Negócios do Esporte

Até quando?

Erich Beting

Sim, você não leu errado. Dois dias depois, o mesmo título volta a ser usado aqui neste espaço para falar sobre nova barbárie que acomete o futebol no Brasil. Assim como foi no fim dos anos 90, começa a ser formado um movimento claro de que estão passando o serrote no pé da mesa para que ela, muito em breve, tombe.

E a virada será espetacular. Pode até, veja só, acometer o Flamengo, dono da maior torcida do Brasil, e não apenas a Portuguesa, que hoje perdeu a força do passado, embora siga a ter bravos e fieis seguidores.

Mas o que representa mais uma virada de mesa na prática para o futebol no Brasil?

Dentro do que vem sendo feito no esporte aqui no país nos últimos cinco anos, não é de se estranhar que os clubes não estejam nem um pouco preocupados em buscarem, na interpretação da lei, aquilo que não conseguiram fazer dentro de campo. Desde a implosão do C13 e a consequente negociação individual dos direitos comerciais do Brasileirão que a regra do mercado da bola passou a ser o egoísmo.

O dirigente pensa primeiro no seu clube e só depois no seu ''rival''. Foi essa lógica tosca e deturpada que fez o Corinthians peitar todo mundo e bater o pé para ganhar mais da TV. Foi aí o início do fim de qualquer chance de o futebol brasileiro melhorar como produto no médio prazo.

Não que o Clube dos 13 fosse bom, mas em qualquer segmento da economia, é muito, mas muito mais eficiente, as empresas que trabalham no setor se unirem para negociações coletivas. Elas geralmente trazem menos custos para a companhia e/ou mais receitas. No caso do futebol, como cada clube tem seu passado perverso com a Globo, a negociação individual dos direitos enfraqueceu o poder de barganha do grupo e deixou a emissora controlar como bem quer o produto.

Agora, mais uma vez, os dirigentes voltam a pensar apenas em si próprios. Uma virada de mesa, atualmente, levaria junto não só o que está sobre ela, mas todo o fiapo de credibilidade e confiança que o mercado ainda deposita no futebol.

Quando novos estádios não significam nova mentalidade na gestão do relacionamento com o público, quando mais dinheiro em caixa só significa aumento irracional dos gastos, quando nem mesmo o resultado esportivo é respeitado, o que resta de argumento para que um potencial investidor coloque dinheiro no futebol?

O falido modelo de patrocínio implementado por Corinthians e Ronaldo terminou antes mesmo da Copa do Mundo. Hoje não é bom investir no futebol. A marca concorre com outras cinco, pelo menos, dentro do próprio uniforme do clube, o que dirá no universo macro?

A televisão, que poderia ser uma forma de garantir maior capilaridade para todos os clubes e assim aumentar o retorno de quem investe, respaldada em contrato só coloca dois clubes para serem exibidos.

O torcedor, que seria a mola propulsora do consumo e consequentemente do motivo para que uma empresa investisse no clube, está colocado em segundo plano até pelos clubes que são os mais modernos em suas gestões.

O dirigente, que deveria ser o responsável por olhar a saúde do negócio futebol no médio e longo prazo, olha apenas para a tabela de classificação, preocupado com a mancha em sua imagem que um possível rebaixamento pode causar.

Até quando o futebol no Brasil continuará a agir dessa forma? Se a mesa for virada desta vez, serão necessários pelo menos cerca de 15 anos para recuperar tudo o que se perdeu.

No cenário atual, é incomparavelmente melhor jogar apenas um ano a Série B…