Negócios do Esporte

Arquivo : novembro 2011

O esporte deveria aprender com dupla sertaneja
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Erich Beting

Não fiquei louco, nem você leu errado o título desse post. Mas falta hoje dentro do esporte muito da visão de negócios que faz hoje da dupla sertaneja Fernando & Sorocaba um fenômeno do entretenimento musical.

A começar pelo posicionamento dos dois líderes da empresa. Isso, empresa. Não é dupla caipira, sertaneja, ou sertaneja universitária. É uma empresa. Com uma visão de negócios que faz com que o seu ganha-pão não se resuma a cantar música, fazer shows ou vender DVDs e CDs (aliás, alguém ainda compra CD hoje em dia?).

No último domingo, os dois Fernandos que comandam a dupla deram entrevista ao programa “De Frente com Gabi”, no SBT. Falaram sobre carreira, fãs e tudo o que é básico dentro de um programa que entrevista uma dupla que tem arrebentado nas paradas de sucesso. Mas o que mais chamou a atenção durante o bate-papo foi a visão que a dupla tem de que o futuro dela não depende da música que fazem, mas de algo bem maior, que é a indústria do entretenimento.

Nos shows, a dupla “passeia” por sobre o público numa bola inflável de borracha, ou então faz um jogo de luzes para transformar a casa de shows em que os dois estão num cenário que pega fogo, explode, vira o Monte Everest, etc.

A frase de Sorocaba para explicar o motivo de a dupla fazer isso é emblemática: “queremos trazer mais entretenimento para os nossos shows, interagir mais com o público. A pessoa não tem de ficar presa apenas com a música que toca”.

Acostumamo-nos a debulhar elogios para os megashows que acontecem por aqui de vez em quando. O palco em forma de teia, no centro do estádio do Morumbi, montado pelo U2, é apenas um dos exemplos. No passado, eram infindáveis as matérias sobre o séquito de pessoas e parafernálias que acompanhava as turnês de Michael Jackson, Madonna e afins.

Parecia que esse era um universo que não fazia parte da realidade do Brasil. Hoje, porém, a cada dia que passa o mercado da música entende que não basta ter talento, é preciso fazer com que o público se engaje cada vez mais com as músicas e as atitudes do artista.

É exatamente uma visão desse tipo que ainda falta ao esporte brasileiro. Ter sucesso dentro de campo, da quadra, da pista ou da piscina não é suficiente. Precisamos extrapolar isso para ser eficiente também fora do ambiente do esporte. E isso passa, necessariamente, por uma mudança na visão do esporte como parte integrante (para não dizer uma das principais) da indústria do entretenimento.

Um show com interação entre público e artistas tem o mesmo princípio de um jogo de futebol em que é oferecido ao torcedor muito mais do que a experiência durante o rolar da bola. É preciso pensar no conforto e na atenção dessa pessoa desde antes de sair de casa e se preparar para o evento. Do contrário, aos poucos esse torcedor começa a se distanciar daquilo que começou a fazer por paixão.

E quando chegarmos a esse novo patamar de experiência e entretenimento com o público? A própria dupla sertaneja dá o recado. A meta, agora, é começar a compor e a gravar em inglês. O objetivo é ampliar o alcance da música e passar a ganhar mercados além daqueles que falam a língua portuguesa.

Foi assim que os Estados Unidos tornaram o basquete da NBA uma marca universal e é assim que eles trabalham a expansão do futebol americano. Na Europa, é esse o conceito que move os principais clubes de futebol do país.

No esporte brasileiro, temos de acabar com o complexo de que somos vitrine para passar a exportar o nosso produto. E isso não significa levar o atleta para jogar em outras ligas, mas fazer o consumidor de fora gastar dinheiro com os nossos talentos. Só isso fará com que o esporte de fato cresça independentemente dos grandes eventos que estão por vir.


O Fenômeno fará seu último golaço numa Copa?
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Erich Beting

Ronaldo não tem absolutamente nada a ganhar caso venha a ser, de fato, o novo presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014. O anúncio, que pode ocorrer até o final desta semana, colocará o maior goleador de Mundiais num enorme dilema.

