Negócios do Esporte

Arquivo : junho 2012

Jade e o limite do patrocinador
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Erich Beting

Patrocínio esportivo não é só exposição de marca. Quem acompanha o blog por aqui já há mais de três anos sabe, muito bem, o quanto sou radical em relação a isso. O patrocinador que investe pensando apenas em ter a marca exposta na mídia, com certeza, não sabe o quanto perde de oportunidade.

O caso do corte de Jade Barbosa dos Jogos Olímpicos levanta exatamente essa questão. Uma divergência entre as exigências da Caixa, patrocinadora da Confederação Brasileira de Ginástica, e as do BMG, patrocinador de Jade, resultaram na saída dela do time brasileiro que irá a Londres.

Não está claro, aqui, de quem foi a intransigência. Pode ter sido da Caixa, da CBG, do BMG ou mesmo de Jade. O fato é que todos foram infelizes na história. Não só porque a atleta tem boas chances de ter um ótimo desempenho, mas porque esse impasse é exatamente o que exemplifica o quanto o Brasil precisa amadurecer ainda em relação ao marketing esportivo.

Jade nas Olimpíadas é bom para todos. Tanto a Caixa quanto o BMG se beneficiam da ida da atleta para Londres. Desde que, claro, não achem que a melhor coisa que pode acontecer para eles é a exposição de marca.

Nas competições, apenas a marca do fornecedor de uniforme estará exposta e visível para a audiência mundial. Num eventual pódio, o atleta vestirá o uniforme da delegação, sem marca alguma exposta a não ser as da Nike e do COB.

E onde o patrocinador pessoal de Jade e o patrocinador da CBG ganham? Exatamente na comunicação desse patrocínio ao público em geral. É a tal da palavra mágica “ativação”. O BMG e a Caixa não podem entrar no ambiente olímpico. Como o público vai saber que a atleta ou a confederação endossam uma ou outra marca? Apenas a partir das ações que ambos fizerem por meio de eventos promocionais e/ou anúncios na mídia.

O BMG só perde sem Jade nas Olimpíadas. E a CBG, assim como a Caixa, também saem no prejuízo sem uma das principais atletas do país em Londres. A atleta, então, nem se fala.

Todo patrocinador tem um limite para interferir na vida de um atleta. Esse limite é exatamente aquele que faz com que o patrocínio interfira na performance esportiva.

O problema, do ponto de vista do marketing, não é nem a Jade não ir para os Jogos Olímpicos por causa disso.

É esse tipo de impasse existir dentro da indústria esportiva do Brasil em pleno 2012. Ainda mais tendo já o histórico dos Jogos de Sydney em 2000, quando o impasse Guga-Diadora-Olympikus, que era bem mais justificável, já que o atleta vestiria uma marca concorrente da do seu patrocinador,  quase tirou o tenista das Olimpíadas.

Depois da provocação de ontem no blog, fica a certeza: ainda temos muito a aprender…


Um mês para Londres. Vamos aprender?
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Erich Beting

Chegamos nesta quarta-feira à reta final da contagem regressiva para os Jogos Olímpicos de Londres. A 30 dias da maior competição esportiva do planeta, os londrinos começaram a aquecer os motores para o evento. Pela manhã, uma cerimônia marcou a colocação do símbolo das Olimpíadas na Tower Bridge, um dos principais cartões-postais da cidade.

Amanhã, mais eventos programados. E assim seguirá o barco londrino em direção ao dia 27 de julho, quando oficialmente a cidade estará voltada apenas para os Jogos Olímpicos.

Já que não deu nos últimos tempos, é hora agora de o brasileiro olhar com carinho para essa fase que a Inglaterra começa a viver. O que as empresas estão fazendo para engajar suas marcas com o consumidor? Como a cidade faz para tornar o habitante mais ligado aos Jogos? De que forma a mídia, lá e aqui, prepara o clima para o início do evento?

