Negócios do Esporte

Arquivo : fevereiro 2014

A Copa virou muleta para a falta de patrocínio
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Erich Beting

“Atualmente estou sem patrocínio, diferente (sic) dos outros anos que corri atrás de patrocinadores e obtive sucesso, nesse ano de Copa do Mundo os olhos dos patrocinadores estão voltados para o futebol e os outros esportes ficam de lado. Sou uma atleta que nunca se deixou vencer e nunca medi esforços para representar o nosso Brasil e presentear meus compatriotas com medalhas novas medalhas. Quero mais uma vez participar de uma Olímpiada, e desta vez dentro de casa, em 2016, na minha terra natal.”.

O trecho destacado acima é parte do texto publicado por Maurren Maggi, primeira mulher a ganhar uma medalha de ouro olímpica em esporte individual no Brasil. Ele faz parte do site em que Maurren pede ajuda financeira para continuar a se preparar para os Jogos do Rio de Janeiro.

O curioso do texto e do projeto é que, em nenhum momento, a atleta questiona a capacidade que ela tem em dar retorno para quem investir no seu projeto. Premissa básica de qualquer proposta de patrocínio, Maurren cai no mesmo erro da maioria do mercado esportivo brasileiro, que ainda confunde patrocínio com caridade.

Problema crônico da indústria esportiva, a reclamação sem fim pela falta de apoio ganhou, neste ano, um novo vilão. A Copa do Mundo se transformou na muleta perfeita para atletas e entidades justificarem a falta de patrocínio. Até mesmo os clubes de futebol passaram a adotar esse discurso de “verba realocada para a Copa” para tentar explicar por que não conseguem verba.

O fato é que a realidade do mercado de patrocínio mudou substancialmente. As empresas têm, cada vez menos, chance para errar. Apostar num patrocínio errado pode representar o fim de uma carreira dentro de uma companhia. Se há um legado dos eventos esportivos no Brasil que já se percebe dentro das grandes marcas é esse. As empresas estão pensando um pouco mais antes de agir. O esporte começou, aos poucos, a entrar na estratégia de comunicação das marcas. E isso significa que elas passaram a buscar as propriedades que asseguram retorno sobre o investimento, e não mais projetos de patrocínio que sejam “caridade”.

Um patrocinador, hoje, precisa saber quanto ele se beneficia ao associar uma marca a um atleta ou esporte. Se não houver certeza de que o negócio é bom, ele simplesmente não vai fazer caridade. Por isso, a indústria esportiva precisa saber se vender cada vez melhor. Ser um vencedor não é mais vantagem competitiva para atrair a atenção de um patrocínio. É preciso ter mais a oferecer.

No caso de Maurren e de diversos outros atletas, o discurso precisa urgentemente mudar. Não é para ajudar no “sonho de ser atleta” ou no “sonho de competir nas Olimpíadas” que uma empresa fará um patrocínio. É para ela conseguir ter retorno com isso. Seja em imagem, em vendas, em relacionamento com clientes, em palestras motivacionais para os funcionários, etc. O atleta precisa saber o que a empresa tem de necessidade para então vender a ela uma facilidade. Só assim a relação de um patrocínio se torna vantajosa.

Se o problema fosse a Copa do Mundo, nenhum outro patrocínio existiria no esporte brasileiro. A Nissan não teria mais de 30 atletas e paratletas patrocinados, a Vale não teria um projeto abrangente, a Sadia não investiria em atletas e confederações, o Bradesco não teria patrocinado Olimpíadas e seis diferentes modalidades, o judô não estaria com mais de dez patrocínios, o rúgbi não teria tantas marcas associadas, etc.

A Copa do Mundo precisa parar de ser usada como desculpa para mascarar algumas realidades. Nunca atletas, clubes, confederações e modalidades ganharam tanto com patrocínio como nesse período. Será que esse não é parte do problema? O patrocínio esportivo no Brasil não está caro demais para o retorno de menos que tem dado?

Entre fazer uma “vaquinha” para buscar dinheiro ou montar um plano consistente para que uma marca decida investir num atleta, o que é mais profissional?


