Negócios do Esporte

Arquivo : setembro 2013

Promoção de ingressos faz São Paulo faturar R$ 1 milhão a mais
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Erich Beting

Quando decidiu fazer seu “saldão de ingressos”, a diretoria do São Paulo tinha um objetivo técnico em mente. Reduzir o preço para atrair mais público e, com isso, ajudar o time a sair da penúltima colocação do campeonato. Além de ser o vice-lanterna, o São Paulo não vencia fazia dez partidas. Ir a um estádio e pagar R$ 30 pelo preço mínimo era, de fato, uma loucura.

A redução do ingresso de valor mais baixo para R$ 10, e o de sócio-torcedor para R$ 2, parecia um tremendo tiro no pé do São Paulo. Tanto que foi só o clube anunciar que estava na base do “deu a louca no Juvenal, queima total de estoque de ingressos!!!” para que as críticas surgissem.

A reclamação era coerente. Como pode um clube abrir mão da receita de bilheteria para tomar uma medida “popularesca”? Pior ainda, de que forma voltar a majorar o preço dos ingressos se o produto já havia sido desvalorizado desse jeito?

Pois bem. Após seis jogos pelo Brasileirão em ingressos com preços promocionais, a conta se apresenta. O São Paulo arrecadou um milhão de reais a mais do que nos jogos sem a promoção.

Até aquela terça-feira 13 de agosto, seis jogos haviam sido disputados no Morumbi para um público total de 51.319 pagantes, ou 8.553 torcedores por jogo em média. Nesses seis embates, o São Paulo havia arrecadado R$ 1,37 milhão, ou cerca de R$ 228,3 mil por partida. O tíquete médio pago pelo torcedor era de R$ 26,70.

Agora, em seis jogos com preços mais baixos, o São Paulo levou 212.012 torcedores pagantes ao estádio. Em média, são 35.335 pessoas por partida. Mas, mais do que isso, a arrecadação saltou. Foi para R$ 2,43 milhões. A média de arrecadação por jogo aumentou em 77%, saltando para R$ 406,1 mil. O tíquete médio que o torcedor paga atualmente está em R$ 11,49.

O sucesso do São Paulo não pode, porém, significar que esse é o caminho a ser tomado pelo futebol no Brasil. O barateamento dos ingressos foi um caminho que deu certo para o Tricolor paulista, mas além disso dois outros fatores contribuíram bastante para que o estádio ficasse cheio e, com o preço médio cerca de 2,5 vezes mais baixo, o clube arrecadasse quase o dobro.

O fato é que, enquanto o produto do futebol no Brasil continuar a ser esse que existe hoje, sem dúvida que é preciso repensar o valor a ser cobrado pelos ingressos de uma partida.

O único clube que ainda pode se gabar de colocar preços altos e mesmo assim ter público constantemente alto é o Corinthians, e mesmo assim é capaz que haja uma sensível oscilação nessa equação no ano que vem, quando além do novo estádio, o Timão fique fora da Copa Bridgestone Libertadores. E isso mesmo só acontece porque o evento é o de maior desejo do torcedor, e a presença dele nos jogos da competição está cada vez mais atrelada, pelo programa de sócio-torcedor, a uma presença fiel nos jogos de menor demanda. Não fosse isso e, provavelmente, a constância do torcedor corintiano nos estádios estaria menor a essa altura do campeonato, com o time caindo pelas tabelas.

Hoje, o preço do ingresso é um grande complicador para que a pessoa querer ir a um estádio de futebol. A prova disso está estampada no exemplo do São Paulo. Condenar a liquidação do preço no futebol de hoje baseado no que acontece no exterior é ignorar o ponto principal: o produto oferecido ao torcedor brasileiro, hoje, está mais próximo de R$ 10 do que de R$ 30.

Se quiser ganhar mais dinheiro no estádio atualmente o clube brasileiro precisa adotar a tática do “Deu a louca no gerente”. O torcedor já sabe que o preço justo para um ingresso está bem mais para a faixa dos 1o reais do que dos 30.

