Negócios do Esporte

Medo de protestos já tem vítima na Copa: o Fan Fest

Erich Beting

Em 2006, na Copa do Mundo, a Alemanha inovou ao criar o conceito do Fan Fest. Os alemães propuseram uma solução para um antigo problema da Fifa, que era a grande concentração de pessoas em volta dos estádios na procura por ingressos para os jogos. Para evitar o acúmulo de gente sem bilhetes, a saída encontrada pela Alemanha foi usar áreas públicas de lazer distante dos estádios como centro de reunião de torcedores.

Simples e eficiente, o Fan Fest caiu nas graças da Fifa e foi o ponto alto do Mundial que mobilizou milhões de pessoas. Só para se ter uma ideia, na final entre Itália e França, em Berlim, cerca de 1 milhão de torcedores se reuniu no Fan Fest. Era gente de todo o mundo, que havia pensado em fazer uma viagem para ver a ''final da Copa'', mesmo sem ter ingresso para ela. Os fan fests se espalharam pela Alemanha e deram tão certo que, em 2010, a Fifa decidiu ampliar o espaço para outros países além da África do Sul.

No continente africano, em pleno inverno e sem a cultura de espaço público de lazer como na Europa, a história foi diferente. O espaço era onde se registrava alto índice de criminalidade e, à noite, as temperaturas abaixo de 10°C afastavam o torcedor. Mas a experiência da Fifa com um Fan Fest em Copacabana alimentava o sonho de que, em 2014, os espaços voltariam a encher.

Por isso mesmo, sete empresas compraram a cota de patrocínio apenas ao espaço destinado para o torcedor alijado dos estádios. Nas praias de algumas sedes, os Fan Fests prometiam ser o local para união das pessoas e até para a democratização do próprio evento, restrito demais dentro de campo, mas amplamente divulgado fora dele.

Só que os protestos de junho passado, em plena Copa das Confederações, mudou radicalmente essa expectativa. Como parte da conta das manifestações se voltou contra o ''Padrão Fifa'', o temor é de que o Fan Fest vire a alternativa para os manifestantes que não conseguirem ter acesso para os estádios. Da mesma forma que ele seria usado como uma válvula de escape para os sem-ingresso, agora ele deve virar o caminho para os ''não vai ter Copa''.

Recife já abriu mão de sua Fan Fest. No Rio, o embate ainda continua. Nas outras sedes, há um enorme jogo de empurra entre os governos locais, que não querem arcar com as contas pré-combinadas de garantir a segurança do local. A Fifa agora tenta pressionar os governos com a possibilidade de multá-los por não cumprir com o contrato de que teriam de fazer o Fan Fest durante a Copa.

Na cabeça dos governantes, entre pagar a multa ou comprar a briga para fazer o Fan Fest, é muito melhor a primeira opção. Afinal, meses depois, as eleições é que são a verdadeira Copa do Mundo para os políticos…