Negócios do Esporte

Arquivo : dezembro 2012

O Corinthians já não precisa de um Ronaldo
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Erich Beting

Roberto Carlos, Adriano e, agora, Alexandre Pato. Sempre que o Corinthians se mete a tentar a contratação de um atleta consagrado a pergunta sempre volta a ser feita: como o marketing do clube vai explorar esse jogador para ter o mesmo sucesso que teve com Ronaldo?

O fato é que essas contratações geralmente são feitas pensando mais do ponto de vista técnico do que marqueteiro. Afinal, o Corinthians de hoje já não precisa de uma estrela para alavancar as receitas com o marketing.

“O Corinthians tem um valor. O Corinthians com o Ronaldo tem outro valor”. A frase foi dita por Luis Paulo Rosenberg, então diretor de marketing do Corinthians, quando Ronaldo anunciou-se como “mais um louco no bando de loucos”. Naquela época, dezembro de 2008, o Timão estava voltando à Série A do Campeonato Brasileiro ainda cercado de dúvidas sobre seu futuro na gestão de Andrés Sanchez.

Ronaldo representava não apenas uma contratação do ponto de vista técnico, mas também um possível “atestado de credibilidade” para essa retomada de imagem do Corinthians. Tanto que, graças ao Fenômeno, o clube ampliou suas receitas com patrocínio e com a bilheteria dos jogos.

Hoje a história é completamente diferente. O Corinthians é o atual campeão mundial e, mais do que isso, é o clube líder em receitas no futebol brasileiro. Além disso, o único atleta que pode ter o potencial de mídia e geração de negócios no futebol brasileiro comparável ao de Ronaldo em dezembro de 2008 é Neymar, que está muito bem empregado no Santos.

O que existe em Alexandre Pato é uma aposta técnica e, também, do instável mercado de negociação de atletas. Com apenas 23 anos, Pato pode vir a ser um dos grandes nomes do Brasil na Copa do Mundo e, aos 25 anos, tem ainda potencial de ser renegociado com o futebol europeu.

Em termos de marca, ele nada agrega ao Corinthians mais do que o clube já tem. A aposta é exclusivamente técnica e extremamente arriscada do ponto de vista de geração de receitas. Afinal, o mercado de transferências de atletas consegue ser ainda mais instável do que o de patrocínio esportivo.


Os atletas crescem no mercado brasileiro
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Erich Beting

Um dos “legados” da realização dos megaeventos no país pode ser sentido ao longo desse ano. Aos poucos, os atletas crescem no mercado brasileiro. Os mais estrelados, especialmente aqueles que conquistaram medalhas olímpicas em Londres, já conseguem hoje viver com sobras do esporte. E aqueles que ainda estão em busca de um lugar ao sol mostram, aos poucos, que entenderam que precisam mudar de atitude para “sobreviver”.

Está claro para um atleta que não é mais um favor para uma empresa patrociná-lo. Da mesma forma, não é sempre “baratinho” receber um patrocínio quando ele compara o que ganharia com a verba milionária da empresa. É preciso dar retorno, seja ele qual for, para que alguém tenha interesse em aportar dinheiro para um atleta na atualidade.

O primeiro caminho para essa profissionalização dos atletas está na gestão de sua imagem. Ao longo de 2012, várias empresas foram crescendo com projetos para tornar o atleta um produto. Não é mais a performance esportiva a única variável que conta. E os atletas perceberam, seja com a gestão de perfis nas redes sociais, ou páginas oficiais na internet, que talvez a coisa mais fácil que fazem seja treinar e competir.

Ainda não chegamos num nível de profissionalismo da cadeia esportiva que permita aos atletas de média expressão serem também “empresas”, com diferentes áreas de gestão para o seu cotidiano. São poucos os Neymares no mercado esportivo nacional. O ponto positivo é que os demais atletas perceberam que não precisam disso só quando atingem um nível extremo de competitividade e reconhecimento do público.

Uma das áreas que prometem maior crescimento dentro da indústria no próximo ano é a de gestão de atletas. Sinal de que o esporte começa a se solidificar como um segmento produtivo do entretenimento no país. E de que as Olimpíadas têm impulsionado isso.

É pelo menos uma boa notícia para terminar o ano.

