Negócios do Esporte

Arquivo : fevereiro 2013

Contra tudo e contra todos?
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Erich Beting

Em homenagem aos mais de 350 comentários ao post de ontem, boa parte deles ofensivos a mim ou ao ponto de vista defendido no texto, vale um vídeo que hoje de manhã o sensacional Leonardo Bertozzi, da ESPN, compartilhou.

Para quem vocifera contra os portões fechados, as punições injustas ou o estigma de perseguição a qualquer clube, credo ou torcida, espero que sirva para que entenda o que é, na verdade, a essência do esporte.

O mundo mais civilizado criou o esporte para substituir a guerra (esqueça a Roma Antiga, que no pão e circo trazia a essência do que o homem tem de pior). O ser humano incivilizado usa o esporte para projetar a guerra. Para achar que é preciso separar as torcidas, em vez de uni-las. Para crer que o importante é vencer, independentemente dos meios encontrados para isso.

Bom, o vídeo explica melhor do que qualquer palavra a história. Foi produzido pela CBS, dos Estados Unidos, e traz a história de um menino que é apaixonado pelo basquete.


Contra tudo e contra todos
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Erich Beting

O bordão virou regra para a torcida de qualquer time. Na ótica do torcedor, todos estão contra seu time. É a proliferação dos “anti”, da cultura do ódio, da mania de perseguição. Aqui no blog, já passei por representante das mais diferentes torcidas, conforme o tema e o ponto de vista a favor ou contra um clube.

Até aí, tudo bem, faz parte da paixão do torcedor. Para ele, até elogio, quando não deixado de forma claro, soa como ofensa.

Só que o problema é quando esse tipo de pensamento atinge quem está na gestão do clube. O papelão que se torna, cada vez mais, a disputa entre Conmebol e Corinthians é daquelas que podem manchar todos os avanços que o clube fez nos últimos cinco anos.

A postura inicial da diretoria do Timão foi perfeita. Repudiou o ato de seus torcedores, não fez pressão para proteger quem a polícia prendeu e, ainda, “enlutou” seu site oficial. É o mínimo que se espera.

Tudo começou a desandar quando o clube foi punido com a proibição de ter torcedores em seus jogos. Como disse aqui na ocasião, o Corinthians tinha a chance de fazer desse limão uma deliciosa limonada. Acatar a sanção e passar a exigir, do futebol na América do Sul, a melhoria no relacionamento com o torcedor e na qualidade dos campeonatos que são disputados por aqui.

Tudo bem, valendo-se do direito prévio do torcedor que comprou o bilhete antecipado, o Corinthians tentou recorrer. Perdeu. E começou uma estúpida perseguição pública com a Conmebol. A troca de farpas, via imprensa, ocorrida na terça-feira foi de uma infelicidade tremenda e, mais ainda, um desrespeito ao torcedor morto.

Sim, é absurdo o San José não ter sido punido por permitir a entrada dos foguetes sinalizadores mortais. Sim, a Conmebol tem de começar a ser mais eficiente no combate às atrocidades que sempre marcaram as competições por ela organizada. Sim, ainda há muito a evoluir na gestão do futebol na América do Sul.

Tudo isso, porém, não precisa ser exposto publicamente. Mario Gobbi tem o poder de representar o atual campeão da América e do mundo para pegar um avião, desembarcar em Assunção e colocar na mesa a participação alvinegra na Libertadores diretamente ao presidente da Conmebol.

Se está tão insatisfeito com a entidade, peça o boné e saia da competição. Com certeza o prejuízo financeiro será pequeno. A força da marca Corinthians permitirá ao clube excursionar pelo exterior e buscar outras formas de compensar o dinheiro que deixará de arrecadar com a disputa da Libertadores.

Duvido, até, que a Conmebol irá resistir à pressão de patrocinadores e televisão para que não seja imposta uma pena de cinco anos de banimento da participação do Corinthians da Libertadores. O clube, hoje, é maior do que o torneio. E tem de usar essa força para fazer com que a competição seja maior.

