Negócios do Esporte

Arquivo : maio 2013

Roland Garros “antecipa” problema que Brasil terá
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Erich Beting

Um dos mais tradicionais torneios do circuito de tênis do mundo, Roland Garros vive hoje um dilema que futuramente deverá atingir o esporte no Brasil, a começar pelo futebol.

O Grand Slam francês chegou ao limite de crescimento. Para quem olha os corredores do complexo de quadras, o torneio parece um sucesso absoluto. Sem dúvida não deixa de ser. Mas, para quem está ali, caminhando pelas alamedas do complexo, a vida não é tão cômoda assim.

Há muitas opções para compras, especialmente de alimentação e produtos oficiais, mas mesmo assim é inevitável pegar filas relativamente longas por causa do amontoado de pessoas circulando ao mesmo tempo pelo espaço, ainda mais quando chove.

Já há alguns anos que a Federação Francesa de Tênis literalmente batalha pela reforma do complexo. O projeto, que prevê a ampliação do espaço e cobertura da quadra central, é sempre boicotado pela associação de moradores do bairro, que não quer ver destruído um jardim botânico para que essa ampliação seja feita.

Até mesmo os patrocinadores são prejudicados com essa falta de espaço. Os stands são pequenos e, em sua maioria, não podem oferecer grande opção de entretenimento. O maior espaço, batizado de RG Lab, fica no subsolo das quadras, tendo um movimento bem pequeno de pessoas.

Como os atletas querem cada vez mais dinheiro para disputar os torneios, Roland Garros está hoje num beco sem saída. Precisa aumentar receita, mas não consegue ampliar os ganhos de bilheteria (que com iluminação artificial nas quadras seria possível, por exemplo) e também tem chegado ao número máximo de patrocinadores disponíveis (este ano bateu o recorde com 22 parceiros comerciais).

Com a chegada de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos no Brasil, vamos aprender o quanto pode ser benéfico para a organização de um evento ter uma estrutura de primeiro nível para atender a todos que lá estão, do atleta ao público. E isso fará muita gente perceber que será preciso reformar estádios para conseguir sobreviver.

É a conclusão atual de Roland Garros. Ou a estrutura é ampliada, ou por mais tradicional e charmoso que o torneio seja, em breve ele terá dificuldades para se manter financeiramente.


A maior crise na Europa não é financeira!
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Erich Beting

Há quatro anos que o mercado não se cansa de falar em crise na Europa. Desde a quebradeira geral, primeiro dos Estados Unidos e depois do restante do mundo, que muitos países europeus não conseguem sair do buraco em que se enfiaram. Grécia, Espanha, Itália e Portugal encabeçam a lista das grandes potências que hoje patinam, patinam e parecem não sair do lugar. Pior ainda, cada dia mais surgem novos problemas, novos dramas e aparentemente nenhuma solução.

Mas o problema que boa parte dos países da zona do Euro enfrenta atualmente está muito além da origem econômica. Claramente a Europa vive hoje uma crise de identidade. E talvez um dos símbolos que evidencia isso, na atualidade, seja a relação de Paris com o esporte.

O reaparecimento do Paris Saint-Germain ao mapa da bola, reconduzido pelos petrodólares do Qatar, é a síntese do conflito que está por trás da crise econômica europeia. A alternativa do PSG foi se juntar aos ricos. Definhando, sem poder de compra perante os rivais, sobrou ao clube a alternativa mais simples. Vendeu para um bilionário o controle acionário e, como um novo rico, foi às compras, montou um bom time e agora caminha para alguns anos de soberania na França e duelo grande na Europa. Algo impensável há sete anos, mesmo com a abundância de grana no continente, o PSG hoje é uma potência. Mas só conseguiu isso graças à venda de sua “soberania”, por assim dizer.

A atitude do PSG não agradou a todos os torcedores. Há muitos deles que não se conformam com a venda do clube, tanto que parte das brigas que se seguiram nos festejos da conquista do título francês neste ano têm como motivo essa não-aceitação da venda do controle para os qataris. A força econômica do Qatar sobre o Paris e a França tem gerado diversas críticas ao novo modelo aceito pelo governo. Em troca de investimento, muitos bilionários do Oriente Médio têm feito a farra na Europa. Londres, que já tem um bairro “patrocinado” pela Emirates Airline, é a personificação dessa nova ordem geopolítica.