PS: O blogueiro entra em recesso pelos próximos dias. Até quando, nem eu sei, mas possivelmente só na primeira semana de janeiro com um balanço/retrospectiva do que foi 2012 e do que esperar para 2013 (além da área de gestão de carreiras, claro!). Um ótimo fim de ano a todos e obrigado pela companhia!!


O mercado de material esportivo é a nova bola da vez
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Erich Beting

Corinthians e Flamengo vão, mais uma vez, puxar a fila da próxima mudança que se aproxima no futebol. O contrato que o Corinthians renovou com a Nike, e aquele que Flamengo e Adidas assinaram na última noite, devem levar a um novo patamar a relação das fabricantes de material esportivo com as principais marcas do futebol brasileiro.

A renovação antecipada da Nike com o Corinthians, pagando cerca de US$ 30 milhões anuais num contrato de dez anos, tem a ver com o primeiro movimento nesse sentido, que foi a aproximação entre Adidas e Flamengo, ainda no ano passado. Quando a Adidas ofereceu R$ 30 milhões ao ano para o Rubro Negro, a Nike precisou se armar para não perder seu maior produto em solo nacional.

Agora, o processo tende a se espalhar para os clubes na linha de sucessão em importância, que são Palmeiras e São Paulo (que deve assinar com a Penalty em breve). E, em todos os casos, a tendência é termos um aumento no contrato motivado por dois fatores: mercado interno aquecido e início de entendimento maior dos clubes de seu poder de venda.

Hoje, Corinthians e Flamengo começam a ser alçados ao patamar das principais marcas do futebol no mundo. Em valores, seus contratos já são semelhantes aos praticados com as maiores potências da Europa, como Manchester United, Milan, Chelsea, Real Madrid ou Barcelona.

Antes, com o mercado interno brasileiro numa tendência de baixo consumo, e com os clubes sem explorar o consumo do torcedor, as marcas esportivas não davam valor para o potencial de receita de um patrocínio a uma equipe. Agora, pelo contrário, já ficou claro que há um imenso potencial a ser explorado. Os próprios clubes hoje trabalham sabendo da importância que é reverter a paixão do torcedor em receita para o caixa.

Esse foi o primeiro ponto, iniciado em 2006 com as parcerias de São Paulo e Inter com a Reebok, que começou a mudar o relacionamento da marca com os clubes. Agora, finalmente começamos a querer chegar ao que é praticado na Europa, em que há quase que uma sociedade entre fabricantes e entidades. Resta saber se as subsidiárias brasileiras das multinacionais estarão prontas para atenderem à demanda.

Talvez esse seja o ponto principal a ser discutido hoje na hora de um clube fechar um contrato com uma marca. Dinheiro não é o problema, mas sim a capacidade de entrega.


O grande tour de Federer por São Paulo
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Erich Beting

Não tinha dado tempo para escrever uma análise do que foi a vinda de Roger Federer para São Paulo, no torneio exibição na primeira semana de dezembro. O fato é que o suíço fez um bem danado para o marketing turístico da cidade…

Sanduíche de mortadela no Mercado Municipal é, hoje, um dos passeios mais clichês da cidade de São Paulo. Há alguns anos, a prefeitura paulistana tem tentado promover o Mercadão como um de seus pontos turísticos mais autoexplicativos. Gastronomia unindo as diferentes culturas que colonizaram e formaram esse colosso de cidade.

Outro passeio mais do que tradicional é a ida ao Masp, um dos principais museus paulistanos, cravado no meio da opulente avenida Paulista. O vão livre, a vista para alguns arranha-céus típicos da cidade, a arte em meio ao caos do trânsito, de pedestres e de automóveis. Mais um clichê que faz parte de qualquer guia turístico da Paulicéia.

Ambos os passeios foram escolhidos a dedo pela organização do Tour de Roger Federer pela cidade de São Paulo na semana em que o atleta esteve no Brasil. Com milhões de seguidores em sua conta no Facebook, o tenista suíço deu o recado que a prefeitura paulistana se esforça para fazer com campanhas publicitárias em todos os cantos.

Além de servir de garoto-propaganda para a Gillette, o passeio de Federer por São Paulo foi fundamental para a promoção da cidade, que só entra no roteiro turístico-esportivo na Copa do Mundo, ainda com a “periférica” Itaquera no mapa. E talvez tenha sido o grande negócio de toda a vinda do suíço pela primeira vez ao Brasil.

