Negócios do Esporte

Arquivo : setembro 2012

Imagina na Copa!
Comentários Comente

Erich Beting

O bordão já virou prática em qualquer lugar do país. Até mesmo a Ambev brincou com isso no comercial que fez sobre o evento. Mas o fato é que a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos representam só mais um dos problemas atuais do Brasil que cresce a taxas altas mas não tem o seu desenvolvimento acompanhado, especialmente, no setor de infraestrutura.

O anúncio de que Brasília desistiu do projeto de construir um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos ou “Aerotrem”, como prega o Levi Fidélix) é mais um reforço do bordão que começa a ser o fato que mais une o país em torno da Copa.

Precisamos melhorar a infraestrutura das cidades não por causa dos megaeventos esportivos, mas porque, atualmente, não temos mais como comportar o crescimento que vivemos nos últimos 30 anos no país. E aí entra o inevitável “imagina na Copa”.

No final das contas, os megaeventos pagam o pato e canalizam uma sensação de insatisfação do brasileiro com o seu país que independe desses eventos. Na verdade, o anúncio de investimentos bilionários na Copa e na Olimpíada serve de complicador da história. E, com a falta de planejamento da execução dos projetos ligados aos eventos, o clima de insatisfação só aumenta.

Do jeito que estão caminhando as coisas, é mais do que necessário o governo começar uma campanha para mostrar o que foi feito até agora para a população por conta dos megaeventos. Do contrário, imagina depois da Copa como será aguentar a bronca da população ao ver que o evento passou e nada mudou…

 


A Globo e a profissionalização do patrocínio esportivo
Comentários Comente

Erich Beting

A Globo vai abrir espaço para falar o naming right no futebol a partir do ano que vem. A novidade, trazida pelo repórter Rodrigo Mattos no UOL (leia aqui), é que a emissora discute dentro de seu departamento comercial uma alternativa para fazer com que ela receba uma parte do valor como entrega de mídia do parceiro comercial de um clube.

Já é um avanço. Há três anos, um executivo da Globo disse para mim que falar o nome de empresa que patrocinava estádio, time, ginásio ou coisas do gênero não era uma propriedade que estava à venda na emissora. Agora, é.

E isso, no longo prazo, traz uma tremenda colaboração para que as relações do patrocínio esportivo no Brasil sejam mais profissionais. Nos Estados Unidos e na Europa, os mercados mais desenvolvidos do mundo, as emissoras fazem acordos com equipes e empresas para exibir determinadas marcas durante certo tempo da transmissão, ou até mesmo falar o nome do patrocinador. É comum e é lícito da parte do detentor dos direitos de transmissão do evento pedir isso.

No Brasil, vivemos uma histeria de colocar a Globo como vilã da história. Ela decide não falar o nome da empresa e, assim, afasta o potencial patrocinador. A empresa, claramente, faz o papel dela, defendendo a sua importância e o seu direito de ganhar dinheiro por conta disso. O problema, quase sempre, é que falta força (econômica e intelectual) para a contrapartida do esporte.

Afinal, uma coisa que precisa ficar clara desde o início é qual é o grande negócio de comprar uma propriedade de naming right. É supervalorizar demais a Globo e a própria mídia achar que o maior benefício de uma cota dessas é ter o direito de dar o nome para um evento. Geralmente, esse é o “bônus” da cota de patrocínio, que funciona muito mais para diversas outras coisas, como ações de relacionamento com consumidor e prestadores de serviço, realização de eventos no estádio, aproximação com um público específico, etc. A exposição na mídia (seja em exibição da marca ou no nome do evento/estádio) é o complemento dessa série de atividades.

Quando a Globo abre espaço para apoiar o naming right, mesmo que recebendo por isso, ela quebra a última barreira que separava as empresas da “desculpa” de não investir na propriedade. E aí ela contribui para que outras empresas de mídia adotem o nome do patrocinador nos eventos e, também, outras empresas decidam patrocinar o esporte por perceber que há essa abertura.