Não, leitor, não pense com a cabeça de quem é apenas uma formiga no meio de um oceano como todos nós. Ronaldo é Ronaldo. Talvez represente a maior marca do mercado esportivo brasileiro. Sem dúvida representa o maior jogador brasileiro em Copas depois de Pelé. Foi a três finais do torneio, é o maior goleador do maior evento do futebol mundial, é um ícone da geração que hoje vive o sonho de termos um Mundial no Brasil.

Ronaldo é hoje, também, um executivo que prova ser extremamente competente. O sucesso de sua empreitada, com a geração de um faturamento  recorde em menos de um ano de atuação da 9ine, mostra o quanto o Fenômeno não precisa do cargo de presidente do COL para se promover, para ganhar mais dinheiro ou ampliar a sua rede de contatos.

Aliás, dinheiro não é a questão. Assim como ocorria dentro de campo, em que o que mais lhe motivava era o desafio de fazer o negócio acontecer, fora dele a atuação do executivo Ronaldo lembra muito a do centroavante rompedor e habilidoso que ele sempre foi.

Só que agora ele vai entrar no meio de uma polêmica que envolve denúncias de corrupção, evidências de processos minimamente suspeitos na condução de negócios e mais um monte de outras coisas que um cara com a imagem dele só tem a perder caso responda positivamente ao convite feito por Ricardo Teixera.

Também pelo fato de a proposta vir de quem vem. O manda-chuva do futebol nacional há quase 25 anos e que, hoje, ironicamente vive um de seus períodos de maiores baixas de imagem desde as CPIs que quase levaram a sua derrocada no início do milênio.

Joseph Blatter e Ricardo Teixeira não se bicam mais, e a Copa virou um pepinaço a dois anos de sua realização. Esqueça o papo de que Teixeira sairá em 2015 para galgar passos mais altos na Fifa. Sua história na entidade acabou junto com o contragolpe promovido por Blatter para frear o golpe que vinha sendo articulado por Bin Hamman e seus dólares qataris. Teixeira, como bem ligou os pontos a revista Piauí no famoso perfil que traçou recentemente do presidente da CBF, estava do lado do chefão do futebol no Qatar. Assim como estavam Jack Warner (Concacaf), Julio Grondona (AFA) e Nicolás Leoz (Conmebol). Warner e Hamman já foram sacados da Fifa. Não é de se duvidar que o trio sul-americano tenha o mesmo fim, talvez até o final deste ano.

Sendo assim, a Copa no Brasil precisa urgentemente de um pacificador e, também, de um aglutinador. Ronaldo terá de ter a habilidade de um exímio meio-campista para unir todas as pontas e fazer com que paremos de ter um racha na organização e execução do projeto Copa do Mundo no Brasil. Não dá mais para que governo e Fifa fiquem de um lado, e o COL do outro.

E aí está o maior desafio para o Fenômeno. Se aceitar o convite, terá de segurar a bucha de uma Copa marcada pelo racha entre COL e Fifa, algo nunca antes visto na história do Mundial. Além disso, terá de dar a cara a tapa para ser aquele que vai fazer o evento, de fato, “pegar” no Brasil. O governo já começou a tentar fazer isso com Pelé, e agora Ronaldo poderia ser mais uma figura fundamental para ajudar no processo de engajamento da população com o torneio.

Mas, por fim, entra outro ponto sobre a imagem de Ronaldo caso ele venha a dizer sim ao convite para presidir o COL. Como lidar com o evidente questionamento dos conflitos de interesse que podem surgir? Ronaldo, pessoa física consagrada que é, tem contrato com a Ab-Inbev, patrocinadora da Copa. Tem outro também com a Claro, que é concorrente da Oi, que por sua vez patrocina o Mundial. Sua agência, a 9ine, tem contratos diversos com empresas e atletas que também estão relacionados ao evento.

A Copa de 2014 será no Brasil, não há mais como acabar com esse processo. O convite a Ronaldo coloca-o mais ou menos como quando tinha de chutar para marcar o gol. Espera o goleiro cair, fuzila a bola no gol ou dá um drible a mais? Poucos dominaram essa técnica como o Fenômeno. Agora, porém, não dá para prever qual será o resultado de sua ação.

