Negócios do Esporte

Arquivo : julho 2011

A necessidade de o futebol falar com todos os públicos
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Erich Beting

O Corinthians comercializa para o torcedor o direito de jogar na Fazendinha por R$ 900. O Vasco lança um relógio que custa R$ 899. As ações, para ficar nas duas mais recentes entre os clubes brasileiros, mostram uma realidade muito interessante do marketing no futebol.

Talvez nenhuma empresa no mundo tenha de ser tão diversificada para atender ao seu consumidor como é o futebol. Coca-Cola e McDonald’s, dois exemplos de companhias que teoricamente atendem todos os públicos, na essência não precisam, necessariamente, oferecer produtos para consumidores que vão das classes A até E.

Mas com o futebol isso não acontece. Um torcedor da classe E tem o mesmo direito de consumir o clube de um da classe A. Daí a discussão sobre o futebol ter de falar com todo tipo de público.

Com a profissionalização da gestão dos clubes, a tendência é de que os clubes comecem a buscar diversificar a oferta de produtos e serviços para os diferentes tipos de público que consomem o clube. Invariavelmente o preço do ingresso para os jogos será artigo de luxo, enquanto produtos licenciados e transmissão mais barata pela TV serão as ofertas para o torcedor com menor poder aquisitivo.

Uma Coca-Cola é um produto que pode ser consumido pelas classes A, B e C. As classes D e E aspiram, muito mais do que consomem. Um time de futebol não pode se dar ao luxo de não ser consumido pelo torcedor.

A boa notícia é que os clubes no Brasil começaram a se dar conta disso. Existem diversos tipos de consumidores para o futebol. E os times precisam oferecer serviços para todos eles. O marketing está cada vez mais dentro de campo. Para o cenário ficar melhor, porém, é preciso que os clubes conheçam cada vez mais quem é o seu público.


Santos e Fla: o jogo que justifica nossas escolhas
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Erich Beting

Geralmente não discuto, aqui, o esporte na sua essência. Mas depois do que vi e vivi ontem, não poderia deixar a oportunidade passar. Santos 4×5 Flamengo foi daqueles jogos que nos permitem ter a certeza de que acertamos em algumas escolhas na vida.

Amo o meu trabalho e fico feliz quando posso constatar isso como foi ontem à noite. Jornalista que tem na essência a profissão geralmente não se contém quando se depara com algum espetáculo grandioso. É uma questão de gosto, não se explica, apenas se sente.

Foi essa a minha sensação ainda durante o primeiro tempo de Santos x Flamengo. Estava comentando a partida pela BandNews FM. Antes de começar o jogo o prognóstico foi de que poderíamos ter o melhor confronto até agora do Brasileirão. Felizmente errei. E muito. Santos e Flamengo talvez tenha sido daqueles melhores duelos da década, da vida, de uma geração.

Um dos motivos de me apaixonar pelo esporte e, principalmente, pelo futebol, era poder ouvir as histórias de meu pai e meus tios sobre os grandes jogos da vida deles. Eu era chato, falava muito, perguntava cada detalhe, queria saber simplesmente sobre como tinha sido cada um daqueles jogões do Santos de Pelé, do Palmeiras de Ademir, do São Paulo de Leônidas, do Corinthians de Claudio, do Vasco, do Flamengo, do Grêmio e por aí vai.

Para piorar, eles estimulavam a curiosidade contando algumas partidas que viveram. Uma delas, em especial, sempre me fascinava. A história daquele Palmeiras 6×7 Santos pelo Campeonato Paulista de 1958 era uma que não bastava o que me contavam, eu queria sempre ir atrás, saber mais, conhecer melhor os detalhes do jogo. O que mais me impressionava era saber que o Santos havia vencido o primeiro tempo por 5 a 2 e, depois, sofreu a virada e só foi ganhar a partida aos 41 do segundo tempo, num gol de Pepe. Ah, Santos de Pagão, Pelé e Pepe, completíssimo, campeoníssimo de 1958.

Como isso era possível? Ah, o futebol de antigamente…

Até que o mesmo Santos voltou a protagonizar um feito semelhante ontem, na Vila Belmiro. Não, malas de plantão, não vamos ficar nas picuinhas, nas falhas individuais, nos erros defensivos. Nada disso!

