Negócios do Esporte

Arquivo : julho 2013

Torcedor vândalo é proibido de entrar na Itaipava Fonte Nova
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Erich Beting

A Fonte Nova Negócios e Participações, que gerencia a Itaipava Arena Fonte Nova, acaba de confirmar que identificou e puniu um torcedor do Bahia que destruiu uma cadeira no novo estádio baiano. O torcedor, que faz parte da torcida organizada Bamor, está proibido de entrar no estádio nas próximas duas partidas do Bahia, contra Flamengo e Grêmio, e terá de pagar pela reposição da cadeira.

A FNP usou o sistema de monitoramento do estádio e publicou o vídeo mostrando o torcedor pulando em cima da cadeira durante o jogo do último domingo, contra o Goiás. O torcedor, que foi interpelado sem sucesso ainda durante a partida por seguranças da arena, acabou sendo punido e está proibido de ir ao estádio. Durante os jogos, aliás, ele terá de ficar na sede do Bamor, que será responsável por garantir que o torcedor não vá à Itaipava Arena Fonte Nova.

“A FNP vem a público informar que não vai tolerar a violência e o vandalismo na arena, a fim de defender a segurança e integridade dos torcedores e de suas famílias que entendem que este é um local de lazer e diversão. As mais de 200 câmeras de segurança do local estão registrando os atos e as punições serão aplicadas com rigor”, afirmou a empresa em comunicado.

A decisão, inédita no país, é um alento para a mudança de comportamento do torcedor nos estádios de futebol. Não é preciso subir na cadeira para torcer, assim como é possível pular no estádio mesmo com a cadeira presente. Na Itaipava Arena Fonte Nova, aliás, o assento é reclinável, o que permite ao torcedor ficar em pé durante o jogo. A medida ganha ainda mais força por ter sido tomada em conjunto com a Bamor e com o Batalhão Especial Para Eventos da Polícia Militar (BEPE).

O caso é um sinal de que é preciso atuar com rigor para educar o torcedor a ter um comportamento mais digno dentro dos estádios. Não é cerceando a liberdade de expressar, mas fazendo-o entender, na base da punição, que não “vale tudo” quando se está no estádio.

A solução tomada na Bahia, aliás, deveria servir de exemplo para a Brigada Militar de Porto Alegre, que teve a estúpida decisão de fazer o Gre-Nal na Arena do Grêmio como jogo de torcida única. A violência só será coibida com punição ao infrator.

Impedir um torcedor de ir a uma partida por não ser seguro atesta apenas a ineficiência da polícia em garantir ao cidadão o princípio de sua existência…


O que a Fifa pode ensinar na questão dos ingressos
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Erich Beting

Na última sexta-feira a Fifa anunciou o preço dos ingressos para os 64 jogos da Copa do Mundo. Nenhuma grande novidade foi apresentada pela entidade, que manteve a divisão básica dos bilhetes: 33% para o público final, 33% para os patrocinadores e outros 33% divididos em diversas categorias.

O interessante foi ver, na entrevista concedida pelo diretor de marketing da Fifa, Thierry Weil, após o anúncio, que diversas perguntas giraram em torno da dinâmica de venda dos bilhetes. Isso é bastante natural, uma vez que as reportagens sobre comercialização de ingressos são sempre vistas como prestação de serviço ao consumidor, e empresa de mídia nenhuma quer passar informação errada para quem lê, assiste ou ouve seu veículo.

Mas passou quase que desapercebida a questão do negócio em si. Afinal, quanto pode ser o faturamento com a venda de entradas para uma Copa do Mundo? E, nesse sentido, uma resposta provocativa foi dada por Weil durante o evento para a imprensa foi elucidativa:

“Em toda história, em apenas duas Copas do Mundo concedemos descontos no preço total do ingresso. Uma foi na primeira Copa do Mundo aqui no Brasil e a outra é agora. Tenho a dizer que o governo do Brasil é duro na negociação”, afirmou o executivo.