Muito do que acontecerá nos próximos 45 dias poderá nos servir de exemplo para, a partir de 13 de agosto, começarmos a aplicar no mercado brasileiro. É a hora de aprender com os acertos e os erros londrinos. E de entender mais onde é que vamos nos meter. Um bom começo, para quem quiser, é assistir a essa animação feita pela BBC (veja clicando aqui).

Nela, fica bem claro qual o dinamismo que os Jogos Olímpicos assumiram para o mercado e também para as cidades-sedes desse megaevento. A melhor forma de não repetirmos os erros do Pan-2007 e até mesmo da Copa atropelada que teremos em 2014, é antecipando-se, planejando-se e, mais do que isso, executando o plano proposto.

Só assim transformaremos oportunidades em bons negócios. Chegou a nossa hora de aprender. O lado bom dessa história é que, da maneira como Londres pensou os Jogos Olímpicos, muito provavelmente estaremos diante de uma nova versão de Barcelona-1992, até hoje o melhor exemplo de uma edição olímpica que só trouxe benefícios para a cidade anfitriã. Potencial para repetir esses dois exemplos o Rio de Janeiro tem. Mas não dá para achar que 2016 ainda é algo muito distante.


O naming right que não vai pegar. E pagar
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Erich Beting

A notícia está na capa do UOL desta terça-feira (leia mais aqui). A WTorre acredita que vá receber mais do que o Corinthians com a venda da cota de naming right do novo estádio do Palmeiras.

No mundo ideal, é lógico que o Palmeiras receba mais do que o Corinthians pelo direito de dar o nome a seu novo estádio. O primeiro e principal motivo para isso é a localização das arenas.

Em região mais central da cidade, o estádio palmeirense é mais atrativo para a realização de eventos e, também, de ações de relacionamento de empresas. Por mais que não receba jogos da Copa do Mundo, é bem melhor para quem quiser levar clientes, realizar eventos corporativos ou mesmo se deslocar até o estádio para uma reunião de negócios (sim, os estádios servem para isso também!).

E o  outro motivo para essa disparidade tem mais a ver com a cultura brasileira.

O estádio do Corinthians já foi batizado de Itaquerão, por mais que agora Corinthians e Odebrecht tentem fazer com que o apelido deixe de ser utilizado. E isso é péssimo para que uma empresa tenha interesse em dar nome ao estádio. Por mais que uma cota de naming right seja bem mais do que apenas batizar uma propriedade no esporte, interfere muito o fato de que a arena já tenha um nome “popular”.

O caso do Itaquerão é emblemático. Por mais que sejam feitos vários esforços, é difícil acreditar que o naming right vá pegar. Temos uma nação que adora colocar apelido em tudo. É o time de Pelé, Ronaldinhos, Robinhos, Gansos e Patos.  É a nação do Itaquerão, Pacaembu, Morumbi, Maraca, Mineirão, etc.

Querer que uma empresa tenha o nome atrelado ao estádio é exigir uma quebra de paradigma muito grande, que provavelmente nenhuma corporação tenha o interesse em pagar para ver. Além disso, a mídia ainda não respeita e não dá bola para a questão de respeitar os direitos adquiridos pelo patrocinador. E isso também atrapalha numa eventual negociação.

Além de o Itaquerão representar um estádio cujo naming right não vá pegar, claramente também não vai pagar o valor proposto pelo Corinthians. Da mesma forma que o Palmeiras não conseguirá chegar aos valores que diz que pode alcançar.

O motivo, para os dois casos, é o próprio mercado de naming rights no mundo. O maior contrato de um estádio de futebol é o alemão Allianz Arena, em Munique, casa do Bayern de Munique. A companhia de seguros paga 6,5 milhões de euros ao ano para dar nome à arena. Nos Estados Unidos, o melhor acordo é o do Gillette Stadium, em Massachusetts, com US$ 20 milhões ao ano, num mercado muito mais maduro e preparado do que em todo o restante do planeta.

É impossível achar, com todo o cenário brasileiro de patrocínio esportivo, quem pague uma conta de R$ 20 milhões ao ano. Por melhor que seja o ponto ou o momento do esporte no Brasil, esse é o valor máximo para a cota mais valiosa que existe, que seria o patrocínio de uma camisa.