Se conseguir ter sucesso e não ligar sua imagem ao que há de pior hoje no futebol, Ronaldo pode vir a marcar o maior golaço dentre os 15 que já fez para o Brasil numa Copa do Mundo.


Por que preservar a identidade de um clube é importante
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Erich Beting

“Corintiano, maloqueiro e sofredor, graças a Deus”. Esse é o lema que move grande parte dos torcedores do Corinthians em sua vida esportiva. E que transfere para o campo esse sentimento. O corintiano é, por excelência, um torcedor que está com o time até o fim, vide o que aconteceu na antepenúltima rodada, no jogo contra o Atlético Mineiro, em que o Timão alcançou a virada aos 43 minutos do segundo tempo. A alma corintiana ajudou, e muito, o time a conquistar o resultado dentro de campo.

Da mesma forma, vários outros torcedores de outros clubes têm essas “manias” por assim dizer, que movem a sua paixão pelo time. Só que essas frases da torcida têm muito a dizer e a ajudar os clubes para se tornarem marcas mais poderosas.

Outro dia, conversando com um amigo torcedor do Bahia, surgiu a ideia desse post. Nos anos 80, o Bahia tinha como regra não ser derrotado dentro de casa. Não importava o adversário nem a fase do time. Jogo na Fonte Nova era certeza de vitória. Sua desolação com o time neste Brasileirão era exatamente por ele não estar cumprindo com sua história. Fazia parte do DNA da marca não perder jogos em seu estádio.

No Santos, os “Meninos da Vila” vão guiar o clube pelos próximos anos. Não, aqui não falamos de jogadores, mas de conceito de marca. O Santos, que em 2012 completa seu primeiro centenário, vai deixar clara a mensagem que quer passar: é o time da irreverência, do jovem, voltado para as vitórias com uma equipe formada por atletas com pouca experiência, mas muito talento.

E os outros times?

É preciso urgentemente fazer uma visita ao passado, ou então o dirigente tem de passar mais tempo sentado no concreto da arquibancada. É do torcedor que conseguimos extrapolar o conceito do que é aquela marca. Quando o clube sabe quem ele é, fica muito mais fácil trabalhar. Não à toa, muito do que hoje representa o Barcelona para o mercado esportivo mundial está simplificado numa frase: “Mais que um clube”.

Enquanto esse conceito não permear todas as decisões de um clube de futebol, de muito pouco servirão os estudos com avaliações de valores de marcas de clubes. É muito mais honesto, por incrível que pareça, usar o jargão “tal clube tem uma marca muito forte, mas que é pouco explorada”. Afinal, são raros os exemplos de clubes que fazem um estudo para saber ao menos qual é a identidade de sua marca. A partir daí é que poderemos pensar em comparar potencial de mercado com os resultados efetivos de uma determinada ação.


A Parmalat foi a maior vitoriosa do GP do Brasil!
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Erich Beting

Que Red Bull que nada! A grande vitoriosa do GP do Brasil de Fórmula 1 foi uma empresa que há quase 30 anos não investe na modalidade. A Parmalat talvez tenha tido um dos melhores retornos de exposição de marca com a etapa brasileira da F1.

A volta de apresentação dada por Nelson Piquet a bordo do carro que ele pilotava em 1981 foi um dos pontos altos da transmissão do evento no domingo (veja ao término do texto parte do vídeo exibido pela Globo momentos depois do ocorrido, quando a emissora ainda não estava com a exibição ao vivo do GP).

A exposição que a Parmalat teve mostra o quão permanente pode ser o investimento no esporte. Com uma história de conquistas, a marca da empresa do ramo alimentício italiana ficou perpetuada na memória. É vista, até hoje, como vitoriosa, mesmo após esses anos todos tendo quebrado após a descoberta de um esquema de fraude e estar, atualmente, passando por um processo de reestruturação com novos donos em todo o mundo.

O vínculo emocional que o esporte consegue causar para o consumidor é um dos grandes diferenciais em relação a outros investimentos em patrocínios. O reflexo disso pode ser visto em Interlagos no final de semana. Qual outra marca teria uma exposição dessas durante mais de um minuto se não tivesse uma história de ligação com o esporte?

