Negócios do Esporte

Arquivo : abril 2012

O discurso fácil do “Fora, Neymar!”
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Erich Beting

Neymar não tem mais nada a provar no futebol brasileiro, talvez até mesmo da América do Sul. Em mais uma decisão, o camisa 11 santista foi novamente o ponto fora da curva, dando ao Santos uma classificação até certo ponto fácil sobre o São Paulo, um dos melhores times deste início de temporada do futebol brasileiro.

Não há mais espaço para Neymar no futebol brasileiro!

Essa é a frase que começa a ficar cada vez mais recorrente entre especialistas da mídia e algumas influentes personalidades do esporte. Ainda mais depois de mais um baile sobre um grande clube. O fato é que está muito difícil, para qualquer time sul-americano, concorrer contra Neymar. Ele é genial, fora de série, acima da média, decisivo, craque de bola.

E por isso mesmo Neymar tem de permanecer no Brasil!

A presença do camisa 11 santista eleva o nível de competitividade entre os times daqui. Como alguém vai fazer frente ao Santos de Neymar? A solução é investir na formação de um time forte, com diversos talentos, que consigam anular o grande destaque do futebol nacional.

É muito fácil dizer para Neymar sair e ganhar a Europa. É o discurso mais apropriado, aliás, para o não-santista nos dias de hoje. Montar um time que seja capaz de superar o talento da equipe santista requer tempo, investimento, projeto de longo prazo. Palavras que não combinam com o cotidiano do futebol no país, mas que poderiam ajudar, e muito, para a elevação do nível da bola que se joga por aqui.

O momento econômico é absolutamente favorável para que não tenhamos de exportar nossos principais jogadores. A Europa tem menos grana, nossos times estão mais capitalizados. Já passou da hora de começar um trabalho de fortalecimento do produto futebol por aqui. Mais uma vez, precisamos aprender nas porradas que hoje são dadas pelo time do Santos em forma de títulos para começar a responder aos estímulos.

O futebol de Neymar é genuinamente brasileiro. Por isso mesmo, ele não tem de ir para a Europa para brilhar. O futebol brasileiro tem de elevar o seu nível para reter os talentos por aqui. É muito fácil dizer para Neymar que o lugar dele não é aqui.

Muito mais complicado, porém com resultados fantásticos no longo prazo, é trabalhar para que tenhamos um futebol do tamanho que Neymar merece por aqui. Neste domingo ficou mais uma vez provado isso.


Com a barriga virada para a lua
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Erich Beting

Três expulsões no time adversário (o União Barbarense), um pênalti assinalado aos 52 minutos do segundo tempo e um empate que selou, no número de gols marcados, a classificação do Atlético Sorocaba para a Série A-1 do Campeonato Paulista.

Para quem criticou, por aqui ou pelo Twitter, o motivo de eu torcer pela chegada dos clubes administrados por empresas na elite do futebol, acho que ficou mais do que claro na manhã deste domingo de como seria importante isso acontecer para o futuro do esporte.

O Audax, gerenciado pelo Pão de Açúcar, estava classificando-se para a A-1, mas perdeu a vaga para o Atlético Sorocaba no pênalti derradeiro.

O Atlético, para quem não sabe, é apadrinhado pelo Reverendo Moon, que no Brasil é advogado por Marco Polo Del Nero, que é o presidente da Federação Paulista de Futebol, que organiza o Campeonato Paulista…

Realmente, o Atlético teve a barriga virada para a lua ao conseguir a classificação no finalzinho.

Adendo: Vi o finalzinho do jogo e os melhores momentos depois, não assisti ao jogo inteiro. O pênalti para o União Barbarense foi muito questionável. Para mim, não foi pênalti para o Atlético, que teve dois atletas expulsos. Ainda acho que é de se questionar o resultado. E de lamentar, pelos motivos expostos outro dia aqui no blog, a ausência de um clube vinculado a uma empresa e com uma mentalidade gerencial corporativa na elite de um Estadual.