Os caminhos de Caio e Idel no “novo” marketing no futebol
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Erich Beting

Caio Campos deixa o marketing do Corinthians e passa a ser consultor do Sport Recife. Idel Halfen assume como diretor de marketing do Fluminense, passando a ser remunerado para exercer a função.

Essas duas notícias foram os principais destaques da semana pré-Carnaval no marketing do futebol brasileiro. Afinal, a movimentação de profissionais de um clube para outro ou mesmo dentro de uma mesma agremiação é uma boa nova para o mercado.

A efetivação de Idel como executivo remunerado de marketing é semelhante ao movimento ocorrido no futebol da Europa no fim dos anos 90, quando profissionais do mercado começaram a ser contratados para trabalhar no gerenciamento de clubes. Foi o princípio da revolução dentro dos times, que passaram a pensar e agir com a mentalidade empresarial. Dentro de campo acontece o imprevisível, fora dele o trabalho precisa ser o mais racional possível para ter resultado.

Já a saída de Caio Campos, que estava há quase uma década no Corinthians, e a montagem de uma empresa de consultoria já com um cliente como o Sport revelam uma nova característica no futebol. O profissional que teve destaque consegue ser referência e levar outros a tentarem um caminho de profissionalização. Esse tipo de ação é muito comum hoje no mercado europeu e foi o que sustentou o crescimento do esporte nos EUA nos anos 80/90.

Executivos que tenham feito um excelente trabalho num determinado esporte monta o negócio próprio para ajudar outras modalidades e clubes que estejam num estágio anterior de desenvolvimento. Isso traz novas ideias para quem os contrata, mas não cria um “choque de valores” como acontece na maior parte das vezes quando um executivo de outra área de mercado desembarca no universo do esporte, com todas as suas peculiaridades.

Quando o futebol começa a abrir espaço para casos como os de Idel e Caio, é sinal de que novos tempos vão soprando. Os dirigentes, cada vez mais, sabem que o marketing é um departamento precioso num clube. É ele que alimenta a paixão do torcedor, que por sua vez é o combustível para o clube ganhar mais dinheiro e, assim, ter teoricamente melhores condições de montar equipes mais competitivas.

O que é preciso saber é até que ponto os dirigentes estão propensos a investir nessa profissionalização. O Corinthians, que parecia ser o clube com um processo irreversível de mudança de patamar, parou no tempo desde que o sinalizador atingiu fatalmente o boliviano Kevin Espada. Desde ali, Mário Gobbi perdeu a mão sobre o clube, que caiu dentro e fora de campo, sem conseguir implementar nenhuma grande novidade no mercado.

Os caminhos tomados por Caio Campos e Idel Halfen sinalizam um novo jeito de encarar o marketing no futebol. Resta saber se serão casos isolados ou movimentos que ditarão a tendência nos próximos anos. Nos EUA e na Europa o grande salto para a profissionalização surgiu a partir desses movimentos embrionários, mas sintomáticos. Mas como aqui é o Brasil, é melhor esperar para ver…


Marca global, atuação local?
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Erich Beting

Um dos mantras da globalização era o de que as marcas poderiam se tornar globais, mas que precisavam, para ter sucesso, terem atuações locais. Foi com base nisso que a Adidas nos Estados Unidos provavelmente planejou as duas polêmicas camisas feitas em alusão ao Brasil e à Copa do Mundo. Para o mercado americano, muito daquilo que se pensa do Mundial tupiniquim é isso. Uma chance de louvar a paixão pelas curvas da mulher brasileira e também uma oportunidade de marcar alguns gols…

As polêmicas camisas feitas pela Adidas para a Copa. Nos EUA!

As polêmicas camisas feitas pela Adidas para a Copa. Nos EUA!

Era uma ação local, pensando em atender o consumidor americano. Mas a marca é global. E, aí, a Adidas no Brasil, e na Alemanha também, paga o preço pela iniciativa. A partir do momento em que tem forte atuação por aqui, principalmente por ser a patrocinadora da Copa, não tem como a ação feita pela empresa nos EUA não ter reflexo entre os brasileiros.