Racionalmente, não há quem pague essa conta. Se houver, com certeza a motivação não será técnica.


Tiger Woods abre vaga na lista dos mais ricos
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Erich Beting

Tiger Woods perdeu, finalmente, o trono de esportista mais bem pago do mundo. Essa é a análise que pode ser feita da lista divulgada pela Forbes com os atletas mais bem remunerados de 2011. Depois de quase uma década de liderança, o golfista americano deixou o trono de mais rico do esporte. A saída de Woods do topo da lista tem dois motivos. O primeiro, claro, é decorrência do escândalo sobre a vida conjugal do golfista. E o segundo, atrelado ao primeiro, é a queda de rendimento esportivo dele após o divórcio traumático causado pela descoberta de suas escapadas.

Woods viu cair praticamente pela metade seus rendimentos anuais. Se, em 2010, ele terminou a temporada com mais US$ 105 milhões na conta, neste ano seus vencimentos dentro do golfe caíram a “míseros” US$ 59,4 milhões. O valor fez com que ele ficasse abaixo dos dois grandes nomes do boxe na atualidade: Floyd Mayweather Jr. (o líder, com US$ 85 milhões) e Manny Pacquiao (US$ 62 milhões em 2011).

Mas, mais do que só a queda no ranking, a diminuição da receita de Woods no golfe mostra uma tendência, que deverá fazer com que o posto de número 1 fique vago daqui para a frente. Como garoto-propaganda, inegavelmente, será difícil para o golfista emplacar novamente. Soma-se a isso o fato de ele não conquistar mais tantos torneios, o que reduz a premiação em dinheiro, e o cenário está completo.

Por enquanto, Pacquiao e Mayweather devem ficar como líderes do ranking, ainda mais se realmente for confirmada a luta entre os dois com uma bolsa de US$ 100 milhões para cada um deles. Esse cenário, porém, deve se alterar em breve, já que os prêmios altos pagos a boxeadores costumam não durar muito tempo.

O posto de número está vago.


O foco do esporte no consumidor
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Erich Beting

O fio virou, definitivamente, dentro do investimento em esporte no Brasil. Depois de muito tempo preocupados com a exposição de marca e/ou negociação de patrocínios, as entidades esportivas e as empresas que aportam verba no esporte começaram a perceber que o foco do investimento em esporte é o consumidor.

Na última quarta-feira, em São Paulo, a agência Futebol Tour organizou uma espécie de “balada oficial” para o torcedor palmeirense. Um restaurante ambientado para quem quisesse acompanhar a partida contra o Grêmio foi o mote da ação, que já havia sido feita para torcedores de outras equipes (leia detalhes aqui).

A ação mostra o caminho que deve ser percorrido pelo esporte no futuro. Ou melhor. No presente.

Não adianta mais achar que apenas o patrocinador vai pagar a conta, assim como o patrocinador não pode achar que apenas a exposição de marca vai servir para justificar o investimento no esporte.

Num mundo em que a mídia começa a ficar cada vez mais fragmentada e segmentada por interesses pessoais, o conteúdo esportivo é a chave para comunicar-se com diferentes tipos de público e num nível elevado de relação da marca com o consumidor. Por isso mesmo, o esporte tem de parar de olhar para si e entender quem é o seu consumidor.

O foco não é em quem coloca dinheiro, mas em quem alimenta a paixão. Naturalmente é ele quem trará dinheiro para o clube, o atleta e até para a empresa que decidir investir no patrocínio.

Apesar de esse conceito ser amplamento difundido em outros mercados, só agora começa a pegar no Brasil. O motivo? Só agora começamos a ter uma mudança mais significativa no hábito de consumo e investimento na mídia. A TV aberta começa a perder espaço dentre as plataformas de consumo. E, assim, as empresas precisam ser mais criativas para encontrar seu consumidor.

Em alguns anos, o valor pago para anunciar durante 30 segundos no Jornal Nacional vai ser menor do que aquele para inserir uma publicidade dentro da transmissão esportiva. A realidade, porém, ainda está distante.


