Negócios do Esporte

Arquivo : abril 2013

O vídeo “final” da Olympikus no Flamengo
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Erich Beting

Mais cedo coloquei a carta escrita por Tullio Formicola Filho, ex-diretor de marketing da Vulcabras|azaleia, sobre o término do acordo da Olympikus com o Flamengo. Agora a fabricante divulgou o vídeo “Camisa Eterna”, celebrando a parceria com o clube carioca.

O fim da parceria é emblemático. Durante os quase quatro anos de relação entre empresa e clube, a ativação do patrocínio foi a tônica. E, em todo o momento, o que a Olympikus mais fez foi resgatar o orgulho do torcedor em ser flamenguista, com a mais espetacular ação o patrocínio à retransmissão da final do Mundial de Clubes de 1981, no aniversário de 30 anos da data.

Para a Adidas, que agora chega, a responsabilidade é manter o vínculo com o torcedor em alta. A levar em conta o vídeo de despedida feito pela DM9Sul para a Olympikus, o trabalho de ativação terá de ser muito bem feito…


Carta aberta a todos os flamenguistas*
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Erich Beting

Hoje se encerra um dos mais emblemáticos contratos de patrocínio da história do fornecimento de material esportivo do país. Flamengo e Olympikus encerram uma parceria que foi abreviada pela chegada da Adidas. A relação, porém, deixou alguns marcos importantes para o mercado brasileiro. E, para a minha feliz surpresa, recebi nesta madrugada uma carta daquele que foi o responsável por esse contrato ter existido. A íntegra você lê abaixo.

Carta aberta a todos os flamenguistas*

Por TULLIO FORMICOLA FILHO

Eu me lembro como se fosse hoje quando entrei na sala do Ricardo Hinrichsen, então vice-presidente de marketing do Flamengo, para um encontro na Gávea. Não nos conhecíamos e consegui agendar a reunião. Ele me perguntou, curto e grosso: “Em que posso ajudar?”, com a formalidade subindo pelas paredes.

“Eu vim aqui porque quero patrocinar o Flamengo com a marca Olympikus”, respondi na lata. O Ricardo quase caiu da cadeira de tanto rir. “Mas hoje temos a Nike, a maior empresa de material esportivo do mundo…”, argumentou. Rebati: “Tudo bem que você tem a Nike, mas precisa analisar a nossa proposta…”

Ricardo concordou em conhecer o projeto da Vulcabras|azaleia.

Um ano e meio depois dessa nossa conversa inicial, assumimos o Flamengo, com Olympikus, em 2009. Naquele mesmo ano ganhamos o Brasileirão, garantindo o Hexa. Passamos por várias gestões políticas, com pelo menos três presidentes, vários diretores, executivos, conselheiros e funcionários.

Fornecer material esportivo para uma instituição do tamanho do Flamengo foi um dos maiores desafios da minha vida. Tudo na Gávea é gigante, da logística para a fabricação e distribuição de camisas, até as ações de marketing. E quando aparecem problemas, eles também são na mesma proporção de grandeza.

Aliás, não poupamos esforços para estar sempre ao lado dessa torcida maravilhosa, tanto nos momentos ruins quanto nos bons. Participamos da criação do Maior Mosaico do Mundo, no Maracanã; ajudamos a construir o Museu Flamengo, fizemos vários lançamentos de dezenas de produtos oficiais da marca Olympikus, demos uma força para a contratação de jogadores e ainda criamos várias campanhas, entre elas a retransmissão original do jogo do Mundial pela Rádio Globo. Que flamenguista não se lembra daquela ação, criada para a Olympikus pela agência DM9Sul?

E a Arca do Tempo, no lançamento da pedra fundamental do Museu Flamengo, com a participação de torcedores ilustres, jornalistas, blogueiros… Ainda tem o livro “Sempre Flamengo”, uma homenagem aos jogadores que passaram pelo Fla e também a todos os colaboradores do clube, que tinham o nome eternizado nessa obra. Além de impresso, o livro também teve a versão para iPad na Apple Store.

