dos locais de Jogos, concordo que é assim mesmo que tem de funcionar. Afinal, esse é o melhor jeito de assegurar a proteção para quem pagou para estar associado ao comitê e às Olimpíadas.
Mas sites, twitters, blogs, facebooks e afins não compõem o ambiente do evento. Eles são mídias pessoais dos atletas. É o mesmo que o comitê impedir que um jornal, uma TV, uma rádio, uma revista ou um site exponham uma marca concorrente ao patrocinador do COI em suas coberturas do evento.
Na tentativa de coibir o mau uso das mídias sociais, o COI parte para a mais tosca solução, que é simplesmente proibir qualquer uso das redes. Para uma entidade que tenta, a todo custo, manter-se próxima do jovem, esse é o tiro mais errado que se pode dar.
O jovem, hoje, não consome só a TV, só a internet, só o jornal, só o rádio ou só a revista. Ele consome tudo ao mesmo tempo. Liga a TV para assistir e usa a conexão do celular ou do próprio computador para comentar no Facebook ou no Twitter aquilo que está vendo ao vivo.
Esse é o maior barato das redes sociais. O torcedor compartilha com tudo e todos o que acompanha em outra mídia. E o atleta é a parte fundamental para fazer essa conexão. O fã quer saber o que o ídolo pensa, faz, vive.
A mídia social é, hoje, o caminho para alcançar os jovens. Ao promover a mordaça, o COI simplesmente abre mão de falar com o consumidor do futuro de seu evento. Em vez de proibir, seria muito mais prático criar regras de conduta para o uso das redes sociais pelos atletas.
Um exemplo? Ele não pode associar o seu patrocinador aos Jogos, em hipótese alguma. Ou, ainda, ele só pode postar mensagens quando não estiver num dia de disputa (o que pressupõe ele usar as redes sociais nos períodos de descanso).
Mais uma vez o COI teme o novo. E isso, no futuro, pode ser fatal para o processo de aproximação dos Jogos Olímpicos com o jovem.