Negócios do Esporte

Arquivo : agosto 2011

Clube rico não deve?
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Erich Beting

A pergunta surgiu de uma acalorada discussão entre os leitores do blog. Muitos criticaram meu comentário sobre o fato de ter colocado Real Madrid e Barcelona como dois clubes bem gerenciados no futebol da Espanha. E quase todos eles levantaram a lebre de que “clube rico não deve”.

Será?

O torcedor (e muitas vezes o jornalista que não é da área de economia) confunde a existência de dívidas numa empresa ou num clube com a falta de bom gerenciamento.

A realidade, porém, não é bem assim. Nem sempre uma empresa com dívidas não tem excelência em gestão. O que é preciso analisar é o tamanho da dívida em comparação com a capacidade de ela gerar receita e, também, o equacionamento dessas dívidas.

Muitas vezes o torcedor se coloca numa posição como a que ele teria dentro de casa. Eu não posso ter dívidas, então se eu tenho dinheiro em caixa, eu pago aquilo que devo. 

Só que não é assim que funciona no meio empresarial e, muitas vezes, nem mesmo em nosso cotidiano como pessoa física. Quando fazemos uma compra parcelada, estamos endividados. Da mesma forma, quando uma empresa faz um empréstimo para ampliar sua capacidade de produção, ela está endividada.

A grande diferença é que, por precisarem publicar seus balanços financeiros, tanto as empresas quanto os clubes expõem qual é o tamanho real de suas dívidas. A medida é feita para podermos analisar a capacidade que essas empresas têm de serem salutares, de não precisarem fechar as portas.

E aí é que entra a discussão das dívidas no futebol. O maior problema que existe hoje no futebol brasileiro é o aumento das dívidas dos clubes. Mesmo com mais dinheiro entrando nos caixas, a maior parte dos times tem feito novos empréstimos ou então não tem honrado com compromissos passados. Dessa forma, o rombo só aumenta.

Quando fala-se das dívidas de alguns (atenção, eu disse alguns!) clubes europeus, não está errado o clube ter dívidas, desde que elas estejam equacionadas. Isso significa que a instituição tem de ter um plano para o pagamento desse dinheiro e, mais do que isso, esteja cumprindo o acordo para o pagamento desse passivo.

Na lista de clubes que mais arrecadam hoje no futebol mundial estão, pela ordem, Real Madrid, Barcelona e Manchester United. Os três têm dívidas, e os três possuem um rigoroso controle financeiro que permite o pagamento dessas dívidas sem comprometer o dinheiro que entra no caixa para que o clube continue a existir. O Manchester, por exemplo, tem uma das maiores dívidas da Europa, mas parte delas foi o empréstimo feito pela família Glazer para comprar o clube, por 900 milhões de euros em 2005.

Clube rico, geralmente, possui dívidas. O que o torcedor precisa passar a cobrar de seus dirigentes é qual o plano para o pagamento dessas dívidas e de que forma eles podem fazer para honrar esse compromisso sem comprometer o dinheiro que tem em caixa para o dia-a-dia da instituição. 

É exatamente a mesma coisa que uma família faz quando compra uma casa. Ela contraiu uma dívida enorme, mas que está equacionada para ser paga sem comprometer o dinheiro do dia-a-dia para pagar as contas. Dever não é pecado. O erro é não querer (ou não poder) pagar o que deve…


Clubes-empresas se unem para manter incentivos fiscais
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Erich Beting

No próximo dia 14 de setembro encerra o prazo de cinco anos de icentivos fiscais garantidos pela Timemania a clubes formados por empresas. De acordo com a lei, os clubes que são sociedades empresárias, teriam cinco anos de isenção do pagamento de quatro diferentes tipos de impostos.

A medida, quando a Timemania foi criada, era uma forma de equiparar os clubes-empresas daqueles que são sociedades sem fins lucrativos, como são os clubes sociais que geralmente formam os clubes de futebol.

Desde julho, alguns dos principais clubes-empresas do país têm se mobilizado para tentar fazer com que o governo reveja o artigo 13 da Timemania, que prevê o fim dos incentivos. De acordo com o grupo, encabeçado por Red Bull e que tem, entre outros, o Primeira Camisa, de Roque Júnior, e o Desportivo Brasil, da Traffic, sem os incentivos os custos anuais de manutenção dos clubes devem crescer cerca de 9%.