Esse é só mais um bom exemplo de como o esporte é diferente de tudo quanto é tipo de investimento em patrocínios que criam vínculos entre a marca e o público.


Brasileirão e F1 mostram o mal do esporte ser previsível
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Erich Beting

No esporte, a melhor coisa que pode existir é a imprevisibilidade. A prova disso será tirada neste final de semana, quando teremos, praticamente na sequência, o GP do Brasil de Fórmula 1 e a penúltima rodada do Campeonato Brasileiro de futebol.

Enquanto a F1 já está decidida, o Brasileirão pega fogo com três times como postulantes ao título a duas rodadas do fim. O resultado é óbvio. A F1 tem até promoção de venda de ingressos em sites de compra coletiva, enquanto as filas para compra de bilhetes para os jogos decisivos do Nacional são cada vez maiores.

Um dos grandes desafios do esporte brasileiro no passado foi mostrar para quem investia nele que o maior retorno não é só quando a equipe vence, mas também quando há um grande suspense no ar sobre como será o desfecho daquela disputa.

Há 20 anos, uma empresa geralmente investia no esporte sem pensar que a marca dela poderia não estampar o uniforme do atleta vencedor, mas mesmo assim ela se beneficiaria dessa exposição e dessa ligação com o esporte.

Por isso víamos alguns absurdos em algumas modalidades, como o time de basquete da Nossa Caixa, no início dos anos 90, contando “apenas” com Paula e Hortência na mesma equipe. Simplesmente a Ponte Preta conseguiu o título mundial na época, mas o interesse do público pelo basquete caiu, já que não havia equipe capaz de disputar em pé de igualdade com aquele Dream Team.

A temporada de 2011 da F1 foi mais ou menos isso. Só deu Vettel. E qual a graça para o consumidor nisso? Para não ficar só na teoria, vale comparar a audiência do GP do Brasil da Fórmula 1 desde 2006, quando Michael Schumacher se aposentava pela primeira vez.

Naquele ano, a Globo teve 27 pontos de média na medição do Ibope, em prova que também definiu o bicampeonato de Fernando Alonso. Em 2007, Kimi Raikkonen foi o vencedor no GP maluco, que registrou 26 pontos no Ibope. Em 2008, Massa e Hamilton duelaram até a última curva. O resultado, além da vitória  do inglês, foram os 33 pontos de audiência registrados. No ano seguinte, Barrichello ainda tinha um fio de esperança pelo título em Interlagos, e a Globo chegou aos 26 pontos de audiência. No ano passado, com o título ainda indefinido, mas sem os brasileiros com chances de vitória, a audiência despencou: meros 16 pontos.

Ok, vamos tirar um pouco de lado o fato de que a audiência da TV aberta tem caído nos últimos anos, mas qual a expectativa que se pode ter de aumento do índice do Ibope para a prova deste domingo? Sem chance de ter campeão e, além disso, com uma temporada péssima dos brasileiros, a certeza é de que teremos uma audiência terrível para a prova. Um pouco mais tarde, porém, o Ibope do Brasileirão possivelmente registrará um dos melhores resultados aos domingos em 2011.

Do ponto de vista do patrocinador, quanto maior a imprevisibilidade de uma competição, maior é a chance de sua marca aparecer para mais pessoas. E, dado o componente de emoção que envolve o esporte, mais importante ainda é saber que uma eventual conquista de título poderá turbinar ainda mais o resultado do investimento que foi feito.

Na indústria do entretenimento, nada é mais imprevisível que o esporte (o que também faz desse investimento também o mais arriscado e mais caro). Se ele perder essa característica, também perderá, e muito, o seu apelo comercial.


Como saber o valor do nome de um estádio?
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Erich Beting

A pergunta começa, finalmente, a ser feita dentro do mercado brasileiro. Nesta quinta-feira, duas notícias diferentes, publicada em veículos diferentes, tem como tema principal a negociação dos naming rights de estádios brasileiros.