Ministro do Esporte ou de Engenharia?
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Erich Beting

Quando Aldo Rebelo assumiu a bronca de ser ministro do Esporte, disse aqui no blog que a tarefa seria árdua. Aldo tinha de apagar o incêndio de substituir mais um ministro afastado após denúncias de corrupção e, de quebra, segurar o rojão dos atrasos e descasos relativos à organização da Copa do Mundo de 2014.

Até agora, Aldo tem sido impecável em uma das tarefas. Tem sido o leão pedido por Dilma Rousseff para comandar o processo de gestão do Mundial no país. Reúne-se com a Fifa, visita obras, debate a construção do Brasil sede da próxima Copa. Aldo Rebelo é, hoje, quase que um Ministro da Engenharia do Mundial de 2014.

Mas e o Esporte? Será que as atribuições de um ministro do Esporte seriam realmente fiscalizar as obras e ser o porta-voz da Copa do Mundo no país? Isso não seria o papel do Comitê Organizador do evento, ou da comissão interministerial criada para esse fim, ou dos comitês locais do evento? Por que o ministro do Esporte tem de olhar para a ponta final de um evento que já está todo planejado e precisa apenas da execução de suas obras?

Mais uma vez um governo brasileiro erra, e muito, na gestão da política pública de esporte. Olhamos apenas para o esporte de alto rendimento, em detrimento da criação de iniciativas para o desenvolvimento de uma nação esportiva, para o crescimento da prática esportiva no país e tudo o que circunda a transformação da formação esportiva no Brasil.

A queda de Orlando Silva Jr. estava ligada ao programa social Segundo Tempo, iniciativa boa na teoria e deturpada na prática como acontece em muitas organizações não-governamentais no Brasil. O princípio do Segundo Tempo era fazer com que as crianças tivessem mais acesso à educação física no tempo fora da sala de aula. A execução disso desviou-se na ganância que tanto corrompe o cotidiano brasileiro.

Muito mais urgente do que se preocupar com os chutes no traseiro que precisamos levar como nação que teima em permanecer com os vícios dos anos 1970 num mundo que já está 40 anos à frente, o Ministério do Esporte tem de se preocupar com a formação do esporte no Brasil.

De nada adianta fazermos estádios maravilhosos se não temos gestores preparados para formar grandes atletas que vão deixar essas arenas sempre lotadas para depois de quatro, cinco, seis ou sete jogos de Copa do Mundo. O chute no traseiro do atraso brasileiro não é na obra de um estádio. É na mentalidade desviada e deturpada da solução do problema. Seguimos buscando os culpados em vez de evitar de novo o erro.

Qual a diferença para o esporte ter um ministro que vá a todas as cidades-sedes da Copa vistoriar se o prego está colocado no lugar certo e a quantas andam os preparativos dos estádios? Para esse plano basta termos um engenheiro competente.

Espera-se, de um ministro do Esporte, alguma atitude para fazer com que não tenhamos ainda 30% das escolas públicas do país sem um espaço para a prática de esporte, como revelado na pesquisa que o Ibope fez para a ONG Atletas pela Cidadania.

Seria muito legal ver a equipe do Ministério do Esporte mostrando qual o trabalho que está sendo feito para limpar a imagem do Segundo Tempo, para agilizar a aprovação de projetos via Lei de Incentivo, para levar recursos para a construção de áreas públicas para a prática de esporte, etc. De nada adianta ter um ministro que saiba tudo de engenharia…


Que venham os clubes das empresas no Paulistão!
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Erich Beting

“O @audaxsp e o @redbullbrasil seguem firmes na disputa pelo acesso à Série A-1 do Paulista-2013. Seria interessantíssimo tê-los na “elite”.”.

Soltei essa frase ontem, no Twitter. Não imaginava, mesmo, a repercussão que ela fosse ter. Em alguns minutos, diversos xingamentos e torcedores revoltados contra o “futebol moderno”, com a pregação contra os clubes de empresas e times “sem torcida”.

Como 140 caracteres não são suficientes para explicar, vamos lá.

Seria muito bom para o futebol brasileiro que clubes que são gerenciados de forma altamente profissional começassem a ter desempenho melhor do que aqueles que estão parados no tempo.

Essa poderia ser a melhor definição de o por quê de eu acreditar que será interessantíssimo vermos clubes como Audax e Red Bull na elite do futebol paulista. Ambos têm uma gestão controlada e bem planejada, respeitando a um orçamento pré-definido e não cometendo loucuras para conseguir seus objetivos.

