Negócios do Esporte

Finais, mata-mata, clássicos e Corinthians levam torcedor à TV

Erich Beting

Primeiro, que seja uma final de campeonato. Se não der, então precisa ser um jogo de mata-mata. Se mesmo assim não der, coloque o Corinthians em campo. E, de preferência, num clássico. Esse pode ser o resumo da preferência do torcedor paulistano para ficar ligado na TV aberta em São Paulo para assistir ao futebol.

Sei que a essa altura já tem um monte de gente querendo clicar na caixa de comentários e bradar ''mas eu boicoto a Globo'', ''eu só vejo pelo pay-per-view'', ''isso só acontece porque meu time está mal''. O levantamento que é base para esse texto traz a soma das audiências de Globo e Band. Da mesma forma, traz o recorte apenas do ano de 2013 porque o ranking completo das audiências de 2011 e 2012 ainda não está finalizado. Além disso, é fundamental registrar, as transmissões via TV fechada não somam mais do que um ou dois pontos na medição do Ibope, tornando irrelevante a mudança de audiência.

Mas vamos tentar deixar claro sobre o que se refere esse texto e qual o objetivo dele.

A ideia é tentar entender se existe algum ''comportamento-padrão'' do torcedor com relação ao futebol. Por que a Globo (que é quem define o jogo a ser transmitido) opta por uma equipe em detrimento das outras? E se mudarmos as datas dos jogos, o que acontece? O horário interfere no interesse? E o tipo de jogo, leva mais ou menos gente à telinha?

Dentro desse universo, é possível perceber que o torcedor para em frente à TV em algumas condições.

A primeira certeza é a força do Corinthians. Das dez maiores audiências do ano até o momento (a lista está ao fim do texto), apenas duas não envolvem o clube. O São Paulo e o Atlético-MG são os dois outros times que aparecem. O Galo conseguiu surpreendentes 27 pontos com a decisão da Copa Bridgestone Libertadores. Esse índice também foi alcançado pelo São Paulo, curiosamente em duelo com o mesmo Atlético, mas ainda na fase de classificação do torneio continental.

Nesse levantamento, também fica evidente a preferência do torcedor pelos jogos decisivos. A final do Paulistão Chevrolet é, até agora, o jogo de maior audiência em São Paulo. Na soma das transmissões de Globo e Band, o duelo Santos 1×1 Corinthians teve 35 pontos no Ibope. Da mesma forma, o jogo que tirou o Corinthians nas oitavas-de-final da Libertadores contra o Boca Juniors é o segundo da lista, com 33 pontos de audiência.

Outro fator que faz mais gente ligar a TV é a disputa de clássicos (obviamente porque são pelo menos duas torcidas sintonizadas). São seis jogos desse tipo entre os 13 que compõem as melhores audiências.

O sistema de pontos corridos fica, assim, num segundo plano. Dos 13 jogos com maior audiência, só um faz parte do Brasileirão e não é um clássico. Foi o jogo Inter 1×0 Corinthians, disputado no último dia 4 de setembro. Mesmo assim, o jogo marcou 27 pontos, que foi a ''nota de corte'' das principais audiências.

A análise desses números explica um pouco algumas atitudes tomadas pela Globo na transmissão do futebol. Só para se ter uma ideia, a emissora exibiu, para a praça de São Paulo, 65 jogos neste ano. Desse total, 28 foram jogos do Corinthians, 15 do São Paulo, 6 do Palmeiras, 2 do Santos, 2 do Atlético-MG e 12 foram clássicos. Dos clássicos, apenas dois não tinham o Corinthians.

A overdose corintiana se explica também na entrega que o clube consegue dar. A pior audiência do Timão no ano foi 17 pontos, na estreia do Paulistão. A segunda pior foi na terceira rodada do torneio, com 18 pontos. Apenas quatro jogos corintianos não tiveram 20 pontos na soma das audiências.

Os rivais, em compensação, têm desempenho muito inferior a isso. O São Paulo, com 15 partidas na TV aberta, teve sete jogos abaixo dos 20 pontos, sendo que o recorde negativo de 13 pontos para o jogo contra o Guarani (em pleno sábado de Carnaval, é bom frisar) pertence ao Tricolor.

Deslocado para o sábado por conta da Série B, o Palmeiras também patina na audiência. A única vez que fez mais do que 20 pontos foi pelo Paulistão, no jogo que garantiu a vaga nas quartas-de-final contra a Ponte Preta (a partida ainda era pela arrastada fase de classificação), disputado num domingo. Na Segundona, a audiência do Verdão é sofrível: em quatro jogos transmitidos, média de 15 pontos.

Essa é outra constatação da lista. O dia de semana, por conta do horário do jogo (22h da quarta-feira), atrai maior audiência, com uma média total de 26 pontos. No fim de semana, o sábado é o terror do Ibope, enquanto no domingo o índice fica cerca de 20% mais baixo do que o das quartas-feiras.

Para mudar esse quadro de dependência do mata-mata e do Corinthians, o futebol no Brasil precisa, urgentemente, de uma reforma maior. Que passe não apenas pela discussão sobre o calendário, ou a qualidade dos estádios, ou o horário dos jogos, ou a dependência extrema de um único veículo de TV para transmitir os jogos, ou o formato da principal competição do país.

Por que, do jeito que está, para a própria Globo o modelo de exibição do futebol na TV, em breve, terá de ser modificado. Ou o futebol vai decair ainda mais como um produto.

Abaixo a lista das dez maiores audiências. Cada ponto no Ibope equivale a 61.952 domicílios na Grande São Paulo, que é a região usada como referência pelo mercado publicitário no país.