A brincadeira não deixa de ser uma forma de a Fifa reclamar sobre o modo de consumo do entretenimento no Brasil. Somos o único país do mundo que concede benefícios às pessoas para que elas consumam atividades de lazer. A partir de um conceito bacana, que foi a criação do benefício de meia-entrada para que alguns setores da população tivessem mais acesso a eventos culturais, criamos um monstro quando se trata da organização de eventos de entretenimento pelo país.

Em diversos países, o benefício da meia-entrada é concedido para o consumo de atividades culturais, como ir a um museu, exposição de arte ou algo do gênero. Foi dentro desse contexto que, no passado, surgiu a lei da meia-entrada também para estudantes.

Só que, por aqui, deturpamos esse conceito e estendemos o benefício para o consumo de qualquer atividade de lazer. O que era para ser uma forma de incentivo à cultura passou a ser uma forma de reduzir o custo para que alguns setores da sociedade consumam atividades que não são necessariamente culturais.

Pior ainda.

Ao colocarmos no mesmo balaio da cultura atividades como teatro, cinema, shows e eventos esportivos, contribuímos sensivelmente para o encarecimento de toda a indústria do entretenimento no país. Sim, não deixam de ser atividades de valorização da cultura, mas antes de mais nada todos esses segmentos listados são antes disso atividades para o lazer e entretenimento das pessoas.

Isso faz com que um promotor de eventos tenha de encarecer o preço cobrado em seu ingresso por não saber quantos bilhetes serão vendidos a preço cheio e quantos terão o valor pela metade.

A Copa do Mundo com o ingresso mais barato da história, como marqueteiramente soube se apropriar a Fifa, só é possível por uma legislação que tenta ser benéfica ao consumidor, mas ao privilegiar uma parcela, acaba se tornando lesiva à maioria deles.

A espetada que Thierry Weil deu no Brasil foi muito mais precisa e qualificada do que o “chute no traseiro” grosseiramente proferido por Jérôme Valcke tempos atrás. A Fifa pode nos dar o empurrão que faltava (apenas para ser mais político) para que nós repensemos a “lei da meia-entrada” para os eventos de entretenimento.

Afinal, em vez de garantir teoricamente metade do valor para apenas uma parcela da população, muito mais lógico, até mesmo para o promotor do evento, seria se todas as pessoas pudessem pagar a entrada inteira pelo valor atual da meia.

Até logo, São Paulo!
Sim, você foi enganado por uma manchete mentirosa. Não tenho mais nada a acrescentar sobre a baderna que se instalou no Tricolor paulista. A frase é só para avisar que o blogueiro vai fugir do frio que finalmente chegou a São Paulo e entrar uma semana em férias. Dia 1º de agosto voltamos às atualizações corriqueiras. Afinal, descansar é preciso!


Ibope indica fórmula batida do futebol na TV
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Erich Beting

Ainda não dá para dizer se é algo que será corriqueiro ou é apenas circunstancial por conta do período de férias. Mas começa a ficar preocupante o baixo índice de audiência do Campeonato Brasileiro na TV. No último domingo, o empate entre Atlético Paranaense e Corinthians rendeu 20 pontos na medição do Ibope, somando-se as audiências  de Globo e Band (15 e 5, respectivamente).

Vários fatores contribuem para um resultado baixo. O domingo ensolarado em boa parte de São Paulo e as férias escolares são motivos importantes para terem afastado o torcedor da telinha. Soma-se a isso um torcedor corintiano até certo ponto acomodado pelo bom desempenho do time em outros campeonatos e é natural que o Ibope não decole.

Mas os baixos índices de audiência também podem mostrar que nem tudo anda tão bem no atual relacionamento do torcedor com o futebol na TV. Neste ano, apenas os jogos decisivos cravaram bons índices na telinha. A “culpa”, como muita gente gosta de colocar, não é apenas da fórmula da competição por pontos corridos. Estaduais, Copa Bridgestone Libertadores e Copa Perdigão do Brasil também mostram que o buraco pode estar mais embaixo.

