Negócios do Esporte

O projeto só dará certo com o David Lucca

Erich Beting

E, um ano antes do previsto, anunciado e defendido, Neymar deixará o Santos para jogar pelo Barcelona. Há instantes o jogador ainda santista e futuramente do clube espanhol divulgou em seus perfis nas redes sociais que optou por jogar no atual campeão espanhol e tido como o grande clube de futebol desta década.

O projeto ''Fica, Neymar'', só dará certo, talvez, com Neymar Neto. Com o Junior, até durou um ano mais do que o previsto.

O fato é que o fardo que Neymar já vinha aguentando em ser a estrela solitária do futebol brasileiro estava pesado demais. Mídia, torcida, clube e até patrocinadores pareciam forçar a barra para que o maior talento que surgiu nos últimos tempos em gramados brasileiros fosse jogar no exterior.

O bordão ''vai ser bom para ele'' resume, perfeitamente, o que virou o futebol no Brasil: um subproduto.

No mesmo sábado em que o mundo parou para assistir à decisão do campeão da Europa, era realmente de se admirar que nosso melhor jogador insistisse em continuar atuando nos gramados brasileiros tendo ''apenas'' os dois clubes mais poderosos do mundo numa disputa aberta por ele.

Talvez daqui a 20 anos, quando David Lucca estrear sob a pressão de ser o ''novo Neymar'', poderemos achar que será mais interessante para o garoto manter sua história vinculada a um clube no Brasil e, claro, manter a carreira por aqui. Hoje, e pelo menos nos próximos dez anos, é impossível querer que um atleta de alto padrão continue a jogar no futebol brasileiro e sul-americano.

A saída de Neymar, da forma como foi, revelou o quanto o Brasil não está preparado para reter seus talentos. Não temos a menor condição de oferecer o mesmo projeto de carreira para o jogador daquilo que qualquer clube europeu minimamente estruturado é capaz de dar a seus atletas.

Neste sábado acompanhei a decisão da Liga dos Campeões da Europa no estádio de Wembley. A atmosfera que cerca a partida, bem como todo o respeito que há entre torcedores, atletas e árbitro mostram um mundo que está absolutamente distante da realidade do futebol na América do Sul.

O grau de excelência na gestão dos clubes e dos eventos interfere diretamente na escolha dos jogadores. É mais ou menos como perguntar a algum trabalhador se ele prefere continuar com um alto cargo numa empresa de atuação nacional e com dificuldade para manter-se no azul ou ir para uma multinacional extremamente bem organizada em que vai poder ser um dos líderes de uma equipe mundialmente reconhecida pela eficiência? É, não tem qualquer chance de a escolha ser outra.

A opção de Neymar pelo Barcelona é detalhe meramente pessoal. A escolha dele pela Europa é uma realidade do futebol sul-americano. Enquanto não mudarmos a forma de gerenciá-lo, seguiremos como exportador de matéria-prima de qualidade. E isso só acontece porque, até agora, não foram produzidos atletas tão fantasiosos quanto argentinos e brasileiros em outros lugares do mundo.

Por enquanto…

Quem sabe quando David Lucca for jogador profissional o futebol também esteja profissionalizado em terras sul-americanas.