Enquanto trava o duelo contra a invasão estrangeira, os franceses também batalham contra a perda dos benefícios adquiridos. E a melhor tradução para isso está na venda dos direitos de exibição de Roland Garros em território francês (leia aqui).

A organização do Grand Slam francês já avisou que, no ano que vem, venderá a transmissão para a emissora que pagar mais caro, seja ela no sistema de TV aberta ou fechada. O anúncio, feito antes mesmo de começar a edição 2013 do torneio, foi um recado aos que reclamam do “capitalismo selvagem” dos gestores da competição. Em benefício próprio, a Federação Francesa de Tênis vai prejudicar a sociedade, tirando da TV aberta, gratuita, a transmissão do mais tradicional evento esportivo da capital francesa.

A lógica é a mesma que irrita a população, que não aceita que o governo tire dela os benefícios adquiridos no passado. Numa Europa que se acostumou a quase um século de governo garantidor de benesses, o fim do conceito de bem-estar social, ou pelo menos a sua readequação para uma realidade que caiba mais no bolso desses países, é quase uma afronta ao jeito europeu de pensar a vida.

No final das contas, a falta de dinheiro traz um sério problema, pois obriga os governos da Europa a repensarem o modelo que os consagrou e ditou suas preocupações pelo menos desde o término da Segunda Guerra, nos anos 40/50. O Estado tem de ser garantidor de diversos benefícios para a população, que por sua vez quer cada vez mais coisa sem ter dado relativamente nada em troca.

A atual geração por aqui não sabe o que é conceber a vida tendo de precisar ir atrás de benefícios do cotidiano. Seria, mal comparando, um brasileiro com carteira assinada não ter benefícios como vale-refeição, vale-transporte e seguro saúde. Por mais que seja argumentado a ele que retirar esses benefícios lhe dará a garantia de saúde financeira da empresa e consequentemente a manutenção do próprio emprego, ideologicamente ele não vai aceitar o fim dessa realidade.

A crise financeira na Europa poderia estar em estágio bem menos avançado não fosse também uma grave crise ideológica pela qual passam os moradores de boa parte do Velho Continente. E as situações de Paris Saint-Germain e Roland Garros evidenciam esse choque de valores pelo qual os europeus precisam passar.

Quando resolver que tipo de caminho querem seguir, pode apostar que os três: PSG, RG e a Europa mesmo, estarão rapidamente de volta a lugares de destaque.


Não é tão difícil assim
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Erich Beting

A Uefa deu um banho ontem na gestão da final da Liga dos Campeões da Europa. Principal jogo entre clubes do ano, a partida entre Bayern de Munique e Borussia Dortmund foi um show de organização e, especialmente, de respeito com todos aqueles envolvidos numa partida de futebol.

Torcedores, atletas, jornalistas, convidados, equipe de apoio. Todo mundo tinha seu espaço de atuação bem delimitado e, mais do que isso, tinham permissão para fazer aquilo que queriam, desde que não interferissem na liberdade do outro. Sim, é um princípio básico da vida humana, mas que desde que o quadrúpede virou bípede parece que não entendeu muito bem essa regra.

Uma das decisões mais simples tomada pela Uefa foi de segmentar o estádio em basicamente três diferentes espaços. Torcida Bayern, Torcida Dortmund e “Torcida Neutra”, por assim dizer. Funcionou de forma simples e eficiente, evitando qualquer confronto maior entre os torcedores de times de um mesmo país.

A foto abaixo resume bem a divisão do estádio. O texto mais detalhado pode ser lido aqui. E a certeza é a de que não é tão complicado assim fazer algo bem feito. Basta ser eficiente no planejamento e na execução. Algo que, invariavelmente, não sabemos fazer.

 

* Viagem a convite da Heineken


O projeto só dará certo com o David Lucca
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Erich Beting

E, um ano antes do previsto, anunciado e defendido, Neymar deixará o Santos para jogar pelo Barcelona. Há instantes o jogador ainda santista e futuramente do clube espanhol divulgou em seus perfis nas redes sociais que optou por jogar no atual campeão espanhol e tido como o grande clube de futebol desta década.