O sentimento é de que a fórmula atual promoção do futebol brasileiro na TV está saturada. Desde que fechou o acordo com os clubes no formato de contratos individuais, a Globo dá claros privilégios para as transmissões de Flamengo e Corinthians na TV aberta. Com isso, os eventos que são transmitidos deixam de ser “raros”. Hoje é muito comum para o torcedor corintiano ou flamenguista ligar a telinha e ver os atletas de seus times em campo.

Essa bipolarização da TV gera, no médio e longo prazo, uma perda de interesse por parte do torcedor. Não só por aquele que não torce para os times “favorecidos”, mas também os próprios flamenguistas e corintianos começam a priorizar jogos e a abandonar aquelas transmissões de partidas que poderiam ser consideradas menos interessantes.

Um dos grandes segredos da promoção de eventos para a televisão em outros mercados está exatamente em criar grandes histórias a cada evento. O melhor exemplo, como quase tudo que envolve hoje o esporte, vem do UFC. Cada luta é acompanhada sempre por uma grande “história”, que promove o evento.

Com os mesmos artistas a cada transmissão, como achar que o futebol não vá começar a virar “paisagem” dentro da cabeça do telespectador?

É urgente a revisão do modelo criado para a promoção do futebol na TV no Brasil. Do jeito que está, em breve os índices só estarão em alta quando for final de campeonato.


A sábia decisão do Flamengo sobre o uso do Maracanã
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Erich Beting

O Flamengo bateu o pé e não aceitou o acordo oferecido pelos gestores do Maracanã para usar o estádio pelos próximos 35 anos. Mesmo que não saibamos os detalhes que estavam envolvidos no negócio, o fato é que o clube tomou uma atitude rara no futebol, que foi a de pensar no cenário de médio e longo prazo antes de tomar uma decisão imediatista.

Uma das coisas que mais vai mudar no mercado do futebol brasileiro nos próximos anos é o comportamento do torcedor e sua relação com o estádio. As novas instalações esportivas vão certamente incentivar o público a ser mais exigente quando vai a um evento. Da mesma forma, a melhoria nos serviços oferecidos aos consumidores vai proporcionar um aumento de receita e até mesmo uma alteração no tipo de torcedor que vai a um estádio.

Prova disso é que as partidas realizadas em novos estádios já neste Brasileirão levam em média mais gente aos jogos e são as que possuem a melhor bilheteria. Mas por quanto tempo esse cenário permanecerá assim? E como será o comportamento do torcedor pelos próximos anos?

Essas são algumas das questões fundamentais que precisam ser respondidas em breve pelo futebol no Brasil. E, para saber as respostas, somente descobrindo na prática. Outro ponto que é fundamental dentro da recusa flamenguista por um acordo de longo prazo com o Maracanã é o veto ao clube em obter parte da receita com a comercialização de camarotes no estádio.

Projetadas no “Padrão Fifa”, essas arenas são concebidas para terem, nos espaços de luxo, sua maior fonte de receita. Geralmente a proporção é a seguinte: para 15% de assentos no estádio, as áreas Vips reservam cerca de 60% da receita com bilheteria. Sendo assim, para o clube é um péssimo negócio abrir mão dessa fatia tão importante na geração de receita.

Com certeza o Fluminense verá, com o pacote fechado no Maracanã, a maior receita de sua história com a bilheteria. Mas será que isso é motivo para um acordo de 35 anos com o Consórcio Gestor do estádio?

Assim como aconteceu na Europa nas duas últimas décadas, a relação dos clubes com seus estádios deve mudar radicalmente no Brasil. A receita com bilheteria passará a ser parte muito importante do total arrecadado pelas equipes. Mas esse mercado deve levar, assim como o da Europa, cerca de cinco a dez anos do uso das novas instalações para se equilibrar e encontrar um caminho.

Nesse sentido, o acordo do Flamengo com o Maracanã faz muito mais sentido, por permitir ao clube mudar a relação com o estádio conforme o andamento do mercado brasileiro. Na Itália, essas mudanças levaram a Juventus a demolir o estádio herdado da Copa do Mundo de 1990 para fazer um novo. Só assim a equipe conseguiu passar a competir em igualdade com os rivais da Inglaterra, que modificaram suas instalações esportivas ainda no fim dos anos 90, começo dos 2000.