O fato é que as empresas já perceberam que ter o nome é muito mais do que tê-lo exposto na mídia. Do contrário, Kia, Santander, Chevrolet, Petrobras e outras empresas que batizam competições no Brasil ainda estariam à mercê da exposição dada pela imprensa. O passo que faltava para a última barreira ser quebrada, porém, começou a ser dado.


Um passo maior que as pernas
Comentários Comente

Erich Beting

Ricardo Teixeira e Carlos Arthur Nuzman não são os melhores amigos, mas com certeza compartilham de muitos hábitos parecidos. O principal deles talvez seja a vontade de permanecer no poder. Na década passada, os dois principais dirigentes do esporte brasileiro nunca haviam tocado tão de perto o céu quanto poderiam algum dia ter sonhado.

Quer dizer. Pela sede de poder que ambos sempre demonstraram ter, talvez realmente algum dia eles tinham imaginado algo similar, talvez até mais poderoso como ser o presidente da Fifa (no caso de Teixeira) e do COI (no caso de Nuzman). Se o projeto de internacionalização não havia vingado ainda, pelo menos o de extrema concentração de poder nacional era uma realidade.

Em novembro de 2007 Teixeira tornou-se soberano como jamais visto no futebol. A CBF, entidade que presidia, era a instituição esportiva de maior faturamento no país e, além disso, o dirigente havia sido responsabilizado pelo feito de trazer a organização da Copa do Mundo para o Brasil após 64 anos. A jogada de mestre se deu nos bastidores, ao unir todas as confederações da América do Sul em prol da campanha brasileira para ser sede do Mundial de 2014.

Em outubro de 2009 foi a vez de Nuzman atingir esse patamar, ao trazer, pela primeira vez na história, uma edição de Jogos Olímpicos para a América do Sul. Não, claro, não foi só ele quem conseguiu o feito. Mas, assim como Teixeira, o cartolão do COB foi apontado como o grande artífice da vitória brasileira.

E por incrível que pareça foi exatamente ao atingirem tal patamar que os dois mais poderosos dirigentes esportivos do Brasil nas últimas duas décadas começaram a perder força. Ou melhor, a não conseguir concentrar tanto poder em suas mãos.

Teixeira, saído pela plataforma de embarque dos fundos para Miami, não conseguiu comandar a CBF e o COL (Comitê Organizador Local da Copa) ao mesmo tempo. De tão concentrado que ficou o poder em suas mãos, ele esvaiu-se após sucessivos escândalos até menos absurdos daqueles de dez anos antes, revelados pelas CPIs na Câmara e no Senado e que viraram pizza sepultada ainda mais pela escolha do Brasil como sede do Mundial.

Agora é a vez de Nuzman começar a sofrer pelo excesso de poder nas mãos. Assim como Teixeira, o chefão do COB quis também ser o manda-chuva do Rio-2016. E o primeiro escândalo já o coloca na berlinda. O download ilegal de documentos do Comitê Organizador de Londres-2012 pode até passar por ingenuidade, mas do jeito que repercutiu entre os britânicos, deixou ainda mais queimado o filme de Nuzman, que já sofre restrições por ser o primeiro presidente de uma confederação nacional a querer também comandar um comitê organizador de Olimpíada.

O destino de Nuzman talvez não seja o mesmo de Teixeira, apesar de ter muita gente torcendo para que seja. Mas o fato é que, após quase duas décadas de concentração de poder nas mãos, os dois chefões do esporte brasileiro tiveram de começar a abrir a mão de tanta centralização. É o famoso passo maior que as pernas que, ao que tudo indica, os dois dirigentes deram.

No caso do futebol, a saída de Teixeira reabriu algumas importantes discussões e, aparentemente, causou nos clubes aquela “coceira” para que eles tenham mais poder e, consequentemente, melhorem o nível técnico dentro do país. Já no caso dos outros esportes brasileiros, o enfraquecimento da dinastia Nuzman pode causar um rompimento nunca antes visto.

Momento melhor para isso não há, já que a realização das Olimpíadas no Rio em 2016 abriu uma enorme condição para que toda a cadeia produtiva do esporte dependesse menos da verba sempre concentrada nas mãos do COB e passassem a viver de dinheiro que passou a ser investido sem antes passar pelo aval da entidade nacional.