A força do ídolo esportivo para ajudar a promover um local é tremenda. Em época de mídias sociais e sociedade do compartilhamento virtual, então, é uma eficiente ferramenta de marketing. Ainda por cima quando esse ídolo sabe usar bem o veículo, as coisas ficam ainda mais “engajáveis”, para usar o jargão do momento.

Pelo mundo todo Federer leva uma legião de fãs. Qual o impacto de ter uma pessoa como ele colocando fotos em pontos turísticos de uma cidade para que todos possam ver aquele ídolo “curtindo” as férias tal qual uma pessoa comum?

Obviamente não foi só a cidade de São Paulo que ganhou seus minutos de fama com Federer. Na segunda-feira seguinte ao torneio, lá estava ele, de braços abertos para as Cataratas do Iguassu. Sim, com dois esses mesmo. Afinal, o giro do suíço pela América do Sul previa, na segunda, que começasse o passeio pela Argentina. Pois bem, lá estava ele promovendo um ponto turístico argentino…

Como tenista em férias de fim de ano, Federer tem sido um excelente promotor de viagens para os seus fãs. E as cidades visitadas pagam, com sorriso nos olhos, essa conta…


Patrocinar não é só ter exposição de marca
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Erich Beting

A frase acima, para quem acompanha o blog já faz um bom tempo, é um dos mantras que defendo aqui. Quem busca no patrocínio apenas a exposição da marca, seja na camisa, na placa de publicidade ou na comunicação do evento, está fadado a não aproveitar alguns dos grandes benefícios que ele permite.

Historicamente nos acostumamos, no Brasil, a medir a efetividade de um patrocínio esportivo pela exposição “gratuita” em mídia que ele gerou. O número de vezes que a marca é estampada na TV, no jornal ou na revista serve como parâmetro pela indústria para justificar um investimento e, também, balizar o montante a ser investido no esporte.

Mas o grande barato não é ter a marca exposta, e sim aproveitar-se de benefícios exclusivos que só um patrocínio pode dar. Nesta última semana estive no Japão acompanhando a vitória corintiana do Mundial de Clubes. A viagem foi um convite da Toyota, que tem a cota de “apresentadora” do Mundial. Junto comigo estavam outros jornalistas e, mais importante, uma comitiva de 30 gerentes de vendas de concessionárias da marca. Pessoas que bateram meta de vendas e procedimentos de vendas e que, por conta disso, ganharam a viagem como prêmio da montadora.

Só a Toyota e outros patrocinadores do Mundial e da Fifa podem fazer ações desse tipo. A Adidas, por exemplo, levou um torcedor brasileiro para ver o torneio. Patrocinadora do Chelsea e  do campeonato, a empresa criou a ação para engajar o consumidor no Brasil. Nessas horas, ter o direito de fazer essa ação é muito mais importante do que ter a marca exposta na placa de publicidade, no uniforme do árbitro ou mesmo na bola do Mundial de Clubes.

Aos poucos, as empresas no Brasil começam a perceber que só a exposição não conta. Ela é muito importante. Mas, no mercado americano, por exemplo, ela é uma espécie de bônus para a marca que investe no esporte. Na Nascar, os principais patrocinadores dos carros não são as empresas que aparecem nele, mas sim aquelas que compram o pacote anual de relacionamento com a equipe e de ativação da marca nas corridas ao longo do ano. Quem quer só aparecer paga um montante ao time e também à TV que transmite o evento para ter a marca exposta.

Por aqui ainda vai demorar para chegarmos a esse grau de complexidade no esporte. Mas alguns exemplos já começam a mostrar que as marcas entenderam cada vez mais o benefício que é ser o detentor exclusivo de um patrocínio, travando qualquer ação da concorrência. A exposição não é o mais importante, mas ao mesmo tempo, é fundamental existir. Para ser um excelente benefício extra para o patrocinador. Resta o esporte começar a vender esse conceito para as empresas.