O projeto “Fica, Neymar”, só dará certo, talvez, com Neymar Neto. Com o Junior, até durou um ano mais do que o previsto.

O fato é que o fardo que Neymar já vinha aguentando em ser a estrela solitária do futebol brasileiro estava pesado demais. Mídia, torcida, clube e até patrocinadores pareciam forçar a barra para que o maior talento que surgiu nos últimos tempos em gramados brasileiros fosse jogar no exterior.

O bordão “vai ser bom para ele” resume, perfeitamente, o que virou o futebol no Brasil: um subproduto.

No mesmo sábado em que o mundo parou para assistir à decisão do campeão da Europa, era realmente de se admirar que nosso melhor jogador insistisse em continuar atuando nos gramados brasileiros tendo “apenas” os dois clubes mais poderosos do mundo numa disputa aberta por ele.

Talvez daqui a 20 anos, quando David Lucca estrear sob a pressão de ser o “novo Neymar”, poderemos achar que será mais interessante para o garoto manter sua história vinculada a um clube no Brasil e, claro, manter a carreira por aqui. Hoje, e pelo menos nos próximos dez anos, é impossível querer que um atleta de alto padrão continue a jogar no futebol brasileiro e sul-americano.

A saída de Neymar, da forma como foi, revelou o quanto o Brasil não está preparado para reter seus talentos. Não temos a menor condição de oferecer o mesmo projeto de carreira para o jogador daquilo que qualquer clube europeu minimamente estruturado é capaz de dar a seus atletas.

Neste sábado acompanhei a decisão da Liga dos Campeões da Europa no estádio de Wembley. A atmosfera que cerca a partida, bem como todo o respeito que há entre torcedores, atletas e árbitro mostram um mundo que está absolutamente distante da realidade do futebol na América do Sul.

O grau de excelência na gestão dos clubes e dos eventos interfere diretamente na escolha dos jogadores. É mais ou menos como perguntar a algum trabalhador se ele prefere continuar com um alto cargo numa empresa de atuação nacional e com dificuldade para manter-se no azul ou ir para uma multinacional extremamente bem organizada em que vai poder ser um dos líderes de uma equipe mundialmente reconhecida pela eficiência? É, não tem qualquer chance de a escolha ser outra.

A opção de Neymar pelo Barcelona é detalhe meramente pessoal. A escolha dele pela Europa é uma realidade do futebol sul-americano. Enquanto não mudarmos a forma de gerenciá-lo, seguiremos como exportador de matéria-prima de qualidade. E isso só acontece porque, até agora, não foram produzidos atletas tão fantasiosos quanto argentinos e brasileiros em outros lugares do mundo.

Por enquanto…

Quem sabe quando David Lucca for jogador profissional o futebol também esteja profissionalizado em terras sul-americanas.


No final, dá Bayern…
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Erich Beting

“O Campeonato Alemão é um torneio em que 20 times jogam para no final ganhar o Bayern de Munique”. A frase é uma piada, não tão engraçada assim, para resumir o que é a disputa do futebol na Alemanha. Um time é muito mais rico que os outros e, assim, consegue ser, ano sim, outro quase sempre, ser o campeão nacional.

Na primeira decisão alemã da história da Liga dos Campeões da Europa, o ditado mais uma vez valeu. Um gol aos 43 minutos do segundo tempo, marcado pelo holandês Robben, deu a taça para o Bayern, depois de um jogo muito parelho com o time do Borussia Dortmund. O confronto entre os dois principais times alemães da atualidade também marcou o duelo de dois estilos de gestão.

De um lado o abastado Bayern, megapoderoso dentro e fora de campo. Do outro, o eficiente Dortmund, que desde a quase falência no início do milênio, passou a investir na formação de talento e na racionalidade do controle dos gastos para ter sucesso.

O jogo marcou também a perfeita definição do que é a globalização, feita por meio de um sugestivo anúncio da empresa Evonik, patrocinadora do Dortmund, na edição deste sábado do jornal “Financial Times”.

“Globalização é quando o Borussia Dortmund tem de viajar até Londres para ganhar do Bayern de Munique”.

