Negócios do Esporte

Arquivo : outubro 2012

Todo patrocínio tem o seu fim
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Erich Beting

Nos últimos dias o noticiário de patrocínio esportivo esteve agitado. Algo natural, diga-se de passagem, já que nesta época é que começam a tomar corpo as decisões das empresas sobre o uso da verba no ano que vem. Isso geralmente acarreta na saída e entrada de marcas do esporte.

As duas notícias mais relevantes, talvez, sejam a decisão do banco Santander de não mais dar nome à Copa Libertadores e, também, a de a TAM deixar de ser a patrocinadora da seleção brasileira de futebol.

O caso do Santander é absolutamente justificável. O banco não precisava mais do naming right da Libertadores. Em 2008, quando começou o aporte ao torneio, a instituição precisava se apropriar do evento como parte da estratégia de entrada maciça no mercado sul-americano. Com o “bônus” de também fazer relacionamento no México, era natural que o banco espanhol usasse a Libertadores para alavancar sua presença na América Latina.

Agora a estratégia não precisa de tanta agressividade. Por isso o banco decidiu manter o aporte à Libertadores, mas num valor mais baixo. Com isso, “trava” a concorrência (no Brasil inflacionado pelos megaeventos, Itaú e Bradesco se apropriaram das principais competições) e mantém uma relevância significativa no continente. Foi mais ou menos isso que fez a Toyota ao perder o naming right para os espanhóis, lá em setembro de 2007.

Já o caso da TAM é emblemático. A justificativa da empresa para o “não” à manutenção do acordo com a CBF passa pelas mudanças no mercado de aviação. Parceira mais antiga depois de Nike e Ambev, a empresa deixa a seleção brasileira no momento em que ela talvez vá dá maior retorno para a marca.

O novo comando da CBF certamente tem forçado a renegociação de valores de alguns contratos. O da TAM era bastante interessante para a entidade, mas é bem possível que outra companhia, em busca de aumento de espaço no mercado brasileiro, esteja pronta para assumir o comando. Interessante, porém, perceber que para a TAM, líder do mercado, não haja problema deixar para um concorrente a chance de se apropriar da seleção exatamente nos dois anos em que as principais competições da Fifa chegam ao país.

Os dois casos, de formas distintas, mostram aquilo que o esporte teima em dificilmente aceitar. Patrocínio está longe de ser caridade, ainda mais quando envolve cifras milionárias. Sendo assim, chega um dia que o casamento chega ao fim.


O ganho além do esporte na contratação de um atleta
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Erich Beting

Há pouco tempo discuti aqui o quanto Zizao representava para o Corinthians uma certa “fuga” do noticiário da mídia em cima do dia-a-dia do clube para focar em questões menores do astro chinês.

Hoje também tivemos mais um exemplo de como uma contratação de um atleta pode transpor a barreira do esporte e trazer benefícios que vão além da questão técnica. O time da Unilever apresentou a central Luciane Escouto, de 25 anos de idade. Jogadora que chega para fazer parte do grupo, como ela mesmo faz questão de ressaltar, Luciane concorre no ano que vem ao título de Miss Brasil Mundo, depois de vencer em 2011 o concurso “A Mais Bela Gaúcha”.

Raramente as contratações no vôlei ganham destaque na mídia de massa, atendo-se na maioria das vezes aos veículos específicos do esporte. Com Luciane, porém, o time do Unilever ocupou espaço relativamente valioso nos principais sites do país (inclusive o UOL dava destaque a ela no início da tarde de terça-feira em sua página principal). Com certeza o inusitado de a atleta ser também modelo faz com que a pauta seja mais abordada pelos meios de comunicação.

Luciane e Zizao são, a seus estilos, dois casos de como é possível um atleta contribuir além do esporte para um clube. Tempos atrás, era improvável que a contratação de atletas com mais poder marqueteiro do que esportivo dessem qualquer repercussão minimamente positiva na mídia.

Hoje, sinal dos tempos, essa estratégia é mais efetiva. Afinal, o próprio clube já percebeu que não vive apenas do esporte. É preciso dar mais motivos para que o torcedor fique próximo a ele. Por mais que as pessoas falem que, no fundo, o que vale mesmo é o desempenho esportivo.


A ética e o esporte
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Erich Beting

Uma das grandes lições que o esporte deixa nas pessoas é a ética.

