Negócios do Esporte

Arquivo : agosto 2012

O futebol expande os tentáculos para outros esportes
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Erich Beting

Corrida das Torcidas e Timão Run são duas provas de corrida de rua que acontecem nas próximas semanas. Uma delas envolve os times do Rio de Janeiro, enquanto a outra é destinada a torcedores corintianos. Ambas seguem uma tendência que foi criada em 2009, pelo Palmeiras, quando fez a “Corrida da Arrancada Heroica”, relembrando a conquista do Paulistão de 1942.

O fato é que o futebol e os clubes começaram a perceber a força de suas marcas e, assim, começam a expandir seus tentáculos para outros esportes. O foco, nesse caso, não é a produção de atletas, mas algo muito mais rentável para o clube, que é explorar a paixão do torcedor por ele.

Esse é o degrau que falta para que o futebol, no Brasil, ganhe uma gestão mais qualificada. A partir do momento em que é preciso trabalhar para atrair o torcedor e fazê-lo consumir cada vez mais, a estrutura precisa ser modificada. O mais curioso é que essa mudança vai partir do próprio consumidor.

Não será via força de lei ou por uma conscientização de quem dirige o futebol de que é preciso mudar. Será na marra. Mais ou menos como é na mudança de hábito do relacionamento das empresas com os seus clientes. Quando o consumidor passa a exigir melhores condições, o meio que se encontra de sobrevivência é adequar-se a essas novas necessidades.

O mercado de corrida de rua, no Rio de Janeiro e em São Paulo, já começa a dar sinais de saturação. Uma prova tendo como tema o futebol é uma forma de atrair um cliente novo para esse mercado. E, também, é uma maneira de o clube mostrar para o torcedor que ele não é só um time de futebol, mas um acalentador da paixão que ele tem por aquela marca.

No Brasil, o clube de futebol tem uma das mais poderosas marcas para trabalhar o consumidor. Com a economia em alta, com mais dinheiro para ser gasto em atividade de lazer e com mais condições de dar ao torcedor conforto, a tendência é que o futebol se espalhe para outros esportes, sempre procurando fisgar um pouco mais dinheiro do consumidor.

E, no fim das contas, essa é uma excelente notícia para toda a cadeia produtiva do esporte. Afinal, o futebol é a locomotiva para as demais modalidades no país.


A São Silvestre está de volta à Paulista! Viva a tradição!
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Erich Beting

Há cerca de um ano, publiquei aqui no blog um texto sobre a morte da tradição na corrida de São Silvestre. Organizadores (Fundação Casper Líbero e a organizadora de provas Yescom) haviam decidido tirar a chegada da prova da Avenida Paulista. No texto, criticava exatamente a falta de visão da organização em abandonar a tradição, que é um componente importante dentro da plataforma de marketing de uma competição.

Em meio a isso, fiz parte de um movimento junto de outros jornalistas, corredores de rua, treinadores e organizadores de prova que pediam o retorno da chegada da São Silvestre na avenida que sempre caracterizou a prova. Chegamos, até, a colocar 300 pessoas para correr o percurso “antigo” no dia 2 de novembro, numa forma divertida de protestar contra a mudança.

Agora há pouco, porém, a organização da prova divulgou um comunicado recolocando a final da prova para a Paulista e, claro, mudando o horário da largada. Agora, a São Silvestre começa às 7h10 (portadores de necessidades especiais), 8h40 (feminina) e 9h (masculina e atletas amadores).

As mudanças atendem, exatamente, aquilo que mais reclamei no texto de um ano atrás, que é o conforto do torcedor. A chegada no Obelisco, como foi no ano passado, era massacrante para os atletas por conta da descida da Av. Brigadeiro Luis Antônio. Além disso, criava problemas para quem não ia de carro para a prova pela distância das estações de metrô e do guarda-volumes.

A justificativa de que a chegada da São Silvestre atrapalhava a concentração de pessoas para a festa do Reveillón foi resolvida com a largada acontecendo na parte da manhã, o que também não deixa de ser mais conforto para o atleta. Afinal, antes, para ter a transmissão da Globo, a São Silvestre largava na parte da tarde, geralmente com a temperatura na casa dos 30ºC e, ainda, com grande possibilidade de chuvas, como foi na chegada do ano passado, em que até o sinal da transmissão caiu por conta da tempestade.