Uma carta já foi enviada em julho para o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., e para o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Com 14 páginas, o documento procura mostrar para o governo que, apesar de a composição societária desses clubes visarem ao lucro, na prática eles são associações desportivas tais quais os demais clubes associativos (como aqueles que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro), cuja finalidade é disputar competições de alto rendimento.

A reivindicação é interessante, porque pega numa discussão sobre o próprio modelo de gerenciamento dos clubes de futebol no país. Os clubes que encabeçam o pedido à CBF e ao Ministério do Esporte são entidades que não atrasam salários, sendo que muitas delas são reconhecidas como centros de excelência na formação de novos jogadores.

O que os diferencia dos demais times, geralmente, é o fato de que existe um dono desses clubes (pode ser uma empresa ou um empresário), e que por conta disso a gestão dessas entidades não pode ser falha.

No fim das contas, o aumento da carga tributária sobre esses clubes é uma forma de punir o bom gerenciamento das entidades. Mais curioso ainda é ver que a lei que poderá gerar um aumento de carga tributária a esses clubes é aquela que foi criada para, pela terceira vez, dar um perdão à dívida dos clubes pessimamente gerenciados, a partir da criação da loteria para sanar pendências com o governo, mas que não conseguiu, até hoje, cumprir com os objetivos propostos.

Muitas vezes me perguntam o que acho do surgimento de clubes ligados a empresas, ou a empresários. Por mais que eles não tenham uma história e um vínculo com torcedores, acredito que esse seja o melhor caminho para a profissionalização do futebol. Enquanto os clubes forem entidades associativas em que os seus dirigentes não são penalizados por gestões temerárias, a farra com o dinheiro alheio continuará.

Ainda mais com a manutenção de leis que incentivam o perdão a quem errou na administração de recursos e que levam mais tributos a quem tem um trabalho bem feito e bem orientado.

Para o bem do futuro do futebol, os clubes precisam passar a ter donos. Só assim a farra com o dinheiro diminuirá.


Elias fecha com Sporting, e escancara má gestão espanhola
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Erich Beting

O volante Elias acaba de acertar um ano de contrato de empréstimo com o Sporting, de Portugal. A informação, exclusiva, é de Guilherme Costa, editor da Máquina do Esporte. O acerto do jogador, que estava no Atlético de Madrid, com o clube português escancara o caos em que se encontra a maioria dos clubes da Espanha.

Elias não saiu por decisão meramente técnica. O jogador, contratado no ano passado do Corinthians, deixa agora o clube espanhol por não estar dentro da cota de três jogadores extra-comunitários exigida pelo país. Sem um passaporte europeu, que lhe valeria o status de atleta da União Europeia, Elias foi obrigado a deixar o Atlético e fechar com o Sporting, atualmente a terceira força de Portugal.

A saída do brasileiro foi provocada pela falta de planejamento da temporada. O clube vendeu seu principal jogador, Agüero, para o Manchester City. E contratou, por maior valor, Falcao Garcia. O também atacante, ex-Porto, ocupou a terceira vaga de atleta extra-comunitário, e então sobrou para Elias, que era titular do time!!

Até pouco tempo atrás, o Atlético era um dos grandes clubes da Europa. Dinheiro em caixa, grandes jogadores em campo e disputando as principais competições da Espanha e do continente. Hoje, além de cometer algumas falhas gerenciais como essa envolvendo Elias, o time sofre com a falta de um patrocinador e as finanças desequilibradas.

O que mudou de tempos passados para agora foi simplesmente a falta de dinheiro no mercado europeu. Com a crise afetando as empresas, o número de patrocinadores tem reduzido e, consequentemente, os clubes estão com menor poder aquisitivo.

Qual seria a solução para o clube não passar por grande aperto? Equilíbrio na gestão, muito planejamento da temporada e não investir em loucuras. Ao gastar mais em Falcao Garcia do que recebeu por Agüero, o Atlético mostra que não está preparado para racionalizar suas economias.

O caso deve servir de alerta para o futebol brasileiro. Hoje, vivemos um período de bonança financeira. Como há mais de uma década não acontecia, os clubes estão ricos. Há muito dinheiro entrando no caixa. Quem conseguir manter os gastos em ordem e não cometer abusos, certamente estará preparado para, no futuro, continuar entre os principais clubes do país e talvez do mundo.

