Negócios do Esporte

Tim e Ambev mostram que só ter maior torcida não basta

Erich Beting

Sempre coloquei aqui no blog que muito mais importante do que o clube bradar que tem “a maior torcida”, é fundamental fazer com que seus torcedores sejam aqueles que mais gerem receita para a instituição.

Com o processo de amadurecimento da gestão no futebol brasileiro, essa diferença começa a se fazer clara. Uma mostra disso vem de dois rankings sobre consumo de produtos oficiais de clubes de futebol no Brasil feitos por empresas de varejo.

Um deles é o de vendas de chips da Tim dos clubes patrocinados pela marca, ao qual o blog teve acesso com exclusividade. No primeiro semestre de 2013, o Grêmio foi o clube que mais vendas gerou, com mais de 20% do total. O segundo colocado é o Flamengo e o terceiro é o Internacional. O ranking ainda não conta com as participações de Cruzeiro e Atlético-MG, clubes que assinaram contrato com a operadora no decorrer do semestre.

A outra lista é a de sócios-torcedores cadastrados nos clubes que são patrocinados pela Ambev. O “torcedômetro”, como foi apelidado pela empresa de bebidas, traz o número de associados que cada uma das agremiações possui. Nesse caso, é preciso fazer uma observação para a lista. Afinal, Inter e Grêmio, os dois líderes do quadro, são os clubes que há mais tempo possuem o programa de associados.

Mas o fato é que esses números mostram que nem sempre ser “a maior torcida” significa ter o torcedor mais engajado com o clube. E o problema para isso não necessariamente é da falta de comprometimento do torcedor. Muitas vezes falta maior ação do clube em promover o interesse do consumo por parte de sua torcida.

Times mais populares são sempre aqueles que geram receita mais facilmente. No Brasil, Corinthians e Flamengo possuem os melhores contratos dentre os três mais valiosos (TV, patrocínio e fornecimento de material esportivo).

Como o futebol brasileiro sempre ficou numa espécie de estágio letárgico em relação à busca da receita do torcedor, o relacionamento com o fã sempre ficou em segundo plano. Isso mudou há cerca de 15 anos, quando os clubes de fora do eixo Rio-SP foram em busca do torcedor para tentar competir financeiramente com as equipes de maior torcida.

O reflexo desse cenário está nessa relação de venda de serviços x tamanho de torcida. Por mais que tenham 10 a 20 vezes mais torcedores que alguns clubes, Flamengo e Corinthians não conseguiram ainda gerar um trabalho de aumento constante de receita a partir da venda de artigos para o torcedor. No ranking de venda de camisas de jogo, naturalmente, os dois clubes lideram. Mas naquelas receitas menores, ainda é preciso ser feito um grande trabalho de engajamento com o torcedor.

Ter a maior torcida nem sempre é sinal de que você conseguirá gerar mais consumo. Mas, quando essa equação finalmente atingir a proporção que naturalmente tende a ter, o futebol no Brasil será ainda mais polarizado entre as duas maiores potências econômicas.

Confira abaixo o ranking com as comparações. Para efeito de comparação do tamanho de torcida, tem-se como base o último levantamento feito no mercado pelo Datafolha (2012), que possui metodologia definida e pesquisa de campo, diretamente com os torcedores. Para chegar-se ao número de torcedores, foi feita a relação direta entre o percentual de torcida e o número de habitantes da população brasileira conforme o último censo do IBGE (2010).

Ranking das vendas da Tim

Ranking dos sócios-torcedores*

* Na lista estão apenas os dez primeiros do ranking