A tradição venceu, e com certeza o consumidor será o maior beneficiado com as alterações, bem como os organizadores da prova. Se, no ano passado, critiquei ferozmente a Yescom e a Fundação Casper Líbero, agora tenho de aplaudi-los pelo reconhecimento do “erro” e a volta de boa parte da tradição da prova.

E, só para colocar um pouco de pimenta, já que mudou-se o horário, porque não mudar a largada para a 0h do dia 31? Só para recuperar o charme da prova noturna, que nesse novo horário manteria a realização no dia de São Silvestre…

Mas isso sem dúvida é o de menos. Viva a chegada na Paulista!


Túlio, o professor
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Erich Beting

Túlio Maravilha foi apresentado ao Botafogo ao melhor estilo Túlio (leia a matéria aqui). Falando, prometendo e, mais do que isso, assumindo a condição de “showman” com extrema maestria.

Muitas vezes o que ouvimos de reclamação no meio esportivo é de que faltam mais atletas polêmicos, que saibam dominar a oratória e criar boas histórias a partir de declarações e atitudes que mostram autenticidade no que faz. Talvez, realmente, Túlio possa mostrar aos jogadores de hoje a importância que existe, para o futuro profissional deles, ser bem articulado, saber se posicionar na mídia e, acima de tudo, ter uma atitude autêntica quando se posiciona.

O bom marketing pessoal sempre foi o forte de Túlio, que até foi garoto-propaganda da Volkswagen recentemente, feito que nenhum jogador havia conseguido fora dos tempos de grandes eventos.

E isso é algo que falta, muito, para os jogadores atualmente. Ser mais autêntico e articulado pode garantir bons contratos futuros. Seja dentro de campo ou fora dele, engajando campanhas publicitárias e sendo, de fato, um ator. Um grande abismo que existe muitas vezes do atleta no exterior para aquele no Brasil é que, por aqui, o esportista muitas vezes acha que sua função se resume à performance esportiva.

Túlio é o grande professor que pode aparecer no esporte brasileiro. E num momento único para atletas, mídia e patrocinadores para isso.


O Brasil ainda domina a Europa. Mas não reina
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Erich Beting

Nesta semana foi divulgado mais um estudo da CIES, entidade ligada à Federação Internacional de Atletas Profissionais (PFPO), sobre a distribuição demográfica dos jogadores espalhados pelo futebol da Europa.

Mais uma vez, o Brasil é disparado o país que mais atletas tem em atuação no Velho Continente. São 528 jogadores brasileiros em atuação nos 500 times analisados pelo CIES. A França segue como segundo país em número de atletas profissionais em atuação na Europa: 247 jogadores. Em terceiro lugar do ranking está a grande surpresa, com a Sérvia (228 atletas) ultrapassando a Argentina (211 profissionais), a quarta colocada na lista.

Tem duas formas de analisarmos o ranking da CIES, que no ano passado contava com 39 brasileiros a mais em atuação na Europa. A visão otimista dá conta de que os atletas preferem continuar mais tempo no Brasil ou estão voltando por conta da economia fortalecida em detrimento da crise europeia. Isso é um fato, como pode comprovar o fato de Neymar continuar por aqui.

Mas também, ao analisarmos os números com mais calma, a versão de copo “meio vazio” para a história parece ter mais sentido. Temos menos jogadores em atuação na Europa e, também, menos protagonistas nos grandes times. Há uma década, não apenas tínhamos muitos brasileiros em atuação nas grandes ligas como eles eram os principais astros das equipes. Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos, Cafu, Juninho, Kaká e mais um punhado de jogadores de primeira grandeza eram os reis da Europa.

O estudo da CIES também mostra um dado alarmante para o futebol como negócio. A crise econômica que assola Espanha e Itália já começa a refletir na qualidade dos atletas em atuação nesses países. Líderes da economia e da bola, Alemanha e Inglaterra são os países com o maior número de jogadores em seleções nacionais. O terceiro lugar, agora, é ocupado pela Rússia, que desbancou França, Itália e Espanha com atletas que, em 2011, jogaram por seleções.

O Brasil ainda deverá continuar dominante na Europa, mas sem dúvida que estará longe de reinar no Velho Continente. Com a economia por aqui mais forte e ainda a realização de Copa do Mundo daqui a dois anos, a tendência também é que, com o passar do tempo, teremos menos brasileiros pela Europa e mais atletas de outras nacionalidades por aqui.