O caso da camisa é um interessante meio de se perceber o quanto o mantra de que uma marca global deve ter atuação local é válido. Mas desde que respeite, também, a relação inversa. A ação local de uma marca não pode, nunca, ignorar a presença global dela. Se a Adidas fosse uma empresa que só vendesse produtos para o mercado americano, o problema seria muito menor. Mas, a partir do momento em que a marca não só tem forte atuação no Brasil como patrocinará o evento que é visto pelo país como chance de mudar um pouco nossa imagem no exterior, ela não pode assumir a (ir)responsabilidade de comercializar um produto desses.

A atuação local de uma marca global não poderá, nunca, ignorar o fato de que ela é, antes de tudo, uma empresa com presença em diferentes mercados. Daqui a pouco as marcas precisarão contratar especialistas em diplomacia internacional antes de aprovarem uma estratégia de marketing para determinado mercado. É o meio mais seguro de se fazer. E é o preço a se pagar por ter crescido de tamanho…


Rio Open pode ser o novo Guga no Brasil
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Erich Beting

“Tive uma semana fantástica, o torneio é muito bom. O Brasil e o Rio de Janeiro precisavam de um evento desse tamanho. O próximo passo, porque não, é tentar um ATP 1000”. Foi mais ou menos essa a declaração, que mais parecia promessa de campanha, de Rafael Nadal tão logo conquistou o Rio Open, torneio de tênis encerrado no domingo na Cidade Maravilhosa.

Ainda na quadra principal do complexo montado no Jockey Clube Brasileiro, Nadal levantou a bola do Brasil como nunca tinha feito. E jogou no ar a ideia de o país abrigar o ATP 1000, competição que só perde em importância para os quatro Grand Slam.

Nadal não foi o único a elogiar o torneio. Diversos outros atletas do porte de top 10 do ranking falaram bem da organização do Rio Open. Sinal de que há ótimas chances de, para o ano que vem, os próprios atletas ajudarem o torneio a ganhar fama.

E isso, para o desenvolvimento do tênis no Brasil pode representar o segundo grande passo desde o fenômeno Gustavo Kuerten. Guga foi importantíssimo para que o tênis ultrapassasse a barreira elitista que tinha. Quando tivemos o número 1 do mundo, há quase 15 anos, passamos naturalmente a ter contato com o tênis como nunca antes na história.

Agora, o salto é outro.

Ao termos um torneio da magnitude de um ATP 500 (o terceiro em grau de importância do calendário), passamos a ter atletas mais qualificados jogando em solo nacional. Isso atrai cada vez mais público e, com isso, o interesse pelo esporte aumenta.

Outro aspecto curioso é que os jogadores brasileiros crescem ao disputar torneios assim. Neste ano, Thomaz Bellucci chegou às quartas-de-final. Com isso, subiu 22 posições no ranking. Mais atletas na ponta asseguram um aumento da cobertura da mídia sobre o esporte.

Mesmo na estrutura provisória do Jockey, o Rio Open conseguiu satisfazer patrocinadores. Com o espaço do clube para relacionamento, todas as marcas tinham estandes com espaço para interação com o público e, assim, conseguiam exibir produtos a potenciais clientes.

Pode parecer uma certa heresia, mas havia mais espaço para ações de marca do que em Roland Garros, principal templo do esporte (e que, é verdade, sofre bastante com a falta de espaço para a locomoção do público).

O único porém, mais uma vez, foi em relação à cobertura televisiva. Com os direitos de transmissão restritos ao Sportv, o Rio Open perdeu a chance de expandir o torneio para outros meios.

Mas, num cômpito geral, é um evento que tem condições de alçar o tênis para outros públicos. Para isso, porém, é fundamental que seus organizadores tenham noção de que esse é um projeto para médio e longo prazo.

Esse, talvez, seja o principal desafio a ser vencido pelo Rio Open. Fazer um projeto mais longo num país que culturalmente olha apenas o amanhã. Se conseguir, ele tem enorme potencial para ser o responsável pelo segundo grande salto do tênis no Brasil.


Medo de protestos já tem vítima na Copa: o Fan Fest
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Erich Beting

Em 2006, na Copa do Mundo, a Alemanha inovou ao criar o conceito do Fan Fest. Os alemães propuseram uma solução para um antigo problema da Fifa, que era a grande concentração de pessoas em volta dos estádios na procura por ingressos para os jogos. Para evitar o acúmulo de gente sem bilhetes, a saída encontrada pela Alemanha foi usar áreas públicas de lazer distante dos estádios como centro de reunião de torcedores.