A pressão por conquistas não pode superar a pressão pelo controle de gastos. É muita ingenuidade achar que o mercado continuará tão aquecido assim ao longo de mais dez anos. Por isso, o sucesso do futuro está na poupança do presente. Ou, que não seja poupança, mas no investimento certeiro.

Do contrário, o futebol brasileiro viverá a mesma situação do espanhol, onde apenas dois clubes bem gerenciados dominam o mercado, com os demais patinando em busca de um resultado que não se conquista com loucuras.


Tecnocracia de Dilma “emperra” empréstimos da Copa
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Erich Beting

A colocação de pessoas técnicas no governo de Dilma Roussef tem causado o entrave no desenvolvimento dos projetos de construção dos estádios para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Pelo menos essa é a análise que algumas das empreiteiras envolvidas nas obras dos estádios do Mundial têm feito.

Com o fim da distribuição de cargos para atender à demanda política, substituindo pessoas sem conhecimento técnico por profissionais do mercado, Dilma causou um problema para a liberação de recursos para a construção dos estádios da Copa.

O maior problema tem sido na liberação do empréstimo do BNDES. Algumas obras estão paradas por conta da necessidade de mais especificações técnicas nos projetos. Sem isso, a ordem do governo é não liberar qualquer centavo.

Acostumadas a um certo relaxamento por parte da esfera pública, as empreiteiras têm começado a reclamar da demora em conseguir a verba. Não precisamos de tanto exagero técnico, sem dúvida, mas ao mesmo tempo é um alívio perceber que o dinheiro público não será mais distribuído apenas com fins politiqueiros.

Possivelmente nunca antes na história desse país tivemos tanto critério técnico na avaliação de projetos. E, sem dúvida, nunca foi tão necessária uma fiscalização do uso desses recursos públicos como agora.


Bora, Bahêa!
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Erich Beting

Estive ausente do blog nos dois últimos dias por boas razões. Além da organização da IV Semana de Marketing Esportivo em parceria com a Empresa Júnior da Escola de Educação Física e Esporte da USP, estive na sexta-feira em Salvador para participar de um debate organizado pelo Esporte Clube Bahia.

Na quinta e na sexta, pessoas do mercado de futebol e de fora dele também estiveram reunidos num hotel em Salvador para debater com dirigentes e executivos do Bahia uma série de temas que compõem o dilema da gestão de um clube de futebol nos dias de hoje.

Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, e Jorge Avancini, diretor executivo de marketing do Internacional, foram palestrantes nos dois dias de trabalho. O objetivo é o clube aprender um pouco com quem está no mercado ou tem feito coisas diferentes, como o projeto de gestão de sócios do Inter.

O grande sentimento, ao participar de um fórum de debates desse, é de que aos poucos o cenário para a gestão do futebol no Brasil começa a ficar melhor. Um dos maiores incentivadores e participantes ativo das discussões foi Marcelo Guimarães Filho, presidente do clube baiano.

O engajamento do presidente na tentativa de profissionalizar o cotidiano do clube é hoje um dos princípios para que os ares tornem-se mais eficientes na gestão das equipes. Faltam iniciativas que permitam aos clubes serem mais ágeis no desenvolvimento de serviços ao torcedor e, consequentemente, consigam gerar mais receita e montar melhores equipes, obtendo dentro de campo o resultado de um bom gerenciamento fora deles.

Muitas vezes os leitores do blog me criticam por ser duro com os times. Outros, porém, sempre acham que os seus departamentos de marketing são ineficientes ou incompetentes, para ficarmos apenas nas reclamações mais educadas.

O que pouco se discute hoje no futebol brasileiro é que o modelo político de escolha do corpo diretivo de um clube é um entrave para o desenvolvimento de um trabalho de gestão profissional. Dirigentes não-remunerados, apadrinhados políticos e outros quetais foram os que moldaram a estruturação dos clubes na primeira metade do século XX, quando o desempenho do futebol não era determinado pela geração de dinheiro.

Hoje a realidade é totalmente incompatível com o sistema estrutural dos clubes no Brasil. Enquanto um Flamengo precisar da aprovação de um conselho formado por mil pessoas para fazer qualquer acordo comercial, grandes alternativas para a geração de receita são deixadas de lado.