O mercado brasileiro vai mudar bastante com os novos estádios. E os clubes que pensarem só na oportunidade do curto prazo poderão ser engolidas no final.


Quanto vale a Libertadores? Para o Galo, mais de R$ 100 mi
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Erich Beting

A pergunta é dirigida a você, torcedor. Para você, quanto valeria o título de uma Libertadores? O Atlético-MG inicia nesta quarta-feira a busca derradeira pela tão sonhada taça continental. Os amigos atleticanos que tenho nunca estiveram tão esperançosos e, ao mesmo tempo, maravilhados com o clube. Desde que me conheço por gente, este é o melhor Galo que já vi jogar, batendo aquele belo time de 1999. Possivelmente com a conquista da América, essa equipe será considerada a melhor da história do clube.

Mas esqueçamos a bola e voltamos à pergunta. E aí, torcedor do Galo, quanto vale ganhar a Libertadores?

Quando assumiu a presidência do clube, em 2008, Alexandre Kalil sempre disse que focaria os esforços em montar uma equipe vencedora. Ainda não conquistou um título nacional, inexistente da galeria de taças do clube desde 1971, mas está próximo de alcançar um feito maior ainda, que é a primeira grande taça internacional da história do Atlético. Para alcançar esse objetivo, Kalil adotou a estratégia antiga de gestão dos clubes.

Com todas as qualidades e os defeitos dela!

Primeiramente, deu mais bola para a bola jogada dentro de campo do que qualquer outra coisa dentro do clube. Crítica muito grande do Galo em seu ano de comemoração do primeiro centenário foi a de que o clube tinha um ótimo departamento de marketing, mas um time que jogava a Segunda Divisão Nacional. O orgulho ferido do péssimo desempenho em campo foi compensado com esse time forte e vingador de agora. Mas para isso, Kalil simplesmente abriu mão do marketing, tal qual faziam os gestores “das antigas”.

O presidente do Atlético partiu do princípio de que futebol e marketing não podem se misturar, possivelmente ignorando que toda a recuperação de grandes clubes na história recente da bola passou por um trabalho conjunto de reestruturação do departamento de futebol e formação de um sólido departamento de marketing e comunicação, responsável por estreitar a relação do torcedor com o clube sem depender exclusivamente do desempenho dentro de campo.

Mas a lacuna deixada pela ausência de um departamento de marketing poderia ser preenchida, realmente, pela construção de um time vencedor, que não precisa de comunicação para vender, apenas de um bom produto. Mas aí entra a segunda parte do enrosco. Como formar uma equipe forte se as fontes de geração de receita estão estagnadas pela ausência de iniciativas de marketing?

E é aí que entra a dura resposta para o torcedor do Atlético. Hoje, a conta dessa busca desenfreada pelo título da Libertadores já passa dos R$ 100 milhões. Pelo menos é esse o resultado que se tira a partir da análise dos balanços financeiros do Galo entre 2010 e 2012.

Em 2009, o clube amargou um prejuízo anual de R$ 23.248.264,00. No ano seguinte, o déficit foi menor, de R$ 19.966.822,00. Em 2011, o prejuízo foi o mais alto dos últimos tempos, de R$ 36.142.952,00. E, no ano passado, chegou a R$ 33.202.547,00. A soma dos últimos quatro anos da gestão Kalil dão exorbitantes R$ 112.560.585,00 de prejuízo.

Mas, mais preocupante que o déficit nesse período é a escalada dos empréstimos feitos pelo atual mandatário do clube. Mesmo tendo aumentado a arrecadação a partir de aumento dos valores dos contratos de TV e patrocínio, frutos de situação de mercado, e não de méritos negociais do clube, o Atlético tomou emprestado, de instituições financeiras e outras empresas, mais de R$ 50 milhões entre 2008 e 2013.