Ir à imprensa para pedir “critério” da Conmebol na punição aos clubes é birra de criança mimada. Ainda mais quando falamos de uma entidade que aprendeu, após 50 anos, de que é preciso coibir os maus tratos ao consumidor em seus eventos. Precisou, aliás, cair um alambrado e depois morrer um torcedor dentro de um estádio para que a entidade acordasse.

Contra tudo e contra todos pode até ser um motivo a mais para o torcedor acreditar em seu time. Só que não pode, nunca, tornar-se a bandeira de uma diretoria. O Corinthians começa a colocar por terra toda uma estratégia que alçou o clube ao mais alto patamar de sua história. Curiosamente no instante em que tinha tudo para mostrar que deixou para trás todos os vícios que corroem e apequenam o futebol na América do Sul.


Beckham ainda bate um bolão!
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Erich Beting

No último domingo David Beckham estreou pelo PSG. Quem brilhou dentro de campo, de fato, foi Lucas e Ibraimovich, mas é impressionante como o meia inglês ainda bate um bolão como ferramenta de mídia. Desde que alçou o Manchester United ao posto de clube mais rico do mundo, e posteriormente colocou no trono o Real Madrid, Beckham virou uma espécie de Joel Santana dos clubes cariocas. O negócio apertou? Chama o Papai Joel que ele resolve.

Da mesma forma, Beckham tem sido acionado para quando os clubes europeus precisam de mais divulgação na mídia ou aumentar a receita. Foi assim com o Milan e é agora com o PSG. Na época em que contratou o inglês, o Milan afirmou que seria a forma de compensar a saída da Liga dos Campeões da Europa. Agora, claramente o clube francês tem em Beckham o seu astro pop.

Mas como, aos 37 anos, Beckham ainda é capaz de gerar tanta movimentação em torno de um time?

O fato é que o inglês conseguiu algo similar ao que Michael Jordan protagonizou no basquete. Foi o cara certo, no momento certo, na equipe certa. Beckham era o rosto bonito com qualidade técnica que o Manchester precisava para o processo de profissionalização de seu clube. Ao mesmo tempo, o mercado asiático começava a desenvolver o interesse pelo futebol do exterior, e a Liga Inglesa aproveitava-se disso para faturar mais com a venda dos direitos de TV para o continente. Juntando tudo isso, Beckham deu certo não apenas dentro de campo, mas também, e até principalmente, fora dele.

Ao desembarcar em Paris, Beckham deu uma espécie de carimbo de validade para o projeto do clube francês de se tornar uma potência do futebol mundial. Com quase 25 milhões de seguidores no Facebook, e com um perfil de público que está entre os 18 e 24 anos de idade, o jogador usa a rede social para se promover e, principalmente, dar publicidade a seus parceiros comerciais.

Só para se ter uma ideia, segundo dados do Facebook, o período que mais visibilidade teve o perfil de Beckham na rede foi a semana em que foi contratado pelo PSG, entre 27 de janeiro e 2 de fevereiro (ele assinou contrato no dia 31/1). Desde então, há constantemente a postagem de fotos dele com a camisa do PSG. Considerando que os 25 milhões de fãs estão espalhados por todo o mundo, a aposta no inglês para tornar o clube conhecido globalmente foi perfeita.

Se dentro de campo já não conta com a mesma eficiência de antes, fora dele Beckham ainda bate um bolão. Agora a bolsa de apostas é saber qual será o próximo time que o meia inglês tentará promover.


Beijo ou sinalizador? O que você quer para um estádio?
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Erich Beting

Na semana em que mais uma tragédia acometeu o futebol na América do Sul, uma notícia vinda do Nordeste brasileiro deu uma baforada de esperança de que dias melhores virão para a experiência de um torcedor num estádio de futebol em terras latino-americanas. O Fortaleza fez, na semifinal da Copa do Nordeste, uma ação com o público. O casal de torcedores que fosse flagrado dando um beijo no telão do estádio do Castelão ganharia uma hospedagem no hotel patrocinador do clube cearense (detalhes aqui).