Uma delas é da colunista Mônica Bergamo, na “Folha de São Paulo”, dando conta de que o Corinthians recusou uma oferta de R$ 220 milhões pelos direitos de dar nome ao seu futuro estádio. A outra, na Máquina do Esporte (leia aqui), fala sobre o interesse do Grêmio de chegar até os R$ 100 milhões por um acordo de dez anos para sua arena.

A verdade é que não existe no Brasil um histórico que nos permita dizer se o Grêmio quer muito, ou o Corinthians perdeu um grande negócio na questão da negociação do direito de uso do nome de seus estádios. Não aqui em terras brasileiras.

Mundialmente, o maior acordo de naming rights tem valor de US$ 20 milhões ao ano durante 20 anos. Os dois acordos são para estádios na região de Nova York (Citi Field, usado prioritariamente para o beisebol, e o MetLife Stadium, com uso regular do futebol americano), num mercado acostumado há mais de 50 anos à cultura da negociação de acordos de cessão de nome de uma praça esportiva para uma empresa. Ou seja, a base de comparação é cruel para o mercado brasileiro.

No futebol, o maior acordo é o da Allianz Arena, em Munique. Envolve apenas o nome do estádio, por 6,5 milhões de euros ao ano. Esse já é um negócio que pode ficar mais próximo da realidade brasileira, em que as empresas teriam interesse em dar nome ao estádio, mas não colocar sua marca na camisa do time de futebol que é dono do espaço. No caso da Allianz, o acordo inicial previa o uso da arena por Bayern e Munique 1860, mas atualmente apenas o Bayern utiliza o espaço, após comprar do Munique os direitos de uso do estádio.

Depois de mais de 40 anos sem erguer praticamente nenhum estádio no Brasil, por conta da Copa passamos por um novo processo de renovação de nossas arenas. E isso traz novos conceitos, entre eles a questão do naming right.

O que dá para saber é que, mundialmente, os valores que Corinthians, Grêmio e Palmeiras pretendem alcançar são praticamente inexistentes, a não ser no mercado dos Estados Unidos, em que quase sempre os estádios não são usados por apenas um time e para uma única modalidade.

Além disso, o Brasil tem uma cultura muito forte de dar apelido para tudo. Somos o país de Pelé, Ganso, Pato, Zico, Deco, Pepe, Zinho, Ronaldinho, Robinho e muitos inhos e ãos. Como o próprio Itaquerão, que chamado assim até mesmo pelo presidente do Corinthians algumas vezes, vai dificultando ainda mais a criação de uma cultura de venda da propriedade comercial do nome do estádio.

O lado bom é que alguns pré-conceitos já estão sendo derrubados. O primeiro deles, a absurda tese de que um estádio se paga só pela venda dos naming rights, já caiu por terra no planejamento das obras. O próximo passo é começarmos a entender que os valores precisam ser muito bem comparados antes de qualquer frase de dirigente.

Como determinar o valor do nome de um estádio? Tanto para quem vender e para quem comprar, a solução é uma só. Estudar a fundo como funciona esse mercado onde há base para essa comparação. Geralmente é assim que fazemos quando temos de adentrar algum terra nunca antes navegada…


Clube sem dono atrapalha a evolução do futebol
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Erich Beting

A frase foi publicada na edição de terça-feira do jornal “Folha de São Paulo” por Arnaldo Tirone, presidente do Palmeiras: “O clube não tem dono. O Palmeiras não é de ninguém”. Tirone, com isso, justificava a saída de profissionais da assessoria de imprensa, do departamento jurídico e do departamento administrativo.

Mas a frase é elementar e serve para explicar, e muito, como ainda há tantos desmandos no futebol brasileiro.

A sensação de que não há um “dono” para o clube é o que faz com que muita coisa ainda funcione na base do amadorismo e o futebol não seja mais evoluído no Brasil enquanto negócio.

A revolução no futebol inglês, existente desde o início dos anos 90, reside exatamente no fato de que, por lá, ficou claro que para um clube ser competitivo tanto no mercado interno quanto externo, é preciso que ele tenha um dono. O mesmo conceito é aplicado atualmente na Alemanha e, aos poucos, começa a transformar a cara do futebol na Itália, modernizando os clubes, antes controlados por famílias, mas sem qualquer profissionalismo na gestão.