(por favor, corneteiros, prestem bastante atenção na frase a seguir)

Se ensinado de forma correta, o esporte pode formar na pessoa, desde criança, conceitos fundamentais de que é preciso ser honesto e de que, nem sempre, você sairá vitorioso na vida. Esse é um atributo presente no esporte desde o princípio mas que, ultimamente, vem sendo pessimamente trabalhado pelo que deve ser o exemplo para os outros, que é o esporte de alto rendimento, profissional.

A queda da máscara de Lance Armstrong, que sempre foi um bastião da moralidade e limpeza no ciclismo, mas que se revelou tão ou mais fraudulento que os outros competidores, é um exemplo claro disso. Fazer o que todos fazem não torna menos criminoso o ato de Armstrong.

Agora, o absurdo que se apresenta é a tentativa desesperada do Palmeiras de anular uma partida por causa da tomada de decisão do árbitro auxiliada pela televisão. Sim, é contra a regra, mas o clube alega que o árbitro não pode invalidar um gol pela TV. O detalhe é que ele não havia percebido que a bola havia entrado com a mão!

Imagine explicar para uma criança de cinco anos de idade, que já entende minimamente a dinâmica do jogo, que é errado o árbitro punir o clube que, deliberadamente, o enganou e que, dessa forma, levaria vantagem de forma ilegal. Fica difícil até de explicar, mas podemos resumir tudo pela questão da ética.

Hoje a sociedade é tomada pelo conceito de que os fins justificam os meios. É o exemplo político de que não interessa com quem eu faço a aliança, desde que eu vença as eleições.

É o tal de “temos de ganhar, nem que seja de forma honesta”, partindo do princípio de que ser desonesto já é algo corriqueiro.

O esporte tem como grande virtude ser um formador de caráter nas pessoas. O esporte de alto rendimento é o ponto mais alto disso tudo, sendo ele a síntese do que deve ser a vida das pessoas. Um jogo, em que os mais bem preparados vencem, e não os trapaceiros. A veneração à “malandragem” do jogador brasileiro é o que há de mais absurdo dentro do que queremos ensinar como conceito para as gerações futuras.

Quando um clube cogita prejudicar o outro porque sentiu-se prejudicado por conta de uma trapaça que fez e não foi bem-sucedido, temos a síntese de que ética é uma palavra que não consta no vocabulário do esporte. Ou, pelo menos, está colocada num segundo plano. Felizmente alguns bons exemplos ainda perduram. Como o de Marcos, ex-goleiro do Palmeiras e que após o jogo desabafou em seu perfil no Facebook:

“Na minha opinião, não precisamos que anule o jogo, afinal o gol foi de mão. Numa época de tanta luta para que a justiça seja feita no Brasil, nós (todos) do futebol brasileiro temos que dar exemplo, se for para acontecer o pior, que seja com dignidade”.

Por isso mesmo é que Marcos consegue ser um ídolo que ultrapassa a marca de um clube. O tal do jogo limpo não pode ser a exceção do esporte, da política, da educação, de tudo. E o esporte tem um enorme potencial para trazer esse exemplo para as pessoas. E isso pode ser benéfico até para as empresas que resolverem encampar essa ideia.


A Globo é cada vez mais “dona” do esporte
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Erich Beting

A aproximação dos megaeventos esportivos no Brasil fez com que o mercado esportivo iniciasse uma profunda mudança. Passados cinco anos da escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo, e três do Rio para as Olimpíadas, o que mais se observa por aqui é que, mais uma vez, a Globo esteve à frente de todos os outros e tomou o espaço que ainda havia disponível no mercado.

Hoje, diversas empresas pertencentes às Organizações Globo são cada vez mais donas de diferentes segmentos do esporte brasileiro.

Um exemplo claro e evidente é o futebol, com a empresa detendo os direitos de transmissão nas TVs aberta, fechada, pay-per-view, comercialização de placas de publicidade, telefonia celular, promoções atreladas ao Brasileirão, etc. Tudo o que diz respeito à Série A do Brasileiro precisa passar pelo crivo da Globo.

Com o fim das Olimpíadas de Londres, quando não teve os direitos sobre o evento na TV aberta, a Globo expandiu seus tentáculos para outros esportes. O vôlei, por exemplo, entregou a comercialização de seus contratos de patrocínio para o departamento de marketing esportivo da Globo, que por sua vez é sócia do Novo Basquete Brasil (NBB) e, também, da Stock Car. Isso sem falar na parceria antiga com o GP do Brasil de Fórmula 1.