O andamento da economia é determinante para balizar esse comportamento. E isso que os clubes brasileiros não se organizaram minimamente para conseguir, de fato, rivalizar com ingleses e alemães pela liga de futebol mais forte do mundo. A hora para que isso pudesse ser feito era agora. O problema é que o dinheiro que existe no futebol nacional não é condizente com a falta de preparo de quem tem de gerenciá-lo.


Zé Love e o planejamento de carreira no esporte
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Erich Beting

“Eu já joguei em clube pequeno, já precisei me sujeitar a um tipo de situação como essa de ter que espera resposta de clube. Mas meu pai me ensinou que eu tinha que ter dignidade. Eu não posso ficar esperando no hotel. Eu tenho contrato de quatro anos com um grande clube. Não preciso esperar em hotel”.

Dessa forma o atacante Zé Love, ex-Santos e atual Genoa, da Itália, explica o motivo de ter desistido de esperar uma semana para ser ou não contratado pelo Milan (a matéria completa de José Ricardo Leite está disponível aqui).

Ok, cada um sabe onde o calo aperta, mas o caso de Zé Love é a típica mostra de como falta planejamento de carreira para a maioria dos atletas, especialmente no Brasil, país em que o tema começa, timidamente, a ser debatido agora.

Muitas vezes o atleta não tem a menor preocupação em saber como será sua vida dali a dez anos. Quase sempre, sua preocupação é com o momento, com o próximo jogo, com o salário que vai cair no final do mês. A maneira como ele se comporta fora de campo, os negócios que ele faz quando não está jogando ou até mesmo o que ele fará quando o ápice físico terminar são sempre deixados para escanteio, meio que naquela sensação de que é só “fazer um gol e está tudo resolvido”.

E a dúvida que perdura é a seguinte: entre ser o atacante da Genoa ou mais um atacante do Milan, o que você escolheria? A preocupação que você tem de ter é com o agora ou com o futuro? Será que passou pela cabeça de Zé Love estudar um pouco a história do clube milanês e perceber que ele poderá, ali, criar um plano de carreira num dos cinco clubes mais vitoriosos do mundo? Basta ver o histórico do Milan com atletas brasileiros e, mais do que isso, com jogadores com idade mais avançada e que permanecem vinculados ao clube, durante e depois de encerrar a carreira de atleta.

O maior entrave para uma profissionalização maior do esportista no Brasil é exatamente a forma como eles ainda trabalham o seu relacionamento com o empregador e, mais do que isso, a forma como o atleta se vê. Com o assédio enorme de terceiros, o esportista quase sempre se fecha num círculo íntimo para cuidar dos compromissos fora de seu ramo de atuação.

São os pais, os parentes ou os amigos de infância geralmente que tratam dos negócios do atleta. Ou, às vezes, um empresário que está mais de olho na lucratividade de uma transferência do que em olhar para o futuro da pessoa depois que a carreira tiver fim. Ao jogador, fica restrito o trabalho para obter a melhor performance esportiva possível.

Isso impede que, no Brasil, tenhamos uma indústria formada para trabalhar o planejamento de carreira para esportistas. E o maior entrave é exatamente pelo fato de, quase sempre, os amigos e familiares de atletas simplesmente não conseguirem enxergar (ou aceitar) queda no rendimento esportivo e, consequentemente, desvalorização dele no mercado. A emoção geralmente fala mais alto, e o passado sempre é levado em conta, sem olhar para o presente e, mais ainda, o futuro da pessoa.

Quando apareceu no mercado, a 9ine parecia que poderia assumir essa condição de percussora do trabalho de gestão e planejamento de carreira dos atletas. Mas, aos poucos, a empresa se posicionou mais para a área de planejamento de exposição do atleta na mídia e, assim, com aumento de geração de receitas a partir desse aumento de presença na mídia (Anderson Silva é o melhor exemplo disso).

Com essas e outras, continuamos carentes, no Brasil, de um serviço que mostre ao atleta a importância de ele olhar o futuro, e não o dinheiro do presente. Recusar o Milan por ter de esperar uma semana para saber se seria contratado ou não pelo clube é fechar uma porta que possivelmente não vai se reabrir para Zé Love. Daqui a 20 anos, ser um ex-jogador do Genoa possivelmente não causará o mesmo impacto do que ter sido um atleta do Milan.

A dignidade, invariavelmente, atrapalha e muito num planejamento mais longo de carreira. Zé Love, infelizmente, que o diga.