O Palmeiras de volta ao passado
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Erich Beting

Eu também chorei a bola na trave de Aguirregaray, no último minuto, naquele 0 a 0 contra a Ferroviária que tirou o Palmeiras da final do Campeonato Paulista de 1990. Mais do que isso, como torcedor que ainda flertava com os primeiros anos da paixão pelo futebol e pelo Verdão, chorei humilhado pelo bando que deixou o estádio do Pacaembu e partiu em direção ao Palestra Itália para quebrar a sala de troféus de um Palmeiras que completava seu 13º ano longe de qualquer conquista e de qualquer atuação digna de encher os olhos da torcida de alegria.

Pensei bastante antes de escrever esse texto. O problema não é assumir o time para o qual torço. Quem me conhece minimamente sabe bem qual é. A dúvida era saber se esperava ou não a partida contra o Grêmio, desta noite de quarta-feira, pela primeira semifinal da Copa Kia do Brasil. Seria maldoso e até oportunista criticar o clube depois de um resultado ruim. Da mesma forma, ficaria sem sentido, depois de um bom desempenho, olhar só o lado ruim de um time que pode estar próximo de uma final de campeonato. Qualquer que fosse a opção, o torcedor com certeza iria cair matando e provavelmente perderia o senso crítico, acreditando ou que eu não seria palmeirense, ou que estava a fim só de polemizar.

O fato é que o jogo do Palmeiras é, em grau de importância jornalística, bem menor que o grandioso Santos x Corinthians que abre as semis da Copa Santander Libertadores. Mas, para o  interesse de torcedor, ele é infinitamente maior do que qualquer outro clássico que possa existir. Para o garoto de 10 anos de idade como eu já fui um dia, ele representa a chance de ver o time do coração começar o caminho para chegar a uma final de campeonato e, quem sabe, ganhar o tão sonhado título.

Só que, passado o momento nostálgico, o Grêmio x Palmeiras desta quarta-feira simboliza exatamente a regressão no tempo do Verdão. E, pior do que isso, não é uma volta aos bons tempos de infância.

O Palmeiras consegue o feito de chegar a uma semifinal de uma competição nacional em crise. Sem sustos dentro de campo, o time alcançou um feito que não conseguia havia mais de dez anos. E, assustadoramente fora dele, não consegue ter calma para trabalhar às vésperas de um momento decisivo como o desta semana que começa às 21h50 em Porto Alegre.

O caso da vez é o sequestro-relâmpago que deve ocasionar a saída de Valdívia, um dos astros recentes do clube. No dia que antecedeu o primeiro confronto decisivo contra o Grêmio, nada de falar em preparação da equipe, mas a preocupação foi dar explicações sobre a evidente saída do camisa 10 que, é justo dizer, pouco fez pelo time desde que voltou, no ano passado.

Como é possível que o Palmeiras não consiga, em qualquer circunstância, blindar o time?

O clube de hoje lembra, em todos os seus defeitos, o mesmo que praticamente 22 anos atrás estourou o limite da paciência do torcedor. Aquele 15 de agosto de 1990 também era uma quarta-feira e também era um jogo à noite, decisivo, que enchia de esperança o apaixonado. A quebra da sala de troféus após o vexame de não sair de um empate sem gols num Pacaembu lotado foi a explosão de uma situação que só vinha se deteriorando desde 1976, quando a figura da Academia de futebol foi aos poucos sendo substituída pela de um clube sem alma, largado, sem futuro.

A sensação era a de que nada seria capaz de salvar o Palmeiras. Os melhores treinadores já tinham sido contratados e não obtinham sucesso no Verdão (Telê Santana comandou o time naquele 0 a 0), jogadores chegavam com fama e prestígio para fazer o time sair da fila, novos atletas surgidos dos times de base eram apontados como esperança para o “agora vai”. E nada parecia dar certo. Fora de campo, desmandos de dirigentes, gastos infindáveis, dívidas se acumulando e, dessa forma, a italianada do conselho ficava apenas discutindo sobre tudo e todos, sem conseguir montar um plano para recolocar o clube nos trilhos. Para piorar, os maiores rivais paulistanos começavam a engatar bons times e boas conquistas, depois da ressaca de títulos por duas décadas do Corinthians e da chegada do São Paulo às glórias do time dos Menudos.