O saldo do bando de loucos: R$ 200 milhões
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Erich Beting

Pelo que recebi de mensagens nas redes sociais, parece que as pessoas que estão no Brasil duvidam muito da tal “invasão” corintiana no Japão. Bom, segundo o departamento de marketing do clube, a vinda dos Corinthianos para cá, oficialmente, movimentou R$ 200 milhões (leia a reportagem aqui). O número não é o que fica de dinheiro no caixa do clube, mas tudo o que se gastou por torcedores e entidade para a viagem. Pode até estar um pouco inflacionado. Ou, pior, subdimensionado.

Sim, o Japão está tomado por corintianos. Não apenas aqueles que moram no Brasil, mas vindos da Austrália (em enorme proporção), da Inglaterra, da Alemanha, dos Estados Unidos, etc. A proporção é absurda, e isso, curiosamente, ao mesmo tempo que traz soluções para o Corinthians, cria alguns problemas.

A invasão é um reflexo claro de que o torcedor corintiano é apaixonado. Não é mais apaixonado do que muitos apaixonados por outros clubes, mas pode ser em maior contingente.

Muita gente tem se apegado aos números de público nos jogos de São Paulo e Inter da semifinal para tentar dizer que a invasão não foi tão grande assim. O cerne da questão não é o número em si, mas a proporção de torcedores presentes no estádio. Em Toyota, cerca de 90% dos 31 mil torcedores era de corintianos. São Paulo e Inter, e também Santos, não conseguiram colocar tanta gente assim.

Há diversas razões para isso. A primeira, e mais óbvia, é a economia. O momento atual, para o brasileiro, é melhor para viajar do que há sete ou três anos. Além disso, ao montar a operadora de viagem oficial, o Corinthians “facilitou” a viagem para seu torcedor, com prazos de pagamentos distintos e, às vezes, mais acessíveis.

Mas há, de fato, muita gente espalhada pelo Japão torcendo para o Corinthians.

Esse é  um ponto importante a ser frisado. Pelas ruas, japoneses falam “Corinthians” ao ouvir palavras em português. Nos locais turísticos, o “Vai, Corinthians” virou uma espécie de cumprimento entre brasileiros, mesmo que você não esteja trajando qualquer vestimenta do clube.

Tudo isso, porém, tem duas interpretações interessantes. Ao mesmo tempo que o bando de loucos significa um bom punhado de dinheiro nos cofres corintianos, ele também representa um fardo que o clube precisa carregar.

Com uma torcida tão apaixonada pelo clube, fica difícil para o Corinthians trabalhar a imagem de um ídolo. Nenhum jogador consegue se tornar ícone, já que a paixão fica centrada no time como um todo. Isso gera um problema para trabalhar a promoção do clube em outros mercados, que foi a base do crescimento internacional dos times europeus.

Outra oportunidade é a paixão da torcida ser trabalhada pelo marketing para levar o Corinthians a outros lugares. A “Fiel” pode se transformar numa espécie de produto de exportação do clube. A invasão, realmente, pode proporcionar algo inédito para o futebol no Brasil.

*O blogueiro viaja a convite da Toyota do Brasil


Impressões japonesas: os megaeventos e o país
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Erich Beting

Andei ontem, pela primeira vez, de trem-bala. A experiência é decepcionante. Eficiente, sem atraso, sem filas ou super-lotação, tudo funciona com tamanhã perfeição que não tem como não ficar decepcionado ao compararmos com o histórico brasileiro de promessas sem concretização, de boas ideias sem execução prática, de falta de compromisso com o bem-estar de todos e com diversas outras coisas que nos deixa só imaginando a festa, sem de fato saber aproveitá-la.

Mas a maior frustração foi saber que o trem-bala que peguei, entre Nagoya e Yokohama, faz parte da linha inaugurada em 1964 e que unia boa parte dos principais centros populacionais do Japão com Tóquio. A inauguração do meio de transporte, mais rápido e com capacidade para mais passageiros, era uma das soluções encontradas pelo governo japonês para o país aguentar o tranco de receber a edição dos Jogos Olímpicos de Verão naquele ano e, mais do que isso, segurar o crescimento urbano que já se observava no país em recuperação e desenvolvimento pós-Guerra. A Olimpíada foi um bom motivo para que o trem surgisse para desafogar o tráfego futuro.

Por aqui, os planos para as cidades são feitos com base na demanda futura, e não na necessidade passada, como é histórico no Brasil. Um trem-bala para interligar a região sudeste brasileira não é algo que precisasse ser feito para uma Copa ou Olimpíada. É uma necessidade de 20 anos atrás para que hoje não tivéssemos tantos aeroportos com lotação mais do que máxima.