Outro grande problema é o tempo de duração dos mandatos dos presidentes. É ótimo não termos mais monarquias dentro dos clubes (as últimas estão próximas de acabar), mas também é impossível pensar na geração de resultados consistentes com apenas dois anos de mandato de um presidente. Como disse Jorge Avancini, do Inter, “no primeiro ano o presidente está conhecendo o clube, e no segundo tem de fazer política para se reeleger”.

O Bahia deu o exemplo ao organizar um debate para tentar mostrar ao seu conselheiro e a seus parceiros comerciais que o buraco é mais embaixo. São gigantescos os desafios de um gestor de um clube de futebol. Enquanto a estrutura não mudar, teremos lampejos de uma profissionalização dentro dos clubes. O Inter, por exemplo, só consegue dar continuidade a seus projetos porque, desde 2005, o mesmo grupo político está à frente do clube.

O problema do futebol é, mais ou menos, o mesmo enfrentado pela gestão pública no país. Tal qual o prefeito, o governador ou o presidente, seu sucessor sempre tenta fazer fama em seu mandato, geralmente suprimindo o que foi feito de bom na gestão anterior.

O segredo estará em buscar um projeto de clube do futuro, como propôs o Bahia em seu seminário: “Fazendo hoje o Bahia de amanhã”.

Enquanto os políticos que governam tanto o país quanto os clubes pensarem apenas em projetos de poder, e não da instituição que representam, o futuro será sempre um grande ponto de interrogação.

Bora, Bahêa! Dê ao futebol brasileiro o exemplo que tanto precisamos encontrar!


Anderson Silva personaliza o crescimento do UFC
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Erich Beting

Na noite da última terça-feira os executivos da agência de marketing esportivo 9ine apresentaram os estrondosos números envolvendo o lutador Anderson Silva. Na palestra durante a IV Semana de Marketing Esportivo, organizada pela Máquina do Esporte e pela Empresa Júnior da Escola de Educação Física e Esporte da USP, Evandro Guimarães, diretor de operações, e Fabio Kadow, gerente de atletas, mostraram como a agência conseguiu, em menos de meio ano, aumentar em 25 vezes o faturamento de Silva, um dos maiores ícones do MMA na atualidade.

O trabalho da agência trouxe frutos na mesma proporção que o UFC cresce em território nacional. O aumento do interesse no lutador, porém, também se deveu ao fato de uma repaginada na imagem de Anderson Silva. E esse é, hoje, o grande diferencial do UFC que faz com que o torcedor tenha cada vez mais interesse e, assim, atraia cada vez mais empresas para o esporte.

Silva passou por um “banho de loja”. Na visão da 9ine, era preciso “humanizar” o atleta. Foi por isso que ele foi ao programa da Ana Maria Braga, ao Fantástico e ao CQC, entre outras aparições na mídia não relacionadas ao universo esportivo. Com essa nova exposição, naturalmente surgiu o interesse de empresas de fora do esporte em explorar a imagem de Anderson. Só no último mês, Burger King e Budweiser fecharam com o atleta.

O evento de sábado, no Rio de Janeiro, marcará também o patrocínio mundial da Bud ao UFC. O Brasil foi escolhido como plataforma de lançamento do acordo. No ano que vem, já há a confirmação de que o UFC desembarcará em Manaus. Sinal de que o país entrou, assim como Anderson Silva, na rota dos investimentos das grandes empresas.

Qual o grande segredo do UFC?

Assim como a 9ine fez com o principal ícone da modalidade no país, o UFC é muito mais do que a luta. O que faz a diferença para o público é exatamente a transformação daquilo que seria uma simples luta num espetáculo de entretenimento para o público. Arenas lotadas, exibição pela TV, show de lutadores e ring girls completam o circo.

Enquanto outras modalidades não conseguem transformar seu evento num show, sempre haverá espaço para o modelo americano de gerenciar o esporte.


A busca por um emprego melhor
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Erich Beting

Primeiro de tudo, que fique claro que não existe mocinho e bandido nessa história. Existem lados e interesses distintos em todos os envolvidos. Mas os casos recentes envolvendo Henrique e Casemiro, ambos campeões mundiais sub-20 e jogadores do São Paulo, revelam o quanto o futebol evoluiu nos últimos anos.

No final das contas, paixões exacerbadas de lado, a queda de braço entre clube e atletas nada mais é do que a disputa por um emprego melhor, ou pelo menos por melhores condições de trabalho.