Na Espanha, o sucesso de Barcelona e Real Madrid é o que pode mais servir de exemplo para o mercado brasileiro. Por lá, tal como cá, os clubes são associações esportivas, tendo um presidente eleito e diretores não-remunerados dentro da estrutura do clube. Mas o amadorismo para por aí. Daí para baixo, toda a estrutura do clube é profissional, com executivos contratados do mercado tendo como função gerar um aumento de receitas suficiente para fazer o time ser ainda mais competitivo dentro de campo.

Por lá, os clubes não têm “dono”, mas quem é o presidente do momento atua de forma responsável, preocupado com absolutamente tudo o que é feito com o dinheiro da instituição.

E é esse o problema da frase de Arnaldo Tirone. Apesar da existência de uma lei que permite a punição de um dirigente esportivo que fizer mau uso do dinheiro do clube, raramente o cartola sente-se responsável pela gestão, o que agrava ainda mais o problema da falta de profissionalismo.

Desde que assumiu o Palmeiras, Tirone conviveu com muitos problemas oriundos da gestão anterior. O principal deles foi a falta de dinheiro em caixa, sendo que diversas receitas já tinham sido antecipadas pelo antecessor, Luiz Gonzaga Belluzzo. E aí está um dos maiores absurdos existentes ainda hoje no futebol brasileiro. Os clubes seguem adiantando o dinheiro futuro para resolver o problema do presente. E, assim, é impossível gerenciar de maneira minimamente adequada.

Do jeito que está, a solução é buscar um dono para os clubes, antes que eles se desintegrem pela falta de gestão oriunda dos problemas políticos. O Palmeiras é hoje o grande exemplo de como a política interfere no gerenciamento do clube. Nessas horas, a pior coisa que pode acontecer é o clube não ter um “dono”. A falta de centralização do poder só prejudica. Isso não significa a perpetuação de dirigentes no cargo, mas a garantia de um mínimo de governabilidade para a instituição.

O clube sem dono é um dos maiores entraves para que o futebol brasileiro consiga evoluir e tornar-se cada dia mais profissional. O maior problema de tudo isso é que, quando a euforia econômica passar, a terra estará arrasada. Mais uma vez.


Nike decide invadir sedes da Copa
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Erich Beting

A estratégia foi montada e, aos poucos, a Nike começa a colocar em prática. A fabricante americana, após quase duas décadas de tímida atuação no mercado de futebol do Brasil, decidiu entrar com o peso de ser a maior do mundo em seu segmento.

Após fechar com o Inter, a Nike agora será patrocinadora do Santos a partir de 2012 (leia aqui) e, muito em breve, deve anunciar acordo com outros clubes no Brasil.

Esses acertos mostram uma mudança de estratégia da fabricante com relação ao mercado brasileiro. Antes, o apetite da empresa era “apenas” para os clubes de massa, tanto que desde que entrou no país, em 1996, sua atuação estava restrita a seleção brasileira, Flamengo e Corinthians.

Agora, com a Copa no Brasil e com o aumento do consumo da população brasileira, a estratégia é outra. Claramente, a Nike começa a se movimentar buscando ter um clube em cada cidade-sede da Copa do Mundo.

O movimento tem como maior objetivo tentar minimizar a força da Adidas no Mundial. Patrocinadora oficial da Copa, a fabricante alemã é a única autorizada a fazer qualquer publicidade ou ação nos estádios durante o torneio.

Com a chegada da Nike aos clubes, obviamente a estratégia é fazer parte do cotidiano da cidade e criar um vínculo direto com a população, “estragando” um pouco a festa da Adidas. Santos, apesar de não ser sede da Copa, tem os apelos mais do que óbvios do ano do centenário em 2012 e da presença de Neymar.

O duelo entre as maiores fabricantes do mundo finalmente chegou ao país, como aliás era ensaiado há pelo menos três anos. Como primeiro reflexo, o mercado em que elas atuam assiste a uma nova valorização.

A diferença é que, se de 2005 a 2008 os valores ficavam dentro de patamares lucrativos para as fabricantes, agora a regra é não perder a oportunidade, mesmo que para isso a empresa “perca” dinheiro ao patrocinar um clube.