O caso mais recente é com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Nesta semana a entidade divulgou seu calendário de 2013, e a principal mudança é que todas as competições vão acabar no sábado. O motivo? Para atender à Globo, que quer exibir reportagens da natação no “Esporte Espetacular” aos domingos (a reportagem pode ser lida aqui).

Agora, com a Geo Eventos, as Organizações Globo também passaram a ser produtoras de eventos. A despedida de Marcos no Palmeiras, e as provas de corridas de rua dos quatro clubes de maior torcida de São Paulo são exemplos recentes. Da mesma forma, a empresa gerencia os camarotes dos estádios de São Januário, Rio Stadium (o Engenhão) e vai financiar e gerenciar uma nova área vip no Couto Pereira, do Coritiba.

Do jeito que as coisas caminham, perderemos um dos maiores legados que os megaeventos poderiam trazer, que seria a profissionalização de quem trabalha com o esporte, que se fortaleceria e passaria a ser dono de suas propriedades comerciais. Aos poucos, a Globo tem amarrado contratualmente diferentes segmentos do esporte, o que inviabiliza no médio prazo a profissionalização das entidades esportivas e, pior ainda, amarra o esporte à emissora.

Em tempo, se há um “culpado” nessa história, ele definitivamente não é a Globo, que percebeu que para ser líder num mercado de mídia cada vez mais modificado, ela precisa ser muito mais do que uma empresa de mídia e passar a ser produtora de conteúdo de qualidade. O canal para desovar esse conteúdo ela tem e é o mais forte do país. O problema é o esporte não ter percebido que, na verdade, ele que poderia ser a empresa geradora de conteúdo para a mídia.


A verdade do ídolo
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Erich Beting

Usain Bolt e Lance Armstrong são hoje duas pontas do processo de criação da imagem de um ídolo.

Ontem, no Rio de Janeiro, Bolt mostrou o quão espetacular pode ser. A convite da Puma, sua principal patrocinadora, veio ao Brasil e deu o seu habitual show de simpatia, atraindo a atenção da mídia, criando pautas inusitadas por onde passou e engajando as pessoas em torno dele, que tem tudo para ser o ídolo mais global do esporte desde Michael Jordan.

Por outro lado, o ex-ciclista americano segue com a avalanche de denúncias contra si em relação ao doping e vê sua credibilidade descer em velocidade que nem mesmo ele conseguiria alcançar nos áureos tempos de atleta “limpo”. Tanto que ontem a revista Runner’s World dos EUA publicou que Armstrong deve ter seus registros das maratonas de Boston e Nova York apagados pelos organizadores.

Os extremos em que hoje se encontram Armstrong e Bolt resumem-se a um status que é fundamental para o ídolo. Ser verdadeiro.

O velocista jamaicano é hoje uma figura mundialmente conhecida e admirada exatamente por ser verdadeiro. A maneira como ele se diverte antes de uma prova absolutamente dura como uma final olímpica talvez seja o melhor meio de mostrar o porquê de ele ser tão admirado. Enquanto todos os atletas são vistos como pessoas de sucesso apenas quando estão sérias e concentradas, Bolt contraria a lógica e mostra que é possível ser bom e feliz naquilo que faz. Principalmente porque o comportamento do jamaicano fora da pista é exatamente igual àquele demonstrado dentro dela. A veracidade com que Bolt demonstra viver e competir confere a ele uma aura ainda mais simpática e isso o torna um ídolo muito maior para as pessoas.

E a verdade é um componente fundamental para a construção da imagem de um ícone.

Durante anos Lance Armstrong repetiu o mantra de que não se dopava. Passava pelos testes antidoping sempre limpo, embora o meio do ciclismo dissesse ser impossível para qualquer ser humano competir naquele nível e ter a performance que o americano conseguia. Hoje, esse mundo de fantasia caiu. Foi possível, tardiamente, comprovar um grande esquema de fraude que envolvia o ciclista para mantê-lo aparentemente “limpo”. No fim, todo o discurso de superação e exemplo que Armstrong transmitia foi colocado abaixo. O mocinho virou bandido, e a verdade virou embuste.

Armstrong ainda é mantenedor de um dos principais projetos sociais do mundo no combate ao câncer. Isso é espetacular. Mas, para que mantivesse a sua aura de ídolo, teria sido muito melhor que ele fosse apenas um ciclista mediano que superou o câncer e conseguiu criar um mundo melhor para as pessoas portadoras de uma das mais emblemáticas doenças que aflige o ser humano. A vitória a qualquer custo sempre tem um preço.