Santos 4×5 Flamengo foi daqueles jogos que, se eu fosse professor de educação física, obrigaria os alunos a verem todos os detalhes para aprenderem um pouco sobre técnica, tática, superação, preparo psicológico, treino de fundamentos e tudo o mais que cerca uma partida dentro de campo.

Sim, para quem ainda não viu, saiba que teve de tudo um pouco nesse megaclássico. Um Santos arrasador nos primeiros 30 minutos. Um Ronaldinho Gaúcho inspirado como há pelo menos cinco anos não se via para não deixar a sua equipe ser goleada. Um erro bisonho de Elano na cobrança do pênalti que provavelmente decretou a sorte da partida.

Sorte em todos os sentidos!

Foi épico, marcante, inesquecível. Tanto que foi muito difícil conseguir comentar a partida. A bola não parava, os times não arrefeciam a vontade, o jogo seguia imprevisível a cada lance. Não foi um jogo em que claramente os erros superaram os acertos. Pelo contrário.

A genialidade do gol de Neymar (o primeiro dele), numa arrancada desde a esquerda, um drible da vaca na entrada da área e o toque por cima de Felipe. A sagacidade de Ronaldinho ao bater a falta rasteira, para empatar o jogo em 4 a 4, enquanto os jogadores santistas saltavam como se estivessem sobre brasas.

Foi demais! E foi um jogo que me deu a certeza de que, lá pelos meus cinco ou seis anos de idade, já tinha feito a escolha certa. Trabalhar com futebol é uma delícia! Principalmente quando, dentro das quatro linhas, ele nos remete aos tempos de infância.

Num dia que começou com a ideia de fazer o #foraricardoteixeira prosperar, vocês fecharam com chave de ouro. Nos deram a certeza de que, mesmo com o que há de mais errado na gestão do futebol, ele ainda vale a pena quando proporciona espetáculos como esse. Mas, mais do que isso, obrigado por me fazerem sentir como o crítico de restaurantes no filme Ratattouile. A volta às boas sensações da infância é o que alimenta nossas paixões adultas.

Obrigado, Santos. Valeu, Flamengo!


Pelé, o embaixador
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Erich Beting

Pelé foi alçado ao cargo de garoto-propaganda da Copa do Mundo de 2014. O nome pomposo é embaixador, mas na prática o “Rei do Futebol” será uma espécie de promotor do evento aqui no Brasil.

A decisão, pelo que noticiam todos os meios, tem como objetivo dar mais a cara de que a Copa do Mundo é do Brasil. O ex-jogador representará o país em eventos, gravará campanhas publicitárias para serem veiculadas em rede nacional e participará de reuniões sobre a competição.

Mais uma vez o país tropeça na estratégia de comunicação do evento.

Em meio a todas as polêmicas sobre uso de dinheiro público na Copa do Mundo, às exigências e extravagâncias da Fifa em relação ao torneio, aos escândalos de corrupção da entidade máxima do futebol e às declarações soberbas de Ricardo Teixeira, Pelé surge como o bombeiro da competição.

Mas será que Pelé é, de fato, o cara para salvar a imagem da Copa no Brasil?

Para o exterior, sem dúvida, o ex-jogador desempenha uma brilhante função, tanto que até no convencimento de que o Rio de Janeiro deveria ser sede das Olimpíadas Pelé desempenhou brilhante função.

Para o mercado brasileiro, porém, Pelé pode não ser o garoto-propaganda ideal.

Sua imagem não é intocável. Já há muitos anos exercendo a função publicitária (e de maneira nem um pouco criteriosa), a figura do Rei do Futebol está longe de ser uma forma de convencimento para o consumo e de certeza de credibilidade para as pessoas.

Nos últimos anos, a imagem do Brasil mudou substancialmente. O maior mérito em termos de marketing foi a transformação do país em “do futuro” para o “do presente”. O resgate do orgulho de ser brasileiro, de “não desistir nunca”, de ser possível ganhar o mundo a partir do Brasil marcaram, e muito, as transformações dos últimos anos.

A realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos nos próximos anos foram uma espécie de confirmação desse novo status do Brasil perante o mundo.

Por isso mesmo, Pelé não combina com essa cara. Ainda mais quando se pretende fazer com que a Copa do Mundo seja aparentemente mais do Brasil e menos da Fifa. O país encontra hoje os mesmos problemas que alemães e sul-africanos enfrentaram nos últimos anos antes de organizarem o evento: uma empáfia da Fifa que mexe com a auto-estima do país anfitrião da Copa.

Talvez o Brasil consiga, com a sorte que vem tendo na conjuntura política mundial, viver um momento único, em que a Fifa tente deixar de ser tão dona da Copa, já que em todo o planeta a sua forma de tomar conta do futebol já não é tão bem apreciada.

A oportunidade de o Brasil ser “a bola da vez” para mudar a cara da Copa do Mundo é agora. Só não poderia tentar fazer isso colocando Pelé como embaixador do evento. O Rei do Futebol é, sem dúvida, a personificação do que há de mais precioso dentro de campo. Fora dele, porém, é preciso achar uma nova cara.

O melhor embaixador da Copa no Brasil deveria ser o brasileiro. Sem os vícios do futebol.


A formação de atletas no Brasil e o caso Sport
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Erich Beting

O Sport resolveu demitir o goleiro do time junior Gustavo, que na tarde de segunda-feira desferiu um golpe digno de filmes de luta num jogador do Vasco. A justificativa dada pelo clube pernambucano é a de que a atitude de Gustavo “não representa o Sport”. O lance ocorreu durante a Taça BH de Juniores, um dos torneios mais famosos e cobiçados para a categoria junior.

Nas mídias sociais, deu para ver que a atitude do Sport dividiu opiniões. Alguns enalteceram a decisão da diretoria, uma vez que o golpe desferido por Gilberto foi realmente desproposital.

Mas a pergunta tem de ir muito mais longe do que isso. Afinal, o que leva um atleta ainda em formação perder a razão a ponto de acertar um golpe na nuca de um atleta adversário sem grande motivo?

A resposta passa, necessariamente, pelo processo de formação de atletas no Brasil. Já é sabido há muitos anos que o clube tem de ir muito além da simples formação esportiva do jogador. No processo de criação de um atleta, é cada vez mais imprescindível o clube fornecer apoio psicológico, instrução escolar, etc.

Não é possível, ainda hoje, o clube simplesmente se importar com o desempenho esportivo de um jogador em sua categoria de base. É preciso dar instrução, formar, educar. Sim, a educação deveria vir de casa, ou então da escola. Mas na ausência dessas duas instituições, por que não o clube assumir essa condição de formador da pessoa?

Esse é o ponto que hoje permeia a maioria dos clubes formadores de atletas no Brasil. Não se pode aceitar que o jogador tenha como única obrigação entrar em campo e defender o time. É preciso ser educado, orientado e formado para enfrentar as dificuldades de uma profissão. Do contrário, o próprio time de futebol só tem a perder com esse atleta.

Demitir um funcionário por um ato de selvageria é a atitude correta ou é a mais simples?

“Quero pedir desculpas ao Vasco da Gama por uma atitude irresponsável do goleiro. Esse tipo de coisa não representa o Sport. Ele já foi afastado da delegação e também do clube. Jogador nenhum do Brasil e muito menos do Sport deveria fazer isso”, afirmou Gustavo Dubeux, presidente do clube pernambucano ao falar sobre a saída de Gustavo.

Mas hoje o mesmo Dubeux voltou atrás e anunciou um novo trabalho a ser desenvolvido com seu xará.

“Temos que ver o lado do ser humano em uma hora dessa. Vamos prestar uma assistência psicológica para o jogador independentemente do seu afastamento do clube”, disse o dirigente.

É exatamente isso que se espera de um clube de futebol formador de atletas. Não investir apenas quando o funcionário garante rendimento dentro de campo. O trabalho fora das quatro linhas é, geralmente, aquele que mais benefícios trará para o clube, tanto do ponto de vista esportivo quanto no financeiro.