O que não faltou foi energia para criar, organizar, patrocinar ou simplesmente apoiar várias ações que poderiam encher a torcida de mais sentimento de orgulho pelo Flamengo. Mas tudo só foi possível graças à uma equipe fantástica, extremamente competente, motivada e comprometida. Cito aqui alguns nomes de profissionais que também fizeram parte dessa história: Fernando Costa, Fabiano Vieira, Alexandre Capatto, Fabrício Umbelino, Marcus Souto, Gabriel Skinner, Robinho, Lula (não o ex-presidente), Edu Pesce e ao grande e genial Pedro Morgado (in memorian). Sempre tive o apoio de Pedro Grendene, presidente do conselho da Vulcabras|azaleia, para grandes realizações no Flamengo.

Também tive o privilégio de trabalhar com uma equipe fantástica de comunicação e PR, que é a Vipcomm Assessoria de Imprensa. O trabalho da agência, comandada por Ricardo Ribeiro e Cláudia David, permitiu colocar a marca Flamengo/Olympikus nos principais veículos de mídia do país diariamente.

Hoje não trabalho mais na Olympikus. Depois de 14 anos na Vulcabras, a dona da marca, assumi novos desafios profissionais. Mas faço parte dessa história de sucesso. Conquistei muitos amigos durante os anos que atendi o Flamengo: jogadores, funcionários, diretores, conselheiros, etc. Sem contar a imprensa e os blogueiros. Muitos têm o número do meu celular e me ligam até hoje, seja para bater papo ou simplesmente para perguntar a minha “opinião” sobre assuntos relacionados ao Flamengo… e também falamos até de assuntos mais pessoais, como as zonas de conflitos no Oriente Médio ou mesmo sobre o meu Palmeiras!

Mas como diz o título desse texto, não sou e nem quero ser “parceiro” do Flamengo e dos flamenguistas. A palavra “parceria” é muito pequena pelo tamanho do que isso significa. Qualquer “parceria” começa e acaba, como um patrocínio, mas eu prefiro usar a palavra “relacionamento”, que pode durar por uma vida toda.

Digo com orgulho que tive o privilégio de fazer parte de um ciclo muito bonito que se encerra!

Desejo muita sorte ao Flamengo, aos torcedores, ao presidente, diretoria, funcionários, conselheiros, colaboradores e todos aqueles que têm algum envolvimento com o “Maior do Mundo”. E também desejo que o novo fornecedor de material esportivo ame o clube como nós também aprendemos a amar. Afinal, o FLAMENGO merece!

Tullio Formicola Filho, 49 anos, é executivo de marketing e foi o responsável por levar a Olympikus para o Flamengo em 2009. Ele também foi responsável pelas ações de marketing junto ao clube e aos torcedores. Atualmente é presidente de uma companhia norte-americana para o Brasil e América Latina.


Vermelho da esperança
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Erich Beting

O Morumbi pintado de vermelho na classificação do São Paulo às semifinais do Paulistão Chevrolet deixou muito tricolor vermelho de raiva. Mas no blogueiro deu a sensação de que a cor é o vermelho, mais do que da raça, da esperança.

E agora, depois de já receber uns 300 comentários alusivos à minha querida mãe, vamos tentar explicar.

Sim, a camisa vermelha é meio “estranha”, dando a ideia de que foi realmente tingida sobre o tradicional uniforme branco do tricolor. Da mesma forma, pela televisão, o uniforme simplesmente “apaga” as marcas dos patrocinadores, que é importante destacar, aprovaram com antecedência o desenho da camisa.

Mas, caro leitor, vamos parar e pensar desde quando o São Paulo não fazia uma ação que causasse tamanha repercussão na mídia? Os primeiros 45 minutos do jogo contra o Penapolense foram sofríveis, e pelas redes sociais só se lia sobre o novo uniforme. Depois do jogo, também, muitos comentários eram sobre a camisa.

