Negócios do Esporte

Uma lição do Gabão ao Brasil

Erich Beting

''Não importa quem vai ganhar a Copa. Mas sabemos que o Gabão já ganhou''. A frase era repetida à exaustão pelos organizadores da Copa Africana de Nações durante todo o domingo, antes de a Zâmbia conseguir o título inédito.

A frase referia-se ao orgulho gabonês de receber o evento e, mais do que isso, de conseguir mostrar o que o governo de Ali Bongo Ondimba pretende para o país, tornar-se o centro de prosperidade do continente africano.

Nas ruas, no Estádio da Amizade, onde o jogo foi realizado  e em todos os cantos da cidade de Libreville, transbordava o orgulho do gabonês em realizar a final da Copa Africana. Agora, a meta do país é fazer o lema ''Sim, nós podemos'', se transformar no ''Sim, nós fizemos''!

Na manhã desta segunda-feira, o presidente da Agência Nacional de Grandes Trabalhos do Gabão, Henri Ohayon, mostrou a jornalistas do mundo inteiro o plano de desenvolvimento do país até 2016. Sua apresentação foi aberta com a seguinte fase:

''A Copa Africana de Nações foi o primeiro passo de um projeto de 15 anos''.

A ideia de mostrar uma nova ''cara'' do Gabão com a final da CAN foi bem executada, pelo menos dentro de campo. O jogo entre Costa do Marfim e Zâmbia transcorreu sem qualquer problema e, mais do que isso, impressionou a festa de encerramento da competição com seu show tecnológico.

Claramente o governo do Gabão usou o momento para ganhar a população e fazê-la acreditar que o momento é de mudança e de melhoria em qualidade de vida. E esse é o ponto.

E o Brasil, o que queremos com Copa do Mundo e Jogos Olímpicos?

Não vivemos num regime ditatorial como no Gabão, o que faz com que o debate seja sempre ampliado, mas também felizmente não estamos tão atrasados em desenvolvimento humano (o Brasil é a 84ª nação no ranking da ONU, e o Gabão é a 106ª) e não temos os mesmos níveis de pobreza que é visto em Libreville, capital gabonesa.

Mas o que assusta é ver que falta um projeto claro e consistente, feito por profissionais, para mudar a cara de um país a partir de um evento esportivo de primeira grandeza.

Seguimos sem saber o que o Brasil quer ser, além de a ''quinta maior economia do mundo''. Para isso, toda nação minimamente bem desenvolvida tem essa história, é preciso investir em infraestrutura, educação e saúde. Do contrário, viveremos sempre num país de quinta categoria.

O evento esportivo é apenas o chamariz para que a população seja engajada nesse projeto e possa, com isso, passar a querer fazer parte dessa mudança. Antes, porém, precisamos saber qual a mensagem que queremos passar.