No primeiro ano frente ao clube, Alexandre Kalil fechou 2008 tendo contabilizados R$ 105.956.113,00 milhões em empréstimos. Em 2012, o número saltou para R$ 167.009.999,00. Ou seja, em cinco anos, o Galo foi buscar R$ 61.053.886 milhões no mercado, tendo de pagar juros sobre esse valor. Mais preocupante ainda é que, no curto prazo, as dívidas já somam quase R$ 50 milhões (e deve ultrapassar esse valor já no final desta temporada).

Se, dentro de campo, não há o que criticar o atual Galo, fora dele é uma temeridade o que está sendo feito com as contas do Atlético. A escalada de gastos irracionais poderá gerar, no médio prazo, uma situação insustentável dentro do clube. Mais ou menos da mesma forma que hoje vivem Vasco, Flamengo e Palmeiras, para ficar apenas nos casos de grandes clubes do país.

Endividar-se para crescer não é um problema, desde que o pagamento dessas dívidas não seja feito com a aquisição de novas. Pelo que se dá para ler do balanço financeiro do Galo, a inédita conquista da Libertadores pode ser um motivo de muita alegria para o torcedor neste curto prazo. Mas, no médio e longo prazo, possivelmente o Atlético terá de pagar a conta desse momento mágico vivido dentro de campo.

A cobrança pela performance esportiva é um fardo que o gestor precisa saber carregar para tentar equilibrar as contas de um clube. Quando a ganância de ver o time campeão fala mais alto do que a racionalidade gerencial, a gastança desenfreada cobra seu preço. Será que vale todo esse esforço para ser campeão da Libertadores? Por que, do jeito que esse título está sendo construído pelo Galo, o custo será bem mais alto para recolocar o clube nos trilhos no futuro.


A sintomática ida de Anderson Silva ao Fantástico
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Erich Beting

Quando Ronaldo foi levado à delegacia pelo caso com os três travestis, naquela história até hoje mal explicada, na semana seguinte o “Fantástico” exibiu uma entrevista de quase 20 minutos com o jogador, feita em sua casa em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Quando Adriano teve uma das suas muitas recaídas, usou o mesmo Fantástico para afirmar que havia pensado em parar de jogar bola mas que estava recuperado e pronto para voltar à ativa. Agora é a vez de Anderson Silva usar a tribuna do programa dominical da Globo para dar sua versão dos fatos.

Há 15 ou 20 anos, não havia melhor estratégia de gerenciamento de crise do que essa. Até então, o Fantástico era o principal programa da televisão nos finais de semana. Com audiência beirando os 50 pontos, era uma espécie de parada obrigatória para o Brasil na noite de domingo. A música do Fantástico era o sinal da depressão, indicando que uma nova semana estava para começar, que a folga havia acabado e que na manhã seguinte o despertador tocaria logo cedo.

Isso foi há 20 anos, no mínimo. Numa época em que não havia internet e praticamente inexistia a TV a cabo no país. Logo, éramos obrigados a assistir a no máximo sete opções de canais de televisão, sendo que nenhum deles com o mesmo poderio financeiro que a Globo, o que fazia do Fantástico o único programa com o mínimo de qualidade para se assistir.

Mas isso era do tempo em que Ronaldo nem era jogador de futebol e Anderson Silva batalhava para tentar fazer dinheiro na vida.

Hoje, segundos dados da própria Globo, a audiência do Fantástico está na casa dos 20 pontos, sendo que 36% do público tem mais de 50 anos de idade e apenas 9% está entre 18 e 24 anos de idade. Só para se ter uma ideia, em 2007, também de acordo com a Globo, a audiência estava em 30 pontos de média e o público acima de 50 anos era de 33%. Já aquele entre 18 e 24 anos era de 11%.

Esses números significam que o Fantástico é um programa em extinção. Pelo menos para o público consumidor do UFC, ele está longe de ser o programa que os representa.

Mas por que então Anderson Silva foi procurar exatamente o programa da Globo para dar seu “depoimento”?