O lançamento do terceiro uniforme são-paulino é, também, emblemático. Ele coloca fim a um marasmo que teimava em existir no clube. O estatuto dos anos 30 não permitia ao São Paulo inovar em suas camisas. Com isso, as confecções dos uniformes são-paulinos praticamente não tinham grandes novidades. E isso traz um reflexo direto nas vendas. Sem inovação, o torcedor que tem a camisa dos anos 90 usa um uniforme muito similar àquele que tem a camisa atual.

É só reparar nas imagens que a televisão faz da arquibancada do Tricolor paulista que logo se percebe esse fenômeno. Pelos patrocinadores na camisa você percebe que os uniformes do São Paulo raramente são “reciclados”.

Ao fazer a camisa vermelha, o São Paulo cria, após quase 80 anos de história, uma camisa diferente, de jogo, para o seu torcedor. Isso rompe com a mesmice e, claro, impacta nas vendas. Os cálculos preliminares são de que, só com a venda do uniforme, cerca de R$ 2 milhões irão entrar diretamente nos cofres do clube, apenas com a participação nas vendas. O quanto isso não beneficia o time?

Isso sem falar no marketing que o próprio clube faz. O projeto do “Morumbi Vermelho” fez o São Paulo, pela primeira vez no ano, ir para um jogo decisivo sem tanta pressão na mídia. O foco de boa parte da cobertura foi sobre o vermelho que cobriria o estádio e o lançamento da nova camisa, “esquecendo-se” de debater os problemas dentro de campo que o clube eventualmente tivesse.

O vermelho da raça é muito mais o vermelho da esperança no Morumbi. O marketing do Tricolor voltou a existir, antes com um planejamento e, agora, com execução. O maior erro cometido por muitos clubes é deixar o marketing letárgico, quase sem atuação. O segredo é sempre criar novidades para a torcida.

O vermelho pode ainda estar longe do ideal. Mas o impacto por ele produzido neste domingo mostra quão certa foi a tacada do São Paulo ao acabar com uma estúpida tradição que teimava em atravancar bons negócios no Morumbi.


Por que a Geo desistiu do esporte?
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Erich Beting

A confirmação veio na noite desta sexta-feira, após algumas semanas de um certo zunido no mercado de que a Geo Eventos, empresa pertencente às Organizações Globo, havia encerrado suas atividades no esporte. Depois de quase três anos tentando emplacar como uma empresa organizadora de eventos esportivos, a Geo realmente abriu mão de trabalhar no segmento (saiba dos detalhes aqui).

Mas o que será que levou a empresa a não querer investir mais em esporte?

Organizadora, com extremo sucesso, do festival de música Lollapalooza no último mês, a Geo percebeu o óbvio: fazer dinheiro com esporte não é assim tão mágico como em outros segmentos. Sim, apesar das cifras milionárias que todos nós costumamos reproduzir aqui pela mídia, não é todo mundo que consegue fazer grandes quantias de dinheiro com o esporte.

Pelo contrário. É muito, mas muito difícil obter um retorno financeiro significativo. E a saída da Geo a dois meses da Copa das Confederações e a um ano da Copa do Mundo revela muito do quanto o mercado esportivo brasileiro não decolou na mesma proporção da expectativa das pessoas.

Curiosamente o mercado esportivo brasileiro comportou-se de forma contrária ao que seria o “natural” desde que o país foi eleito sede de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. A partir de 2008, começaram a pipocar notícias de que novas agências surgiam, de que grandes grupos de mídia estavam abrindo um braço esportivo, de que gigantes do exterior finalmente iniciavam operações no país tropical. Isso tudo, claro, antecipando-se aos megaeventos.