Outro fator importantíssimo é começar a fazer igual ao São Paulo no quesito promoção. Desde que baixou o preço dos ingressos, o Tricolor começou a fazer campanha no site oficial e nos perfis do clube pelas redes sociais para convencer o torcedor a comparecer. A campanha “Três cores, uma só torcida” embalou o clube nessa fase.

Achar qual é o preço a partir do conhecimento do produto que se oferece e, assim, realizar a promoção para atrair as pessoas. São três dos quatro “Ps” do marketing que embalam essa casa cheia são-paulina. Imagine com o time um pouco melhor na tabela o quanto seria possível arrecadar cobrando só R$ 5 a mais em média do torcedor?

O sucesso da liquidação do São Paulo não é um tapa na cara dos teóricos de marketing. Ele só escancarou, mais uma vez, que o futebol no Brasil não pode agir como na Europa. Pelo simples fato que o produto, aqui, tem um valor inferior ao de lá.


Finais, mata-mata, clássicos e Corinthians levam torcedor à TV
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Erich Beting

Primeiro, que seja uma final de campeonato. Se não der, então precisa ser um jogo de mata-mata. Se mesmo assim não der, coloque o Corinthians em campo. E, de preferência, num clássico. Esse pode ser o resumo da preferência do torcedor paulistano para ficar ligado na TV aberta em São Paulo para assistir ao futebol.

Sei que a essa altura já tem um monte de gente querendo clicar na caixa de comentários e bradar “mas eu boicoto a Globo”, “eu só vejo pelo pay-per-view“, “isso só acontece porque meu time está mal”. O levantamento que é base para esse texto traz a soma das audiências de Globo e Band. Da mesma forma, traz o recorte apenas do ano de 2013 porque o ranking completo das audiências de 2011 e 2012 ainda não está finalizado. Além disso, é fundamental registrar, as transmissões via TV fechada não somam mais do que um ou dois pontos na medição do Ibope, tornando irrelevante a mudança de audiência.

Mas vamos tentar deixar claro sobre o que se refere esse texto e qual o objetivo dele.

A ideia é tentar entender se existe algum “comportamento-padrão” do torcedor com relação ao futebol. Por que a Globo (que é quem define o jogo a ser transmitido) opta por uma equipe em detrimento das outras? E se mudarmos as datas dos jogos, o que acontece? O horário interfere no interesse? E o tipo de jogo, leva mais ou menos gente à telinha?

Dentro desse universo, é possível perceber que o torcedor para em frente à TV em algumas condições.

A primeira certeza é a força do Corinthians. Das dez maiores audiências do ano até o momento (a lista está ao fim do texto), apenas duas não envolvem o clube. O São Paulo e o Atlético-MG são os dois outros times que aparecem. O Galo conseguiu surpreendentes 27 pontos com a decisão da Copa Bridgestone Libertadores. Esse índice também foi alcançado pelo São Paulo, curiosamente em duelo com o mesmo Atlético, mas ainda na fase de classificação do torneio continental.

Nesse levantamento, também fica evidente a preferência do torcedor pelos jogos decisivos. A final do Paulistão Chevrolet é, até agora, o jogo de maior audiência em São Paulo. Na soma das transmissões de Globo e Band, o duelo Santos 1×1 Corinthians teve 35 pontos no Ibope. Da mesma forma, o jogo que tirou o Corinthians nas oitavas-de-final da Libertadores contra o Boca Juniors é o segundo da lista, com 33 pontos de audiência.

Outro fator que faz mais gente ligar a TV é a disputa de clássicos (obviamente porque são pelo menos duas torcidas sintonizadas). São seis jogos desse tipo entre os 13 que compõem as melhores audiências.

O sistema de pontos corridos fica, assim, num segundo plano. Dos 13 jogos com maior audiência, só um faz parte do Brasileirão e não é um clássico. Foi o jogo Inter 1×0 Corinthians, disputado no último dia 4 de setembro. Mesmo assim, o jogo marcou 27 pontos, que foi a “nota de corte” das principais audiências.