Simples e eficiente, o Fan Fest caiu nas graças da Fifa e foi o ponto alto do Mundial que mobilizou milhões de pessoas. Só para se ter uma ideia, na final entre Itália e França, em Berlim, cerca de 1 milhão de torcedores se reuniu no Fan Fest. Era gente de todo o mundo, que havia pensado em fazer uma viagem para ver a “final da Copa”, mesmo sem ter ingresso para ela. Os fan fests se espalharam pela Alemanha e deram tão certo que, em 2010, a Fifa decidiu ampliar o espaço para outros países além da África do Sul.

No continente africano, em pleno inverno e sem a cultura de espaço público de lazer como na Europa, a história foi diferente. O espaço era onde se registrava alto índice de criminalidade e, à noite, as temperaturas abaixo de 10°C afastavam o torcedor. Mas a experiência da Fifa com um Fan Fest em Copacabana alimentava o sonho de que, em 2014, os espaços voltariam a encher.

Por isso mesmo, sete empresas compraram a cota de patrocínio apenas ao espaço destinado para o torcedor alijado dos estádios. Nas praias de algumas sedes, os Fan Fests prometiam ser o local para união das pessoas e até para a democratização do próprio evento, restrito demais dentro de campo, mas amplamente divulgado fora dele.

Só que os protestos de junho passado, em plena Copa das Confederações, mudou radicalmente essa expectativa. Como parte da conta das manifestações se voltou contra o “Padrão Fifa”, o temor é de que o Fan Fest vire a alternativa para os manifestantes que não conseguirem ter acesso para os estádios. Da mesma forma que ele seria usado como uma válvula de escape para os sem-ingresso, agora ele deve virar o caminho para os “não vai ter Copa”.

Recife já abriu mão de sua Fan Fest. No Rio, o embate ainda continua. Nas outras sedes, há um enorme jogo de empurra entre os governos locais, que não querem arcar com as contas pré-combinadas de garantir a segurança do local. A Fifa agora tenta pressionar os governos com a possibilidade de multá-los por não cumprir com o contrato de que teriam de fazer o Fan Fest durante a Copa.

Na cabeça dos governantes, entre pagar a multa ou comprar a briga para fazer o Fan Fest, é muito melhor a primeira opção. Afinal, meses depois, as eleições é que são a verdadeira Copa do Mundo para os políticos…


Under Armour vai, finalmente, entrar no Brasil
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Erich Beting

O ensaio já vinha sendo feito há pelo menos um ano. Agora, no próximo dia 12 de março, a fabricante de material esportivo de origem americana Under Armour vai finalmente “dar as caras” para o mercado brasileiro. Um evento em São Paulo com o fundador da marca, Kevin Plank, o triatleta Chris McComarck e o lutador George Saint-Pierre marca o primeiro movimento mais midiático da Under Armour no Brasil.

O desembarque em solo nacional da fabricante acontece no melhor momento da empresa em quase 20 anos de história. Nunca a Under Armour faturou tanto quanto nos últimos anos (veja detalhes aqui). No Brasil, desde 2012 o time de basquete do Pinheiros é quase que a única propriedade patrocinada pela empresa. Agora, a chegada maciça ao país deve movimentar um pouco o mercado de fornecimento de material esportivo.

A chegada da Under Armour deve gerar uma boa disputa pela camisa de alguns clubes, como o São Paulo e o Grêmio, cujos contratos vencem no final deste ano. No Brasil, pelo tamanho do apetite da empresa, é difícil imaginar que o futebol fique de fora dos investimentos. Apostar em times populares é estratégia recente da marca, usada em suas entradas na Inglaterra (patrocínio ao Tottenham), no México (Toluca) e no Chile (Colo-Colo).

Isso pode mudar mais uma vez a configuração do patrocínio esportivo dentro do futebol. Não é impossível pensar que a UA possa começar a ocupar o lugar da Puma como uma terceira via aos clubes.