Mas, no Brasil, é mais fácil planejar a festa do que o futuro. Questão cultural, que nos permite ser tão diferente e, sem dúvida, mais extrovertido e festeiro do que os outros povos. Mas que, quando comparamos com outras realidades, não podemos deixar de nos envergonhar.

Os megaeventos podem servir como ótimo pretexto para melhorar o país. Afinal, ele são muito mais do que uma grande festa. O Japão deu um belo exemplo.

* O blogueiro viaja a convite da Toyota do Brasil


Impressões japonesas: o choque cultural
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Erich Beting

O blog começa hoje a trazer um pouco das impressões daqui do Japão, onde fico até o fim de semana para acompanhar o Mundial de Clubes da Fifa. A mais gritante diferença que se percebe logo ao pisar em solo japonês é a cultura. Costumes, tradições e demais características que identificam um povo e que, por aqui, são fortemente identificáveis por serem tão distintas daquela a que nos acostumamos.

Para quem é de São Paulo, a presença do Japão está um pouco em nossa cultura. Mas, mesmo assim, é muito diferente daquilo com que nos deparamos quando vivenciamos a experiência japonesa. Tudo é muito, mas muito diferente. O japonês é extremamente lógico, disciplinado, educado e, acima de tudo, hospitaleiro com o turista estrangeiro.

Se juntarmos todas essas características com a cultura de torcida brasileira e, mais ainda, com quase 20 mil corintianos espalhados pelo Japão, as coisas ficam ainda mais intrigantes. No jogo do Corinthians contra o Al Ahly, deu dó de ver o desespero dos voluntários que estavam encarregados de vigiar os torcedores.

Um deles tentava, desesperadamente, avisar ao torcedor que não era permitido fumar. Fazia isso, claro, com mímica. Obviamente que o torcedor corintiano, preocupado com o jogo, respondia com um sonoro “Aqui é Corinthians!” e não atendia ao desejo do senhor que ficou o jogo inteiro de costas para o campo e de olhos atentos à torcida. No fim das contas, o único trunfo que ele conseguiu foi ter convencido três torcedores na primeira fileira do estádio a verem o jogo sentados…


O abismo entre Corinthians e Chelsea
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Erich Beting

Corinthians e Chelsea escancaram, no Japão, o abismo que existe entre as duas equipes. Pelo menos no que diz respeito à fama de um e de outro em solo japonês, os ingleses ganham de goleada a disputa.

Os outdoors “provocativos” do Corinthians próximo ao estádio de Stamford Bridge, em Londres, levam o torcedor alvinegro à loucura. De clube sem conquistas internacionais a marca exposta na capital inglesa, o corintiano tem, com justiça, de celebrar a mudança de patamar no mundo da bola. Ou, pelo menos, no mundo da bola verde e amarela.

A pretensa internacionalização da marca corintiana a partir das campanhas que a Nike tem promovido para o clube não passa de um projeto ainda de principiante quando comparada à estratégia de “tomada de terreno” do Chelsea em solo japonês.

Por décadas o torcedor brasileiro, impulsionado pela mídia e pelos dirigentes, acreditava que seus clubes seriam marcas internacionais e temidas pelos adversários a partir do momento em que jogassem no exterior e, mais do que isso, conquistassem títulos mundiais.

Enquanto o Brasil parou no tempo com esse conceito, os clubes europeus foram, aos poucos, trabalhando para se tornarem marcas globais, uma vez que o mercado local atingiu uma saturação, seja por limite geográfico, seja por exploração comercial do torcedor. Esse processo começou no início da década de 90, com o Manchester United e a revolução ocasionada pela criação da Liga Inglesa de futebol. O Manchester percebeu que teria de extrapolar os limites da terra da Rainha para poder aumentar a legião de fãs e, dessa forma, aumentar seu faturamento comercial. Para isso, porém, não adiantava tentar conquistar a Europa. Foi por isso que os ingleses decidiram partir para o mercado asiático com afinco. Ao estudar o comportamento do oriental, muito mais calcado no atleta do que no clube, o caminho para o gol foi executado por David Beckham.