Outro dia ouvi de um amigo de infância, são-paulino, que ele não admite ver seu time perder para o Palmeiras. O motivo não é passional, mas técnico. No raciocínio de um administrador competente que é, não é possível uma empresa dar certo da maneira como o Verdão é gerenciado.

E aí é que entra o ponto, depois dessa volta ao passado do torcedor. O Palmeiras conseguiu regredir no tempo. A época das vacas gordas da Parmalat não foi boa apenas por que representou um momento em que o clube conseguia ser o mais rico do Brasil e, por isso, tinha os melhores jogadores em seu time. O grande diferencial, naquele período, foi que o Palmeiras teve um comando, foi competente no uso do vasto dinheiro de que dispunha e, especialmente, teve uma gestão racional.

Hoje, o Palmeiras está exatamente igual há 20 anos. Técnicos de renome, dívidas acumuladas, jogadores caros e sem dar retorno ao clube, torcida impaciente… A diferença, de 20 anos para cá, é que outros clubes evoluíram, aprenderam e, principalmente, têm mudado a forma de se comportar. Os conselhos deliberativos têm sido substituídos por profissionais de mercado na tomada de decisões, o pensamento de torcedor não contamina tanto a decisão dos dirigentes e, assim, a mudança de atitude é mais perceptível.

As paixões da infância são quebradas conforme vamos conhecendo mais as coisas. Quanto mais experiente ficamos, mais preparados estamos para não cometer os erros do passado. Naquele 15 de agosto de 1990, não foi a bola na trave de Aguirregaray que tirou o Palmeiras de uma final de Campeonato Paulista. O problema estava na gestão deficitária, na impaciência dos dirigentes, no descontrole do torcedor que jogava contra o próprio amor ao não ver mais solução para tirá-lo de um estado aparentemente terminal. É, mais ou menos, o que parece que irá acontecer nos dois duelos semifinais da Copa do Brasil. Não há, racionalmente falando, como o Palmeiras ser superior ao Grêmio, mesmo com o clube gaúcho também deixando de ser, de longe, um exemplo de gestão racional e eficiente. Enquanto perdurar o modelo atual de funcionamento dos clubes brasileiros, com conselhos mandando e desmandando, sem qualquer comprometimento com a realidade financeira do clube, veremos ficar cada vez maior o abismo entre os times que adotam uma gestão racional e aqueles que funcionam apenas na base da paixão. Voltar a um passado sombrio pode ser uma solução para uma profunda reforma na maneira de o Palmeiras agir.

Pelo menos a sala de troféus do Palestra Itália está fechada por conta das reformas no estádio…


Nunca antes na história das Copas do Mundo…
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Erich Beting

Hoje, a dois anos do início da Copa do Mundo de 2014, a Match, agência que detém os direitos de comercialização dos ingressos para os camarotes no evento, anunciou que bateu um recorde no Brasil. A empresa já faturou US$ 262 milhões em vendas de camarotes para empresas e/ou pessoas abastadas. Nunca antes, na história das Copas do Mundo, vendeu-se tanto camarote a preços tão salgados.

Mas o que explica essa festança da Copa no Brasil?

A primeira delas, óbvia, é o bom momento econômico brasileiro. As empresas estão vendendo bem e, por isso, têm grande interesse em comprar ingressos para a Copa. Quem não é patrocinador do evento tem, nos camarotes, uma boa chance de fazer ações de relacionamento, seja interna ou externa, a partir desses bilhetes corporativos.

Outro fator a se considerar é o fato de que o país já tem uma cultura de uso de camarotes em eventos esportivos. Estamos acostumados a ver as empresas levarem clientes e fornecedores a corridas de Fórmula 1, Indy, Stock Car, jogos de futebol, de vôlei ou basquete. Isso cria um clima favorável para que também as empresas saibam da importância de comprar os ingressos para os convidados Vips.