Quem sabe Gustavo perceba o erro que fez (se é que já não se arrependeu) e possa servir de exemplo para trazer um futuro melhor para os jogadores. Partir do princípio de que o erro não possa ser reparado é a atitude mais simples a se tomar. E, geralmente, a que menos gera frutos no futuro.


Ainda a tal internacionalização…
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Erich Beting

Muitos criticaram aqui o debate que coloquei sobre a internacionalização dos times brasileiros. Calendário, falta de promoção dos campeonatos da América do Sul lá fora e outras coisas foram colocadas como fatores que prejudicam a penetração dos clubes brasileiros no exterior.

Hoje, em entrevista para a imprensa sobre a Audi Cup, em Munique (Alemanha), tivemos mais uma mostra de como é difícil a vida dos clubes brasileiros que desejam ser mais reconhecidos internacionalmente. Os técnicos Massimiliano Allegri e Jupp Heynckes, de Milan e Bayern de Munique, respectivamente, deram sua opinião sobre o que achavam do Internacional, que ao lado das duas equipes e do Barcelona, disputam a competição.

“Conheço bem o futebol da América do Sul. O Porto Alegre sempre tem um time forte, é uma equipe bem treinada. Não seria nenhuma surpresa para mim se jogassem muito bem aqui”, foi a frase usada por Heynckes.

Na sequência foi a vez de Allegri dar a sua opinião: “Acho que o Porto Alegre sempre tem um grande futebol. É o clube do Pato. E chegam com uma condição física em alto nível, melhor do que a dos clubes europeus. Concordo que não seria surpresa nenhuma se ganhassem aqui”, afirmou o treinador italiano.

Pois bem. Nem mesmo o último time brasileiro a ser campeão do mundo, em 2006, é conhecido dos treinadores de dois dos maiores clubes do mundo. Não é falha apenas do clube, sem dúvida. Mas é uma clara mostra de que ainda é preciso percorrer um longuíssimo caminho para que os clubes brasileiros comecem a ser mais internacionais. E não basta apenas jogar no exterior para isso.


O mecenato ainda interfere no esporte brasileiro
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Erich Beting

“Qual o objetivo da EBX com o time de vôlei?”. A pergunta foi feita pelo repórter da Máquina do Esporte a Bernardo Lorenzo-Fernandez, gerente geral de entretenimento do grupo EBX, do bilionário Eike Batista e que anunciou na última quarta-feira investimentos de R$ 13 milhões ao ano na criação de um time masculino de vôlei na cidade do Rio de Janeiro.

“Não temos uma expectativa de retorno financeiro ou de imagem. O que nós estamos fazendo é um investimento no local em que estamos inseridos”, foi a resposta do executivo.

Conclusão. Não há qualquer projeto de longo prazo com a formação de um time de vôlei pela EBX. O RJX, como será chamado, tem um ano de contrato com os seus atletas. Depois disso, ainda não se sabe qual será o futuro da equipe.

O negócio, que já havia sido apontado aqui no blog como uma espécie de divisor de águas para a gestão do vôlei nacional já não começa a ser tão revolucionário assim. Ao não ter um projeto calcado em retornos claros de investimento, Eike Batista presta, na verdade, um desserviço ao vôlei nacional.

Sim, é ótimo termos mais um time de peso disputando a Superliga, ainda mais com toda a força de mídia que envolve qualquer tema ligado a Eike Batista. Claramente, porém, o que o bilionário quer é ser uma espécie de Mecenas, de um endinheirado que nada mais quer do que ajudar o esporte para, em troca, ter outros benefícios.

O status que o esporte confere aos seus investidores leva, historicamente, muitos bilionários a despejar alguns milhões nele. Em troca, além do prestígio, muitas vezes essas pessoas conseguem vantagens em outros negócios pela boa imagem que adquirem ao ajudar projetos esportivos.

Ao que tudo indica, é isso que move ainda a inserção de Eike Batista no esporte brasileiro. Quando um time que custa R$ 13 milhões por ano é anunciado sem qualquer outro projeto a não ser o de “ajudar” o vôlei esporte é lançado, seu efeito sobre o mercado é devastador. Aumento de preços, saída de patrocinadores e fechamento de equipes menores geralmente acompanham esses movimentos.