Até que o roteiro a ser seguido parecia que seria esse.

Sem Mario Goetze, seu maior astro já negociado com o time de Munique e que sentiu uma providencial lesão na coxa antes do jogo mais importante do ano, o Dortmund decidiu invadir o terreno rival na primeira etapa da partida.

A ausência de seu mais criativo jogador foi compensada por um ótimo trabalho de marcação no campo de ataque, liderado por Lewandovski, que não se perca pelo nome. O começo mais ofensivo do Dortmund desestruturou o esquema de jogo do Bayern, baseado especialmente na saída de bola dos dois volantes, Schweinsteiger e Martinez.

Aos 15, 18 e 21, o time amarelo só não fez o gol por incompetência de seus atacantes. O golpe triplo foi sentido pela torcida do Bayern. Colocada atrás do gol de Neuer, os bávaros reduziram seus cantos, e o “Paredão Amarelo” improvisado do outro lado do estádio começou a se sobressair.

Até que entrou o fator arbitragem em campo… De um jeito um tanto quanto inusitado.

Aos 24 minutos, quando Marco Reus iniciava um contragolpe após nova roubada de bola na saída do Bayern, o árbitro italiano Nicola Rizzoli mostrou-se o defensor mais eficiente do time de Munique.

Pego de surpresa com a velocidade do camisa 11 do Dortmund, ele não conseguiu saltar a bola colocada em velocidade em direção à entrada da área e parou com classe a jogada que deixaria Reus na cara do gol…

Thomas Muller recuperou a bola e iniciou o contragolpe. A jogada não resultou em gol, para sorte do italiano, mas colocou finalmente o Bayern no jogo.

Aos 25, cabeçada perigosíssima de Mandzukic que terminou em espetacular defesa de Weidenfeller, ainda no desdobramento do tropeção de Rizzoli. Pouco depois, nova oportunidade na bola alçada na área, nova intervenção do goleiro do Dortmund.

A primeira etapa ficou equilibrada a partir daí, com chances esporádicas brotando dos dois lados. Pelo menos até agora a força na marcação ofensiva do Dortmund foi o ponto alto do time amarelo. O Bayern, franco favorito, ficou acanhado como não se esperava, apesar de ter ficado quase 60% do tempo com a bola nos pés.

A volta do intervalo foi marcada pela alteração de estratégia. O até então sufocado Bayern passou a ser quem sufocava a bola na defesa adversária. Tanto que por pouco não marcou o gol logo nos minutos iniciais da segunda etapa.

Até que aos 15 minutos, após boa jogada de Robben pela esquerda, Mandzukic só teve o trabalho de empurrar a bola para um gol vazio. A partir daí, o torcedor bávaro no estádio de Wembley passou a cantar que a hora estava chegando. E de fato o tempo passava sem qualquer esboço de reação por parte do Dortmund, que bem marcado sentia a ausência de Goetze.

Mas uma lambança de Dante na marcação resultou em pênalti, convertido sem dificuldade por Gundogan. O empate fez o jogo pegar fogo. O Dortmund voltou a ser ofensivo, mas sem a mesma qualidade de marcação na defesa.

Tanto que Thomas Muller serviu Robben, mas em cima da linha Subotic fez o corte providencial para evitar o segundo do Bayern. Neuer, goleiro do Bayern, passou a ser espectador do jogo. E, lance após lance, Weidenfeller salvava a equipe do Borussia.

A partir dos 35 minutos, as torcidas pararam de incentivar seus times. Concentrados, os torcedores refletiam a tensão da partida. Qualquer grito era rapidamente dissipado. Até que, aos 43 minutos, num estouro da zaga, Ribery ganhou no corpo e serviu Robben, que numa velocidade impressionante deixou dois zagueiros para trás e só deslocou a bola para o fundo da rede.

O gol da redenção de Robben e do Bayern, e da desolação, mais uma, do Dortmund frente ao grande e abastado rival. O aplauso acalorado dos torcedores do Borussia aos jogadores derrotados fica como lição de quem nem sempre é possível vencer.

Ou de que, até mesmo quando a disputa vale a conquista da Europa, os times alemães se enfrentam para, no final, dar Bayern.

Haja chope nesta noite em Londres. Para celebrar e, também, afogar as mágoas!


