Negócios do Esporte

Casino vai matar o legado esportivo do Pão de Açúcar

Erich Beting

A disputa pessoal entre Abílio Diniz e Jean-Charles Naouri vai destruir o legado esportivo produzido ao longo de 20 anos pelo Grupo Pão de Açúcar. A queda de braço entre o antigo e o atual ''dono'' do grupo terá como maior reflexo a falência dos princípios defendidos por Diniz e que foram o símbolo da recuperação e transformação da empresa na maior potência varejista do Brasil.

Pelo menos é isso que dá a entender o anúncio, feito pelo próprio Grupo Pão de Açúcar, de que procura um comprador para o Audax. O time foi criado a partir de um desejo pessoal de Abílio Diniz e neste ano chegou finalmente à Primeira Divisão dos Estaduais de Rio de Janeiro e São Paulo.

A venda do Audax é o ato mais midiático de um processo que a nova direção do Pão de Açúcar vem fazendo desde o final do ano passado no grupo. Há cerca de um mês, o clube dos funcionários teve suas atividades encerradas. Além disso, as atividades físicas propostas aos colaboradores foram também cortadas.

A inserção de conceitos de bem-estar e atividade física para os funcionários e colaboradores da Cia. Brasileira de Distribuição era um dos princípios de vida defendidos por Abílio Diniz dentro da empresa que reergueu em meados dos anos 90. Um exemplo claro disso foi a criação da Maratona Pão de Açúcar de Revezamento, que em 1993 criou o conceito de uma corrida de rua para as pessoas, quando nem se almejava a criação de um mercado de running no país. Hoje, mais de 30 mil pessoas participam das provas organizadas pela empresa.

Ao acabar com as benesses esportivas dos funcionários, o Pão de Açúcar sem dúvida reduz uma parte de investimento, mas por outro lado derruba um dos pilares que sustentou a empresa e que, sem dúvida, ajudou-a a ser alçada ao patamar de atrair o interesse do Grupo Casino para a sua compra.

Projeto pessoal de Abílio Diniz, o Audax ser colocado à venda é um ato emblemático dessa guerra declarada entre Diniz e Naouri. Afinal, diferentemente de atividades físicas subsidiadas para funcionários, o time de futebol pode ser uma excelente fonte de receita para o Grupo Pão de Açúcar. Ainda mais agora quando chega à elite do futebol paulista, que é a que melhor remunera seus clubes participantes.

Colocar à venda o time exatamente agora é uma atitude que parece ter como único propósito ferir Abílio Diniz. Mas ao acabar com a história esportiva do Grupo Pão de Açúcar, a nova direção da empresa trabalha contra a sua própria imagem. E, ainda, pode fazer um péssimo negócio.

O mercado brasileiro não tem a cultura de compra de times de futebol, o que faz com que o negócio não seja assim tão fácil de ser fechado. Da mesma forma, o clube de futebol pode ser extremamente rentável. Se o Casino precisa de um exemplo para isso, pode procurar executivos da Bayer, que contam o sucesso que obtiveram com o Bayer Leverkusen ao longo de mais de cem anos de história.

O Casino parece querer matar o legado esportivo do Pão de Açúcar. Para um país que sempre dependeu da visão benevolente de empresários para que sejam feitos investimentos maciços no esporte, essa notícia pode ser uma péssima previsão para o cenário pré-Olimpíadas.

E, para a imagem dos novos donos do Pão de Açúcar, a birra pessoal com Diniz pode se transformar num enorme tiro no pé…