A partir do momento em que clubes como os dois conseguem destaque entre os grandes, possivelmente conseguiremos chegar ao choque gerencial que é tão necessário no futebol brasileiro de hoje.

Não dá mais para evocarmos a presença de times tradicionais entre os maiores se esses clubes não seguirem minimamente um modelo coerente de gestão. De que adianta os clubes “com torcida” chegarem ao topo se não fazem nada para levar torcedores aos estádios, para manter uma linha coerente de investimento, para dar aos atletas melhores condições de trabalho?

Sim, como torcedor e apaixonado pelo futebol, sou muito mais favorável a termos um campeonato repleto de clubes tradicionais e fortes pela própria história que possuem.

Mas, como alguém que há dez anos estuda a gestão esportiva, é impossível aceitar que os clubes continuem a sofrer com os desmandos de esquemas políticos, de conchavos para perpetuação no poder, de descaso com o torcedor, com os atletas, com a imprensa e o escambau.

O futebol moderno pode ser ainda mais legal do que aquele que nos conquistou quando éramos crianças. Mas, para isso, não dá mais para ele guardar o ranço dos tempos de amador.

É ótimo ver o XV de Piracicaba de volta à Série A-1 do Paulista, mas é péssimo ver que o retorno não foi feito tendo como base um clube modernizado, bem estruturado, que dê ótimas condições de trabalho para os atletas, que tenha um estádio novo, decente e tudo o mais.

Audax e Red Bull pautam seu trabalho na seriedade das empresas que representam. No ano passado, num bate-papo com o presidente de um deles, a preocupação dele era em traçar o cenário do futebol brasileiro em 2020!

Que clube, hoje, estaria pensando para um plano daqui a nove anos? Qual deles projeta o que vai acontecer dali a nove dias?

Volto a dizer. Entre um time tradicional, mas sem qualquer novidade para o mercado esportivo, ou uma equipe de uma empresa, sem torcida, mas com um modelo de gestão que eleve o nível de competência dos clubes, não tenho dúvida a quem prefiro.

Que, em 2013, possamos celebrar as chegadas de Audax e Red Bull à elite do futebol paulista. Pode ser o início de um processo de mudança de gestão entre os clubes do país. Só assim para o torcedor passar a ser bem tratado…


Para que servem os Estaduais?
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Erich Beting

O mundo caiu para Corinthians, Flamengo e Palmeiras no domingo, após as eliminações dos três times dos seus respectivos campeonatos estaduais. A queda no torneio local fez até o calmo ambiente corintiano transformar-se num mar de tormentas.

E a pergunta que fica é. Para que servem os Estaduais? Se o time ganha, mídia e torcida levantam a bandeira do “não fez mais que a obrigação”. Agora, quando perde, o mundo desaba.

Existe hoje uma distorção muito grande na organização do futebol no Brasil. Por um lado, prega-se uma profissionalização extrema, mas por outro não se abandona o passado “amador” do esporte no país.

Pelas dimensões territoriais que temos, o futebol no Brasil se estruturou a partir dos Estaduais. Foi por causa das rivalidades locais que o esporte cresceu, se fortaleceu e se consolidou como o maior do Brasil.

Só que, hoje, a estruturação do futebol no país não permite que tenhamos a figura dos Estaduais. Pelo menos não para os clubes que estão no topo da pirâmide da bola.

Por questões políticas, hoje temos um Estadual com 23 datas espremido em três meses. No calendário atual do futebol, é uma aberração a temporada começar em ritmo tão arrasador. Já com Copa Santander Libertadores e Copa Kia do Brasil em disputa, a média é de um jogo a cada três dias logo na parte inicial da temporada. Prato feito para arrebentar os atletas. Seja agora, seja em dezembro, quando é a reta final de Brasileirão.

Para piorar, a partir do momento que mídia e público tratam como “obrigação” vencer o Estadual, ele se transforma num estorvo para o clube grande. O time precisa entrar com força total, especialmente na reta decisiva, e com isso deixa para um segundo plano a preparação para o Campeonato Brasileiro e até mesmo para a disputa da Libertadores ou da Copa do Brasil.

