Negócios do Esporte

Beckham: o cara certo no momento perfeito

Erich Beting

David Beckham parece que, enfim, vai se aposentar. Após mais um casamento-relâmpago com um clube de futebol da Europa, dessa vez em solo parisiense, o astro inglês, que revolucionou o futebol como negócio para os atletas, pendurará as chuteiras.

O fim da era Beckham deixa também uma lacuna aberta no universo do futebol. Quem será o novo chuteira-propaganda do mundo da bola?

Uma coisa é certa. Dificilmente alguém terá o potencial de alcance de David Beckham. Para o marketing esportivo no futebol, o inglês teve a importância de Pelé na propagação mundial do futebol. Assim como o ''Rei'' encantou as pessoas para o esporte em todos os cantos do planeta, Beckham levou a força comercial atrelada ao ídolo para todo lugar. O sucesso em terras americanas do inglês, aliás, é reflexo direto do trabalho desbravador do brasileiro, lá no fim dos anos 70.

Se Pelé foi o primeiro rosto mundial do futebol como esporte, Beckham o foi como negócio. E, tal qual o eterno camisa 10, será muito difícil alguém repetir os feitos do inglês.

Beckham foi o cara certo na hora perfeita. Ele foi o rosto que simbolizou a revolução no futebol inglês. E tudo isso só foi possível graças ao fato de ele pertencer ao Manchester United, o primeiro clube que se enxergou como plataforma de negócios no futebol, ainda na primeira metade dos anos 90.

O Manchester passou a trabalhar com a mentalidade de formação e culto do ídolo. Isso foi adicionado a um projeto de expansão global do clube e, também, da liga inglesa e da Liga dos Campeões da Uefa. Tudo ao mesmo tempo, Beckham virou naturalmente o maior representante desse jeito comercial de também se pensar o futebol.

Era o momento perfeito para surgir um bom jogador que levasse adiante esse projeto. E aí surgiu Beckham. Além de bom de bola, um cara carismático e com penetração em todos os públicos. Do infantil ao feminino, passando pelo masculino fã de atleta vencedor.

Durante quase 20 anos, Beckham foi o centro das atenções no futebol. E, para melhorar, depois de Manchester o inglês foi emprestar seu rosto e seu calibradíssimo pé para o galáctico Real Madrid. Mais uma vez, o cara certo no momento perfeito.

Depois da passagem por Madri, Beckham se tornou o ''desbravador de mercados''.

Primeiro no conto de fadas de Hollywood, em que colocou o ''soccer'' no cotidiano da mídia americana ao desembarcar no Los Angeles Galaxy. Esportivamente a passagem por Los Angeles não foi tão bem sucedida, mas é inegável o frenesi na mídia que ele causou, chegando até a estrelar comercial da NFL, a liga do ''futebol'' de lá. Tudo isso ajudou a promover o cada vez maior ''soccer'' nas terras americanas.

Depois, Beckham foi emprestar o talento fora de campo para alavancar finanças e imagem de clubes na Europa. Tradicionais ou emergentes, eles passaram a enxergar no inglês uma mina de ouro, mais do que de talento dentro de campo. Status que foi sintetizado por Adriano Galliani, vice-presidente do Milan, ao justificar a contratação do atleta em 2008: ''A chegada de Beckham vai compensar a nossa saída precoce da Liga dos Campeões''. Ou, agora, quando o PSG usou a credibilidade do inglês para se mostrar ao mercado da bola como o ''novo rico'' do pedaço.

Além disso, Beckham pareceu ter sempre um dom extra de fazer as escolhas certas para alavancar seu alcance midiático. Foi assim quando estava no auge técnico e surgiu num Manchester renovado e campeão. Depois, quando foi para o galáctico Real Madrid dar o empurrão que faltava para o clube ser objeto de desejo em todo mundo. Daí para o sonho americano no melhor momento para a propagação do ''soccer''. E, por fim, para promover clubes pelo mundo, como fez com Milan e PSG.

Dificilmente o futebol terá um novo Beckham, assim como não teve um novo Pelé. Um jogador que seja unanimidade fora de campo e um bolão dentro dele é coisa rara de se encontrar. Messi é um gênio com a bola nos pés, mas um gato acanhado fora de campo. Cristiano Ronaldo tem o talento de Beckham fora de campo, mas foi ofuscado dentro dele por Messi. Neymar ainda precisa passar pela prova de fogo com a bola para mostrar ter o mesmo potencial de alcance mundial do inglês.

Com Beckham os clubes perceberam a importância de trabalhar a imagem dos ídolos. E os atletas perceberam a importância de se preocupar com a sua imagem. Uma era acabou. Mas, assim como quando Pelé parou, o legado que Beckham deixa para o futebol é imenso. Especialmente para os negócios.

Beckham foi o cara certo nos momentos perfeitos. E isso, em termos comerciais e de imagem, faz toda a diferença.