Só que o que vimos foi que as agências surgiram, só que a demanda de trabalho para elas não acompanhou esse ritmo. Tanto que a 9ine, que teoricamente é uma das que mais cresceu nesse movimento, vive hoje primordialmente de ser a agência de publicidade da Duracell. O segmento de atletas dá um trabalho significativo para uma receita comparativamente pequena, a área de gestão de marcas também apresenta pouco retorno e, o que é o maior problema de todas essas empresas, a elaboração de projetos tem encontrado extrema dificuldade em achar quem pague a conta.

O fechamento da Geo Esportes é mais um reflexo disso. Para que esperar 2014 ou 2016 se, atualmente, quando teoricamente o esporte estaria em evidência, é muito mais rentável para a agência trabalhar com o segmento de shows?

A resposta está exatamente nessa diferença do mercado. Hoje, a indústria dos shows no Brasil está muito mais consolidada. Mesmo com a falta de infraestrutura para a realização de grandes eventos, encontramos um meio de trazer os grandes nomes mundiais e ter consumidores para isso. É a profusão de Rock in Rio, Loolapalooza e shows de diversos nomes consagrados no gênero comprovando o ótimo momento desse mercado.

No outro lado, o esporte continua a ser um meio que tem pouco engajamento do público e, principalmente, do patrocinador. É mais fácil convencer uma empresa a pagar uma cota milionária para um festival de música do que para um evento esportivo. Os artistas, também, cobram muito menos para fazer um show do que um atleta para realizar uma performance. É essa a realidade do mercado brasileiro.

O crescimento da indústria esportiva passa, necessariamente, pela melhoria de infraestrutura para a realização de eventos e, também, pelo amadurecimento de quem cuida da gestão esportiva. Se isso não acontecer, o mercado continuará a ser para poucos, e as grandes empresas que se aventurarem no setor vão perceber que, no final das contas, o trabalho empenhado não compensa o lucro aparentemente pequeno.

A Geo deixou o esporte porque, por mais próximo que estejamos dos dois maiores eventos esportivos do mundo, trabalhar com o dia-a-dia esportivo no Brasil ainda é um negócio que não envolve grande lucratividade. Isso, para uma megaempresa, é desinteressante. O problema é que esse movimento poderá encorajar, agora, outras grandes agências a abandonarem também o segmento. E isso, para um caminho de profissionalização, pode ser muito prejudicial.


O retrato da Copa no Brasil
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Erich Beting

Amigos de Ronaldo x Amigos de Bebeto é o jogo que oficializa a abertura do Maracanã, cerca de dois meses antes de sua utilização oficial na Copa das Confederações, cerca de meio ano de atraso em relação ao prazo inicial determinado pela Fifa.

E reabre assim, numa pelada entre amigos. Amigos, aliás, que foram chamados às pressas para socorrer a imagem da Copa no Brasil. E que tentam, desde então, fazer tudo para que os erros cometidos pela organização do Mundial no país tentem ser revistos como algo que faz parte do jogo e que, claramente, tudo está sob pleno controle.

Não está. E isso é óbvio. Perdemos, ao longo dos últimos seis anos, a chance de executar uma Copa brilhante. Faremos uma excelente farra, bem ao estilo brasileiro de ser, mas deixaremos de ganhar muito mais como nação ao produzir um evento menos organizado do que ele poderia.

E a síntese disso é ver o principal estádio da Copa, palco da decisão e de uma história que se confunde com a própria história do futebol no país ser inaugurado com um jogo entre Amigos de Ronaldo x Amigos de Bebeto. É a síntese do descaso com o qual nós, como nação, tratamos a oportunidade de organizar uma Copa do Mundo.

Sim, o fato de esse ser o jogo de abertura do Maracanã sintetiza o despreparo que tivemos ao longo desses anos todos em projetar o futebol no país não apenas pensando na Copa, mas pensando na indústria do futebol.

Afinal, quanto dinheiro a mais entraria no futebol hoje se nós tivéssemos, a essa altura, com os novos estádios para o Mundial prontos? Quanto mais de gente colocaríamos nos estádios? Como o torcedor não conseguiria já curtir um clima de que o grande evento chegou vendo os estádios prontos e em pleno ritmo de funcionamento?