A análise desses números explica um pouco algumas atitudes tomadas pela Globo na transmissão do futebol. Só para se ter uma ideia, a emissora exibiu, para a praça de São Paulo, 65 jogos neste ano. Desse total, 28 foram jogos do Corinthians, 15 do São Paulo, 6 do Palmeiras, 2 do Santos, 2 do Atlético-MG e 12 foram clássicos. Dos clássicos, apenas dois não tinham o Corinthians.

A overdose corintiana se explica também na entrega que o clube consegue dar. A pior audiência do Timão no ano foi 17 pontos, na estreia do Paulistão. A segunda pior foi na terceira rodada do torneio, com 18 pontos. Apenas quatro jogos corintianos não tiveram 20 pontos na soma das audiências.

Os rivais, em compensação, têm desempenho muito inferior a isso. O São Paulo, com 15 partidas na TV aberta, teve sete jogos abaixo dos 20 pontos, sendo que o recorde negativo de 13 pontos para o jogo contra o Guarani (em pleno sábado de Carnaval, é bom frisar) pertence ao Tricolor.

Deslocado para o sábado por conta da Série B, o Palmeiras também patina na audiência. A única vez que fez mais do que 20 pontos foi pelo Paulistão, no jogo que garantiu a vaga nas quartas-de-final contra a Ponte Preta (a partida ainda era pela arrastada fase de classificação), disputado num domingo. Na Segundona, a audiência do Verdão é sofrível: em quatro jogos transmitidos, média de 15 pontos.

Essa é outra constatação da lista. O dia de semana, por conta do horário do jogo (22h da quarta-feira), atrai maior audiência, com uma média total de 26 pontos. No fim de semana, o sábado é o terror do Ibope, enquanto no domingo o índice fica cerca de 20% mais baixo do que o das quartas-feiras.

Para mudar esse quadro de dependência do mata-mata e do Corinthians, o futebol no Brasil precisa, urgentemente, de uma reforma maior. Que passe não apenas pela discussão sobre o calendário, ou a qualidade dos estádios, ou o horário dos jogos, ou a dependência extrema de um único veículo de TV para transmitir os jogos, ou o formato da principal competição do país.

Por que, do jeito que está, para a própria Globo o modelo de exibição do futebol na TV, em breve, terá de ser modificado. Ou o futebol vai decair ainda mais como um produto.

Abaixo a lista das dez maiores audiências. Cada ponto no Ibope equivale a 61.952 domicílios na Grande São Paulo, que é a região usada como referência pelo mercado publicitário no país.


Quem disse que a Globo boicota os patrocinadores?
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Erich Beting

A edição de segunda-feira, 23 de setembro, do Jornal Nacional, o carro-chefe do jornalismo da Globo, abriu 30s de sua programação para falar exclusivamente sobre patrocinadores e esporte.

Em nota, William Bonner falou sobre a renovação dos seis patrocinadores da transmissão de Fórmula 1 da Globo para 2014. Foi, até hoje, talvez a melhor abertura já dada pela Globo para o tema “marketing esportivo” dentro do canal.

Só que por trás dessa história está, logicamente, a situação emblemática em que a F1 se encontra para o mercado brasileiro.

Com o risco de pela primeira vez o país não ter um representante no grid desde 1970, a Globo usa o JN para falar de quem apoia a emissora na transmissão da F1. Ao fazer isso, a emissora também dá um recado interessante para a própria indústria da F1, mostrando que no Brasil há interesse das empresas pelo produto, mesmo sem a certeza de ter um brasileiro competindo.

Só que é curioso também a nota vir no dia seguinte de mais uma marca pouco expressiva da transmissão da Fórmula 1 pela Globo (leia aqui). Claramente expor os patrocinadores por 30 segundos no Jornal Nacional e falar sobre as qualidades do esporte automobilismo compreendem um bônus considerável para quem paga cada vez mais pela cota de transmissão e tem audiência em queda livre nos últimos anos.