O recado da Champions para o Brasil
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Erich Beting

Sábado é dia de decisão do campeão europeu de futebol. O inédito duelo entre Bayern de Munique e Borussia Dortmund vai marcar também a realização de diferentes ações de marketing dos patrocinadores da Liga dos Campeões da Europa. Algo absolutamente natural, não fosse por um mísero detalhe.

As ações serão realizadas no Brasil! A Adidas foi quem mais investiu na finalíssima da Champions. Fechou o estádio Ícaro de Castro Mello, no Ibirapuera, e organizou o maior fan fest fora da Europa para o torcedor acompanhar a disputa. A Heineken personalizou diversos bares para celebrar a grande decisão do futebol europeu.

A movimentação em torno do jogo não deixa de ser um recado da Champions para o Brasil. Hoje, o torneio que reúne os principais clubes da Europa está praticamente inserido no cotidiano do fã de futebol. Esperamos com ansiedade para ver os grandes jogadores do mundo em ação. E, com as atividades promocionais feitas pelos patrocinadores da Liga dos Campeões, aos poucos vamos nos acostumando a consumir muito mais o futebol europeu do que o brasileiro e sul-americano.

Com o Brasil assumindo um posto estratégico entre os mercados mundiais, naturalmente as marcas globais que apoiam a Liga vão fazer ações no país. Há três meses, a Heineken e a Uefa promoveram o tour da taça da competição no Rio de Janeiro. Agora, a Adidas monta um “parque de diversões” no dia da final.

Como produto, é indiscutível a qualidade da Liga dos Campeões. Mundialmente não se faz melhor torneio de futebol. Se o futebol no Brasil não se preocupar em tratar bem o torcedor, aos poucos o vínculo emocional que ainda mantém o consumidor próximo dos torneios brasileiros vai sendo desfeito. Não, nunca iremos deixar de ter o torcedor fanático pelos clubes do país. Mas, sem dúvida, perderemos consumo daquele que não tem tanta ligação com um clube específico.

A Champions dá um recado para o Brasil. Mas os clubes no Brasil teimam em achar que não é preciso fortalecer as competições, e sim os próprios clubes.


O esporte consagra a “segunda tela”
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Erich Beting

No mundo atual, o fenômeno da “segunda tela” é o equivalente ao boom da “interatividade” do começo dos anos 2000. Se, há cerca de 15 anos, as empresas se desdobravam para tentar ser o máximo de interativa possível em busca de uma nova forma de se relacionar com o consumidor, agora o grande objetivo é fazer com que a atenção da segunda tela do consumidor esteja voltada para ela.

“Segunda tela” nada mais é o hábito cada vez mais comum entre as pessoas de estarem “conectadas” ao telefone celular multifunção a maior parte do tempo. O famoso olho no peixe e outro no gato virou a realidade para uma boa parte das pessoas. A TV não deixou de ser o principal meio de consumo de mídia, mas junto a ela está agora o telefone, com discussões acaloradas nas redes virtuais dos grandes acontecimentos da vida “real”.

O que preconizamos lá em 2010 de o Twitter ser a “mesa-redonda” da Copa do Mundo é o que acontece atualmente durante a exibição da novela, do Big Brother ou, principalmente, de um evento esportivo. O esporte, aliás, consagrou o uso da segunda tela mundialmente. Invariavelmente, as empresas de pesquisa digitais mostram que os acontecimentos esportivos são aqueles que geram o maior número de discussões pelas redes sociais.

Provavelmente neste fim de semana teremos mais um recorde com a final da Liga dos Campeões da Europa. O duelo alemão deve ocupar grande parte dos debates entre europeus, brasileiros, asiáticos e demais povos espalhados pelo planeta. E nesse sentido, para variar, a Heineken dá sua contribuição para fortalecer a importância do campeonato que patrocina (leia aqui).

A cervejaria fechou acordo com o Twitter e promoverá uma ação chamada “replay instantâneo” dos principais lances do jogo entre Bayern de Munique e Borussia Dortmund. O acordo, que terá o Brasil como principal impulsionador da ação, reproduzirá os lances da partida numa disputa entre “dedos personalizados” das duas equipes. A ideia é reproduzir o comercial “Road to the Final” que a marca lançou para promover a decisão do torneio.