Pouco depois, quando o sucesso financeiro do Manchester também deu mostras de que se refletia dentro de campo, os clubes europeus acordaram para o óbvio. Para ganhar mais, em todos os sentidos, tinham de fazer suas marcas serem conhecidas pelo mundo todo.

Para isso, apostaram no tripé básico: exposição na mídia, realização de partidas amistosas no exterior e, por fim, venda de produtos.

O Corinthians, hoje, ainda se encontra num estágio primário. Sem exposição na mídia (os horários dos jogos no Brasil são péssimos para o mercado asiático e, além disso, a distribuição ainda é voltada para o brasileiro que mora no exterior), resta ao Timão tentar usar a semana em solo japonês para mostrar um pouco de sua história.

Por sua vez, o Chelsea já é conhecido a ponto de poder ter uma loja em Yokohama, palco do jogo decisivo do Mundial de Clubes. O japonês já sabe quem é o Chelsea, conhece (e idolatra) os atletas e, claro, tem interesse em consumir algo relacionado ao atual campeão da Europa.

A boa notícia é que o Corinthians se preocupou em tentar mostrar ao torcedor japonês quem é o clube, contar um pouco da história, relembrar momentos históricos do clube. Contou, para isso, com uma tremenda ajuda da Nike, que engajou-se na ativação da marca corintiana por todo o mundo.

Só que, para o bem do futebol do Brasil, não podemos depender sempre da presença de um clube para a disputa do Mundial para fazer esse trabalho de divulgação da marca. Hoje, há um abismo entre a fama dos clubes brasileiros pelo mundo e a dos europeus. A solução passa, prioritariamente, pelos clubes elaborarem um bom programa de divulgação do futebol do país no exterior. E isso depende, obrigatoriamente, de uma negociação coletiva de transmissão do Campeonato Brasileiro. Pelo menos para o mercado estrangeiro.

O caminho a ser percorrido é longo…

*O blogueiro viaja a convite da Toyota


A Eurocopa itinerante e o preço das arenas modernas
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Erich Beting

Quando assumiu a presidência da Uefa, Michel Platini foi venerado por ser um ex-craque dos gramados alçado à condição de chefe maior do futebol europeu. Como promessa de campanha, o ex-camisa 10 da seleção francesa prometia deixar a cartolada de escanteio e recolocar o jogador e os clubes como protagonistas do futebol no Velho Continente.

Por um lado a Uefa melhorou, e muito, a divisão de receita entre os clubes e, também, o acesso de times de países menores à Liga dos Campeões. Além disso, os atletas ganharam algumas tradições de volta, como receber a taça de campeão das competições da entidade na tribuna de honra do estádio.

Só que a nova decisão da Uefa soou para lá de estranha. Amparando-se na crise financeira que ainda assombra a Europa, a entidade anunciou que, em 2020, a Eurocopa só terá sede fixa nas semifinais e finais. Antes disso, os clubes vão perambular pelo continente para disputar as partidas, tal qual acontece nas Eliminatórias para a Copa do Mundo.

A decisão da entidade revela o lado perverso do “caderno de encargos” criado pela própria Uefa para abrigar suas competições. As exigências mínimas que os estádios precisam ter para receber um evento da entidade acabam tornando-os, na maioria das vezes, inviáveis ao longo do tempo. Dois casos recentes envolvendo a Uefa são as Eurocopas de 2004, em Portugal, e 2012, na Polônia e na Ucrânia. Nos três países são pouquíssimos os estádios que se mantêm rentáveis depois de passado o torneio.

A Uefa, então, viu-se numa encruzilhada. Não pode criticar o modelo que ela mesmo criou e, também, não pode privilegiar apenas os países que não terão “prejuízo” numa eventual realização do torneio. A ideia de fazer a Eurocopa itinerante é, sob esse aspecto, a solução mais racional para o momento. Essa é a boa notícia.

O problema é que o preço das arenas modernas, no dia a dia dos países, está se provando salgado demais. E a modernização tem virado, cada vez mais, sinônimo de fracasso econômico. Ou as entidades esportivas adaptam seu evento à realidade do local onde ele será realizado, o que é péssimo em termos de entrega de produto, ou então precisarão repensar o modelo em que, nos últimos 30 anos, calcaram o enriquecimento de suas contas bancárias.

Na Europa, a Uefa já mostra onde pode estar um caminho para achar uma solução.