E para um ídolo ser verdadeiro, ele tem de saber que não se pode jogar sujo. Qualquer um que tenha lido histórias em quadrinhos na infância deveria saber disso.


O legado e os megaeventos
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Erich Beting

Esse é o tema de uma palestra que darei amanhã no Sesc Vila Mariana, dentro do Play The Game Brasil, encontro para debater a transparência no esporte e que, por conta de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, acontecerá por aqui. A menos de um ano do primeiro evento de maior importância por aqui, é primordial começarmos a debater cada vez mais o que de fato acontecerá no país por conta dos megaeventos.

Afinal, legado nada mais é a palavra que sintetiza o projeto de marketing de um grande evento. É a história que se conta para aquilo que se quer atingir a partir de uma Copa, de uma Olimpíada ou similares.

E aí entra hoje o maior ponto de interrogação do Brasil para os próximos quatro anos. Será que o projeto que montamos será de fato colocado em prática? Sim, podemos imaginar a festa que teremos durante os eventos, mas do que terá valido tudo se não passar apenas de uma grande festa?

Quando ganhou o direito de sediar as Olimpíadas de 2016, o Brasil vendeu a ideia de que o evento mudaria a cara da cidade que mais simboliza o nosso país para o exterior e que, mais do que isso, proporcionaria ao mundo a visão de um novo país. A menos de quatro anos do início dos Jogos, pouco foi feito para termos a certeza de que o Rio será outro depois de 2016.

No fim das contas, o maior legado que podemos levar é a necessidade de planejar e executar com maestria um projeto. A primeira parte nós fizemos muito bem. A segunda e mais importante, infelizmente, ainda não saiu do papel…


A perigosa ideia de privatização do Maracanã
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Erich Beting

O governo do Rio de Janeiro divulgou nesta segunda-feira alguns detalhes do edital para a privatização do estádio do Maracanã. E, ao que tudo indica, em tese aqu

ela que tem tudo para ser uma das principais arenas do futebol brasileiro corre o risco de se tornar uma espécie de pesadelo para quem vier a ser o “dono” do Maracanã pelos próximos 35 anos.

O maior problema é no que se refere à concessão do estádio. Pelo edital, nenhum clube poderá se candidatar para assumir a gestão do Maracanã. Nas palavras do secretário da Casa Civil do Estado, Regis Fitchner, ao UOL: “Não queremos que o Maracanã seja de um clube A ou clube B. Não faz sentido que um clube tenha exclusividade sobre um estádio que é um templo do futebol”. (a matéria completa pode ser lida aqui).

O pensamento de Fitchner é exatamente o início da sentença para que o templo do futebol transforme-se num lindo elefante branco no médio prazo. Ao vetar a participação de clubes na gestão do novo estádio, o governo do Rio pede para que o principal cliente do Maracanã passe a buscar uma alternativa mais rentável depois de certo tempo.

O fenômeno aconteceu na Alemanha cerca de cinco anos depois da Copa do Mundo e provocou, desde o lançamento da Amsterdam Arena, em 1996, um boom de construção de estádios pela Europa.

No caso da Alemanha, os clubes que tiveram estádios reformados por conta do Mundial passaram, com o tempo, a ter uma receita mais significativa vinda dos dias de jogos. Esse é o reflexo mais imediato da construção de novas arenas. O estádio passa a ser mais eficiente para levar o torcedor aos jogos. Consequentemente, esse torcedor passa a consumir mais e, no fim das contas, a gerar mais grana para o dono do estádio. Com isso, os times têm promovido reformas em suas arenas no futebol alemão.

Não é difícil de se prever que, pelos próximos 20 anos, o mercado de futebol no Brasil partirá para uma melhoria de infraestrutura provocada pela melhoria a partir da Copa do Mundo. Para equiparar-se aos concorrentes, os clubes vão começar a buscar estádios próprios e caminhos mais eficientes para a geração de receitas.

Ao vetar que o Maracanã tenha um único dono, o governo do Rio não resolve o problema de Flamengo e Fluminense, hoje os dois times que não possuem estádio na cidade. Eles terão de continuar a viver do aluguel para faturar. Naturalmente o Vasco deve, com o passar dos anos, reformar São Januário, aumentando a receita com o local. O Botafogo, apesar de todos os problemas estruturais do Engenhão, continuará a trabalhar para que seu estádio torne a experiência do torcedor melhor e, consequentemente, mais lucrativa para ele.