Infelizmente reduzimos o Mundial a um Amigos de Ronaldo x Amigos de Bebeto.

Já que é para avacalhar, bem que poderia ter sido um jogo inaugural com um Amigos de Pelé x Amigos de Romário.


A construção da marca para uma seleção
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Erich Beting

O texto pós-empate do Brasil com o Chile gerou algumas repercussões interessantes. Muita gente ainda acha que primeiro é preciso ter um time para só então procurar trabalhar a marca da seleção. Outros acham que o problema foi o Brasil ter começado a jogar só no exterior. Diria que essas duas coisas são reflexo da falta de trabalho para criar uma identidade que una o torcedor à seleção.

Hoje, do jeito que o time brasileiro foi “largado”, realmente a única forma de aproximar o torcedor seria ter uma equipe vitoriosa. Mas a história da seleção com o torcedor vai muito, mas muito além das vitórias, que o diga a derrota de 1982. E é essa identidade que foi perdida ao longo do tempo.

Da mesma forma, achar que o problema é jogar fora é não olhar para o vizinho, ignorando a Argentina tão “vendida” e “largada” pela Afa, mas que mesmo assim desperta um sentimento de unidade com o torcedor local. É uma coisa cultural, sem dúvida, mas não deixa de ser uma boa mostra de como é possível ter identificação sem precisar ter toda semana a seleção no quintal de casa.

E aí surge uma mostra vinda da Alemanha. Sim, a seleção alemã é fortíssima candidata a fazer excelente papel aqui em 2014. Tem dois times próximos de fazerem a primeira final germânica do futebol europeu na história. Mas tem um pequeno problema. O alemão teima em não se “encontrar” muitas vezes na “Mannschaft”, como é apelidado o time nacional. O problema, percebido informalmente e também por meio de pesquisas, é de que o alemão sente-se incomodado pelo fato de o país só ter formado um time forte a partir da naturalização de ganeses, turcos, poloneses e pessoas de outras nacionalidades que hoje compõem o país unificado pós-Guerra.

Pensando nesse problema, a DFB (o equivalente à CBF de lá) lançou uma campanha para o torcedor alemão. A seleção foi chamada de “Time da Integração”. Com direito a campanha na TV e tudo. É só conferir o vídeo, na dica enviada para mim por Edwin Nicolaas Asberg, brasileiro de origem holandesa e que hoje trabalha em Colônia, na Alemanha, numa agência de marketing esportivo.

Valeu pela ajuda, Edwin!


A CBF precisa criar uma marca para a seleção
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Erich Beting

Já falei isso por aqui tempos atrás, e mais uma vez isso fica evidente. É preciso, urgentemente, um trabalho para aproximar a marca da seleção brasileira do torcedor brasileiro. Não há qualquer vínculo que una o consumidor à equipe nacional.

Isso, quando a Copa do Mundo acontece além-mar, não é assim tão problemático. Chega o período do Mundial, a euforia da cobertura da mídia, o sentimento de “todos contra nós” e pronto, naturalmente o vínculo está criado.

Mas agora o buraco é mais embaixo.

A Copa é aqui, em meio a questionamentos sobre atraso de obras, ausência de legado, caos nas cidades reviradas para atender às exigências da Fifa, além, claro, da salgada conta que fica para a população. Junta-se a isso o episódio que vimos na noite de quarta-feira em Belo Horizonte. Um time sofrível, uma torcida impaciente e, o que era para ser um momento para unir torcedor e atleta se transforma em mais pressão sobre todos.

É preciso fazer um trabalho de resgate da marca da seleção brasileira. Isso passa, necessariamente, pela criação de um departamento de marketing dentro da CBF que se preocupe não apenas em fechar novos contratos de patrocínio, mas em fazer o torcedor relembrar o prazer de torcer pelo Brasil.

