Negócios do Esporte

A velocidade da informação*

Erich Beting

São Paulo, meio-dia. Daniel Carvalho, reforço de peso (literalmente) do Palmeiras para a atual temporada, dá entrevista à rádio Estadão-ESPN. Nela, afirma ter tomado anabolizantes na Rússia para se tornar um jogador mais ''forte'', o que justificaria os quilos acima do ideal que ostenta atualmente. Daniel, entre outras coisas, disse que não havia exame antidoping no futebol russo e que, por isso, tomava as injeções recomendada pelo médico do CSKA. Cerca de uma hora depois, na Rússia, a versão dada pelo jogador era contestada por jornalistas, que afirmam ser procedimento-padrão a realização dos testes.

No mundo atual, não existe mais como alguém tentar fantasiar uma realidade. Na época de Twitteres, Facebooks e afins, a velocidade com que uma informação é difundida transporta barreiras de forma jamais vista. Há 30 anos, Daniel Carvalho sairia como vítima de toda essa história, e os jogadores brasileiros passariam a pensar 30 vezes antes de aceitar conversar com um emissário do futebol russo, provavelmente o ''lugar em que você é obrigado a tomar bomba''.

Hoje, porém, não há mais espaço para acusações sem prova. Daniel Carvalho caiu na armadilha de usar uma desculpa para explicar o inexplicável e, pior do que isso, acreditar que a mentira prevaleceria por muito tempo ou para sempre. O mesmo jogador que, nem uma hora depois, aparecia em matéria no Globo Esporte tomando uma ''raspadinha'' de groselha com leite condensado, após o jogo do Palmeiras contra o Guaratinguetá. Fica difícil, depois dessa, tentar explicar como é que o anabolizante foi parar no meio da groselha.

Há tempos falamos da importância do media trainning para o meio do futebol. Ele não serve apenas para o jogador saber falar com desenvoltura sem se preocupar com câmeras e microfones. Mais do que isso, é preciso ter discernimento para entender o impacto de uma declaração, a responsabilidade sobre aquilo que está sendo dito.

Daniel Carvalho passou de vítima a vilão em menos de duas horas. Sinal de que nem mesmo a barreira do fuso horário foi suficiente para perdurar uma história sem pé nem cabeça. A velocidade de transmissão da informação exige, cada vez mais, de consciência às pessoas na hora de dar qualquer declaração.

* Texto publicado originalmente na Universidade do Futebol