No fim das contas, o Maracanã pode se tornar o novo Wembley. O estádio da Federação Inglesa de futebol é o maior mico que existe. Lindo, moderno, multiuso, mas sem um dono fixo, que use o local pelo menos duas vezes por mês. Wembley, ainda hoje, é uma arena deficitária. Um dos maiores motivos para isso é o fato de que nenhum clube inglês é dono do local, reservado apenas para os jogos da seleção da Inglaterra.

Naturalmente Flamengo e Fluminense serão potenciais clientes do Maracanã. O problema é que, com a ideia de privatização que foi dada pelo governo do Rio, eles continuarão a viver do aluguel do espaço. E, num cenário de novo dono para o estádio, o aluguel será bem mais caro do que era na época da Suderj.

É possível prevermos, em 2020, o noticiário falando sobre a decisão de que o Maracanã passará a ser gerenciado por um clube de futebol. Ou, então, noticiarmos as construções das novas arenas de Flamengo e de Fluminense, menores que o Maracanã e muito mais adaptadas à realidade dos dois clubes. Tem sido assim no mundo todo.

Chega uma hora em que todo mundo se enche de viver de aluguel…


Como aproveitar bem um patrocínio
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Erich Beting

O exemplo não vem do esporte. Mas é a típica ação que pode, facilmente, ser aplicada para o universo esportivo. O maior benefício que uma empresa tem quando patrocina uma atividade de entretenimento é poder se apoderar daquele evento/atleta/cantor/filme para criar ações para o seu consumidor.

Foi o que a Coca Zero fez com o patrocínio ao novo filme do 007. Seria muito simples para a marca apenas aproveitar a exposição desse patrocínio em letreiros nos cinemas, ou então em material de divulgação. Mas foi muito mais lógico poder criar uma ação exclusiva para o consumidor, que com isso teve uma relação totalmente diferente com a marca.

Esse é exatamente o diferencial que o patrocínio traz e que, aos poucos, as marcas começam a perceber que são o grande barato de um programa de relacionamento. Ao pagar, e caro, para se apropriar dos direitos exclusivos de um evento, uma marca tem de explorar esse recurso para fazer a diferença. A exposição acaba se tornando o benefício extra desse patrocínio.

Aos poucos as marcas começam a perceber as diferentes maneiras de se trabalhar isso no esporte. Quem sabe um filme inspirado em James Bond ajude a trazer novas ideias para serem aplicadas ao esporte.


A urgência do branding para o esporte
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Erich Beting

Uma das coisas mais fantásticas que existe no esporte é que, sem o menor esforço, clubes e atletas tornam-se marcas extremamente poderosas. O que, no mercado corporativo é a chave para o sucesso de grandes empresas, no meio esportivo é praticamente algo natural. Os clubes são instituições centenárias e de extremo valor para o consumidor. Tão valorosa que o torcedor “das antigas” recusa o termo consumidor para defini-lo. A relação é muito mais profunda do que isso.

Por conta desse cenário, o tema “branding” nunca fez parte das necessidades do esporte durante muito tempo. No Brasil, especialmente, essa é uma realidade ainda muito distante do cotidiano. Só que, com o desenvolvimento do esporte como negócio, ainda mais no futebol, o assunto tem de vir cada vez mais à pauta. Por uma questão de sobrevivência dos clubes.

O caso mais recente é o que envolve o Corinthians e a “Apito Promocional”, empresa que havia fechado um pacote de patrocínio de sete jogos do time pelo valor de R$ 1,5 milhão. Agora, o patrocínio foi parar no departamento jurídico alvinegro, que cobra a falta de pagamento de uma das parcelas (leia mais detalhes aqui).

O imbróglio não deixa de ser uma espécie de “castigo” para o próprio Corinthians.

Quando o clube criou, em 2009, o “Projeto Ronaldo”, provocou exatamente uma depreciação de sua imagem, mesmo achando que faria o contrário. Sim, Ronaldo ajudou e muito a mudar a percepção da imagem do Corinthians. Mas o meio encontrado para isso foi prejudicial no longo prazo. Quando fragmentou a camisa para diversos patrocinadores, o clube matou seu ativo mais valioso para um acordo de patrocínio. Para piorar, a partir do momento em que fez contratos diferentes, com prazos de duração distintos, piorou isso .

Quem acompanha o blog há três anos sabe que falávamos disso desde o início. Hoje, as grandes empresas perceberam que patrocinar o esporte é ir além da exposição na camisa. Por isso mesmo, o mercado passou a ser mais criterioso antes de investir.