A Fórmula E e o futuro do automobilismo
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Erich Beting

A FIA finalmente percebeu que precisava rever seus conceitos. Ontem, segunda-feira, a Federação Internacional de Automobilismo anunciou a criação da Fórmula E, competição que reunirá os carros movidos a energia elétrica. Na última década, o tema da sustentabilidade tem permeado cada vez mais as discussões sobre o cotidiano das pessoas.

A grande diferença para os últimos 20 anos, desde a Eco-92, talvez seja que, a cada dia que passa, as alternativas sustentáveis passam a fazer mais ainda parte do nosso cotidiano.

E o esporte veio acompanhando essa tendência. Hoje, as fabricantes de uniformes, por exemplo, fazem boa parte do material a partir de fios de garrafa pet, além de outros materiais que agridam pouco o ambiente. Da mesma forma, a indústria automobilística tem se desenvolvido para propor ao consumidor meios de transporte menos nocivos à natureza.

Até então, porém, a FIA continuava alheia a todos esses apelos e mudanças de hábito do cotidiano das pessoas. Diria até que muitas vezes a entidade que rege o automobilismo simplesmente ignorou o tema dentro de sua agenda. É só ver a Fórmula 1 como exemplo. Todas as mudanças feitas nos últimos anos teve como motivo a redução de custos para as equipes, e não a preocupação, também, em agredir menos o ambiente e ficar mais “em dia” com as discussões ao redor do mundo. Claramente o problema para a F1 é a redução do dinheiro na Europa, e não a preocupação com o meio ambiente.

Agora, com a Fórmula E, a FIA consegue voltar um pouco aos primórdios e atender a uma necessidade das próprias montadoras. É bem possível que a nova categoria seja o primeiro passo para que as empresas mostrem, nas pistas, um pouco da inovação que vai levar para os consumidores dentro de casa.

Cada dia mais o futuro do automobilismo passa por ser uma modalidade mais sustentável. A Fórmula E pode ser o começo desse processo, como parece que os carros híbridos ou movidos a energia elétrica são o futuro da indústria automobilística.


O seguro morreu de velho…
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Erich Beting

Diz o ditado que “o seguro morreu de velho”. E, realmente, quase tudo o que se produz de comunicação voltada para o mercado de seguros tenta passar essa mensagem, de que as pessoas precisam se precaver contra os imprevistos da vida.

Talvez tenha faltado para a Zurich Seguros ser mais precavida na ação que fez no sábado, antes do clássico entre Palmeiras e Santos, no estádio do Pacaembu. Para quem ainda não soube, a empresa forjou a entrada dos times de Corinthians e São Paulo no estádio, com direito às escalações das duas equipes anunciadas pelo locutor e aparecendo no telão. Ao final da “brincadeira”, a empresa anunciava que ainda não inventaram um seguro para mudanças no calendário, insinuando o quão ruim para o torcedor seria se ele estivesse no clássico paulista errado (Corinthians e São Paulo se enfrentaram no dia seguinte no mesmo Pacaembu).

A ideia é típica de um excelente criativo do mercado publicitário. E seria um excepcional comercial para a TV, como são aliás os  filmes produzidos pela seguradora desde 2011, quando passou a investir em comercial de televisão no Brasil.

Só que, dentro do campo de futebol, logicamente a ação pegou muito mal. Claro que a ideia era exatamente produzir o barulho que de fato a iniciativa causou (tanto que, dois dias depois do jogo, continuamos a falar sobre ela), mas ao fazer algo tão agressivo para os torcedores de Palmeiras e Santos, o que a seguradora conseguiu foi exatamente causar uma rejeição imediata em cerca de 20 mil potenciais consumidores da marca.

A decisão de uma empresa investir em esporte passa, obrigatoriamente, pela necessidade de conhecer a carga emotiva que qualquer ação dentro dele causa. Esse, aliás, é um dos maiores benefícios que se tem ao trabalhar a promoção de uma marca por meio do esporte. Mas, da mesma forma, a arapuca pode ser fatal para uma empresa.

No caso da Zurich, sinceramente, a sacada de fazer o “clássico errado” seria apropriada para um vídeo na internet ou até para um comercial de TV. Aliás, seria uma ideia genial. Mas, de forma alguma, é possível brincar com a paixão do torcedor de forma tão direta como a que foi feita. Os relatos de quem estava no Pacaembu dão conta de que as vaias perduraram do começo ao fim da ação, o que era algo absolutamente natural. E, pode apostar, depois do jogo os torcedores que presenciaram a tiração de sarro e lembram-se da marca envolvida na ação, vão fazer questão de contar para amigos e familiares como forma de não recomendar o consumo.