Hoje, as competições nacionais e internacionais são muito mais importantes para os clubes, em todos os sentidos. São essas vitórias que geram mais “fama” para a equipe, possibilita aumento no contrato de patrocínio, rende mais receita com bilheteria e até mesmo faz o jogador de maior qualidade desejar jogar por aquele time.

O Estadual faz parte de um passado importante do futebol no país, mas é preciso olhar para a frente. Se quisermos manter os principais atletas em atividade por aqui, é preciso tratá-los bem, dar condições de enfrentar grandes adversários em grandes jogos, criar um ambiente tão qualificado quanto lá de fora.

Mas, para isso, não basta mudar a mentalidade dos dirigentes. Pelo contrário. Muitos são favoráveis a dar mais descanso para os atletas e ter mais datas para realizar excursões, eventos para patrocinadores, etc.

O maior ranço para a manutenção de torneios deficitários e inchados vem da mídia, que promove os Estaduais pela necessidade de aumentar ou manter a audiência, os cliques, as vendas.

Em quase um mês “de folga”, o Flamengo poderá mostrar quão interessante pode ser um mundo sem o Estadual.

Mais tempo de preparação da equipe para o Nacional, realização de partidas amistosas Brasil a dentro (excelente para divulgar e fortalecer a marca) e calma para trabalhar a cabeça dos atletas são alguns dos ingredientes que podem dar um doce resultado para o Fla no fim do ano.

Está claro que o futebol como negócio dos dias de hoje não pode comportar mais os Estaduais. Pelo menos não para os clubes que almejam muito mais do que serem o melhor de seu estado. Se quisermos ter o melhor futebol do mundo dentro de campo, temos de deixar o tradicionalismo de lado e trabalhar para melhorar a qualidade do espetáculo para o torcedor.


Todo patrocínio tem seu fim
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Erich Beting

No início da semana posicionei-me contra o fim do patrocínio da Sky no time de vôlei da Cimed. A crítica, no caso, era à atitude da empresa, que desde que começou a investir no esporte desistiu das equipes patrocinadas logo após o primeiro fracasso esportivo.

A semana se encerra com outra notícia ruim para o time de Florianópolis. Agora foi a vez de a Cimed anunciar que vai deixar a equipe, encerrando o ciclo de patrocínio no vôlei (leia aqui os detalhes). A empresa farmacêutica, que em sete anos conquistou quatro títulos da Superliga e um Sul-Americano, achou melhor mudar de estratégia e retirou o apoio à equipe.

A saída da Cimed é muito diferente da que motivou a Sky. Para a farmacêutica, não havia mais sentido continuar a investir no time de vôlei. O limite já tinha sido atingido, e os objetivos, cumpridos.

A realidade é que todo patrocínio tem seu fim. Por mais que o torcedor tenha carinho pela marca patrocinadora, por mais que o projeto tenha resultado esportivo, algum dia ele acaba. São raríssimas as associações no esporte que tenham histórias de décadas de apoio. Geralmente elas estão ligadas a grandes eventos e, mesmo assim, muitas vezes continuam mais para evitar a entrada de um concorrente do que para a empresa se beneficiar da associação com o evento.

No caso de patrocínio de times, então, o relacionamento raramente ultrapassa uma década de duração. E o motivo é óbvio. Um time está exposto praticamente todos os dias do ano para o torcedor. Com o passar do tempo, a marca deixa de ser algo diferente para incorporar-se ao cotidiano do consumidor, passando até, dependendo do caso, a ter uma relação passiva com ele, de indiferença, de tão enraizada que está com o clube.

A grande lição que fica para o vôlei com a saída da Cimed é que, infelizmente, os gestores da modalidade, com raras exceções, não aprenderam a mudar a dependência de encontrar sempre um patrocinador para existir.

Em sete anos não foi possível para a equipe criar um relacionamento com o torcedor local, vender produtos do clube, estabelecer um vínculo de consumo que não obrigue uma única empresa a ser mantenedora da equipe?