É importante frisar, aqui, a necessidade de usarmos o termo “paixões exacerbadas de lado”. Porque, para o torcedor, a paixão cega uma análise mais criteriosa daquilo que envolve hoje o relacionamento entre clube e atleta.

Para um jogador de futebol, o clube representa um emprego. Ele pode até escolher defender primeiramente um determinado time por torcer por ele, mas o fato é que, a partir do instante em que ele coloca na cabeça que será um profissional da bola, o clube deixa de ser sinônimo de paixão e se torna um local de trabalho.

Para o clube, o jogador é um funcionário, que no final das contas tem de trabalhar para trazer lucro para ele. Seja do ponto de vista financeiro, advindo da negociação desse atleta com outra equipe, seja do esportivo, com o jogador trazendo vitórias com as bolas nos pés.

Sendo assim, o relacionamento entre ambos é parecido com aquele de um funcionário que trabalha para uma empresa. A paixão é apenas do torcedor. O atleta quer ganhar espaço dentro do time, entrar em campo, fazer gols, ser importante para a equipe.

No caso de Henrique e Casemiro, é exatamente esse o ponto que pegou na queda-de-braço por melhores salários e condições de trabalho.

Imagine que você seja um estagiário de uma grande empresa e que tenha passado pelo processo de trainee dessa firma. Com 19 anos de idade, cheio de vitalidade e com bom desempenho profissional. O que você espera de seu empregador? Ser contratado em definitivo, ter um aumento de salário, ganhar bonificação maior pelo bom desempenho e ser colocado para fazer grandes negócios… Mesmo que para isso você tenha de superar a concorrência de outros funcionários que estão há mais tempo na casa, ou então no mercado, que sejam mais experientes, mas também mais lentos que você…

Do outro lado, a empresa investiu em você, deu qualificação, ajudou com o pagamento de cursos extra-curriculares, deu aulas de inglês, vale-refeição, etc. É justo que ela espere que esse profissional cresça aos poucos, se desenvolva e traga de volta o dinheiro investido em forma de trabalho, de melhores ganhos, de grandes projetos. Mas há vários outros funcionários em sua empresa que estão há mais tempo na casa, são mais experientes, podem ajudar no treinamento desses novos talentos. Você espera que seu estagiário entenda isso e aguarde pelo momento certo para ter a promoção, para ganhar aquele aumento, para ser o diretor da área…

Quando um lado não consegue corresponder às expectativas do outro, o que acontece? Ou o estagiário fica insatisfeito e não rende o esperado, ou então sai em busca de outro ambiente para trabalhar, um local onde ele consiga nem sempre ganhar mais, mas sim poder mostrar melhor todo o potencial que tem.

Proporcionalmente, foi esse duelo de ideias que aconteceu agora com Henrique, Casemiro e o São Paulo. Não existe certo e errado. Cada um está no seu direito de exigir. É hipocrisia demais exigir que os jogadores tenham uma dívida de gratidão com o clube que o formou. A relação é trabalhista. Se o atleta não render o esperado, o clube não vai pensar que tem uma dívida moral com ele para não demiti-lo.

No final das contas, a busca é por um emprego melhor. Ou pelo menos para estar sentindo-se mais recompensado no lugar onde se trabalha.

Há dez anos, esse debate simplesmente não existiria. O atleta estaria vinculado ao clube mesmo que com ele não tivesse contrato de trabalho. Praticamente à revelia. Todos estão no direito de querer melhores condições de emprego. Antes, a legislação simplesmente ignorava esse direito do clube. O futebol, sem dúvida, evoluiu.


O álbum da Superliga vai dar liga?
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Erich Beting

O movimento foi encabeçado pelo Twitter com torcedores e o jogador Gustavo. E, aos poucos, vai ganhando corpo. A Panini, principal fabricante de álbuns de figurinhas do país, está sendo pressionada para que seja criado o álbum da Superliga de vôlei. O negócio ainda está sendo estudado pela empresa, mas teria tudo para dar certo e mostrar que não somos apenas o país do futebol.

O vôlei é um produto que, se bem explorado comercialmente, pode render grandes frutos às marcas a ele atreladas. Quase todas as pesquisas a que tive acesso nos últimos anos dão conta de que a modalidade consolidou-se em segundo lugar na preferência do público. Mais do que isso, boa parte de seu consumidor está concentrada nas classes mais ricas da população.