No final das contas, quem disse que a Globo boicota os patrocinadores? A emissora acaba de abrir um precedente interessante para inserir cada vez mais o tema marketing esportivo na sua programação. Não há pecado algum em falar de quem investe no esporte. Pelo contrário, isso faz parte do jogo.

E, para quem ainda não acredita que a Globo expôs o nome de marcas que patrocinam algo ligado ao esporte, é só clicar aqui para ver os 30s de fama do marketing esportivo no carro-chefe da principal emissora do país…

 


Palmeiras e Flamengo esbarram nos velhos erros
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Erich Beting

O ano começou com esperança renovada a palmeirenses e flamenguistas. Após desastrosas gestões nos dois clubes, janeiro apresentou aos torcedores de ambos um sentimento de que dias melhores estariam por vir.

No Flamengo, o discurso de racionalidade e arrumação da casa oriundos da imagem forte de Eduardo Bandeira de Mello davam a impressão de que o período insosso da insossa Patrícia Amorim estava para acabar. Na capital paulista, mesmo com o amargor da Série B, o palmeirense via no discurso de Paulo Nobre uma preocupação que há tempos não adentrava os salões do Palestra Itália, de que era preciso fechar a torneira da gastança e recolocar o Palmeiras nos trilhos perdidos desde a saída da locomotiva Parmalat.

Quase nove meses já se passaram da nova gestão flamenguista, e o Rubro Negro já vai para o seu quarto treinador, estando a três pontos de adentrar a zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro.

No Palmeiras, em oito meses da administração Paulo Nobre, quase R$ 30 milhões foram injetados pelo presidente para salvar as combalidas contas do clube.

O fato é que por mais que o discurso seja alentador, os velhos erros seguem a interferir no cotidiano de Flamengo e Palmeiras. A necessidade de curto prazo interfere a mudança de longo prazo. E, por mais que no discurso pareça fácil achar a solução para ambos, na prática é praticamente impossível realizá-la.

O que de fato está fazendo hoje a gestão do Flamengo de diferente do que fez Patrícia Amorim?

Qual o saneamento financeiro que Paulo Nobre faz no Palmeiras empregando o próprio dinheiro apenas para entregar um balanço financeiro “limpo”?

A cada dia que passa parece que a saída para alguns gigantes que passaram um bom tempo adormecidos no futebol do Brasil seja a mesma encontrada na Inglaterra. Quando a política corrói de tal forma o clube, o caminho menos traumático e mais eficiente é encontrar alguém disposto a ser dono dele. Parece que só assim para ele voltar a crescer de forma consistente. Do contrário, os velhos erros vão, uma hora ou outra, atrapalhar todo e qualquer plano de mudança.


É possível esperar uma mudança na gestão esportiva no Brasil?
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Erich Beting

Na semana passada, o Senado aprovou a Medida Provisória que promete deixar a rédea mais curta para quem quiser ter verba pública no esporte brasileiro (o que atinge quase que a totalidade dos esportes). Fim de reeleições infinitas e a obrigatoriedade de transparência no uso dos gastos do dinheiro público são algumas das importantes transformações que a MP traz.

Mas será que é possível esperar uma mudança na gestão esportiva no Brasil a partir dela?

Há dez anos já existe uma lei que permite responsabilizar os maus gestores no esporte. Até hoje, apenas dois dirigentes foram afastados ainda durante seus mandatos e tiveram de devolver dinheiro às entidades que representavam por conta disso.

O fato é que não é por força de lei que se consegue fazer com que haja de fato uma mudança na gestão esportiva no Brasil. Fico, nessa hora, com a frase de Gustavo Kuerten, um dos principais porta-bandeiras da MP, quando questionado sobre a aprovação.

“Ainda é triste ver um país que precisa de tantas leis para regular uma coisa que deveria ser óbvia, que é a administração com seriedade”.