Há pelo menos 30 anos que o mercado do vôlei sabe que um patrocínio tem um ciclo de duração. E há 30 anos que os dirigentes insistem em buscar apenas um patrocinador para pagar a conta, sem perceber que o maior trunfo que ele tem para sempre ter patrocinadores batendo à porta é investir no torcedor.

Afinal, o patrocínio, um dia, acaba. O amor de um torcedor pelo clube é infinito. Pelo menos enquanto os dois continuarem a existir…


Anderson Silva é maior que o UFC?
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Erich Beting

É bem provável que o UFC 147, que estava programado para acontecer no Rio de Janeiro em 23 de junho, deixe o país e desembarque em Las Vegas (leia os detalhes aqui). Mas, se isso não acontecer, é quase certo também que a esperada luta entre Anderson Silva e Chael Sonnen não aconteça em solo brasileiro.

Aí é que fica a dúvida. Será que, no Brasil, Anderson Silva não é maior que o UFC?

Sem o brasileiro no octógono, é quase certo que o interesse do público vá despencar. Já foi assim na realização, tempos atrás, de um UFC no Rio de Janeiro com vários lutadores brasileiros, mas sem um nome do calibre de Silva. Por mais que o UFC vá para Brasília ou Belo Horizonte, dificilmente será tão atraente para o torcedor.

Tempos atrás, Vicente Casado, então diretor geral do Masters 1000 de Madri de tênis, disse em entrevista que o grande segredo de seu torneio, considerado o “quinto Grand Slam”, era fazer com que o interesse do público fosse na competição, e não no atleta.

A lógica era a seguinte. Se o torcedor se interessasse em ir ao evento apenas por causa dos tenistas que estivessem em quadra, seria enorme o risco de o público despencar caso um Nadal ou um Federer caíssem antes das semifinais. Sendo assim, a organização do Masters 1000 decidiu investir em inovações como as modelos pegadoras de bolas ou a quadra em saibro azul, como neste ano de 2012.

Provavelmente o UFC 147 seja um divisor de águas da modalidade para o Brasil, caso ele realmente aconteça por aqui. Apontado como o grande mercado pelo presidente Dana White, o país corre o risco de mostrar que seu maior atleta é quem, de fato, mobiliza a grande massa em torno das competições.

A criação do programa TUF Brasil é uma mostra de que o UFC já começa a tentar mobilizar o torcedor brasileiro em torno da modalidade. É um caminho para evitar que, sem Anderson Silva, o interesse pelas lutas diminua.

Atualmente, porém, não é impossível de se acreditar que Silva ainda mobiliza mais gente do que o UFC no país.


Nelsinho Piquet dá uma luz para o automobilismo
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Erich Beting

Nelsinho Piquet fechou um acordo com a ONG Climate Care para neutralizar a emissão de carbono em seu carro na Truck Series da Nascar (leia os detalhes aqui).

O negócio representa um caminho interessante para o automobilismo seguir se quiser continuar a atrair patrocinadores e, principalmente, adaptar-se às exigências de um mundo ecologicamente mais preocupado.

Desde o ano passado que a Nascar tenta tornar-se uma categoria mais “verde”. Pilotos e equipes são estimulados a buscarem soluções para que a enorme quantidade de combustível que é queimada pelos carros seja neutralizada e a Nascar tente se tornar a modalidade esportiva que menos polui no esporte.

A meta deveria ser expandida para o automobilismo como um todo. Num mundo que cada dia mais discute fontes de energias limpas e renováveis, aquecimento global e poluição sem fim, parece incompatível termos o gasto desenfreado de combustível de uma competição automobilística.

É questão de tempo (e ele é cada vez mais curto) para que as pessoas questionem os esportes a motor e, também, a quantidade de poluição ao meio ambiente que o automobilismo proporciona.

Por isso mesmo a atitude de Nelsinho é uma luz para quem trabalha com o esporte a motor. Do jeito que as coisas estão, em breve os patrocinadores serão questionados pelos consumidores sobre os motivos que os levam a manter investimentos em modalidades que agridam o meio ambiente.

A Nascar e Nelsinho já se anteciparam a isso.