No caso do vôlei brasileiro, a Superliga ganhou o RJX, mas muito possivelmente perdeu o Pinheiros, clube tradicional do esporte, que perdeu o apoio da Sky (a empresa migrou para o Cimed, em Florianópolis, unindo investimentos para formar um time que pode tentar frear o favoritismo da equipe da EBX).

O mecenato não é bom para o esporte. Ele pode até fazer com que, num primeiro momento, o mercado se aqueça um pouco com a entrada de alguém endinheirado. Mas a “caridade” que geralmente cerca esses projetos faz com que tudo se pulverize em pouco tempo.

No caso do RJX, está claro que o crescente interesse de Eike Batista no esporte tem muito mais a ver com a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016 e as oportunidades que o evento vão gerar do que com um projeto bem balizado de marketing por meio do esporte.

Não é difícil prever que a festa dure até 2016 e, depois disso, esses mecenas migrem para outras áreas que atraiam mídia e gerem negócios na mesma proporção que o esporte na atualidade.

Enquanto o esporte for visto como obra de caridade, o mecenato vai continuar a interferir negativamente no esporte brasileiro. Quando o esporte souber se vender como uma plataforma de negócios, com certeza a conversa irá mudar de figura. E a resposta de que não existe um projeto de marca ou de vendas para um investimento de R$ 13 milhões simplesmente vai deixar de existir.


A internacionalização dos clubes e o drama brasileiro
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Erich Beting

Ontem, no Canadá, o time do Manchester City anunciou um acordo com a EA Sports para a criação da primeira plataforma de games de um clube. O negócio envolve o desenvolvimento de jogos com os atletas do City, que poderão ser consumidos pelos torcedores em todo o mundo. O anúncio foi feito durante a pré-temporada que o clube inglês realiza em solo canadense, quando a EA Sports aproveitou a presença dos atletas do time para montar os bonecos que serão usados nos jogos virtuais. A situação vivida pelo City mostra exatamente o quão distante os clubes brasileiros estão de um projeto de internacionalização.

As recentes matérias publicadas pelos jornais estrangeiros sobre o Corinthians (a enquete do Guardian sobre o clube ou a CNN considerando o Timão um clube pequeno) revelam o drama que os clubes brasileiros encontram hoje para serem marcas internacionais. Quase ninguém conhece o futebol que é praticado no Brasil, mesmo com toda a fama da seleção brasileira mundialmente. Os problemas que levam a esse cenário são vários. Vai da incompatibilidade de datas para o time brasileiro excursionar no exterior, passa pela falta de divulgação dos campeonatos da América do Sul nos outros mercados e, claro, envolve também a falta de um projeto claro de fortalecimento de marca dos clubes.

Há cerca de 20 anos o Manchester United começou um projeto para fazer com que sua marca se tornasse mundialmente conhecida. Jogar a Liga dos Campeões da Europa, apostar na internacionalização da Premier League e passar a levar o time para fazer pré-temporadas no exterior foram as principais medidas adotadas. Junto a isso, o clube adotou um projeto para venda de produtos em toda a Europa. O que mais motivou o Manchester a fazer isso? Dinheiro. Na Inglaterra, os Diabos Vermelhos estavam muito longe de serem os donos de maior torcida e, mais do que isso, de maior arrecadação com patrocínios e venda de produtos. Nem mesmo em Manchester eles eram dominantes. Com a estratégia de ampliação global de sua marca, impulsionada anos depois com o surgimento de David Beckham, os Diabos ganharam o mundo e o topo do ranking de faturamento entre todos os clubes de futebol do mundo.

O modelo do Manchester passou, então, a ser copiado pela maior parte dos grandes clubes que atualmente são famosos no futebol mundial. Barcelona, Real Madrid e Milan foram os mais eficientes nessa estratégia. Depois vieram, com certo atraso, os times ingleses que estavam derrubados financeiramente, sendo Chelsea e Arsenal os dois melhores exemplos desse processo de expansão de marcas, e clubes de outros países, como Internazionale e Bayern de Munique.

