Negócios do Esporte

Clubes enxugam ganhos em busca de renegociação de dívidas

Erich Beting

A CBF decidiu iniciar um contra-ataque ao movimento Bom Senso FC e também iniciar uma tentativa de deixar mais suave o pagamento das dívidas que os clubes possuem. No último dia 24, a entidade publicou um relatório assinado pela ''Comissão Especial dos Clubes de Futebol Brasileiros'', encabeçada por Atlético-MG, Corinthians, Coritiba, Flamengo, Internacional e Vitória.

O documento (disponível neste link) faz uma projeção sobre as receitas dos 24 principais clubes de futebol do país e propõe um reparcelamento das dívidas da seguinte forma: 5% até 2015; 25% até 2021; 30% até 2027 e os 40% restantes até 2034. Além de considerar o ''enxuto'' prazo de 20 anos para o pagamento dessas dívidas, os clubes fazem uma projeção ao mínimo curiosa de elevação de receitas para os próximos anos.

Segundo o estudo, a projeção baseia-se em estudo recém-divulgado pelo Itaú BBA tendo como base os balanços financeiros de diversos clubes do Brasil e da América Latina.

O curioso, porém, é a projeção de receita futura que o estudo faz.

O primeiro item engraçado é o quanto os clubes consideraram como ''receita de TV'' nesse levantamento. O valor é referente apenas ao contrato com a TV Globo relativo ao Campeonato Brasileiro, excluindo-se o dinheiro recebido das demais competições.

Mas consideremos, então, apenas a previsão de receita geral apresentada no estudo. Por ela, em 20 anos os clubes de maior arrecadação do país vão apenas conseguir dobrar o quanto arrecadam atualmente. Nem o mais pessimista dos gestores poderia fazer tal projeção. Só para se ter uma ideia, desde 2008 o futebol brasileiro aumentou em cerca de 80% a sua arrecadação, sendo que o Corinthians saltou de R$ 181 milhões para R$ 358 milhões num período de quatro anos, um dos maiores saltos ao lado do Santos.

Num cenário com abertura de novos estádios, fortalecimento dos programas de sócio-torcedor e profissionalização dos departamentos de marketing dos clubes, é simplesmente absurdo achar que serão necessários 20 anos para dobrar a arrecadação atual dos times brasileiros.

Detalhe importante do estudo revelado pela CBF é que ele justifica que é preciso deixar menos duro o plano de renegociação das dívidas dos clubes uma vez que a capacidade de geração de receitas é baixa perto da proposta já apresentada.

É a velha história. A interpretação dos números pode muitas vezes trabalhar em favor de quem detém a informação. Nesse caso, claramente os clubes, que quase sempre são os mais otimistas na previsão de receitas, tentam mostrar que o cenário do futebol nacional não é esse conto de fadas que se imagina.

Seria interessante observar quais números seriam apresentados se a proposta não fosse para pagamento de dívidas, mas para ter um sócio-investidor dentro do clube…