O jogo ainda está muito distante de um xeque-mate.


Atitude prática é que constrói o legado
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Erich Beting

A construção de um legado para o país com a realização de grandes eventos esportivos é o grande mote marqueteiro para que o Comitê Olímpico Internacional e a Fifa justifiquem gastos milionários com Jogos Olímpicos e Copa do Mundo.

Até hoje, porém, os grandes exemplos de legado foram Barcelona-1992 e Alemanha-2006, em propostas que, muito mais do que baseadas em boas ideias, tiveram execuções eficientes.

Nesta segunda-feira foi apresentado em São Paulo o Núcleo de Alto Rendimento do Grupo Pão de Açúcar. Nas palavras de Irineu Loturco, diretor técnico do espaço, esse é o “projeto olímpico” da empresa.

Desde 2009, a combinação das palavras projeto e olímpico tornou-se uma espécie de mantra dentro de algumas empresas. É meio que uma fórmula mágica imaginar ser preciso construir um “legado” para o Brasil do esporte.

Algumas optam pelo patrocínio a atletas, outras buscam o apoio a federações, mas poucas fazem algo que possa, de fato, continuar para o país depois que os megaeventos passarem.

Além do núcleo do Pão de Açúcar, a Ambev é outra empresa que tem apostado em construir e reformar praças esportivas. No Rio de Janeiro, a empresa tem apostado em melhorar a estrutura dos quatro times grandes que são patrocinados por ela. Além disso, alguns campos de futebol em comunidades carentes têm sido transformados para o uso da população.

De uma forma ou de outra, as duas empresas mostram que a construção do conceito de legado vai além das palavras e de boas ideias. No final das contas, o maior benefício que o país pode ter com os megaeventos é no aperfeiçoamento de nosso aparato esportivo, sucateado há muitas décadas.

O legado pode, de fato, ser a melhor coisa de um megaevento esportivo num país ou numa cidade. Mas, para isso, não adianta só ter um belo plano de negócios. É preciso saber colocar em prática.

 


Ronaldinho é maior do que o Flamengo?
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Erich Beting

A ação planejada por Duracell e Flamengo tinha tudo para ser perfeita. O clube seria homenageado pelos 30 anos da conquista do Mundial de Clubes com a entrada em campo para o jogo contra o Figueirense num uniforme especial.

Iluminada pelas pilhas da patrocinadora do clube, a camisa tinha a estrela acima do escudo brilhante. O símbolo remete à conquista de 1981, e a sacada da Duracell foi dar brilho ao momento mais importante  da história rubro-negra.

Tudo estava perfeito, não fosse o principal jogador do time “furar” a promoção. O que levou Ronaldinho a não aceitar usar o uniforme ainda é uma incógnita, mas irritou tanto dirigentes do clube quanto executivos da Duracell.

O caso é a prova de quão despreparados estão alguns atletas para trabalharem suas marcas. Ronaldinho tem um projeto com o Flamengo em que há uma participação sua sobre os negócios que ambos possam gerar em conjunto. O atleta claramente se posicionou acima a instituição que representa ao ser o único do time a não usar a camisa “brilhante”.

Duas perguntas que ficam no ar. A primeira, clara, é se o jogador, de fato, pode ser maior como marca do que um clube? Está mais do que provado que isso é impossível de acontecer.

A segunda questão tem muito mais a ver com todo o projeto de retorno de Ronaldinho para o Brasil. Se o sucesso da empreitada está calcado também numa exploração comercial de sua imagem, como é que pode ele fazer algo desse nível achando que não terá prejuízo futuro? Que marca terá segurança em se associar a um atleta que tem esse tipo de comportamento?

O aumento dos custos de investimento em esporte no Brasil tem provocado a profissionalização a fórceps do mercado. Com atitudes desse gênero, Ronaldinho perde cada vez mais espaço para outros novos atletas no mercado.

Confira abaixo o vídeo da transmissão ao vivo do Sportv da partida de quinta-feira. E veja que até Luiz Carlos Junior não esconde a surpresa com a atitude do atleta.