Como marcas globais, esses clubes passaram a realizar os mais diferentes tipos de acordos. Geralmente, seus patrocinadores são empresas de alcance global, que pagam dezenas de milhões de euros para estamparem suas marcas na camisa dos times. Outras companhias unem-se a esses clubes para explorar novos mercados, como fizeram recentemente Concha y Toro e Manchester, numa estratégia de ampliação da marca dos Diabos Vermelhos na América do Sul.

Durante esse processo, esses clubes agiram como empresas em busca de novos mercados. Estudaram a força de suas marcas, montaram um plano de expansão para o exterior e passaram a levar seus produtos até esses países. Foi assim que o continente asiático gerou fortunas para Manchester, Real Madrid e Barcelona, principalmente. Com a estagnação da Ásia (os clubes já se estabeleceram por lá, não há muito mais o que ser feito), a estratégia mudou um pouco. Até por interesse dos patrocinadores, o foco passou a ser a América do Norte e a África, dependendo do clube e da empresa que o patrocina. Agora, o foco passa a ser a América do Sul e, especialmente, o Brasil.

Enquanto isso, os clubes brasileiros não conseguiram descobrir qual o seu real mercado consumidor dentro do próprio país. Pesquisas sobre tamanho de torcida podem ajudar a dar uma base para os clubes trabalharem, mas não são eficientes para conhecer quem é, de fato, um consumidor de produtos de um clube. Depois dessa etapa ser cumprida é que poderemos, de fato, começar um projeto de expansão da marca dos clubes para o exterior. Só que a primeira coisa que precisa mudar é a mentalidade do clube. A ida para o exterior não pode significar status, mas sim estratégia comercial. O torcedor pode querer tirar sarro do rival por ele disputar um torneio no exterior e o outro não, mas dentro do clube a mentalidade tem de ser completamente diferente.

Do contrário, continuaremos a confundir internacionalização com jogar uma partida fora do Brasil. Enquanto o Campeonato Brasileiro de futebol for totalmente desconhecido do estrangeiro, de nada vai adiantar, durante uma ou duas semanas, um time do país atuar noutro lugar. Será mais ou menos como um Al Nasr ter disputado o Mundial de Clubes da Fifa em 2000 aqui no Brasil. Um completo estranho que esteve aqui como figurante de uma competição.

Para ser uma marca global os clubes precisam ter projetos globais. Mas, antes disso, precisam conhecer qual o seu mercado interno. Ainda levará um certo tempo para todos terem a consciência disso.


Só tem um Ronaldo
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Erich Beting

Essa foi a inteligente sacada corintiana para provocar a estratégia de “transformar” Cristiano Ronaldo em simplesmente “Ronaldo”, como ele é conhecido em Portugal e alguns países da Europa. A brincadeira serviu para mexer com os brios dos torcedores corintianos e, claro, gerar a venda de algumas camisas com os dizeres “Só tem um Ronaldo”.

Isso foi lá em 2009, quando Ronaldo ainda jogava (e bem) pelo Corinthians. Agora, cerca de dois anos depois, parece que a diretoria corintiana esqueceu-se da frase que ela mesmo criou lá atrás.

O “projeto Tevez”, pelo que se vê até agora, é calcado no exemplo de Ronaldo, com algumas importantes alterações:

– O Corinthians vai desembolsar uma grana jamais vista para contratar o jogador, comprometendo um ano dos quatro de contrato que existe com a televisão. E, o que é pior, dinheiro futuro, já que ele entrará nos cofres teoricamente só a partir de 2012.
– O pagamento de salários do jogador viria da combinação que hoje é moda no futebol, em que o “marketing” seria responsável por encontrar formas de viabilizar o aumento de receita do atleta

Pois bem, mas Tevez não é Ronaldo. Pelo contrário, está muito longe de ser. O Santos já tentou fazer algo parecido com Robinho e precisou usar a influência política para conseguir fechar a conta do processo em que o atacante atuou no país. O Flamengo pena, atualmente, para honrar com os compromissos de Ronaldinho Gaúcho. O Palmeiras sua para encontrar os “paitrocinadores” de Felipão.