Mas até aí, em 2006, a Alemanha também vivia um bom momento econômico e tinha essa cultura de investir em camarotes.O que faz o Brasil viver uma situação diferente, nesse caso, é a falta de cultura que temos, por aqui, de ter grandes e bons eventos, sejam eles no esporte ou fora dele.

Com a falta de cultura em organizar eventos, acostumamo-nos a pagar muito caro para ter grandes shows ou acontecimentos esportivos. Vale lembrar que o Brasil é, atualmente, o mais caro mercado de música do mundo. Nenhum show paga cachê tão alto para os artistas e ingressos tão caros para os espectadores. Com a Copa do Mundo, reproduzimos esse fenômeno para os camarotes.

Sem uma base de comparação, as grandes empresas decidiram colocar dinheiro nesses ingressos. Com isso, pagam a mais alta conta da história das Copas pelos mais valiosos bilhetes. Resta saber se, daqui a dois anos, os estádios estarão prontos para receber esse público.

Nunca antes na história das Copas houve uma venda de ingressos corporativos tão vantajosa como agora. E, dificilmente, será assim na Rússia e no Qatar, as sedes dos dois próximos Mundiais. Coisas do Brasil…


Roland Garros e o saibro… Rosa!
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Erich Beting

A moda de pintar a quadra de saibro em cores diferentes invadiu até mesmo o mais tradicional torneio de tênis disputado nesse piso. Na manhã da quinta-feira, em Roland Garros, o saibro amanheceu pintado de rosa.

No dia em que a disputa nas simples foi exclusiva para as semifinais femininas, o tradicional torneio francês promoveu o dia da mulher em todo o complexo de tênis na cidade de Paris.

A iniciativa, bancada obviamente pelos patrocinadores de Roland Garros, transformou todo o local em que acontece o torneio numa espécie de alameda de serviços a céu aberto para as mulheres. Manicure, salão de beleza e outras coisas para atender às damas presentes no complexo foram montadas no “Dia da Mulher”, como foi apelidado o 7 de junho.

Além disso, a quadra 1, que equivale à terceira em importância no complexo francês, foi inteira preenchida com um saibro cor de rosa. Uma partida com estrelas do passado, como Chris Evert (sete vezes campeã do torneio) e Martina Navratilova também foi realizada para promover o dia dedicado a elas.

Segundo Jean Gachassin, presidente da entidade, a transformação provocada em Roland Garros tem como objetivo aproximar a mulher francesa do tênis, já que hoje a França não tem uma grande estrela na modalidade.

Semanas depois do polêmico saibro azul do Masters 1000 de Madri, é um alento para os jogadores de que a moda, pelo menos dessa vez, não passa de marketing, sem interferir na performance durante o evento…

A foto abaixo, de autoria da Federação Francesa de Tênis, mostra algumas das convidadas para o evento. Chris Evert está de rosa, enquanto Navratilova é a primeira à direita.

Desde a esquerda, Nathalie Tauziat, Sandrine Testud, Chris Evert, Jean Gachassin, Jana Novotna e Martina Navratilova. E, embaixo, o saibro na cor rosa


Barcelona e Real Madrid dominam a festa junina
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Erich Beting

Sou fã de festas juninas. Daquelas de escola, com direito a dança de quadrilha, correio elegante, cadeia, quentão e tudo mais. No último sábado, fui à festa dos sobrinhos e me espantei com uma nova realidade. No velho e bom bingo, o prêmio máximo não era uma camisa do Corinthians, do Palmeiras, do São Paulo, do Santos ou da seleção brasileira, como costumava ser nos meus tempos de infância. Agora, o máximo era ganhar a camisa do Real Madrid do Cristiano Ronaldo ou a do Barcelona.

É curioso perceber como, aos poucos, os grandes times da Europa invadiram nosso cotidiano e tornaram-se mais fortes do que algum dia sonhamos em imaginar. O orgulho que, no passado, ostentávamos ao ver equipes brasileiras desbravando continentes, hoje deu lugar a um sentimento de admiração e respeito pelas grandes potências europeias.