O fato é que podemos viver o começo de mais uma mudança. Que parecerá gigantesca num primeiro momento, pequena num segundo e, se estivermos preparados, significativa no longo prazo. Como sempre mostrou a história, ter muito poder não significa poder fazer o que bem quiser. Pelo contrário. A concentração de poder geralmente causa, mais para a frente, o acúmulo de inimigos querendo mudar o jogo.

Curiosamente foi justamente na hora em que mais poderosos ficaram Teixeira e Nuzman, mais fragilizados eles se tornaram…


A TV tem “matado” a ida das pessoas aos eventos esportivos
Comentários Comente

Erich Beting

O alerta foi dado recentemente pelo vice-presidente de novos negócios da NFL, Eric Grubman. Segundo ele, a queda de público presente nos estádios da liga de futebol americano tem, entre outros motivos, a melhoria da transmissão pela TV. A lógica, segundo o executivo, é a de que há tantos recursos hoje para quem está em casa assistindo a uma partida que a experiência de ver o jogo ao vivo pela telinha é melhor do que aquela de quem vai ao estádio.

O raciocínio é interessante e levanta um alerta para o esporte em geral.

Com a melhoria da qualidade das imagens, com o uso de dezenas de câmeras e com o barateamento do acesso à alta tecnologia, a televisão, que é uma das principais fontes de financiamento da atividade esportiva profissional, também tem sido responsável, em parte, pela fuga do torcedor do local do evento.

No mercado americano, em que a NFL, por exemplo, tem também transmissão de jogos em 3D, acaba sendo mais barato e de maior qualidade para o torcedor assistir a um jogo em sua casa. Num momento de crise como agora, então, é ainda mais lógico para o consumidor dos EUA ficar confortável na sala de casa equipada com home theater e uma TV LED com 3D. Isso sem falar do aconchego do sofá, da pipoca, da cerveja e do que mais quiser no colo.

No Brasil castigado pela falta de infraestrutura de transporte e também de esporte, a diferença é ainda mais gritante. E isso que ainda não entramos na era em que as transmissões sejam todas em HD e com o pay-per-view acessível a todos. Além disso, ao contrário do mercado americano, a abundância de renda em solo tupiniquim faz com que o torcedor não veja tanto problema em gastar mais dinheiro indo ao estádio.

Só que, nos EUA, o esporte já começa a se mobilizar para fazer com que o torcedor seja “incentivado” a ir para o estádio. Promoções com desconto em lojas para a aquisição de produtos, instalação de rede wifi gratuita em toda a arena, aluguel de TV portátil e outros “mimos” têm sido cada vez mais frequentes nos estádios e ginásios das principais ligas esportivas dos EUA.

Por aqui, ainda está muito distante esse debate.

Mas com um mercado cada vez mais dependente do dinheiro da televisão, é cada vez mais assustador o futuro dos eventos esportivos. Pode ser que a melhoria das arenas esportivas por conta de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, associada à manutenção da renda em alta do brasileiro, ajude a mantermos os estádios e ginásios cheios. Mas teremos de caminhar, muito, no sentido de entender a importância de fazer da experiência de ir a um evento esportivo um momento de diversão, e não de aventura para o consumidor.

Não há lógica que faça, hoje, o torcedor deixar o conforto e a qualidade da TV para ir a um evento esportivo ao vivo.


A RedBull é cada vez menos uma empresa de bebidas
Comentários Comente

Erich Beting

Uma partida de vôlei do time do hemisfério norte contra o do hemisfério sul e cuja rede é montada exatamente no local onde passa a imaginária Linha do Equador. O duelo até que não é tão inédito assim (nos anos 80 eu me lembro de matérias mostrando campeonatos de futebol que eram disputados com metade do campo de um lado de cada hemisfério no Amapá), mas tem como maior apelo o fato de ter sido idealizado e realizado pela RedBull.