A ação é a típica celebração do que deve ser um programa num jogo de futebol. Uma ida pacífica, em festa, para reunir casais, famílias, pessoas que vão lá para apoiar um time, mas sem matar ou morrer por ele. Perder faz parte da brincadeira, respeitar aquele que pensa diferente de você, também. É uma ação de civilidade, de vida coletiva, de respeito às pessoas.

Num local com assentos demarcados, com telão para que o público se veja e interaja durante o tempo que ficar no estádio, com respeito às pessoas, tudo contribuiu para que você tenha uma experiência bacana. É o princípio de ação e reação. Bom tratamento gera bom tratamento. Respeito reproduz respeito. Alegria retorna em mais alegria.

Muita gente que é fanática por futebol, aprendeu a gostar dele desde a infância e a frequentar os estádios desde pequeno, demoniza aquilo que chamam de “futebol moderno”, em que há a preocupação pelo bem-estar do público acima de qualquer coisa. Preconiza-se que esse tipo de comportamento afasta o “torcedor verdadeiro”, aquele que pula, grita, faz festa e incentiva o time, muitas vezes colaborando para levá-lo à vitória.

Um estádio moderno é um estádio que não pulsa. É apenas um simples espectador de uma partida de futebol. Sem paixão, sem alma, sem vibração. Até poderia ser verdade, caso não estivéssemos no Brasil. A paixão pelo futebol impede que tenhamos estádios frios, sem festa de torcida, sem entoação de cânticos para incentivar o time.

Mas os próximos anos serão cruciais para a mudança definitiva do perfil de quem vai a um jogo de futebol. Os novos estádios vão atrair um novo tipo de público. Fanático ou não pelo futebol, mas sem dúvida composto por pessoas que gostam do esporte e querem ter uma boa experiência de realização de um programa quando vão a um campo.

Os novos estádios sem dúvida vão diminuir a importância do torcedor na experiência do jogo. Culturalmente, temos a ideia de que o verdadeiro dono de um espetáculo esportivo tem de ser a torcida, e não os jogadores. Como amante do esporte, não consigo pensar que o atleta não seja o bem mais precioso e o principal motivo para se acompanhar uma competição. A torcida é parte do evento, mas não pode ser o centro dele.

Ter um estádio com mais beijos e menos foguetes sinalizadores parece ser a escolha mais óbvia entre todas. Afinal, muito maior do que a torcida, é o time que joga. E, mais ainda, a companhia com quem se vai a um estádio…


Vai, Corinthians!
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Erich Beting

Ao que tudo indica, a gota transbordou o copo d’água. Após anos e anos meio que se fazendo de desentendida para os recorrentes problemas do futebol no continente, a Conmebol tomou uma decisão correta. Puniu, preventivamente, o Corinthians, que terá de jogar sem torcida todos os próximos jogos da Copa Bridgestone Libertadores (o clube ainda pode recorrer).

Decisão na medida certa.

O que aconteceu em Oruro foi um crime. Como tal, é um caso para a polícia boliviana resolver. A entidade que cuida do futebol na América do Sul tem um limite para aplicar uma punição. E ela só poderia recair sobre o clube e a sua torcida. Não se pode ir além disso. Haverá prejuízo financeiro para o clube. Haverá prejuízo para os torcedores corintianos em geral, que pagarão pelo crime que um só cometeu.

Mas é preciso dar um basta na maneira como o futebol na América do Sul trata o seu consumidor. O crime em Oruro (cada vez mais comprovado pelas imagens que reconstituem o lançamento do foguete) não pode ser parte do universo do futebol.

Existe esperança dentro da Conmebol. Infelizmente ainda precisamos de casos extremos para que isso aconteça, mas parece que agora há realmente uma preocupação com o fim do sentimento de impunidade.