Aprender o limite que existe entre a paixão do torcedor e o engajamento de consumo é um dos maiores segredos das boas ações de marketing esportivo.

E, nesse caso, o seguro morreu de velho….


O problema está na TV ou nos clubes?
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Erich Beting

O esporte brasileiro só vai melhorar quando acabar o monopólio da Globo nas transmissões. Essa máxima é repetida sempre que vem à tona o debate “divulgação do esporte pela mídia”. Mas será que realmente o problema está na TV ou em quem é o detentor desses direitos?

Sábado a tabela do Brasileirão reserva dois clássicos para o horário das 18h30, que é aquele programado para a transmissão da TV fechada da rodada da competição: Palmeiras x Santos e Fluminense x Vasco. Em São Paulo, o torcedor tem à disposição apenas o VT de São Paulo x Ponte Preta da semana passada para acompanhar na TV fechada (no Rio o torcedor ficou com o clássico paulista ao vivo).

Quem monta a tabela do campeonato é a CBF, e quem vende a transmissão para a TV são os clubes. Logo, são eles que têm condições para exigir da televisão exibir essa ou aquela partida. Mas qual é a preocupação que os clubes têm com a boa divulgação de seu produto?

Para o povo paulista, a alternativa para ver o clássico estadual é comprar o jogo no pay-per-view. A convidativos R$ 85 pela partida ou então R$ 40 de mensalidade. Logicamente os clubes são sócios da Globo na venda do PPV. Mas até nisso a visão é totalmente deturpada.

Na Europa e nos Estados Unidos, o esporte se apoia no PPV para exatamente ampliar os ganhos com transmissão, que já são altíssimos. Um jogo pela TV comprada não sai por mais do que US$ 30 dólares, e isso aqueles de maior demanda. A lógica é simples. Quanto mais gente comprar, maior será o meu faturamento.

Considerando que atualmente o Brasil tem cerca de 15 milhões de lares com TV a cabo, imagine o que seria mais eficiente. Achar alguns abnegados dispostos a pagar R$ 85 para ver uma mísera partida ou então ganhar no volume? Essa é uma lógica muito usada no mercado esportivo americano, em que os clubes exploram o consumo de massa em detrimento do produto para poucos.

Com o preço já abusivo da TV a cabo no Brasil, o PPV hoje, que já dá lucro para os clubes, poderia ser muito mais rentável para o futebol. Para isso acontecer, porém, não é preciso acabar com o monopólio da Globo, mas sim entender um pouco mais o potencial de geração de riqueza que existe na transmissão do futebol.

Um exemplo simples.

Quando os clubes assinam individualmente com a TV, perdem a condição de fazer um canal próprio de geração de imagens e faturar diretamente com a venda da transmissão pela internet. E isso para todo o mundo! Hoje, no Brasil, o torcedor fã da NFL, da NBA ou até do Campeonato Escocês de futebol pode comprar, por cerca de US$ 10 ao mês, um passe para assistir a todos os jogos do campeonato.

Definitivamente o problema do esporte no Brasil não é o monopólio da Globo, mas a falta de visão do esporte.

Afinal, na era da mídia fragmentada, os produtores de conteúdo não são as empresas de mídia, mas sim os detentores do bom conteúdo. E o esporte, nesse quesito, é um dos maiores produtores de conteúdo do ramo do entretenimento. Mas, é claro, é bem mais fácil jogar o problema na “exigência do detentor dos direitos de transmissão”…


Armstrong e o custo da vitória a qualquer preço
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Erich Beting

Lance Armstrong desistiu da luta para tentar provar que não se dopava e, ao que tudo indica, perderá o direito de se dizer heptacampeão da Volta da França. O maior nome do ciclismo mundial, que com sua história de superação após quase morrer de câncer e voltar para ganhar sete vezes o mais tradicional evento do esporte, acusou o golpe, desistiu de provar que não se dopou e, agora, é manchete em todo o mundo exatamente por conta daquilo que sempre negou fazer.

Mas será que o problema é só de Armstrong ou de toda a indústria do esporte nos dias atuais?

O quanto é possível para o ser humano atingir esforços sobrenaturais e performances astronômicas? O quanto o modelo que impera no mercado contribui para que os fins justifique os meios?