Só que, para isso, precisamos saber o que queremos como marca. O que o torcedor quer de uma seleção nacional? É torcer pelos espetáculos de 70 e 82 ou pela eficiência vitoriosa de 2002? As vaias ao time brasileiro mostram, sistematicamente, que o torcedor espera sempre mais da equipe.

Mas será que isso é só pelo que não fazemos dentro de campo?

Um dos maiores desafios que há hoje para a CBF não é apenas montar um time vitorioso dentro de campo, mas repensar a função da seleção para o torcedor. A forma como o negócio se desenvolveu no futebol tornou-o muito mais identificado com os clubes do que com as seleções nacionais.

A partir do momento em que falta um projeto para resgatar a união entre o brasileiro e a seleção, fica complicado depender apenas do desempenho dentro de campo para que o torcedor sinta-se empenhado a torcer pelo Brasil. E hoje essa é a única forma de relacionamento que a CBF permite existir entre o torcedor e a seleção.

A saída, além de Felipão achar um time, é a CBF encontrar uma marca que identifique a seleção para o brasileiro.


O mercado regula o valor do naming right
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Erich Beting

Qual o valor que tem o naming right de um estádio de futebol? A pergunta, até um mês atrás, era uma incógnita para o mercado brasileiro.

Hoje, já dá para se afirmar que o patrocínio a um estádio deve ter um valor médio entre R$ 7 e R$ 2o milhões ao ano, no máximo. Pelo menos tendo como base os dois acordos que foram anunciados neste mês de abril, está claro que é isso que o mercado aceita pagar.

Primeiro foi o negócio da Itaipava com a Fonte Nova, avaliado em R$ 10 milhões por ano durante dez anos (leia aqui). E agora o da Allianz com a WTorre para dar nome à Arena Palestra (detalhes neste link).

A Fonte Nova foi a primeira a balizar o mercado. Até então, havia sempre a dúvida de quanto valeria um estádio. Pelo que acontece no exterior, dificilmente os negócios ultrapassariam a cifra de US$ 8 milhões, tendo o Allianz Arena, que é o maior contrato do mundo do futebol, como base.

O fato é que o valor a ser pago segue duas regras. A primeira, o quanto ter a propriedade é importante para a empresa. A segunda, é o quanto as outras empresas interessadas têm desembolsado de grana para ter o patrocínio. E, nessa toada, será impossível ter alguém disposto a pagar mais do que os R$ 15 milhões de Allianz e Palmeiras e alguém receber muito menos do que os R$ 10 milhões de Fonte Nova e Itaipava.

Por mais que os dirigentes queiram contar vantagem sobre valores, desde sempre quem decide o quanto vale um patrocínio de naming right é, sem dúvida, quem paga essa conta.


O porquê de CBF e COB serem os mais ricos do mundo
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Erich Beting

Matéria de hoje do UOL mostra que o faturamento de CBF e COB atingiram níveis jamais vistos na indústria do esporte. Sim, os quase  R$ 400 milhões que a CBF recebeu em 2012, e os pouco mais de R$ 100 mi que o COB faturou somam recordes no mercado. Raramente confederações nacionais conseguem faturar tanto dinheiro assim.

Com os números apresentados, pode-se dizer que nenhuma confederação ganha tanto dinheiro no futebol quanto a CBF. E, em relação aos comitês olímpicos nacionais, possivelmente o COB está entre os cinco de maior arrecadação.

O resultado tem explicação que vai além da simples realização de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos por aqui. Logicamente que a proximidade dos dois eventos ajuda bastante. No caso da CBF, o grosso de investimento veio de 2008 para cá, quando o Brasil foi confirmado como sede do Mundial. No do COB, aumentou-se a arrecadação com novos patrocínios, mas o grosso da verba continua a vir das loterias.

O fato é que a indústria do esporte no Brasil, por ainda ser incipiente, permite que haja uma distribuição desigual da renda dentro do esporte. Em vez de o investimento das empresas ser mais pulverizado entre diferentes entes do esporte, ele se concentra em propriedades maiores e, por isso, mais caras.