Sky, ganhar não é o maior benefício de um patrocínio
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Erich Beting

A Sky decidiu cortar o investimento no vôlei depois de um fracasso com o time em conjunto com a Cimed. A equipe, que joga por Florianópolis, ficou pelas quartas-de-final da Superliga masculina e teve confirmada a saída da operadora de televisão do seu patrocínio. Pelo segundo ano seguido, a Sky decide acabar com o projeto de vôlei após ele não conseguir o título.

Estivéssemos em 1982 e talvez essa atitude pudesse, quem sabe, ser justificada. Naquela época, muito patrocínio acabava quando o time ou o atleta não alcançava o resultado esperado dentro da competição. Mas é impressionante perceber o quão amadora foi a visão da Sky no seu investimento no vôlei.

Sem poder entrar no futebol (a legislação proíbe empresas de mídia anunciando em clubes), a Sky busca desesperadamente exposição de mídia em seus projetos de patrocínio esportivo. O vôlei, nesse sentido, é a plataforma mais midiática dentre os investimentos escolhidos. Mas a empresa não pode teimar em acreditar que o benefício só acontecerá quando o título vier.

A imagem da própria Sky foi a mais prejudicada com mais um anúncio do término de uma parceria após apenas o primeiro ano de relacionamento. Em vez de lamentar a perda de um importante patrocinador, o mercado gostou da saída da empresa. A pressão sobre resultado e a impaciência com o tempo natural de resposta que um time tem de dar foram determinantes para que a imagem de vilã fosse construída.

Até mesmo o patrocínio em conjunto da Cimed com a Sky reforçou isso. Dona de quatro títulos da principal competição de vôlei, a Cimed teve o pior desempenho quando se aliou a outro patrocinador e montou uma equipe, teoricamente, mais forte.

Hoje, com o mercado brasileiro em processo de amadurecimento, já se sabe, claramente, que patrocinar não significa vencer. Esse é o benefício intangível que se pode obter de um relacionamento com o esporte. O grande negócio, porém, vem no dia-a-dia, na relação com torcedores, com mídia, com clientes.

A vitória, nesse caso, é um mero detalhe.


O Brasil na rota dos grandes eventos esportivos
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Erich Beting

Mundial de judô, jogos de exibição de Roger Federer, torneios da WTA e um ATP 500. O Brasil começa a querer entrar de vez na rota de grandes eventos esportivos. Esqueça Copa e Olimpíadas, o que mais aquece o mercado brasileiro de esporte hoje são esses eventos de grande porte e que começam a querer desembarcar de vez por aqui.

Acostumamo-nos a ver Europa e Estados Unidos dividirem a maioria das principais competições esportivas do mundo. Jogos importantes de tênis são no Velho Continente ou na América do Norte. A mesma coisa acontece para competições de judô, vôlei, handebol, atletismo e natação.

O que mudou nos últimos dois anos para cá, além do fato de o Brasil ser a sede de Copa e Olimpíadas, foi um amadurecimento do mercado brasileiro de eventos esportivos. Passamos a acreditar que somos capazes de fazer grandes eventos e, principalmente, passamos a ter quem seja capaz de pagar a conta desses acontecimentos.

Soma-se a isso a crise que ainda afasta boa parte dos investimentos nos mercados europeu e americano, um continente asiático já ficando saturado com grandes eventos, e o Brasil entra na rota para receber todo tipo de competição de maior porte.

O aspecto mais positivo do cenário é a chance que o país tem de, dessa forma, mostrar para as empresas que é possível investir em esporte e ter um bom retorno. Isso fará com que, passada a euforia de 2014 e 2016, ainda tenhamos uma indústria esportiva sólida, diferentemente do que aconteceu, por exemplo, no mercado sul-africano depois da Copa do Mundo.

O Brasil está na rota dos grandes eventos esportivos não só porque receberá os dois maiores eventos do planeta até o fim da década. Mas porque caminha, aos poucos, para a formação de uma cultura de investimento em marketing esportivo. E a prova disso vem na série de competições grandes paralelas que vão acontecendo por aqui. É a chance de os gestores se qualificarem e, também, de as empresas que não conseguirão fazer parte da festa de Copa e Olimpíada se posicionarem para o consumidor.

A roda parece, finalmente, começar a querer girar.