E aí entra o problema hoje para o Corinthians. O clube cobra um valor para o patrocinador principal que nenhuma empresa está disposta a investir para ter de dividir a exposição com outras marcas. Com o passar do tempo e a necessidade de “fazer caixa”, o clube acaba depreciando o valor de sua camisa aceitando empresas menores que fazem aportes pontuais. E, nessa roda, a marca Corinthians, que está hoje num momento de extrema valorização, não consegue provar para um eventual patrocinador que vale a pena aplicar um certo dinheiro para estar aliado a ela. Quando notícias como essa da Apito Promocional vem à tona, então, a situação só piora.

O grande segredo para que clubes como Manchester United, Barcelona, Real Madrid, Chelsea e outros se tornassem potências mundiais foi um consistente trabalho para formação de um conceito de marca que acompanha o clube. O Manchester foi o primeiro a fazer isso, lá nos anos 90. Na década passada, os demais grandes europeus acompanharam o movimento.

Agora é o momento de os clubes no Brasil passarem pelo doloroso processo de fortalecimento de suas marcas. Doloroso porque isso implica, num primeiro momento, a reduzir os ganhos com quaisquer patrocínios e buscar projetos de longo prazo, que pagam menos a princípio, mas que fortalecem os relacionamentos no futuro e, assim, geram um aumento de receita.

Ou os clubes começam a fazer isso ou, passado os furacões de Copa e Olimpíadas, as empresas vão procurar outra área para se engajar.


Zizao, o manipulador
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Erich Beting

Anunciado como grande contratação marqueteira do Corinthians há quase um ano, o chinês Zizao se transformou no novo Ronaldo do clube paulista. Como na época do então camisa 9 do alvinegro, o atleta chinês virou uma espécie de para-raios corintiano.

A tática, aliás, não é nova dentro do Corinthians. Desde que Ronaldo desembarcou no clube, no fim de 2008, que o clube sempre conta com um atleta que serve de foco de atenção da mídia para, de uma forma ou de outra, espantar crises que possam rondar o ambiente.

Ronaldo sempre disse que tinha “as costas largas”, tanto que todas as eliminações ou perdas de campeonato que contaram com sua participação foram sucedidas por uma entrevista coletiva do jogador para “assumir a culpa” do fracasso.

Sem obviamente o mesmo carisma, história e força de Ronaldo, Zizao assume mais ou menos a mesma condição agora no clube. Como expus aqui no blog quando o atleta foi contratado, era muito pouco provável que a estratégia que a diretoria de marketing corintiana propunha ao anunciar o primeiro chinês a atuar pelo Corinthians fosse bem-sucedida.

Zizao é um completo desconhecido no país mais populoso do mundo. Além disso, sua fama só poderia ser feita no caso de ele entrar em campo e jogar com regularidade, tornando-se um protagonista no Corinthians. Se a ideia era repetir o que a NBA fez com Yao Ming para popularizar o basquete na China, o tiro sairia pela culatra. Dito e feito.

Mas aí entrou em campo a genialidade do departamento de marketing do alvinegro, devidamente ajudada por uma espécie de “falta de notícia” que contaminou a mídia que cobre o Corinthians. No compasso de espera pelo Mundial de Clubes, o jogador chinês virou a notícia, mesmo sem fazer aquilo que inicialmente foi proposto.

Zizao foi ao shopping com torcedores, ao Mercado Municipal, ao treino, ao banheiro… O Corinthians conseguiu, ao não colocar o seu exótico atleta em campo, criar notícia a partir dele. Notícia que não serve para expandir a marca corintiana em solo chinês, mas que cai como uma luva para afastar debates mais acalorados sobre como anda a preparação do time para o Mundial de Clubes, o que só serviria para colocar pressão sobre a equipe.

E a mídia caiu de cabeça na história de promover o “não-astro” chinês. É só reparar que a lesão de Emerson Sheik, que pode comprometer um dos principais atletas do clube para o Mundial, foi transformada em pauta como “Zizao ganha chance para estrear”…

No fim das contas, o maior feito da contratação de Zizao foi transformá-lo no maior manipulador de notícias dentro do Corinthians. Não fosse isso, o chinês renderia três notícias para a mídia: sua contratação, sua estreia e a rescisão de contrato após uma experiência frustrante.

Com Zizao fora de campo, o Corinthians assegura que a mídia continuará sem trazer debates que perturbem a paz no ambiente do clube. E, enquanto isso, o chinês segue com sua importante função de manipular a cobertura do dia-a-dia corintiano. Tite e os jogadores, sem dúvida, só têm a agradecer.