E o Corinthians, se quiser dar mais um exemplo do colosso que se tornou no futebol atual, deveria aceitar a punição da entidade, devolver o dinheiro recebido pelos torcedores que já haviam comprado seus ingressos com antecedência e mostrar que também é a favor de que os estádios de futebol sejam lugares de confraternização e lazer das pessoas.

Vai, Corinthians! Conquiste mais essa vitória. Para o bem do futebol.


Conmebol e o “jeitinho” sul-americano
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Erich Beting

Morreu um torcedor ontem, aparentemente vítima de um confronto entre torcedores do Corinthians e do San José. Cerca de 12h depois do ocorrido, a Conmebol, entidade que comanda o futebol sul-americano, tinha em seu site apenas um comunicado  reproduzindo a carta enviada ao presidente da Associação de Futebol da Argentina, congratulando-o pelos 120 anos da instituição (leia aqui).

Não é piada.

E talvez seja a melhor forma de os dirigentes do futebol na América do Sul dizerem o que pensam sobre o esporte que comandam.

A morte do jovem em Oruro não causa espanto. Para quem acompanha o futebol desde que se conhece por gente, não dá para dizer que isso nunca iria acontecer. É mais uma, entre tantas outras, que são fruto do descaso de quem está no comando com quem é a razão de o esporte ser tão popular.

A morte em Oruro é fruto de um modelo histórico de que o poder no esporte está dividido numa espécie de confraria de amigos, cuja única preocupação é manter a mesma turma no comando. Quem quiser fazer parte do clube, não pode se opor ao status quo, não pode ir contra o chefe, tem de tomar cuidado ao arquitetar um plano para tomar o poder (Ricardo Teixeira que o diga).

Torcedor? Quem?

Na Europa as coisas são diferentes desde 1985, quando os hooligans do Liverpool mataram mais de 30 torcedores da Juventus numa briga antes da final da Liga dos Campeões entre os dois clubes. O episódio, conhecido como Tragédia de Heysel, mudou para sempre a forma como os ingleses trataram seus torcedores (os violentos e os não-violentos). Para piorar, em 1989, em outro jogo do Liverpool, nova tragédia, com a morte de outros torcedores por superlotação no estádio.

Desde ali, a prioridade passou a ser o conforto do torcedor. O custo, além da morte dos torcedores, foi a saída dos clubes ingleses das competições internacionais. Durante cinco anos, times da Inglaterra não disputaram nenhuma competição internacional. Foi o tempo necessário para que o futebol inglês se reestruturasse, por ordem de governo, para acabar com a péssima imagem que tinha.

O crime em Oruro tem proporção muito menor do que os graves acidentes na história do futebol inglês. Mas, 30 anos depois, é ridículo que ainda tenhamos crimes como esse acontecendo nos estádios.

Esperar, da Conmebol, a mesma atitude que teve a Uefa há 27 anos é acreditar que o futebol mudou muito na América do Sul. Ainda estamos na era do “jeitinho”, de achar que o importante é ter o poder de comandar a paixão das pessoas, sem entender que essa paixão não pode ser levada ao ponto de matar.

Ir a um estádio de futebol na América do Sul não é um programa, é uma aventura. Isso faz com que os estádios sejam lugares apenas para os fanáticos, aqueles que podem matar ou morrer pelo seu time de coração. O que, claro, não justifica o ocorrido em Oruro, mas que explica o que acontece há tempos por aqui, na Bolívia, na Argentina, no Paraguai, no Chile, etc.

Não se preocupar com o conforto, o acesso ou a segurança de quem vai ao evento esportivo é um mal que corrói o futebol sul-americano. Esperar qualquer tipo de punição, por parte da entidade que comanda o futebol no continente, é acreditar em milagres.

PARA TUDO!

O texto foi interrompido bruscamente. Quando chegava à conclusão dele, a Conmebol divulgou outro comunicado em seu site. Devido ao tráfego intenso de acesso, só dá para ler o título: “Condolências da Conmebol para a Federação Boliviana de Futebol”.