Além disso, a empresa deve apostar em alguns atletas, dentro de uma estratégia focada nos Jogos Olímpicos. O início da história da Under Armour, aliás, é esse. Kevin Plank era jogador universitário e estava inconformado com as roupas que usava embaixo do uniforme do time. Queria algo que lhe deixasse menos desgastado fisicamente. A partir dali, a empresa sempre apostou em roupas para atletas.

A entrada da marca, no Brasil, fará com que o mercado de material esportivo ganhe um concorrente de peso para as marcas que já estão estabelecidas por aqui. É bem possível que ela ajude a ocupar parte do vácuo deixado pela saída abrupta da Vulcabras (Olympikus e Reebok).

A julgar pelo evento de entrada da Under Armour, ela virá forte para o jogo, apostando nos bons resultados que o Brasil tem gerado para as marcas estrangeiras nos últimos anos. Resta saber se haverá espaço para o crescimento depois de tantos anos de domínio das grandes.


O grande embate da Champions no Brasil
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Erich Beting

Este meio de semana marca a volta da Liga dos Campeões da Uefa aos gramados e, consequentemente, à TV brasileira. Mas, no país, o grande embate relacionado ao torneio europeu ocorre bem longe dos campos. As principais emissoras de TV fechada no país aguardam o término da Copa do Mundo, em julho, para começarem o embate pela transmissão da Champions a partir da temporada 2015/2016.

Em julho, agosto e setembro a Uefa deve abrir a negociação pelo próximo triênio de transmissão da liga. Em outubro de 2011, a ESPN celebrou a renovação do contrato para a TV fechada pelos três anos seguintes após uma dura disputa com a Fox, que preparava a entrada no país e ajudou a elevar o valor pago pela competição.

Agora, a situação é bem mais complexa. Interessa não só à Fox, mas também ao Sportv, ter os direitos sobre a Champions. E isso deve fazer com que a Uefa consiga um dinheiro jamais visto pelos direitos do torneio em solo brasileiro. Afinal, a liga é considerada o “pote de ouro” das transmissões disponíveis no mercado atualmente. A Uefa sabe disso e deve jogar duro no leilão que deve promover entre as emissoras.

Atualmente, as empresas estão numa fase de conjecturas. Conversam internamente, pensam em negociações conjuntas, fazem contas, especulam para o mercado, discutem com importantes figuras do mercado de compra e venda de direitos de transmissão. Faz parte do jogo. E mostra o quanto a Uefa soube valorizar o seu produto nos últimos anos.

O embate no mercado brasileiro tem diferentes significados para cada um dos três principais concorrentes.

Para a ESPN, é questão de honra não perder o evento, já que isso significaria um baque enorme para a emissora, que já perdeu a exclusividade no Inglês, além das transmissões do Alemão (a partir da temporada 2015/16) e do Italiano, para a Fox. Para a Uefa, a emissora representa uma parceria de longa data e, também, uma grande entrega do produto dentro da ESPN, que teria de apostar todas as fichas na promoção do torneio.

Já para a Fox, a aquisição da Champions asseguraria um ganho substancial de audiência nas tardes durante a semana. Hoje, a emissora neófita no mercado tem força na exibição dos jogos da Copa Bridgestone Libertadores, mas não consegue manter o patamar de audiência no restante da programação. A liga, então, significaria um importante trunfo na programação. Para a Uefa, se o negócio não representa um ganho de exposição no mercado brasileiro, certamente deve representar muito mais dinheiro no bolso.

Por fim, para o Sportv, a aquisição dos direitos permitiria à emissora, enfim, ter um grande campeonato europeu para transmitir, algo que é um desejo antigo nos corredores da Globosat. Para a Uefa, o canal ligado à Globo também traria um aumento da sinergia nas transmissões, já que a emissora carioca dificilmente perderá os direitos na TV aberta. Sem dúvida a promoção da liga se tornaria ainda maior.

Hoje, pelo nível de importância do campeonato e grau de excelência nas transmissões, a Liga dos Campeões da Uefa se tornou um dos torneios mais desejados pelo público brasileiro. Preenchendo um vácuo aberto pela ineficiência na gestão de competições no Brasil, a Uefa ganhou mercados e, agora, ganha dinheiro com a exportação de seus times e atletas.