O que impede o lançamento de um álbum de figurinhas da principal competição do esporte no país? Além disso, com os grandes nomes da seleção em atuação em solo brasileiro, fica ainda mais fácil de a ideia “pegar”. Para melhorar, a própria promoção que os atletas fazem nas redes sociais ajudaria a emplacar um eventual álbum.

Muitas vezes falta ao investidor no esporte coragem para fazer uma boa ideia ser colocada em prática. Ainda mais quando o tema não é futebol, qualquer ação de licenciamento tende a ser pensada muitas vezes antes de ir a público. Mas, quando vemos diversos cadernos escolares com a marca do UFC, principal torneio de lutas do mundo, à venda nas papelarias brasileiras, fica a pergunta.

Será que é tão arriscado assim dar um passo além do básico? O álbum da Superliga, se der liga, vai mostrar o quão vantajoso será apostar no esporte no Brasil. E não só nos próximos anos…


O marketing como aliado do esporte
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Erich Beting

O marketing precisa entrar cada vez mais em campo no esporte brasileiro. Isso todos sabemos, mas aos poucos os clubes brasileiros começam a fazer de fato ações para engajar o torcedor e aumentar sua receita. Na Europa, o conceito de marketing dentro do esporte está bem mais difundido. Prova disso é a campanha que o Getafe acabou de lançar em busca da presença de mais torcedores nos estádios para a atual temporada do futebol na Espanha.

O curioso é o clube dizer, textualmente, que é um dos “menores” do futebol espanhol. Conhecer o público é uma das chaves para o sucesso de campanhas de marketing. Mais fundamental ainda é saber como comunicar. Ainda terá um dia que um clube brasileiro vai poder dizer, sem prá-conceitos ou receios, que é pequeno e precisa de mais torcida.

O vídeo do Getafe você confere abaixo.


A culpa é sempre do patrocinador…
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Erich Beting

Torben Grael, maior medalhista olímpico da história do país, abriu mão de tentar a vaga nos Jogos de Londres, no ano que vem, por falta de patrocínio. A notícia veio à tona na última semana, e levantou aquela velha discussão do “absurdo” que é um campeão olímpico não ter apoio para competir numa Olimpíada.

Mas será que a culpa é sempre do patrocinador?

Nesta quinta-feira, Torben Grael divulgou um comunicado à imprensa afirmando que não tem patrocinador para tentar o projeto olímpico, mas que continua a ser muito bem patrocinado pela Mitsubishi para competir na Vela Ocêanica.

“A esta altura, dificilmente vou tentar uma vaga para os jogos de Londres devido, principalmente, à falta de patrocínio exclusivo para uma campanha olímpica. Já na vela de Oceano, tenho o apoio e um excelente patrocínio da Mitsubishi Motors do Brasil, onde velejo na classe Soto 40, barco idealizado pelo empresário e velejador Eduardo de Souza Ramos”.

Essa foi a frase que Torben teve de colocar no comunicado, tentando reparar a crise causada com seu patrocinador, que já investe nele e, muito provavelmente, sentiu-se menosprezado ao ver tantas matérias falando que o grande campeão do país não tem apoio.

Invariavelmente a mídia crucifica a “falta de patrocínio”, considerada a grande mazela para que atletas vitoriosos como Torben não consigam galgar sonhos mais altos no esporte. Mas por que a culpa sempre é do patrocinador? Como costumo dizer por aqui, patrocínio não pode ser confundido com caridade. Para uma empresa dispender dinheiro num projeto, ele tem de trazer retorno.

Fica ainda pior quando o atleta reclama da falta de patrocínio e coloca esse fator como o maior responsável para ele não conseguir cumprir seus objetivos. Esse tipo de atitude só prejudica a imagem do esportista e faz com que o patrocinador, naturalmente, não veja nesse atleta ou nessa instituição um bom produto para colocar seu dinheiro.

Nem sempre o problema está na falta de visão do patrocinador. Diria que, na maioria das vezes, o problema está no próprio patrocinado, que não consegue mostrar para a empresa o retorno que ele pode trazer.

Ser o melhor não basta, é preciso representar também o melhor negócio para quem vai investir. Isso dá muito mais trabalho do que competir. No fim, é muito fácil colocar a culpa no patrocinador. Ou na ausência dele…