Não é nem mais o jogador brasileiro atuando no exterior que chama a atenção do torcedor, mas sim Cristiano Ronaldo e Messi! O pior é que os clubes do país ainda não perceberam que, a cada dia que passa, perdem espaço para essas potências europeias.

Há cerca de dez dias foi divulgada a notícia de que o Manchester United era o clube com maior número de torcedores no mundo. Vi muita gente, seja em conversa pessoalmente ou pelo Twitter, reclamar do levantamento, argumentando que a tradução para o português do termo “fan” foi usada de forma inapropriada. A tese era a de que “fan” deve ser traduzido como admirador, e não como torcedor.

Mas ao vermos o comportamento dos clubes europeus com os torcedores em todo o mundo e, pior ainda, comparando-o com o que não fazem os clubes brasileiros, é absolutamente compreensível prever o Manchester como o time de maior torcida no mundo.

Por maior que seja o mercado interno de futebol do Brasil, temos perdido espaço para os grandes clubes europeus. Antes mesmo da necessidade de os times brasileiros expandirem suas marcas para o exterior é fundamental hoje que um planejamento seja traçado para valorizar a marca internamente.

É preciso começar um trabalho de fortalecimento do produto futebol brasileiro, que passe não apenas pela permanência de Neymar, Lucas e quetais em solo nacional. Qual o plano que existe para cativar e fidelizar o torcedor, o fã, o admirador ou o nome que queira se dar a quem segue um time?

Enquanto o marketing não entrar para valer fora de campo nos clubes brasileiros, veremos Barcelona e Real Madrid dominarem as festas juninas Brasil adentro. Isso, no longo prazo, pode ser um problema para o país que se orgulha em dizer ser “do futebol”.


A bola é o melhor marketing de Ronaldinho
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Erich Beting

Ronaldinho foi bem em seu primeiro dia no Atlético Mineiro. Em vez de churrascaria para assinar contrato e apresentação apoteótica na sede do clube, o jogador foi apresentado dentro de campo, treinando no CT do Galo. E é essa que tem de ser a atitude de Ronaldinho nos próximos meses se quiser voltar a ser “o cara”.

O único lampejo de Gaúcho pelos gramados brasileiros foi no épico 5×4 contra o Santos, em 27 de julho do ano passado. Naquela partida, claramente, ele quis dar um recado a Neymar de que seria preciso muito trabalho para bater o talento de Ronaldinho. Mas as coisas foram se perdendo ao longo do caminho, pelas promessas não cumpridas e pelas tentações da vida badalada que o astro levou nos últimos meses.

Muita gente pergunta se o “plano Ronaldinho” poderá dar certo no Atlético, depois do fracasso flamenguista. Uma coisa é certa. O Flamengo, assim como havia errado em outras vezes, procurou primeiro contratar para depois se preocupar em pagar a conta. Agora, o Galo parece estar com os dois pés no chão, principalmente porque Ronaldinho percebeu que a banda não toca mais a sua música, mas sim o Tchu e o Tchá de Neymar.

Hoje, o melhor marketing para Ronaldinho é a bola nos pés. Só jogando, e bem, ele poderá exigir melhor salário, buscar contratos publicitários ou voltar a encher de alegria os olhos dos torcedores. Essa, aliás, deveria ser a prioridade número zero do jogador em sua lista. Ou ele passa a jogar para a torcida, no sentido correto da expressão, ou então passará a ser um nômade da bola, criando relações de paixão passageira com as camisas que irá defender.

Como sempre foi em sua carreira, Ronaldinho conseguiu polpudos contratos quando, dentro de campo, demonstrou ser o melhor do mundo. Hoje, o nível de exigência é menor. Se ele foi capaz de levar o Barcelona à conquista da Europa, porque não imaginar ser possível levar o Galo ao trunfo no Brasil, conquista que há 40 anos fez do Atlético uma potência nacional e que até hoje é a única vitória expressiva do clube?

A bola é o melhor produto de marketing de Ronaldinho. É só ele entender que a festa é para ser deixada para dezembro.