Negócios do Esporte

Arquivo : setembro 2011

O estranho silêncio sobre a São Silvestre
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Erich Beting

Sem alarde, há poucos dias a organização da prova da São Silvestre divulgou o regulamento da competição, confirmando a alteração de trajeto da prova, com a chegada na região do Obelisco, no bairro do Ibirapuera, e o fim do término na Avenida Paulista.

Desde sempre a Yescom, organizadora da competição, dizia que a preocupação maior era com o atleta, e já no ano passado dava a entender que possivelmente a chegada da prova não seria mais na Avenida Paulista.

Aí, quando finalmente a Paulista foi riscada do mapa, a tal “preocupação” com o atleta mostrou ser descaso mesmo. O regulamento publicado no site dava pouco estardalhaço para a questão do novo trajeto e, pior do que isso, continha a informação de que a medalha continuaria a ser entregue no kit de participação do atleta, antes de a prova ter início e que teoricamente tinha sido um dos argumentos usados para defender a migração da chegada para “atender o desejo de o atleta receber a medalha após cruzar a linha”.

Depois de as pessoas relatarem o descaso de um simples “copiar e colar” do regulamento do ano passado, com uma “pequena” alteração sobre o local de chegada, a organização simplesmente disse que havia um erro e que prontamente seria alterado.

Agora, o regulamento no site está mais arrumadinho, com as informações corretas. Mas, estranhamente, simplesmente nenhuma das partes envolvidas se prestam a falar com a imprensa para conversar sobre essa importante alteração no trajeto da mais tradicional prova de rua da América do Sul.

A “culpa” continua sendo da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), única instituição que até agora se manifestou e assumiu a responsabilidade pela alteração da chegada para a região do Obelisco.

Perguntar não ofende: o consumidor não mereceria um pouco mais de consideração da parte dos organizadores? Ou simplesmente a função dele é pagar pela inscrição, correr a prova e, de preferência, não reclamar?

Será que combina mesmo a alcunha de que a São Silvestre é uma das mais democráticas corridas de rua do mundo?


Por que só a exposição não serve para o patrocínio
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Erich Beting

Como sempre batemos na tecla por aqui, cada vez mais a tendência no mercado esportivo é o patrocinador entender que não  basta mais a exposição da marca como retorno de um patrocínio. Obviamente que esse é um grande benefício que o esporte consegue proporcionar a quem investe, mas não pode ser, de forma alguma, o único.

Uma mostra disso deu o piloto de Fórmula 1 Lucas di Grassi. No ano passado Lucas correu pela Virgin, e neste ano tornou-se piloto de testes da Pirelli, desenvolvendo os pneus que serão usados pelos pilotos na próxima temporada. Em tese, a exposição do piloto diminuiu de 2010 para esse ano, o que poderia ser ruim para o atleta e, principalmente, para o patrocinador.

Se os seus patrocínios fossem baseados apenas na exposição de marca, dificilmente Lucas teria mantido os acordos de um ano para o outro. Daí a necessidade de o patrocínio não se restringir ao quanto a marca aparece na mídia. Di Grassi gravou um filme com a Eurobike, marca que é uma de suas patrocinadoras pessoais. A ideia partiu da One, agência de marketing esportivo que tem o piloto como um dos sócios e que cuida do gerenciamento de sua marca.

O vídeo a seguir mostra que patrocinar vai muito além da exposição. E que, cada vez mais, o esporte no Brasil tende a seguir para a ativação das principais propriedades que é capaz de proporcionar.


Mario Fernandes e o resgate da imagem da seleção
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Erich Beting

O não de Mario Fernandes para a convocação à seleção brasileira nada mais é do que um reflexo da falta de interesse cada vez maior no time nacional. Não há nada de absurdamente errado, hoje, em um atleta não aceitar defender o Brasil. Não é falta de amor à pátria, não é desrespeito às cores do país ou algo do gênero.

Tudo isso é, tão e somente, a falta de identificação do jogador com o time. E que, por sua vez, é reflexo de um distanciamento cada vez maior das seleções em geral de seu torcedor.

Com a transformação dos times em potências multinacionais, o sentimento de identidade de uma pessoa com a seleção de seu país diminuiu. Os jogadores, na maior parte das vezes, não convivem com a realidade de sua pátria, morando no exterior e não entendo o quanto pode ser valioso saber que seu país é representado por ele.