Pois é. A própria Conmebol já deixa claro o quanto está preocupada com o crime em Oruro ou com o bem-estar do torcedor…


Jordan, 80
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Erich Beting

No último dia 17, Michael Jordan celebrou meio século de vida. Maior jogador da história do basquete e um dos grandes responsáveis por fazer com que a NBA se tornasse uma marca mundialmente conhecida e desejada pelas pessoas, o craque americano alcançou outro feito neste aniversário de 50 anos. De acordo com a revista Forbes, Jordan ganha mais dinheiro hoje, aposentado, do que quando estava no auge da carreira.

O ex-jogador ganhou, só em 2012, US$ 80 milhões com patrocínios. O valor é superior aos US$ 50 milhões que ele recebia quando estava no topo, ganhando títulos e quebrando recordes com a camisa 23 do Chicago Bulls (detalhes podem ser lidos aqui).

O segredo para o sucesso de Jordan, porém, é praticamente impossível de ser replicado no esporte atual.

A maior parte do dinheiro arrecadado por ele vem da coleção “Air Jordan”, criada lá nos anos 80 pela Nike e que foi responsável por impulsionar a marca, o atleta e a própria NBA no mercado mundial. Quando foi lançado, em 1984, o tênis Air Jordan rapidamente se tornou o item mais cobiçado pelo consumidor americano. Afinal, ele era o símbolo da excelência no basquete. A Nike, sabiamente, apostou as fichas no seu maior ídolo no esporte, ao mesmo tempo que a NBA percebeu no camisa 23 do Bulls a chance para levar sua marca mundialmente. Jordan foi, para o basquete, o que Pelé havia sido para o futebol nos anos 50 e 60. Um ícone mundial.

A grande diferença é que o astro do basquete surgiu num momento em que a indústria do consumo vivia também o seu primeiro grande crescimento. A partir do momento em que ele representou a união de perfeição esportiva e comercial, passou a vender como nunca. Tanto que a Nike tentou replicar esse modelo para outros atletas a partir do sucesso de Jordan, mas não conseguiu. Afinal, o futebol já tinha uma indústria consolidada com Ronaldo, da mesma forma que Pete Sampras estava no tradicionalíssimo tênis. Nenhum deles representava um novo mercado a ser explorado como o basquete.

Aos 50, Jordan chega ao auge do faturamento publicitário em sua vida. Provavelmente o mito do Air Jordan continuará por muito mais tempo. E, dificilmente, teremos outro astro do esporte que gere tanto dinheiro assim na história.


A farra do bolsa-atleta
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Erich Beting

Na última semana o governo anunciou com a pompa de sempre a lista de atletas beneficiados com a bolsa de auxílio para que continuem a ser atletas e não precisem dividir seu tempo com outras atividades. Os “melhores momentos” do lançamento incluíram o recorde de atletas beneficiados (4.992 no total) e o valor total investido, que ultrapassa os R$ 72 milhões.

O problema, porém, é a farra que se tornou o programa.

Para começar, não deveria ser função do governo dar dinheiro para o esportista, mas sim dar condições de infraestrutura para que surjam novos atletas no país. A formação de talentos no esporte nacional carece muito mais da falta de lugar para a prática do esporte do que propriamente de recursos para quem já está em desenvolvimento profissional.

E aí entra o ponto estarrecedor da lista de quase 5 mil contemplados pelo auxílio. Ao todo, 287 desses atletas estão enquadrados na categoria de “atleta olímpico”. Ou seja, são esportistas que já disputaram os Jogos Olímpicos ou têm índice para tal. São atletas que já possuem alta performance e já alcançaram o topo da pirâmide dificílima de se escalar que é a do atleta profissional.

Em tese, esses esportistas não precisariam de incentivo do governo para ter um “salário”, para poder viver só do esporte. Mas dá para entender que algumas modalidades e atletas contemplados precisem, realmente, desse tipo de auxílio. Só que aí entra a questão do abuso para que sejam concedidos os benefícios.