Guga é perfeito na análise. É ridículo termos de criar mecanismos legais para evitar a dilaceração de patrimônios por má gestão, para ficar no que seria o menor dos problemas, que é a incompetência, e não a má fé.

O maior legado que a Atletas Pela Cidadania pode fazer não é nem mesmo a lei específica para tentar melhorar a gestão esportiva no Brasil. Começamos a entrar numa era de seleção natural, em que o mau gestor é punido diretamente no desempenho esportivo.

O que mais podemos ganhar nessa discussão toda é uma geração de atletas de fato engajada e empenhada em exigir do empregador seriedade. Se como nação começamos a ser mais questionadores de uns tempos para cá, deu para perceber que para melhorar a qualidade na gestão esportiva, não é suficiente apenas uma nova legislação.

O trabalho paciente e intermitente da Atletas Pela Cidadania é que realmente ajuda a mudar a gestão do esporte no Brasil. A MP 620 pode vir a ser um meio legal de melhorar isso. Mas a lei só vai pegar pela perseverança da ONG e, talvez, isso faça com que a gestão comece a querer sair da inércia que se estabeleceu nos últimos 100 anos…


O absurdo da venda do Audax para o Grêmio Osasco
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Erich Beting

Foram dois meses de negociação até que se confirmasse a venda do Audax, ex-Pão de Açúcar Esporte Clube, para o Grêmio Osasco, ligado ao Bradesco, como foi antecipado aqui no blog (relembre aqui). O negócio foi oficializado na última semana e, desde sábado, o Audax pode colocar a faixa de “Sob nova direção”.

A troca de todo o comando gestor do Audax foi uma das imposições de Osasco para assumir o clube (saiba aqui). E aí começa o fim do projeto de profissionalização do clube. No fim das contas, a venda para o Grêmio Osasco significa o fim de um projeto para erguer um time com princípios sólidos de gestão. E com a anuência da Federação Paulista de Futebol (FPF).

Ao permitir que o Audax seja substituído pelo Osasco na Série A-1 do Paulistão Chevrolet do ano que vem, a FPF abriu o precedente de “compra de vaga” de uma equipe também na elite do futebol. A atitude já era tolerada entre as equipes menores, que vendiam suas licenças na federação, especialmente para clubes formados por empresários.

Agora, porém, o negócio atinge uma esfera ainda maior. E com um agravante, que é a troca de uma equipe profissional na gestão do clube por uma baseada nos antigos princípios viciados do futebol brasileiro. No fim das contas, só a grana do Bradesco é que ajudou a fazer o negócio. A gestão, porém, é baseada no amadorismo que sempre existiu no país.

A venda do Audax, no fim, se tornou um grande absurdo. Primeiro por permitir que um clube comprasse a vaga na Primeira Divisão sem ter tido o desempenho técnico suficiente para tal (o Osasco jogou a A-2 neste ano). Depois, por fazer com que o profissionalismo na gestão seja substituído pelo ótimo relacionamento do ex-jogador Vampeta com os donos do Grêmio Osasco…


O ídolo nunca pode ser maior que o esporte
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Erich Beting

Qual a importância de um ídolo para o desenvolvimento do esporte?

Essa pergunta volta-e-meia aparece nas palestras que tenho feito para falar sobre o esporte como negócio. O ídolo sem dúvida alguma é fundamental para que o esporte ganhe popularidade. Mas esse herói pode se transformar em vilão com o passar do tempo.

Explica-se. O risco que existe é o de o ídolo se tornar tão grande e tão forte que, no fim das contas, ele se torna maior que o esporte. Foi assim, por exemplo, com a Fórmula 1 no Brasil após Ayrton Senna. O ídolo atraía mais gente para a modalidade do que a própria competição entre os carros. Ou, então, com Gustavo Kuerten no tênis.

Quando o ídolo se transforma em algo além do esporte, ele acaba virando uma espécie de “parasita”. Sem querer, é verdade, mas vira.