Falta, não só ao Brasil, criar um elemento que faça com que o time nacional seja tão importante quanto o clube pelo qual o torcedor tem afinidade. Não se pode mais achar que o momento máximo da carreira de um atleta seja defender a seleção de seu país, da mesma forma que, para o torcedor, muito mais importante do que um título mundial a cada quatro anos é a vitória sobre o maior rival no final de semana.

Não seria nada ruim para a CBF investir alguns milhões de dólares numa pesquisa para medir a popularidade da seleção brasileira e da entidade como um todo. Quem sabe, com isso, até 2014 a confederação consiga resgatar um pouco da alma do time nacional sem depender do resultado dentro de campo, como sempre foi a história da seleção desde antes da existência da CBF.

O não de Mario Fernandes pode significar o início de um processo de resgate da imagem da seleção. Dinheiro para se investir nisso, como se sabe, não é problema. Talvez exatamente aí já se tenha o início do caminho para encontrar a resposta para uma mudança na imagem da seleção…


Red Bull deixa rivais comendo poeira mais uma vez
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Erich Beting

Esqueça a performance de Sebastian Vettel e da Red Bull na atual temporada da Fórmula 1. Já estamos em 2012. Pelo menos a cabeça da melhor equipe da F1 já está no GP dos EUA, em 18 de novembro de 2012.

Com o título de “Primeira volta no Circuito das Américas”, a Red Bull fez a pré-estreia do GP do Texas. No último dia 20 a empresa divulgou o vídeo, com 6 minutos de duração, que conta a história da primeira volta realizada no circuito. É mais um baile na ativação da propriedade que a Red Bull tem na F1. Ligando a história do Texas com os touros, a filmagem conta com o carro pilotado por David Coulthard, ex-piloto de provas e atual piloto promocional da companhia.

Não é à toa que a marca deixa todos para trás. O conceito, como sempre, é usar o esporte para falar da atitude da marca. O vídeo segue abaixo.


As redes sociais turbinam os patrocínios esportivos
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Erich Beting

Na próxima segunda-feira, o Pão de Açúcar vai promover um bate-papo com Fabiana Murer, campeã mundial no salto com vara no mês passado em Daegu (Coreia do Sul). O evento mostra o quanto as redes sociais têm servido para a ativação do patrocínio esportivo.

Murer é patrocinada do Pão de Açúcar há quase uma década. Quase sempre a forma usada pela rede de supermercados para falar sobre a relação se resumia a anúncios publicados após grandes conquistas da atleta.

Agora, porém, com as redes sociais, a situação ficou muito mais simples. Além de manter as propagandas pós-conquistas, as empresas têm o benefício de usar Twitter, Facebook e afins para ligar diretamente o torcedor com a propriedade patrocinada.

O que tem acontecido muito nos últimos meses, porém, é a empresa esquecer que é importante não se restringir ao uso da rede social para falar do patrocínio. Esse tem sido um erro constante do patrocinador, que mede o resultado de uma ação pelo número de pessoas que “curtiram” uma página no Facebook ou pela interação no Twitter.

O patrocínio tem na rede social um importante aliado para fazer com que o público final se aproxime de uma marca ou do esporte. Mas para que o alcance seja ainda maior, é fundamental extrapolar os limites da mídia social.

Twitter e Facebook não podem ser considerados o fim de uma campanha, mas sim um meio importante para reforçar a comunicação. O investimento em publicidade tradicional é ainda um caminho importante para que o patrocínio fique ainda mais “popular”. As redes sociais são apenas um meio para turbinar o retorno dos investimentos.


Guga entra numa nova fase de popularização do tênis no país
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Erich Beting

Na semana passada, Gustavo Kuerten revelou ao programa Mit Point, do Fernando Meligeni, que vai contracenar na nova novela da Globo. Mais do que a revelação de Guga, interessante foi o que ele falou ao dizer um dos motivos que o fez aceitar o papel.

“Isso servirá para ajudar ainda mais a divulgar o tênis no Brasil, serve para mostrar mais o esporte”.

Talvez Guga seja hoje uma das figuras mais importantes para a popularização do tênis. Depois de ter sido o melhor tenista da história do país, ele agora tem condições de ser o personagem que ajudará a tornar o esporte mais próximo ainda das pessoas.

No auge de sua carreira, Guga foi fundamental para que o país começasse a entender o que era o tênis. Regras, sistema de disputa, principais jogadores, etc. Agora, a função dele como uma espécie de embaixador do esporte pode ser o segundo passo para que tenhamos o tênis ainda mais consolidado no Brasil.