A lista de contemplados do bolsa-atleta publicada no Diário Oficial (pode ser vista aqui) traz algumas aberrações, como os atletas do vôlei Bruninho, Sheilla, Murilo e Jacqueline, por exemplo. Ou então o tenista Thomaz Bellucci, o iatista Bruno Prada, a judoca medalhista de ouro em Londres, Sarah Menezes.

Num governo que se caracterizou, desde 2003, pela criação de programas de incentivo em dinheiro para melhorar a qualidade de vida das pessoas, era natural que se implementasse um sistema parecido com o esporte. Até aí, nada de errado em fazer isso. É o que se espera de quem está no cargo público, que é pensar no bem-estar das pessoas, independentemente de origem, classe social, etc. Mas é simplesmente inadmissível que atletas que possuem contratos de patrocínio pessoal, tenham salário de clubes e outras benesses também recebam o benefício.

Ou o Ministério do Esporte coloca um critério prévio para seleção de atletas que vai além da performance esportiva ou a farra só ajudará para aumentar o abismo que existe entre aqueles que já atingiram um grau de maturação dentro do esporte e aqueles que ainda sonham em ser um esportista.

Afinal, Bruninho e Bellucci ganharem dinheiro do governo para seguirem na profissão é tão bizarro quanto se Eike Batista e Abílio Diniz fossem enquadrados no programa bolsa-família…


As vaias sinceras do Brasil Open
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Erich Beting

Nunca uma edição do Brasil Open de tênis, disputado há 13 anos no país, teve tanto público quanto a deste ano de 2013. O motivo, mais do que óbvio, foi o tiro certeiro dado pela Koch Tavares, agência organizadora do torneio, de contratar o espanhol Rafael Nadal para disputar a competição.

O título de Nadal serviria para coroar aquele que tinha tudo para ser o torneio dos sonhos para a Koch. Ao trazer o espanhol, a empresa finalmente conseguiu algo que nunca havia sido possível nos outros anos do Brasil Open, que foi ter o ginásio lotado ou muito cheio em quase todos os dias do torneio. Para melhorar, sobraram patrocinadores, e a final teve transmissão ao vivo em TV aberta!

Só que, quando o sistema de som do ginásio do Ibirapuera anunciou a entrada de Luis Felipe Tavares, presidente e principal sócio da Koch Tavares em quadra para premiar Nadal, o que se ouviu ecoar pelo ginásio foram as vaias ao executivo. Menos, é verdade, do que aquelas desferidas a Aldo Rebelo, ministro do Esporte.

Mas ao contrário das vaias destinadas a Aldo, que tem muito mais a ver com a revolta aos políticos, aquelas dirigidas a Luis Felipe Tavares foram vaias sinceras, que refletem exatamente o princípio básico que a empresa que ele comanda esqueceu de fazer: tratar bem o consumidor.

Desde quinta-feira, quando Nadal estreou na chave de simples, o torcedor passou apuros para conseguir assistir às partidas que tinha o espanhol. Mais absurdo ainda foi o cenário da final, quando as pessoas tiveram de ficar em pé ou, então, sentada nas escadas para conseguir assistir ao jogo. Sim, é isso mesmo o que você leu e poderá ver em alguns cliques feitos pelo blogueiro durante o jogo em que Nadal conquistou o bicampeonato no Brasil Open.

Em pleno 2013, menos de dois meses após uma das maiores tragédias do país causadas pelo absoluto descaso dos donos de uma boate com superlotação, normas de segurança e afins, presenciamos um novo espetáculo bárbaro.

Simplesmente não havia marcação de lugares nos ingressos!

Talvez por conta da experiência no Brasil Open de 2012, que passou a ser disputado em São Paulo, mas sem um nome de peso como Nadal para levar o público ao ginásio, a Koch tenha desdenhado da presença do torcedor em tal número na edição deste ano. Só que isso não justifica a empresa não seguir um princípio básico na gestão de um evento, que é numerar os assentos e fazer o público sentar conforme o número indicado em seu ingresso.