Ao atrair toda a atenção da mídia, dos fãs e, consequentemente, dos patrocinadores, o atleta vai blindando de certa forma o crescimento da modalidade. Com os recursos nele centralizado, fica mais difícil para que outros atletas consigam ter mais verba e, assim, uma melhor performance. E, no médio prazo, quando o ídolo começa a entrar em declínio técnico, a modalidade como um todo perde o interesse da mídia, do público e dos patrocinadores.

Muito dos apuros que hoje passam alguns esportes no Brasil tiveram origem na presença de um ídolo que era mais forte que a modalidade. No fim do mês, o judô brasileiro conseguiu seu melhor resultado na história dentro de um Mundial. O desempenho mostra claramente o benefício do esporte em não depender só do ídolo.

Nos anos 90, o judô ficou calcado na imagem de Aurélio Miguel, e nada mais foi feito para desenvolver outros ídolos, apesar de ótima performance brasileira nos tatames (Rogério Sampaio e Carlos Honorato são dois bons exemplos disso). Um dos segredos da atual gestão da CBJ é não apostar as fichas em cima da imagem de um único atleta, procurando desenvolver o judô como um todo. Além de dividir de forma mais igualitária a receita, essa estratégia permite que o desempenho esportivo não dependa de um ou outro nome.

O maior risco que corre hoje o UFC no Brasil é não achar substitutos para Anderson Silva. O fanático pelo esporte vai consumi-lo de qualquer jeito. Mas o torcedor comum, hoje, vê no lutador alguém maior que a modalidade, mais ou menos como foi Mike Tyson para o boxe nos anos 80/90.

O ídolo é importante para promover uma modalidade. Mas ele não pode ser o único a alavancar o esporte. Do contrário, quando ele parar, o ciclo de crescimento da cadeia produtiva daquela modalidade vai ruir.


Marin se especializa em exaltar marcas concorrentes
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Erich Beting

No começo do ano, José Maria Marin fez um de seus primeiros eventos públicos vinculados a um patrocinador. Ao lado do fiel escudeiro, Marco Polo del Nero, ele foi o astro principal da apresentação do patrocínio da Chevrolet a 20 campeonatos estaduais pelo país. Na ocasião, da mesma forma como exaltava del Nero, já na rota de colisão com Andrés Sanchez, Marin destacava as qualidades do patrocinador.

Até aí não haveria nenhum problema, não fosse o fato de que Marin preside a CBF, que é patrocinada pela Volkswagen, uma grande rival da Chevrolet no mercado brasileiro. Mas Marin nem ligou, ou pareceu nem ligar. E fez questão de exaltar o negócio e a marca concorrente.

No início deste mês, Marin esteve em outro evento, apresentando o patrocínio da Samsung à CBF. Como presidente da entidade, obviamente fez o seu papel ressaltando as qualidades do novo patrocinador. Mas provavelmente ao falar Marin ignorou o fato de que é também presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo. Disse que o Mundial seria visto num televisor Samsung, quando o direito de citar isso só compete à Sony, que patrocina a Copa…

Hoje será a vez de a Caixa Econômica Federal ser apresentada pela CBF como nova parceira da entidade. Às 15h será a entrevista coletiva de apresentação do banco estatal como principal patrocinador do I Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino (detalhes aqui). O ótimo suporte ao futebol das mulheres, porém, contrasta com o patrocínio do banco Itaú à seleção brasileira.

Marin tem se especializado em exaltar marcas concorrentes. Curiosamente, nos dois casos que envolvem a CBF, os patrocinadores são da época em que Ricardo Teixeira ainda era o presidente da entidade…


Joel Santana e a necessidade de o esportista ser artista
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Erich Beting

Na pré-estreia da Copa do Mundo, Joel Santana se transformou na surpresa mais grata da publicidade atrelada ao esporte no Brasil. As hilárias atuações do “teacher” nas propagandas de “Head & Shoulders” conferem até agora a única campanha fora do padrão de uma marca atrelada ao Mundial do ano que vem (e que também tem muito a ver com o fato de a P&G não patrocinar o evento, precisando assim ser mais criativa para se aproximar dele).

