Negócios do Esporte

O grande embate da Champions no Brasil

Erich Beting

Este meio de semana marca a volta da Liga dos Campeões da Uefa aos gramados e, consequentemente, à TV brasileira. Mas, no país, o grande embate relacionado ao torneio europeu ocorre bem longe dos campos. As principais emissoras de TV fechada no país aguardam o término da Copa do Mundo, em julho, para começarem o embate pela transmissão da Champions a partir da temporada 2015/2016.

Em julho, agosto e setembro a Uefa deve abrir a negociação pelo próximo triênio de transmissão da liga. Em outubro de 2011, a ESPN celebrou a renovação do contrato para a TV fechada pelos três anos seguintes após uma dura disputa com a Fox, que preparava a entrada no país e ajudou a elevar o valor pago pela competição.

Agora, a situação é bem mais complexa. Interessa não só à Fox, mas também ao Sportv, ter os direitos sobre a Champions. E isso deve fazer com que a Uefa consiga um dinheiro jamais visto pelos direitos do torneio em solo brasileiro. Afinal, a liga é considerada o ''pote de ouro'' das transmissões disponíveis no mercado atualmente. A Uefa sabe disso e deve jogar duro no leilão que deve promover entre as emissoras.

Atualmente, as empresas estão numa fase de conjecturas. Conversam internamente, pensam em negociações conjuntas, fazem contas, especulam para o mercado, discutem com importantes figuras do mercado de compra e venda de direitos de transmissão. Faz parte do jogo. E mostra o quanto a Uefa soube valorizar o seu produto nos últimos anos.

O embate no mercado brasileiro tem diferentes significados para cada um dos três principais concorrentes.

Para a ESPN, é questão de honra não perder o evento, já que isso significaria um baque enorme para a emissora, que já perdeu a exclusividade no Inglês, além das transmissões do Alemão (a partir da temporada 2015/16) e do Italiano, para a Fox. Para a Uefa, a emissora representa uma parceria de longa data e, também, uma grande entrega do produto dentro da ESPN, que teria de apostar todas as fichas na promoção do torneio.

Já para a Fox, a aquisição da Champions asseguraria um ganho substancial de audiência nas tardes durante a semana. Hoje, a emissora neófita no mercado tem força na exibição dos jogos da Copa Bridgestone Libertadores, mas não consegue manter o patamar de audiência no restante da programação. A liga, então, significaria um importante trunfo na programação. Para a Uefa, se o negócio não representa um ganho de exposição no mercado brasileiro, certamente deve representar muito mais dinheiro no bolso.

Por fim, para o Sportv, a aquisição dos direitos permitiria à emissora, enfim, ter um grande campeonato europeu para transmitir, algo que é um desejo antigo nos corredores da Globosat. Para a Uefa, o canal ligado à Globo também traria um aumento da sinergia nas transmissões, já que a emissora carioca dificilmente perderá os direitos na TV aberta. Sem dúvida a promoção da liga se tornaria ainda maior.

Hoje, pelo nível de importância do campeonato e grau de excelência nas transmissões, a Liga dos Campeões da Uefa se tornou um dos torneios mais desejados pelo público brasileiro. Preenchendo um vácuo aberto pela ineficiência na gestão de competições no Brasil, a Uefa ganhou mercados e, agora, ganha dinheiro com a exportação de seus times e atletas.

É muito provável que, após essa negociação, a Liga dos Campeões da Uefa seja a segunda competição esportiva mais valiosa do mercado brasileiro na televisão (obviamente atrás do Brasileirão). Algo que é totalmente incoerente pelo grau de maturidade que existe na relação do brasileiro com o esporte. Mas que é completamente explicável pelo grau de profissionalização que existe na entidade europeia.

O grande embate da Champions no Brasil está em fase embrionária. E deve esquentar a partir de julho, quando a Uefa deve abrir a negociação pelos direitos publicamente, como faz a cada três anos.