Para quem ainda consegue se lembrar, a RedBull é uma empresa que vende bebidas energéticas. Ou melhor. Que vende uma única bebida energética, em diferentes tamanhos de latas. E nada mais. Quer dizer, esse pelo menos é o principal produto de varejo da RedBull. Hoje, porém, a empresa é cada vez menos uma vendedora de bebida para ser cada vez mais uma produtora de conteúdo.

Talvez hoje a RedBull seja o mais bem acabado exemplo de marketing esportivo que existe no mundo.

Desde os anos 90, a empresa direcionou sua comunicação para o esporte. Associada inicialmente às bebidas alcoólicas, a RedBull viu no esporte a guinada de imagem para a marca. Afinal, se alguém precisa de energia é o atleta. A partir disso, a empresa traçou uma enorme estratégia de investir em esporte, mas sempre seguindo um conceito de não patrocinar, mas sim de produzir eventos esportivos ou ser proprietária de equipes.

Foi com esse conceito que a marca passou a ser donas de time de futebol e de equipes na Fórmula 1. Patrocínio, mesmo, apenas para os atletas. E mesmo assim apenas aqueles que conseguem reforçar a promessa da marca de ser jovem, inovadora, vibrante, energética. Para reforçar a imagem dos atletas que patrocina, a RedBull passou também a investir em competições para esses patrocinados.

Da mesma forma, passou a criar desafios para o público em geral, sempre reforçando os conceitos da marca. Em termos práticos, a empresa vende bebida energética, mas cria diversos eventos experimentais em que a bebida muitas vezes não aparece ou, então, é ofertada para os consumidores de forma subliminar.

O negócio de produção de eventos e propriedade de equipes cresceu a tal ponto, porém, que hoje a RedBull passou a ser uma empresa fornecedora de conteúdo também. Como parte do conceito de colocar o olho sobre tudo o que é produzido e que leva a sua marca, a RedBull, por exemplo, tem hoje uma equipe de jornalismo gigantesca para acompanhar atletas, eventos e tudo o mais. No Brasil, o canal Off, destinado a esportes radicais, tem boa parte de seu conteúdo produzido pela RedBull e ofertado para a mídia em geral.

A companhia conseguiu fazer de suas equipes de fórmula 1 as mais inovadoras do circuito, de seus times de futebol unidades de negócio que podem vir a ser lucrativas (graças ao valioso mercado de compra e venda de jogador) e da geração de conteúdo a partir dos eventos da marca um grande meio de a RedBull ser uma das principais produtoras de material sobre esportes radicais do mundo.

E, nessa toada, o esporte, que era o meio para a promoção da marca, também virou o fim.


As marcas assumem para si o risco dos megaeventos
Comentários Comente

Erich Beting

O Bradesco decidiu encampar os Jogos Olímpicos de 2016. Desde antes de começar as Olimpíadas de Londres, o banco criou o conceito do “Agora é BRA” para marcar as suas campanhas publicitárias e, também, anunciar a chegada do maior evento esportivo do mundo ao Brasil logo que terminou os Jogos britânicos.

Agora, a Brahma é quem decidiu “abraçar” a Copa de 2014. Abraçou tanto que está praticamente repetindo todo o discurso do governo e do Comitê Organizador Local de que faremos “a melhor Copa da história”.

Nos dois casos, a decisão das empresas em chamar para si a responsabilidade de criar o espírito do brasileiro em torno dos eventos é de um risco tremendo. A própria brincadeira que a Brahma faz com a frase “imagina na Copa” é um termômetro disso (o vídeo estará no final do post).

Afinal, já há algum tempo que o brasileiro fica preocupado com a falha em diversos serviços de nosso cotidiano e que podem entrar em colapso durante a Copa. Ao tripudiar disso, a Brahma compra a briga para dizer que somos capazes de fazer uma grande festa no maior evento de futebol do mundo.

Mas será que é papel das empresas privadas tentarem engajar a população em torno de Copa e Olimpíadas?

No caso do Bradesco, a campanha claramente é de longo prazo e está relacionada com o momento econômico do país, o que minimiza o risco de erro. Ao evocar o “agora é BRA”, a empresa traduz exatamente o conceito que foi usado pela candidatura do Rio de Janeiro para ganhar a Olimpíada e também aquilo que é visto na mídia o tempo todo. Com a Europa e os Estados Unidos em crise, é a vez de o Brasil assumir a condição de protagonista mundial.