A força da CBF é também um reflexo da fraqueza do restante do mercado esportivo no brasil. A monocultura futebolística faz com que os investimentos sejam mais concentrados na modalidade. Além disso, os altos valores cobrados pelos clubes faz, com o cenário da Copa, a seleção ser uma ótima propriedade a se investir. Entre gastar cerca de R$ 15 milhões ao ano por um único time ou ter a seleção por metade desse valor, é compreensível escolher a segunda opção. Sem rejeição de torcida, o investimento fica ainda mais lógico.

Já nos outros esportes, o COB criou, ao longo dos anos, diversos mecanismos legais para se tornar uma espécie de “pedágio”. À exceção do futebol, para um esporte ter verba, geralmente precisa do aval da entidade. A lei que entrega ao COB o direito de receber todo o dinheiro das loterias e definir a forma de repasse e até mesmo a formatação das competições olímpicas, privilegiando os comitês nacionais, reforçam o direcionamento do dinheiro para o COB.

E aí é que entra a questão da fraqueza da indústria do esporte no Brasil.

Hoje, por incrível que possa parecer, o artista é quem menos fatura. A fatia da verba das empresas que vai para os atletas é a menor entre tudo o que se investe no esporte no país. Em locais com a indústria mais desenvolvida, o atleta é uma ponta forte da indústria. Ele tem patrocínios pessoais, salários altos e fica com boa parte do bolo de investimentos. No Brasil, o atleta ainda se vê como o “coitado”, reclamando da falta de incentivo sem perceber que o dono do show é ele, e que tem de fazer jogo duro para faturar mais.

Com a ponta que deveria ser a forte enfraquecida, e com uma estrutura esportiva enraizada nas federações e clubes, o esporte direciona a verba para o topo da pirâmide. E isso gera uma distribuição desigual de receita. As entidades representativas de classe, que são a ponta final de toda a indústria, recebem os melhores patrocínios. Depois estão os clubes, também com uma distribuição desigual, com muita verba para poucos. E, por fim, estão os atletas, que raramente ganham mais do que o salário.

Em outros países, os atletas e os clubes acabam valorizando-se mais, fazendo com que a verba investida pelas empresas seja mais pulverizada. Por aqui, CBF e COB estão no topo da pirâmide de faturamento, e curiosamente são os entes esportivos que menos precisam de verba, já que teoricamente não precisam bancar a ponta mais cara do negócio, que é o atleta.

Enquanto a cadeia produtiva do esporte como um todo não se fortalecer, a verba continuará a ser distribuída de forma desigual. Essa mudança passa, necessariamente, pela criação de mais infraestrutura para a prática do esporte e, também, pelo aumento das competições e premiações de atletas.

O problema é que, do jeito que estão estruturados COB e CBF, achar um caminho para a mudança é extremamente difícil.


A Red Bull, sempre ela…
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Erich Beting

Invariavelmente comento aqui sobre as atitudes tomadas pela Red Bull para reforçar sua ligação com o esporte e, ao mesmo tempo, melhorar ainda mais a percepção da marca para o consumidor. E, mais uma vez, a empresa mostra que o estilo agressivo de agir acaba rendendo ótimos frutos.

A ação da vez foi gravar um vídeo em que lançou um desafio a seus pilotos Sebastian Vettel e Mark Weber. Obviamente antes de todo o arranca-rabo que eles tiveram na Fórmula 1, a proposta foi que eles “vestissem” o carro da equipe de F-1. Como se sabe, os carros são entregues “nus” à equipe, que então tem de colar cada adesivo dos patrocinadores nos respectivos lugares.

Ao forçar os dois pilotos a tentarem, de cabeça, remontar o carro, a Red Bull deu um tapa na sua própria marca e nos seus pilotos, mas criou uma ação viral que, com certeza, dá grande visibilidade aos patrocinadores. Coisas que só quem sabe claramente qual o DNA da empresa é capaz de poder construir.

O vídeo evidencia isso.