Desde o início do ano, Marcos Buaiz é o principal executivo da 9ine, a agência que é responsável em grande parte pelo tamanho do mito que hoje Anderson Silva representa. Desde então, foi ocorrendo uma série de mudanças na agência, sendo talvez a mais significativa delas a mudança da equipe que cuidava da gestão de imagem de atletas.

Durante um ano, quando começou o trabalho com a 9ine, Anderson Silva passou por um um longo processo de aparição nas mais diferentes mídias e, também, nos mais diferentes tipos de programas. O objetivo era fazer com que o lutador fosse apresentado ao país para, posteriormente, virar o grande nome publicitário que virou.

Agora, quando surgiu a primeira crise, curiosamente todos os passos que foram dados para construir sua imagem foram abandonados, e Anderson Silva foi ao Fantástico dar um depoimento. Foi muito pouco para quem esteve no Faustão, na Ana Maria Braga, no Luciano Huck, em notícias programadas em diferentes jornais e revistas, etc.

A ida de Anderson Silva ao Fantástico é sintomática. Ela mostra que nem tudo anda tão bem no mundo da 9ine, que até pouco tempo atrás havia conseguido passar ilesa de momentos de crise. Mesmo com Ronaldo assumindo um cargo no Comitê Organizador da Copa, na TV Globo e mantendo suas relações comerciais normalmente.


A mancha do doping para o esporte
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Erich Beting

O estouro de mais um escândalo de doping, dessa vez com alguns graúdos do atletismo mais rápido do mundo, gera mais uma vez uma escalada de debate em torno do uso de meios ilegais para que se alcance a vitória. Como já debatido aqui no blog quando do caso Lance Armstrong, o esporte de alto rendimento hoje segue uma “cadeia alimentar” tão maléfica que o difícil é ser um vencedor “limpo”.

Tyson Gay e Asafa Powell são os dois nomes estrelares da vez. Gay já teve o contrato com a Adidas suspenso preventivamente. Caso o doping seja confirmado, o acordo será rompido, numa espécie de demissão por justa causa. A fabricante chinesa Li Ning, que patrocina Powell, até agora não se manifestou.

É o máximo que as marcas podem fazer quando têm atletas envolvidos em escândalos de doping. E é o que mais causa problemas para que o mercado de atletas profissionais consiga decolar.

A pressão por resultados, ainda mais numa modalidade que tem hoje um mito como Usain Bolt, torna-se tão grande a ponto de o doping parecer a única solução plausível para os atletas. Por isso mesmo, a rigidez no controle antidoping é tão ou mais importante que a própria divulgação do esporte em si.

O doping talvez seja a pior mancha para o esporte moderno, ainda mais pela transformação em negócio de tudo o que se refere ao alto rendimento. O escândalo do atletismo, se não parar por aí, pode colocar a modalidade na mesma crise de imagem pela qual atravessa o ciclismo desde o estouro retroativo do esquema de Lance Armstrong.

Para o bem do atletismo, é melhor ver vários casos de doping deflagrados do que conviver com a suspeita de que os heróis da modalidade são fabricados. E, urgentemente, é preciso que o Comitê Olímpico Internacional se preocupe em criar uma comissão de gerenciamento de crises para os escândalos que, invariavelmente, vão aparecer em diferentes modalidades.


A Ilha de Lost, o Congresso, o Senado e Juvenal Juvêncio
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Erich Beting

A entrevista coletiva/monólogo de Juvenal Juvêncio na apresentação de Paulo Autuori como novo técnico do São Paulo foi um acontecimento. Talvez até a fumaça preta que perseguia as pessoas dentro da Ilha de Lost, ou as atitudes de congressistas e parlamentares em relação a alguns tópicos recentes da política brasileira sejam mais compreensíveis do que o bizarro espetáculo protagonizado pelo presidente do São Paulo.

As declarações de Juvenal servem, e muito, para o folclore. Representam, na essência, o que foi o futebol de tempos atrás, com seus dirigentes polêmicos e fanfarrões. Hoje, muito do que se tenta explicar sobre o que acontece ou deixa de acontecer no Morumbi tem uma relação direta com atitudes como a protagonizada pelo mandatário do clube.