A principal aposta é a de que o torcedor vai querer acompanhar esses lances pela segunda tela. Depois de ver a jogada na vida real, sua reprodução no meio virtual e o consequente debate entre os amigos. Com certeza só o esporte conseguiria protagonizar esse tipo de relacionamento do consumidor com uma marca.

O esporte, definitivamente, vai ser o principal meio para consagrar a ligação das marcas com a “segunda tela” usada pelos consumidores. Haja trabalho das empresas digitais até 2014…


Casino diz não ter conhecimento para tocar Audax
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Erich Beting

O Grupo Casino entrou em contato com o Blog após a publicação do post de ontem, falando sobre a decisão da nova direção do Pão de Açúcar de vender a equipe do Audax, que em 2014 disputará as primeiras divisões dos Estaduais de Rio de Janeiro e São Paulo. Na conversa, a empresa afirmou que a decisão não tem qualquer relação com a disputa entre Abílio Diniz e Jean-Charles Naouri pelo controle do Grupo, mas foi tomada pelos novos gestores do Pão de Açúcar após perceberem que não têm qualquer conhecimento para tocar um negócio que significa a presença de dois times na elite dos dois maiores Estaduais do país.

De acordo com o Casino, o time do Audax não é mais um projeto social, mas um negócio que emprega 500 atletas cujo interesse não é ter uma atividade complementar aos estudos, mas sim desenvolver-se como um atleta profissional. A defesa de que o clube seria um projeto social foi feita por Abílio Diniz em seu blog para criticar a posição dos novos gestores do Pão de Açúcar.

Para o grupo francês, o desmantelamento do time não é algo que gera um desgaste de imagem para a empresa, uma vez que ele não representa o negócio dela, que é ser uma marca de varejo. Como a direção do Pão de Açúcar entendeu que não teria coragem de assumir a gestão do clube, preferiu colocá-lo à venda para evitar um problema maior.

A justificativa, é claro, tem total lógica. É custoso manter dois times de futebol profissional, assim como gerenciá-los e fazê-los serem superavitários não é tarefa simples. Seria realmente lógico aos novos gestores abandonarem o projeto não fosse por um detalhe.

A gestão do clube, desde o seu início, foi desvinculada do Pão de Açúcar. Logicamente o projeto tinha a supervisão de Diniz, mas sempre foi desenvolvida uma estrutura própria de gestão do time, que é presidido por Fernando Solleiro e possui gestores próprios do time. Claro que o Pão de Açúcar ainda investe dinheiro para manter a estrutura, mas a tendência, com o clube na elite de São Paulo e Rio, é de que passe a dar resultado financeiro em breve.

Ou seja, o negócio não é tocado pelos gestores do Pão de Açúcar, mas por uma equipe própria. Mas os argumentos para se desfazer desse negócio seguem uma ideia lógica. Que, como dito aqui ontem, poderia ser bandeira da empresa como o Bayer Leverkusen foi para a Bayer na Alemanha. Mas que, por um conflito de interesses entre o antigo e o novo controlador do Pão de Açúcar, tende a acabar.

O fim do Audax, porém, pode ser menos doloroso do que a morte, aparentemente lenta e gradual, dos programas de promoção à atividade física que eram marca do DNA do Pão de Açúcar. Oficialmente, não há um posicionamento nesse sentido, mas internamente as mudanças já começaram.


Casino vai matar o legado esportivo do Pão de Açúcar
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Erich Beting

A disputa pessoal entre Abílio Diniz e Jean-Charles Naouri vai destruir o legado esportivo produzido ao longo de 20 anos pelo Grupo Pão de Açúcar. A queda de braço entre o antigo e o atual “dono” do grupo terá como maior reflexo a falência dos princípios defendidos por Diniz e que foram o símbolo da recuperação e transformação da empresa na maior potência varejista do Brasil.

Pelo menos é isso que dá a entender o anúncio, feito pelo próprio Grupo Pão de Açúcar, de que procura um comprador para o Audax. O time foi criado a partir de um desejo pessoal de Abílio Diniz e neste ano chegou finalmente à Primeira Divisão dos Estaduais de Rio de Janeiro e São Paulo.