Mas, no caso da Brahma, o problema é exatamente o tempo em que a empresa decidiu abraçar o Mundial. Desde 2007 que o Brasil é sede escolhida do torneio e, antes disso, desde 2005 que é o candidato único para abrigar o torneio. Ou seja, é absurdo não termos, ao longo de cinco anos, pelo menos, nos preparado para minimamente melhorar a infraestrutura necessária não apenas para a competição, mas também para o próprio país em que vivemos hoje.

O curioso é ver uma empresa do porte da Ab-Inbev, que é reconhecida mundialmente pela excelência em gestão, jogar para debaixo do tapete a falha de que houve no planejamento e execução do processo da Copa do Mundo no Brasil. Poderíamos fazer a melhor Copa do Mundo de todas, mas não há tempo hábil para isso. Podemos ainda fazer a mais festeira, a mais engraçada, a mais exótica, a mais colorida, a mais rítmica. Mas a melhor, infelizmente, não dá mais tempo.

Como sempre bato na tecla aqui no blog, um país que quer ser a quinta economia do mundo não pode se acostumar a ter uma estrutura de quinta categoria. E uma empresa que é a líder de seu segmento no mundo não pode aceitar encampar algo que vá contra os princípios da própria história de construção da marca.

A seguir o vídeo da Brahma, lançado ontem.


Salvem o tatu-bola!
Comentários Comente

Erich Beting

A ideia foi realmente boa. O tatu-bola é um animal genuinamente brasileiro, tem todo o contexto de virar uma bola e está em risco de extinção. Ponto para a Fifa e o Comitê Organizador Local da Copa ao escolherem o tatu para ser o mascote oficial do evento. Tudo bem que o desenho do bicho, estilizado, tornou-o tão “diferente” quanto o Zakumi, o símbolo do Mundial sul-africano. Mas dá para entender que os traços são para conquistar os jovens muito mais do que aqueles das gerações formadas por Gauchitos, Naranjitos e afins.

Marqueteiramente a ideia foi bem aplicada. Usa-se o poder de propagação da Copa do Mundo para fazer com que as pessoas tomem consciência do risco de extinção do tatu-bola. Bem ou mal, o mesmo conceito foi usado na famigerada campanha pelo Twitter denominada “Cala a boca, Galvão” e feita durante o Mundial de 2010. Naquela ocasião, a mensagem era para salvar uma espécie de pássaro que supostamente estava ameaçada de extinção.

Só que tudo ia muito bem para ser verdade. Até vierem as opções para a escolha do nome do tatu-bola. Realmente, muito tatu provavelmente prefere a extinção a ser nomeado Amijubi, Fuleco ou Zuzeco! Ok, quem já teve de dar nome a um filho sabe o quanto a escolha é difícil, como tem muita gente que dá pitaco, como é preciso conciliar diferentes gostos e pré-conceitos.

Mas, seguindo o raciocínio do ponto de vista do marketing, até mesmo se a ideia era fazer com que o mascote tivesse um nome de apelo ao menos nacional, as opções foram barcas mais do que furadas. Outra possibilidade, que seria o alcance mundial do nome, então, é mais complicado. Imagine um inglês tentando pronunciar Amijubi. Ou um japonês para falar Zuzeco.

No final das contas, talvez a votação deixe a Fifa ainda mais desesperada em fazer o Mundial “pegar” no Brasil. Um bom primeiro passo para isso seria salvar o tatu-bola e incluir alguma quarta opção mais “normal” para as votações…


Até onde pode ir o fairplay financeiro da Uefa
Comentários Comente

Erich Beting

A Uefa tem tentado, de todas as formas, apertar o cerco contra os maus gestores dos clubes da Europa. A regra do “fair play financeiro”, que entra em vigor a partir da temporada 2013-2014 é a forma atual de a entidade tentar controlar as finanças dos clubes de forma a manter o futebol num patamar aceitável de gestão.