A presença de Guga cada vez mais na mídia brasileira, bem como a entrada dele numa novela da Globo pode aguçar ainda mais o interesse pelo esporte. Nos Estados Unidos, a ligação do esporte com as séries de televisão é corriqueira. Mais do que expandir o alcance das modalidades, essas aparições contribuem para que as pessoas fiquem mais familiarizadas com o cotidiano do esporte.

Guga é um ídolo sem igual no tênis brasileiro. Dez anos depois de seu tricampeonato em Roland Garros, ele começa uma segunda etapa de ajuda no desenvolvimento do esporte no país. Ainda teremos muito o que agradecer ao maior ícone da modalidade.


Brasil 2024
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Erich Beting

Será impossível para o Brasil ser uma potência esportiva em 2016. Não adianta querer imaginar que, em cinco anos, faremos o que não conseguimos em mais de 50. Mas o Brasil pode, sim, planejar o alto rendimento esportivo em diferentes modalidades olímpicas para 2024, por que não?

Esse é o foco que deveria nortear todo o trabalho do COB para as Olimpíadas e, mais do que isso, das confederações. Em vez da promessa de medalhas ou finais em 2016, teríamos de nos preocupar muito mais no que será feito depois do Rio.

Nos próximos anos, teremos um incremento do patrocínio no esporte. A expectativa é de que o mercado fique duas a três vezes maior do que já era, sendo que as modalidades participantes do programa olímpico verão pela frente uma condição para a melhora de desempenho que nunca antes havia sido experimentada.

A meia década que temos pela frente será crucial para que os esportes se profissionalizem e passem a fazer jus ao investimento recebido. Da mesma forma, a mídia terá de se profissionalizar, passando a tratar o esporte como um todo, não apenas focando no futebol ou no que é medalha.

O processo é longo, mas pode representar o maior legado da realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. O Brasil de 2024 poderá ser uma potência esportiva. Para isso, precisa saber planejar e trabalhar 2016.


A Heineken faz mais um golaço
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Erich Beting

A Heineken fez mais um golaço neste ano com as ações de ativação do patrocínio na Liga dos Campeões da Europa. Principal marca relacionada ao torneio, a empresa decidiu criar um jogo para telefones celulares que é uma extensão da partida que ocorre em tempo real na liga.

A brincadeira consiste em advinhar os próximos passos do jogo escolhido pelo usuário. No dia de rodada da Liga dos Campeões, você tem de ficar ligado na partida escolhida e no celular. A graça é palpitar com o que vai acontecer na sequência de um lance (será gol, o goleiro vai defender, a zaga vai afastar ou o atacante perderá a bola). Se você acertar, ganha mais pontos. Ao final, alguns prêmios são dados àqueles com melhor performance.

A dinâmica do jogo consegue fazer exatamente com que o torcedor não fique restrito apenas à paisagem da marca de cerveja no estádio ou à propaganda veiculada durante as transmissões dos jogos em todo o mundo.

Como sempre bato na mesma tecla por aqui, é preciso ir muito além da exposição que o esporte proporciona. A empresa que quiser se diferenciar tem de transpor essa barreira e saber aproveitar a emoção que se obtém num evento esportivo para ser diferente para o consumidor. Do contrário, “apenas” a exposição deixa de ter resultado mais efetivo.

Por isso mesmo a Heineken faz mais um golaço. Voltado especialmente para o mercado europeu, quando os jogos acontecem à noite, o aplicativo é uma simples maneira de a Liga dos Campeões ser “possuída” pela empresa. Dessa forma, o patrocínio deixa de ser o fim para se tornar o meio de comunicação com o consumidor.

Por aqui, finalmente, as empresas começam a se mexer em torno desse conceito. É isso que falta para o esporte continuar em alta depois que Copa e Olimpíadas passarem.


Uma Copa a mil?
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Erich Beting

Hoje temos a simbólica marca dos mil dias que restam para o pontapé inicial da Copa do Mundo de 2014. Os eventos em cada uma das 12 cidades-sedes do torneio servirão, mais uma vez, para deixar o brasileiro preocupado. Muita festa e pouco resultado compõem a sensação ao vermos fotos que envolvem políticos e astros da bola como Pelé e Ronaldo.

Em vez de celebrarmos os mil dias para a Copa, deveríamos estar com uma Copa a mil por hora em sua fase derradeira de preparação.

Sim, porque se hoje falamos que é fácil fazer o Mundial em menos de mil dias, porque não já estamos com tudo pronto 1471 dias depois de o Brasil ter sido eleito a sede da Copa do Mundo de 2014?