A venda do Audax é o ato mais midiático de um processo que a nova direção do Pão de Açúcar vem fazendo desde o final do ano passado no grupo. Há cerca de um mês, o clube dos funcionários teve suas atividades encerradas. Além disso, as atividades físicas propostas aos colaboradores foram também cortadas.

A inserção de conceitos de bem-estar e atividade física para os funcionários e colaboradores da Cia. Brasileira de Distribuição era um dos princípios de vida defendidos por Abílio Diniz dentro da empresa que reergueu em meados dos anos 90. Um exemplo claro disso foi a criação da Maratona Pão de Açúcar de Revezamento, que em 1993 criou o conceito de uma corrida de rua para as pessoas, quando nem se almejava a criação de um mercado de running no país. Hoje, mais de 30 mil pessoas participam das provas organizadas pela empresa.

Ao acabar com as benesses esportivas dos funcionários, o Pão de Açúcar sem dúvida reduz uma parte de investimento, mas por outro lado derruba um dos pilares que sustentou a empresa e que, sem dúvida, ajudou-a a ser alçada ao patamar de atrair o interesse do Grupo Casino para a sua compra.

Projeto pessoal de Abílio Diniz, o Audax ser colocado à venda é um ato emblemático dessa guerra declarada entre Diniz e Naouri. Afinal, diferentemente de atividades físicas subsidiadas para funcionários, o time de futebol pode ser uma excelente fonte de receita para o Grupo Pão de Açúcar. Ainda mais agora quando chega à elite do futebol paulista, que é a que melhor remunera seus clubes participantes.

Colocar à venda o time exatamente agora é uma atitude que parece ter como único propósito ferir Abílio Diniz. Mas ao acabar com a história esportiva do Grupo Pão de Açúcar, a nova direção da empresa trabalha contra a sua própria imagem. E, ainda, pode fazer um péssimo negócio.

O mercado brasileiro não tem a cultura de compra de times de futebol, o que faz com que o negócio não seja assim tão fácil de ser fechado. Da mesma forma, o clube de futebol pode ser extremamente rentável. Se o Casino precisa de um exemplo para isso, pode procurar executivos da Bayer, que contam o sucesso que obtiveram com o Bayer Leverkusen ao longo de mais de cem anos de história.

O Casino parece querer matar o legado esportivo do Pão de Açúcar. Para um país que sempre dependeu da visão benevolente de empresários para que sejam feitos investimentos maciços no esporte, essa notícia pode ser uma péssima previsão para o cenário pré-Olimpíadas.

E, para a imagem dos novos donos do Pão de Açúcar, a birra pessoal com Diniz pode se transformar num enorme tiro no pé…


Jovem vê esporte como melhor conteúdo
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Erich Beting

O grupo Publicis divulgou nesta terça-feira, na Europa, uma pesquisa feita com dois mil estudantes de marketing feita nos meses de março e abril. Entre algumas conclusões um tanto quanto óbvias, como a absorção das agências de marketing digital pelas estratégias de marketing das empresas num futuro de até dez anos, um detalhe chama a atenção.

Na escolha das três melhores campanhas de marketing do ano, o esporte dominou a eleição. A melhor ação de 2012, na opinião dos jovens, como não poderia deixar de ser, foi a aventura promovida pela Red Bull denominada de projeto Stratos, com o salto supersônico de Felix Baumgartner, primeiro homem a saltar da estratosfera em direção à Terra.

A segunda escolha foi a campanha “My Time is Now”, feita pela Nike para promover a nova geração de atletas-ícones da marca e que tem o brasileiro Neymar como um dos protagonistas.

Em terceiro lugar, a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres foi considerada a melhor ação de marketing.

O resultado mostra que o jovem tem no esporte, atualmente, uma de suas mais impactantes plataformas de conteúdo. Numa era em que o meio é cada vez mais irrelevante, já que é possível consumir a informação das mais diferentes formas, o conteúdo é que se torna o grande diferencial para as marcas.

Quando o esporte é inserido em duas das três ações mais impactantes do mundo para os jovens, fica claro como ele precisa, por uma questão de sobrevivência, se ver e, mais importante, se vender, como conteúdo.