Nesta semana, a P&G deixou escapar parte de sua estratégia global para a Copa. Pelo menos para a América Latina, Joel ganhou dois “coadjuvantes” de peso na campanha: Pelé e Messi. A ideia de unir o treinador aos dois ícones é mais uma mostra de como é benéfico para o esportista saber ser artista também.

Ao conseguir se transformar nesse personagem que é atualmente, Joel Santana ganhou um espaço que talvez não tivesse alcançado se não soubesse jogar também o jogo da propaganda. Logicamente que o cachê para ele é infinitamente mais baixo do que aquele pago para Pelé e Messi, mas o patamar ao qual a imagem de Joel consegue ser projetada é infinitamente maior do que poderia se esperar.

Numa era em que a comunicação tornou o meio esportivo bastante robotizado, Joel Santana é a excelente forma de se sair do padrão. E de mostrar para os atletas e, especialmente, seus assessores de imagem, que é possível ter uma vida muito mais bacana ao sair do lugar-comum. Afinal, foi só a partir disso que Joel Santana conseguiu ser o garoto-propaganda de um dos maiores anunciantes do país.


9ine sofre duas baixas no time de atletas
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Erich Beting

Vista como um oásis para os atletas há questão de dois anos, a agência de marketing esportivo 9ine já não encanta tanto assim. Na última semana dois agenciados pela empresa anunciaram que não querem mais os serviços prestados pela 9ine.

O primeiro foi Bruninho, levantador da seleção masculina de vôlei. Depois de cerca de um ano e meio com a 9ine, ele voltou a ser agenciado por Alessandra Menga, que cuidava de sua imagem paralelamente à agência.

O segundo, e talvez o maior baque em termos de imagem para a 9ine, foi o skatista Pedro Barros. Pedrinho, como é conhecido, era visto como uma espécie de “novo Anderson Silva” para a agência. Jovem, campeão mundial, ele era um dos atletas com maior potencial para angariar clientes. Em pouco tempo Go Pro e Ford fecharam acordos com ele via 9ine, mas o apetite parou nos últimos tempos e o skatista preferiu seguir o gerenciamento de carreira com o pai.

Outra derrota, menos doída, mas igualmente sintomática, é o fim do contrato de exclusividade com Anderson Silva. Grande ícone da agência e melhor caso de sucesso da 9ine até agora, Anderson agora ficará como Lucas e Neymar. Com ótima relação com a agência, mas sem ser exclusivo dela.

As saídas de Bruninho e Pedrinho e a mudança de patamar de Anderson Silva, além do baque na imagem da 9ine, mostram a dificuldade que a empresa tem enfrentado neste ano. Sem conseguir manter a mesma musculatura na captação de clientes e na entrega de resultados, a 9ine começa a sofrer com a desconfiança de parte do mercado.

No esporte, o zumbido em torno da agência só cresce. Ainda mais desde que o cantor Naldo foi anunciado como novo contratado por ela.

Originalmente, a 9ine sempre se posicionou como uma agência de entretenimento, e não apenas de marketing esportivo. O cantor Luan Santana foi o primeiro não-esportista a ter um contrato com a empresa, ainda no começo de 2012. Desde sempre, porém, a história da 9ine se fez com o esporte. Não apenas pela imagem de Ronaldo, mas pelos clientes e projetos nos quais ela se envolveu.

Em 2013, o mercado brasileiro de esporte não tem respondido conforme a expectativa inicial. O pretenso crescimento no ano pré-Copa não veio. Em meio a esse cenário, a ausência de Ronaldo do dia-a-dia da empresa para o ano de estudos em Londres começa a mostrar sua faceta mais cruel. Infelizmente parece ser questão de tempo para ver até quando o modelo da 9ine vai durar.