É muito provável que, após essa negociação, a Liga dos Campeões da Uefa seja a segunda competição esportiva mais valiosa do mercado brasileiro na televisão (obviamente atrás do Brasileirão). Algo que é totalmente incoerente pelo grau de maturidade que existe na relação do brasileiro com o esporte. Mas que é completamente explicável pelo grau de profissionalização que existe na entidade europeia.

O grande embate da Champions no Brasil está em fase embrionária. E deve esquentar a partir de julho, quando a Uefa deve abrir a negociação pelos direitos publicamente, como faz a cada três anos.


A tréplica do “chute no traseiro” de Valcke
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Erich Beting

Os olhos da mídia – esportiva ou não – estão voltados nesta terça-feira para o Costão do Santinho, em Florianópolis, onde acontece um importante julgamento sobre a Copa do Mundo de 2014. A quatro meses do evento, vamos saber o que a dona dele acha sobre uma das praças escolhidas para abrigar parte do show. É hoje que muito possivelmente sai a decisão sobre o futuro de Curitiba como sede do Mundial.

Hoje sim ou hoje não?

A cozinhada sobre a até agora mais problemática de algumas problemáticas sedes da Copa do Mundo da Fifa, mas que acontece no Brasil, não deixa de ser uma espécie de tréplica de Jérôme Valcke, o principal elo entre a entidade e o país da Copa, à polêmica de meses atrás sobre o “chute no traseiro” que o dirigente afirmou que precisava ser dado no Brasil.

Valcke estava coberto de razão quando exigiu de nós mais agilidade em tratar das questões relativas à Copa. Com certeza não se expressou da melhor maneira possível, mas o alerta dado por ele deveria ter ecoado melhor do que a levantada de bandeira típica do brasileiro de que  “só nós estamos capacitados para falar mal de nós mesmos”.

Agora, o possível vexame ligado a Curitiba é, também, uma excelente forma de Valcke comprovar que era preciso um chute no traseiro e que, vergonhosamente, o Brasil não soube se adequar corretamente ao nível de exigência de um evento como a Copa do Mundo.

Com certeza vai dar um pouco de trabalho para a entidade realocar quatro partidas nos outros estádios. Como já foi em outros Mundiais, com mudanças de sedes ao longo do período pré-Copa. Mas o prejuízo será bem maior para a imagem do país que rejeitou o “chute no traseiro” por acreditar que quem entende mais de se preparar para uma Copa é quem recebe o evento, e não quem é o dono…

No fundo, o debate sobre Curitiba não deixa de ser uma possível forma de Valcke dar, elegantemente, um belo de um chute no traseiro na arrogância do Brasil em achar que faríamos tudo às mil maravilhas em relação à Copa. Sim, a Fifa tem diversos erros, entre eles a arrogância. Mas, naquele contexto, as críticas que foram feitas ao Brasil tinham todo sentido.

O caso de Curitiba é só a comprovação da tese que Valcke tentou levantar naquela ocasião…


Acordo de Neymar com Castrol já demonstra seu novo status
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Erich Beting

O rosto do Brasil na Copa do Mundo no Brasil. Esse era, até a Copa das Confederações do ano passado, o status de Neymar perante o mercado publicitário. Principal jogador do Santos, o atleta tinha forte apelo no mercado interno brasileiro. Não à toa, tinha seus contratos com Nike, Red Bull, Volkswagen, Santander, Ambev, Heliar, Tenys Pé, Claro, Unilever, Mentos, Lupo e Panasonic. Todos eles tinham como peculiaridade a exploração exclusiva da imagem do atleta no mercado nacional, à exceção de Nike e Red Bull.

Não por falta de opção, mas sim pela falta de apelo de Neymar no mercado estrangeiro.

Hoje a biruta virou. Neymar foi anunciado como garoto-propaganda da Castrol para a Copa do Mundo (leia aqui). Agora jogador do Barcelona, o atleta é o rosto global da marca, como foi Cristiano Ronaldo para o Mundial de 2010.