Quando o nome de Luis Felipe Tavares foi anunciado, as vaias talvez tenham sido a melhor forma de o público mostrar para o promotor do Brasil Open que, apesar de ter sido muito bacana a presença de Rafael Nadal em quadra, nada será possível para amenizar o descaso feito com o torcedor. Mais do que as vaias, porém, melhor seria se os torcedores que pagaram R$ 300 para ter de assistir em pé a um jogo fossem à Justiça buscar a indenização devida por ter sido tratado como palhaço.

A Koch Tavares se orgulha de ter 40 anos de história e pioneirismo na organização de eventos esportivos no Brasil. O que foi feito no Brasil Open de 2013 tem de entrar para a história nas aulas de gestão de eventos. De como não se organiza um! Diante do cenário que foi a final para o torcedor, as reclamações dos atletas com a péssima qualidade do saibro ou das bolas utilizadas em quadra são, realmente, “fichinha”.

Abaixo algumas fotos que mostram o “poleiro” do Ibirapuera. Os corrimões amarelos são, teoricamente, as escadas de acesso e saída do público.


O pepino dos camarotes na Copa
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Erich Beting

O recado foi dado pela Fifa ainda em 2010, quando apresentou o planejamento financeiro para o próximo quadriênio, que envolvia a Copa do Mundo no Brasil, em 2014. A expectativa da entidade era aumentar em US$ 600 milhões o seu faturamento para o período 2011-2014. Com US$ 3,2 bilhões garantidos pelos contratos já existentes, a expectativa para aumentar os ganhos estava na Copa no Brasil.

O principal caminho para isso estaria em duas operações. A primeira era a venda de cotas de patrocínio locais para a Copa. A outra, na negociação dos camarotes para o Mundial. No ciclo 2007-2010, a área mais nobre dos estádios rendeu US$ 120 milhões aos cofres da Fifa. Para o período 2011-2014, a ideia era alcançar, pelo menos, US$ 100 milhões a mais.

Até agora, porém, o resultado está bem distante de ser aquele planejado. Como mostra reportagem de hoje do UOL (leia aqui), na Copa das Confederações há um encalhe de ingressos para os camarotes. Já para a Copa do Mundo, a procura é boa, mas o fechamento de negócios ainda está abaixo do plano.

O motivo pode ser a ganância de quem vende os espaços (um consórcio formado pelas agências Match e Traffic). Primeiramente não é possível fazer vendas de ingressos para apenas uma partida. Resguardados pelo mico nas vendas dos camarotes na Copa da África do Sul, quando a Fifa chegou a vender para pessoa física o espaço, Match e Traffic decidiram fazer a negociação só por meio de pacotes com mais de um estádio para o comprador. O resultado é o preço lá nas alturas pelo espaço.

E aí entra o ponto crucial dessa história. O mercado brasileiro começou com um entusiasmo gigantesco o ciclo da Copa, mas, passada a primeira metade desses quatro anos, a poeira baixou, as obras de melhoria, principalmente em infraestrutura, não saíram e, assim, a Copa do Mundo hoje é um ponto de interrogação para as companhias. Claro que ela acontecerá e será preciso ter um espaço no estádio para levar clientes e diretores graduados para ver as partidas. Mas a que preço?

A precificação dos camarotes é hoje o maior problema para que o plano comercial da Fifa seja bem-sucedido. Muitas empresas já investiram milhões para ter os ingressos vips. Mas a maior parte delas está acreditando que, com a corda no pescoço às vésperas das competições (no caso, as duas Copas, de 2013 e 2014), Match e Traffic vão baixar a pedida.

Até agora, os camarotes para 2014, que tinham tudo para ser um dos grandes negócios do Mundial no Brasil, revelam-se um dos maiores micos que o mercado corporativo tem para resolver.