Na última terça-feira, dia 11, a entidade máxima do futebol europeu divulgou que 23 clubes tiveram o pagamento da premiação referente à temporada passada suspenso por conta da falta de algumas informações financeiras que devem ser passadas à Uefa. Num comunicado, a entidade afirmou que os pagamentos serão retidos enquanto essas dúvidas não forem sanadas.

A atitude é louvável e pode significar, de fato, alguma mudança para o futebol na Europa. O problema, porém, é que ela atinge muito mais o clube médio do que propriamente aquele que é grande. E o motivo é simples. As falhas na gestão estão nas empresas menores do que nas grandes corporações. E é exatamente aí que mora o grande perigo para que as regras do fairplay funcionem.

O caso mais emblemático é o do Manchester City. Com os petrodólares de um investidor, o clube que já havia sido de médio porte ressurgiu das cinzas para ser o atual campeão inglês e candidato a protagonista nas competições europeias. Basicamente um Chelsea cerca de dez anos depois da entrada do bilionário russo Roman Abramovich no comando.

A crítica que clubes como Manchester United, Bayern de Munique, Real Madrid e Barcelona faz é exatamente contra a falta de competitividade que a entrada de grandes investidores gera para o futebol na Europa. A partir do momento que um clube passa a investir a fundo perdido na contratação de reforços, a concorrência fica desleal.

A Uefa tentou controlar a vontade de gastar do City, que achou a brecha legal para justificar tanto investimento: o patrocínio da Eithad Airways no estádio e na camisa do clube, em astronômicos 40 milhões de libras ao ano. Curiosamente a empresa é do irmão do dono do City…

O grande segredo para o sucesso das ligas esportivas americanas é manter o nível de competitividade lá no alto, deixando sempre imprevisível uma competição. Mas para isso funcionar, a liga tem um dono, que por sua vez é também o dono dos times e que, por fim, controla absolutamente todos os gastos realizados pelos donos dos clubes. Limite de gastos no pagamento de salário a atletas, processos inversos para a escolha de novos talentos (os mais fracos escolhem primeiro os atletas) e divisão igualitária das receitas da liga são algumas das atitudes que tentam fazer com que o equilíbrio técnico prevaleça antes do início de uma competição.

No futebol, esse sistema é bem mais difícil de ser implementado. E o motivo primordial é o fato de a Fifa não ser dona (ainda bem!) dos clubes. O fairplay financeiro da Uefa vai até o momento em que entra o livre mercado no futebol. As brechas legais para justificar a presença de grandes investidores sempre vão existir.

O único alento é que, pelo andar da carruagem, a primeira preocupação da Uefa nem é tanto com os tubarões dessa história, mas sim em melhorar o nível gerencial dos clubes de pequeno e médio porte. É um primeiro passo, mas sem dúvida ele é bem pequeno.


Neymar escancara o problema vivido pelo vôlei no Brasil
Comentários Comente

Erich Beting

De que adianta o Santos continuar com Neymar em campo se cerca de metade do tempo ele não pode defender o clube porque está a serviço da seleção brasileira? A pergunta é cada vez mais frequente dado o segundo ano seguido em que o Santos enfrenta problemas no Campeonato Brasileiro pelo fato de o seu melhor jogador estar boa parte do tempo fora do clube defendendo o time nacional.

Outro dia, na ESPN, o comentarista Mauro Cezar Pereira levantou uma interessante discussão sobre o tema. Do jeito que é organizado o calendário brasileiro hoje, a melhor saída para o Santos é negociar Neymar. A lógica é muito boa. Como tem de defender a seleção brasileira, e o futebol aqui não para nas datas dos amistosos, o clube paulista é prejudicado. Além disso, todo o esforço feito para contar com o atacante no elenco inibe o investimento em outros atletas, o que faz com que o time caia de produção quando Neymar não está defendendo o Peixe.

Realmente, nesse cenário, a melhor saída para o Santos é fazer um bom caixa com a negociação de seu principal jogador. Pretendentes não faltam. Hoje, a presença de Neymar no time é mais um fardo do que um alento. O time depende muito dele, mas não pode contar com ele a maior parte do tempo.