Esses casos elucidam bem por que, afinal, só tem um Ronaldo. A volta do Fenômeno ao Brasil foi o grande acontecimento do futebol brasileiro na última década. E, mesmo assim, não foi fácil para o Corinthians solucionar a equação de pagamento do jogador. A Batavo e a Hypermarcas, por exemplo, só foram entrar no clube com quatro meses de contrato já em vigência de Ronaldo com o Corinthians. Depois, com ele em campo e o time vencendo, tudo pareceu um conto de fadas.

Tanto que os demais clubes seguiram o mesmo princípio. Hoje, muitos acham que jogadores mais badalados se pagarão “com marketing”. Mas será que os clubes estão preparados para usar realmente as ferramentas de marketing para aumentar as suas receitas?

Ronaldo é um rosto conhecido nacionalmente. Tem índices de rejeição baixos e, mesmo vindo do escândalo com os travestis, conseguiu mobilizar empresas em torno do Corinthians ao voltar para o campo e fazer gols.

Tevez é argentino, ídolo apenas de uma torcida e não tem um apelo de marketing para as empresas. O licenciamento de produtos ainda não se consolidou no Brasil a ponto de gerar uma receita significativa para um atleta. Esportivamente, sua contratação é excelente. Mas o tal pagamento “com a ajuda do marketing” não é fácil de ser resolvido.

Não é do feitio da atual diretoria do Corinthians fazer loucuras em sua gestão sem o mínimo de planejamento. O maior mérito da gestão alvinegra foi ter equacionado as dívidas e não ter comprometido boa parte das receitas. Por isso mesmo, cometer uma loucura para ter Carlitos Tevez parece um comportamento fora do padrão dos atuais gestores.

Ronaldo, só tem um. O melhor seria que não fosse preciso comprometer todo o orçamento anual do clube para descobrir isso. Ainda mais com uma mudança de diretoria prevista para o ano que vem.


Vício em corrida vira filme na Nike
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Erich Beting

A saga “Coisa da Boa”, criada pela Nike para brincar com o vício em corrida e que já foi explorada aqui no blog, ganha agora um novo episódio. A fabricante criou um filme para divulgar o projeto. A linha segue a agressividade que marca toda a campanha, relacionando o hábito de corrida com o vício em drogas.

Como dito há poucos dias por aqui, o estilo Nike de se comunicar volta com tudo. E isso causa admiração e revolta na mesma proporção. Foi assim que a empresa criou sua história, conseguindo se tornar a maior fabricante de material esportivo do mundo, com projeção de faturar mais de US$ 20 bilhões por ano até 2015.

Com exclusividade, o blog publica abaixo o vídeo que será lançado em breve pela empresa.


O gol da Fiat
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Erich Beting

Só pude ver agora a ação feita pela Fiat para promover os 35 anos de atuação da empresa no país. A empresa usou o Palmeiras para marcar a data. Além de expor a inscrição “Fiat 35 anos” nas costas do uniforme do time, a montadora pagou os atletas para que eles comemorassem seus gols como se estivessem dirigindo um carro.

Obviamente que os 3 a 0 que o Palmeiras aplicou sobre o Santos ajudaram no sucesso da ação, mas mais do que o resultado da partida, o golaço marcado pela empresa foi conseguir associar o seu patrocínio a uma efetiva ação de marketing.

Como sempre discutimos aqui, é preciso ter criatividade para pensar em ações simples. Geralmente elas são as mais efetivas para uma empresa ter sucesso na hora de ativar o seu patrocínio. Outra grande sacada dessa comemoração dos gols foi saber que uma das maiores exposições que existem na mídia de um jogo de futebol é a repetição dos “gols da rodada”. São eles que amplificam as ações.

Aos poucos, o mercado brasileiro começa a entender que só colocar a marca e esperar pela exposição espontânea na mídia não é mais suficiente. O gol da Fiat é uma prova disso. Assim como o Gol da Volkswagen em sua campanha de mídia usando Túlio Maravilha. Além de reforçar a ligação com a seleção brasileira, a peça brinca com o sonho do “Gol Mil” do jogador.

Assim como foi no mercado financeiro, com Santander e Itaú puxando a fila dos investimentos em ativação de patrocínio, o setor automobilístico dá mostras de que tem se mexido bastante na questão de não apenas patrocinar, mas usar a propriedade para reforçar sua ligação com o consumidor. Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas as coisas começam a querer se ajustar.