Manifesto São Silvestre
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Erich Beting

A decisão, ainda não-oficializada, de acabar com a chegada da São Silvestre na Avenida Paulista gerou uma mobilização entre as principais figuras do mercado de corrida de rua do país. Na semana passada, um encontro em São Paulo selou o ponto de partida para que possamos nos unir e aumentar as vozes contra a mudança abrupta do trajeto da prova. Sim, sabemos que a São Silvestre é uma prova de uma instituição privada, porém o que ela representa para a história do mercado dos corredores de rua faz da SS praticamente um patrimônio da humanidade.

Para ampliar o debate, também é possível acessar à página no Facebook. O nome é o São Silvestre na Paulista. Vamos mostrar o quanto é importante, para a história da SS, fortalecermos as tradições que fizeram dessa prova símbolo de um estilo de vida que é o dos corredores de rua. Sendo assim, segue abaixo a carta aberta em que assinamos publicamente esse manifesto.

A São Silvestre, corrida com 87 anos de existência, representa o auge da celebração do esporte corrida de rua. Reúne atletas profissionais e amadores de todo o país e do mundo, que comemoram o final de mais um ano correndo pelas ruas da cidade de São Paulo.

É um evento único, com caráter participativo e competitivo. É festivo para as centenas de corredores fantasiados e outros tantos que ali estão pelo prazer de correr e de se superar, ao mesmo tempo em que é uma competição de nível internacional certificada pela IAAF. Une, como nenhuma outra corrida, paixão pelo esporte e performance.

Se entre amadores a SS estimula a busca pela qualidade de vida e o desejo de superação, para os profissionais significa a chance de se destacar. Ela revela talentos do esporte, abre portas para novos atletas e planta o sonho em muitos outros. Vencer a São Silvestre representa estar no Olimpo do atletismo.

Mas São Silvestre é muito mais do que uma corrida de rua, talvez seja o único evento esportivo onde o contemplativo, gratuito, reúne milhares de pessoas no Brasil. Tanto é que a televisão quer transmitir. A história da prova, com grandes atletas, a celebração do fim do ano, os esguichos de água no Minhocão e rua Olga, as pessoas no trajeto são situações exclusivas da SS. Somam muita gente, apoios importantes. Isso também, a nosso ver, é motivo para a preservação de suas características pela municipalidade.

Que outra prova é tão querida e está tão presente no imaginário das pessoas, corredores ou não?

Tudo, claro, é resultado de anos de esforços. Ao longo do tempo, a São Silvestre fez seus ajustes de percursos e horários. Mas conseguiu manter reunidas excelentes qualidades daquilo que há de mais difícil para um evento esportivo: tradição, data fixa de realização (o que permite a organizadores e atletas fazer todo um planejamento), cobertura de mídia e ser um objeto de desejo do consumidor.

Tradição, porém, é uma palavra que está sendo descartada da versão 2011 da prova. Em nome da “modernidade”, da “renovação” e do “conforto”, foi anunciado que a chegada será transferida da Avenida Paulista para o Parque do Ibirapuera. Decisão tomada por parte dos organizadores, sem debate ou qualquer consulta aos verdadeiros donos da prova: nós, os corredores.

Nós, jornalistas corredores e profissionais da corrida, estamos aqui empenhados em fazer com que a tradição seja respeitada e a chegada da São Silvestre seja mantida na Avenida Paulista.

Com argumentos que vão desde a manutenção da tradição, passando por questões de logísticas (somos corredores e conhecemos bem a dificuldade de se largar em um local e chegar em outro, por exemplo) e até sugestões técnicas, estamos abertos ao diálogo.

Se você também é a favor da discussão saudável, tendo em vista a manutenção da tradição da São Silvestre, preservando sua alegria e sua segurança, junte-se a nós.

Comissão de jornalistas e profissionais da corrida

Alessandra Alves, jornalista
Alexandre Koda, jornalista
Ana Paula Alfano, jornalista
Bruno Vicari, jornalista
Cássio Politi, jornalista
Erich Beting, jornalista
Fernanda Paradizo, jornalista
Harry Thomas Jr., jornalista
Martha Dallari, vice-presidente da Associação dos Treinadores de Corrida de São Paulo (ATC)
Nelson Evêncio, presidente da ATC
Ricardo Capriotti, jornalista
Sergio Xavier, jornalista
Simone Manocchio, jornalista
Vicent Sobrinho, jornalista
Yara Achôa, jornalista