Esse é exatamente o drama que o vôlei brasileiro vive, com suas devidas proporções. Esporte em que a seleção é privilegiada em detrimento do clube, o vôlei acaba fazendo com que a presença do atleta no time nacional se transforme num fardo para seu principal empregador. Os jogadores que defendem a seleção ficam, praticamente, meio ano defendendo a equipe do Brasil. A única e fundamental diferença é que, no vôlei, pelo menos o calendário local fica “estacionado” durante as competições internacionais. O problema, no caso, é que são muitos campeonatos de seleções, o que atrapalha, e muito, a relação do atleta com seu empregador.

O mesmo vôlei, porém, pode seguir de exemplo para o futebol. Com a necessidade de a CBF manter os torneios estaduais em seu calendário por força política, as datas que seriam reservadas para a seleção brasileira acabam atropeladas, e as competições locais não respeitam a pausa que seria necessária para isso.

Ou passamos a adotar um calendário que contemple tantas competições, ou a solução para os clubes no Brasil será, infelizmente, continuar a exportar o seu principal produto, que é o atleta. Pelo menos é a alternativa que atende melhor a necessidade de geração de receitas e manutenção de boa performance.


O resgate da imagem da seleção brasileira
Comentários Comente

Erich Beting

Não serão os oito gols sobre a China, ou as vaias no estádio do Morumbi, que vão servir para que a seleção brasileira tome seu rumo. O buraco da seleção é bem mais embaixo, e passa sobre Manos, Andrés, Marins e Teixeiras.

Ao longo de 30 anos o futebol brasileiro passa por um processo de internacionalização de sua marca. Primeiro foram os jogadores, depois alguns técnicos e, por fim, a própria seleção brasileira. Desde meados dos anos 80, quando o futebol na Europa começou a ser inundado pelo dinheiro da televisão de alcance global, que o Brasil virou o maior exportador de pé-de-obra.

Hoje, a realidade é uma distante relação entre o país e o time nacional. Nossos atletas, em sua maioria, estão lá fora. Os próprios jogos da equipe verde-amarela, por força contratual e por pressão dos clubes europeus, são mais na Europa do que na América do Sul. Para “piorar”, o fato de sermos sede do Mundial de 2014 faz com que não exista nem ao menos as Eliminatórias para deixar nossos atletas mais próximos de “casa”.

Até mesmo o conceito “casa” é tremendamente discutível para os jogadores da seleção. Há quase dez anos que Hulk não voltava para o Nordeste, da mesma forma que David Luiz, Daniel Alves, Ramires e tantos outros são muito mais cidadãos europeus do que propriamente brasileiros.

Tudo isso cria um sério problema de imagem para a nossa seleção. E aí entra o “auxílio-Menezes” nessa história toda. Um treinador extremamente ponderado, racional, que evita ao máximo a polêmica. Nem mesmo as vaias para o time e para ele são capazes de torná-lo agressivo, de responder para quem quer que seja.

Por mais ilógico que possa parecer, somos um povo que adora o “vão ter de me engolir” do Zagallo, ou a “família Scolari”, ou o jeito Dunga e Leão de ação e reação para cada patada dada e tomada de volta. E o aparente “nem aí” de Mano irrita, deixa as coisas ainda mais “nebulosas”, tal qual era com Parreira.

Aliás, Parreira e Lazzaroni que foram os primeiros nomes a provocarem essa “fuga” da seleção do Brasil. Nem tanto por vontade própria, mas por força da grana. Os dois foram, em 90 e 94, obrigados a buscarem no exterior nossas grandes estrelas. E o título mundial em 1994 ajudou a exportarmos ainda mais os nossos craques.

Hoje, o Brasil precisa, e muito, de um consultor. O problema não é técnico, nem gerencial. O que falta para a seleção é ser, realmente, brasileira. Um excelente trabalho de gestão de marca precisa ser feito. Precisamos reencontrar o caminho do coração do torcedor. E isso não é nenhum Galvão Bueno que nos enfiará a patriotada garganta a dentro.

Talvez o primeiro passo para a seleção voltar a ser nacional seja ela deixar de ser tão global. Em todos os aspectos.