Armstrong só foi pego no antidoping porque sua urina foi congelada e analisada cerca de 15 anos depois de ele ter tido a performance vencedora. Naquela época, não havia tecnologia que conseguisse pegar a adulteração que ele provocou no próprio corpo para conseguir ser vitorioso. Essa é a velha história de que o bandido sempre está à frente do mocinho. Só passamos a tentar prever um ato ilegal depois que ele já foi cometido.

Só que, ao longo desses 15 anos, Armstrong colheu os louros de ser o grande campeão, de ter um formidável projeto social apoiado por gigantescas empresas, de ser exemplo para todos de como ser um “campeão”.

Mas será que é possível para qualquer atleta na atualidade ser um vencedor sem lançar mão do doping? Como pode, por exemplo, os nadadores baterem recordes em Londres depois que os supermaiôs foram banidos? Sem a ajuda da tecnologia eles são mais rápidos mesmo ou tem mais coisa por trás dessas conquistas?

O esporte só premia o vencedor. Desde a mídia, passando pelo patrocinador, a história dos grandes ídolos é construída a partir do vitorioso. Não é esse um problema do esporte, mas sim algo natural do ser humano. Sempre nos é contada a versão do vitorioso sobre uma determinada história.

Só que o custo da vitória a qualquer preço é exatamente o que mais interfere no esporte. Como usarmos os valores morais que o esporte se vangloria de passar para as pessoas se, na essência, os grandes campeões às vezes não são tão “grandes” assim?

Lance Armstrong é o exemplo de hoje, assim como Tiger Woods foi no passado ou algum outro será no futuro.

O fato é que o esporte de alta performance não é, e nunca foi, um lugar para gestos nobres. Ele é a essência do que há de mais primitivo do ser humano. É uma espécie de luta pela sobrevivência, de competitividade a todo preço, de necessidade de um continuar vivo independentemente dos meios que consiga para isso.

E a história dos vencedores que a mídia nos conta, que os patrocinadores apoiam e que os jovens se espelham são, muitas vezes, maculadas por escandalosos esquemas de manipulação de resultados. Em tempo. Em todas as sete conquistas de Armstrong na Volta da França, os seus rivais também estiveram, numa época ou na outra, envolvidos em escândalos envolvendo o doping…

O esporte como gerador de grandes negócios tem um potencial imenso, tanto para as empresas quanto para os atletas. O que não se pode nunca esquecer é que a história “limpa” de uma vitória é muito mais bonita.


A lição de Dilma após as Olimpíadas
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Erich Beting

O assunto já está ficando velho, mas não deu para escrever na semana pós-Londres. O fato é que a presidente da República, Dilma Rousseff, talvez tenha sido a primeira autoridade pública da história a não fazer oba-oba em cima do desempenho brasileiro após um grande evento.

Depois de dois mandatos de Lula e seu populismo em torno do esporte (como não lembrar da promessa ao futebol feminino depois de Atenas-04 ou das infindáveis recepções a esportistas nacionais e promessas de incentivos?), ou de FHC e a pataquada da cambalhota de Vampeta no Palácio do Planalto, não tivemos simplesmente qualquer barulho em torno da volta dos atletas brasileiros dos Jogos Olímpicos de 2012.

Pelo contrário.

Dilma tão somente recepcionou a bandeira olímpica (que trouxe a tiracolo os irmãos Falcão, do boxe) num evento muito mais protocolar porque os Jogos de 2016 serão em solo nacional. E olha que não faltariam motivos para festas. Além das inéditas conquistas do judô, da ginástica e do bi do vôlei feminino, o Brasil encerrou Londres com o maior número em sua história de medalhas conquistadas numa mesma edição de Jogos Olímpicos.

Qualquer que fosse o político, teríamos sem dúvida um tremendo carnaval, com promessas de mais ouros e mais investimentos até 2016 e quetais. Dilma recepcionou a bandeira olímpica, beijou as medalhas de Esquiva e Yamaguchi e cobrou mais determinação do país para que conquiste mais do que as 17 medalhas londrinas nos Jogos do Rio de Janeiro.

Não parece muita coisa, mas sem dúvida é um tremendo benefício para o esporte brasileiro alguém que comanda o país não querer tanto aparecer na foto com os campeões e sim poder celebrar mais esportistas bem-sucedidos. Nunca antes na história deste país tivemos tão pouca promoção em cima de uma participação brasileira num evento esportivo de grande porte.

É uma lição que fica para o esporte pelos próximos anos.