Poder centralizado, decisões tomadas sem qualquer base racional, distribuição de cargos estratégicos por interesses meramente políticos e/ou pessoais muitas vezes estão por trás de alguns dos problemas que se refletem em derrotas inesperadas dentro de campo, perda de rumo durante uma competição e incapacidade de decidir um jogo.

Ocupasse Juvenal Juvêncio um cargo de presidência dentro de uma empresa, ou mesmo num governo, e essa entrevista teria sido motivo para a queda das ações da companhia, uma reunião de emergência do conselho de administração ou, no caso de um cargo público, uma revolta popular nas ruas.

Mas o universo do futebol ainda permite aberrações desse tipo. E, naturalmente, muitos irão dizer que tudo não passou de um truque de Juvenal para afastar a pressão sobre o novo treinador e jogar toda a repercussão da mídia para si. Assim, o time ganha respiro para treinar, não se questiona mais um ou outro atleta e tudo se vira para o “teatro” de Juvenal.

De fato um pouco disso aconteceu. O novo ambiente do São Paulo com Paulo Autuori poderá até fazer com que o time vença o Corinthians e seja o campeão da Recopa, algo que com certeza não aconteceria se nada tivesse sido alterado no Morumbi. Mas as lições que vêm do mercado corporativo não podem ser ignoradas. Uma empresa que tem um presidente que tenta desviar o foco de atenção para problemas do seu cotidiano em vez de trabalhar para mudar o comportamento invariavelmente mostra no médio prazo suas deficiências.

O exemplo mais recente de que no futebol atual é cada vez mais difícil prosperar sem ter um mínimo de organização gerencial é o Palmeiras campeão da Copa do Brasil em julho de 2012 e rebaixado em novembro do mesmo ano no Campeonato Brasileiro.

Por mais divertido que seja o discurso de Juvenal Juvêncio, a leitura mais fria mostra que, no médio prazo, nova entrevista terá de ser convocada para tentar afastar uma nova crise da área. E aí, quem sabe, Juvenal será contratado para inventar um novo roteiro para salvar aquele final decepcionante que teve Lost. Por que, no futebol, está claro que não há mais espaço para essas coisas…

Para quem não entendeu patavinas do que está escrito aqui, segue o link com os “melhores” momentos do monólogo de Juvenal Juvêncio na apresentação de Paulo Autuori (clique aqui). É mais fácil, realmente, compreender o que motiva as decisões de senadores e deputados do que qualquer outra coisa…


Novas caras faturam com sucesso da seleção
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Erich Beting

O título da Copa das Confederações aliviou a barra de Neymar. Com a conquista brasileira, o atacante do Barcelona deixou de ser o único xodó das marcas. A vitória da seleção abriu espaço também para que novas caras começassem a ser exploradas pelos anunciantes.

Nesta quinta-feira, a Gillette apresentou Lucas, Oscar e Paulinho como seus novos “rostos” para a campanha envolvendo a seleção brasileira. Nos próximos dias, Thiago Silva e Paulinho devem ser anunciados por outras marcas. E assim deve ser regido o mercado pelos próximos meses pelo menos até abril de 2014, quando entrarão para valer no ar campanhas de empresas para a Copa.

O movimento é lógico. Antes do início das Confederações, o pessimismo de torcedores e mercado em torno do desempenho do time brasileiro fez com que as marcas ficassem numa espécie de posição de espera. Em vez de apostar com tudo na conexão do torcedor com a seleção, a preferência foi por aguardar os acontecimentos dentro de campo para saber o que fazer fora dele.

A situação lembrou muito a do mercado pré-Copa de 2002. Com o time brasileiro em baixa e a competição no fuso horário asiático, pouco, para não dizer quase nada, foi feito pelas empresas. O termômetro que mostra o desempenho similar é a venda de cotas de patrocínio da TV Globo para o evento. A Copa da Coreia e do Japão foi uma das únicas a não vender todas as cotas na emissora, que nesta Confederações nem chegou a comercializar pacotes de publicidade.