O que mudou de meio ano para cá foi o status de Neymar. Apesar da fama do passado, o Santos hoje não é um clube de alcance global. O projeto de manter o jogador no Brasil até a Copa era utópico nesse sentido. A partir do instante que Neymar ganhou projeção dentro da seleção brasileira, não havia mais espaço para ele dentro do futebol nacional.

A ida para o Barcelona representa um outro patamar para a imagem de Neymar. Se, antes, o apelo dele como rosto da propaganda estava restrito ao mercado brasileiro, agora a história é bem diferente. Com o Barça, Neymar atinge diversos mercados. Seu rosto é estampado em diferentes países. Amanhã, na Liga dos Campeões, mais de 170 países verão o jogador em atuação pelo time espanhol.

Por mais aquecido que estivesse o mercado brasileiro, o apelo de Neymar era limitado ao tamanho do Brasil. Ao ir para o Barcelona, Neymar deixou de ser um astro local para se tornar global. Isso é um excelente motivo para explicar a mudança de clube do jogador, além da óbvia (e tumultuada) questão financeira.

O futebol brasileiro precisa entender que é urgente diminuir a defasagem em relação à expansão global do futebol europeu. Do contrário, chineses e americanos virão com milhões de dólares e uma excelente estratégia para preencher essa lacuna. E os jogadores terão novos mercados para expandirem suas marcas.


O golpe de mestre da Adidas com a Alemanha Rubro Negra
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Erich Beting

A Alemanha poderá vestir uma espécie de réplica da camisa do Flamengo na Copa do Mundo de 2014. Nesta quinta-feira, a federação alemã apresentou a camisa número 2 da seleção, feita pela Adidas para que os atletas usem durante o Mundial. O modelo, inegavelmente, lembra o uniforme do clube brasileiro.

A estratégia é um golpe de mestre da marca. Em uma única ação, ele valoriza dois grandes ativos da empresa. Parceiro mais antigo da fabricante, a seleção alemã desembarcará no Brasil com uma garantia de que terá, pelo menos, a simpatia do torcedor flamenguista, que vem a ser curiosamente um dos parceiros mais recentes da Adidas no mundo. Da mesma forma é uma ação que valoriza o Flamengo e aproxima-o daquilo que a empresa quis ao fechar o maior contrato de patrocínio da história do futebol brasileiro, que é projetar a marca do clube para o mundo.

Mas a chamada usada pelos alemães para o lançamento do uniforme mostra o longo caminho que ainda precisa ser percorrido.

“A camisa que usaremos no Rio” é a forma como a federação alemã mostra, em seu perfil no Facebook, o novo uniforme do time. Nos comentários, muitos torcedores relacionam o uniforme ao famoso personagem Freddy Krueger, do filme “A Hora do Pesadelo”. Outros criticam o uniforme por fugir da tradicional camisa verde utilizada pelos alemães em Copas. E muitos outros ficam irritados pelo fato de a camisa “rebaixar” a Alemanha para algo menor, que seria um time de futebol no Brasil.

A apresentação da nova camisa alemã, no perfil da marca no Facebook

A apresentação da nova camisa alemã, no perfil da marca no Facebook

A ação, nesse sentido, tem muito mais efeito para o torcedor brasileiro do que para o alemão.

A projeção do Flamengo para o exterior depende, muito, do conhecimento do clube no exterior. E isso ainda é um passo muito longo a ser dado pelo futebol no Brasil. Sem promover nossos times e competições no estrangeiro, ficamos com a falsa impressão de que nossos clubes são conhecidos pelos feitos do passado. A última vez que o Flamengo enfrentou um time da Europa foi no ano 2000, quando o clube participou de um torneio chamado Villa de Madrid.

São quase 15 anos em que os torcedores não são impactados pela marca do Flamengo no mercado europeu. Ao mesmo tempo, durante esse período os clubes do Velho Continente se organizaram e expandiram suas marcas e ídolos para o exterior. Para o torcedor alemão, é estranho que o seu país atenda a um anseio da marca patrocinadora e vista uma camisa que rompa com as tradições do país. Isso pode até gerar uma crise no mercado local.

Na relação da Adidas com o torcedor flamenguista, porém, a camisa foi um golpe de mestre. Ele ficará muito mais favorável às três listras depois disso.