Mas com a performance perfeita do time brasileiro em campo, o cenário mudou. E também pulverizou a procura das marcas por rostos que simbolizem a “nova cara” da seleção. Nesse ambiente, Thiago Silva, Paulinho e Lucas são os três jogadores que mais se valorizaram. O bom relacionamento com a mídia, a receptividade dos torcedores (no caso de Lucas) e a performance em campo (nos casos de Thiago e Paulinho) são fatores que levam as marcas a olhar com carinho para esses atletas.

A vitória do Brasil conseguiu renovar a seleção dentro e fora de campo. E essas novas caras faturam cada vez mais alto com isso.


Sem alternativa, futebol vai virar refém da grana da Caixa
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Erich Beting

O mercado secou. Não num acontecimento isolado e repentino. Pelo contrário, essa secura do patrocínio no futebol já vem sendo desenhada desde a loucura provocada pela alta de preços e de exposição de marcas com Ronaldo no Corinthians. Mas agora o problema é evidente.

Num Brasil que convivia com a expectativa do “pibão” e tinha também a realidade de que a Copa do Mundo se aproximava, o futebol se tornou uma vedete. As marcas nacionais começaram a achar que o patrocínio ao esporte mais popular do país seria a solução de seus problemas para não perder o bonde da década dourada do esporte no Brasil.

O cenário, então, fez com que o futebol virasse de cabeça para baixo a relação com os patrocinadores. Muitas marcas na camisa, muitos milhões de reais a serem oferecidos para os clubes e parecia que tudo ficaria mais rico no universo do futebol no Brasil, num caminho praticamente sem volta.

Só que, no intuito de verem mais dinheiro entrando, os clubes caíram no erro básico. Olharam apenas a grana e se esqueceram de reparar em quem era a fonte pagadora. No milagre da crise que não passava de uma marola, marcas sólidas de atuação multinacional foram sendo trocadas por construtoras, empresas do varejo e outras de menor calibre, mas infladas pelo peito estufado da economia brasileira ante Europa e Estados Unidos falidos.

Nesse cenário, desde 2011 que as grandes patrocinadoras do esporte mundial começaram a se afastar do principal esporte no Brasil. Ou melhor. Começaram a mudar seus investimentos. Ao mesmo tempo, porém, as marcas brasileiras perceberam que o futebol não era assim um aporte tão seguro quanto o que parecia. Pior ainda, ficava a cada dia mais caro.

O resultado é que, depois da “Era BMG”, o futebol no Brasil passa a viver a “Era Caixa”. São hoje dez clubes que contam com o aporte do banco estatal, sendo os dois de maior torcida do país nessa lista. Mais interessante ainda é notar que metade desses times está na Série A do Campeonato Brasileiro, torneio em que teoricamente os clubes são bastante atrativos para as marcas.

A dependência da verba da Caixa, porém, é um perigo para o futebol. Com os valores lá no alto, dificilmente os clubes conseguirão acordos tão eficientes indo atrás de empresas “do mercado”. Da mesma forma, até agora pouco, para não dizer quase nada, foi feito pelo banco para justificar o patrocínio.

A diminuição dos investimentos no patrocínio no futebol é uma necessidade para o mercado. Os valores estavam absolutamente distantes da realidade. Só que essa “baixa” só vira quando a bolha da Caixa estourar. O problema é que, até isso acontecer, muitos clubes vão ficar reféns do dinheiro do banco.

Para a Caixa, o patrocínio no futebol faz sentido para fazer frente ao avanço dos concorrentes na modalidade. Mas do jeito que está sendo feito, com os clubes no Brasil tornando-se praticamente reféns do banco, o negócio não se sustentará no longo prazo. A grande mudança que vai acontecer no futebol nos próximos anos é que os contratos de patrocínio vão ser fechados por longos prazos, exatamente para as marcas trabalharem a construção de uma história a partir do patrocínio. A julgar pelo que acontece agora, o que está se formando é uma bolha, que está prestes a estourar. De 2015, sem dúvida, ela não deve passar.