Negócios do Esporte

Mizuno prepara contragolpe nas corridas de rua

Erich Beting

O mercado de corridas de rua promete algumas boas novidades neste ano. A principal mudança é o novo comportamento da Mizuno dentro dele. Após um período de relativa passividade, em que a marca pouco atuou na relação com o corredor, o posicionamento agora é completamente diferente. Em busca do terreno perdido principalmente nos últimos cinco anos, a Mizuno decidiu focar seus esforços no atleta amador de ponta, que é aquele cara que corre um pouco acima do atleta profissional e é o principal formador de opinião dentro do mercado.

Durante quase uma década, quando começou a existir um mercado propriamente dito de corrida de rua, duas marcas tinham o domínio desse tipo de corredor: Asics e Mizuno. Há cinco anos, quando a Nike decidiu investir pesado nesse segmento criando o desafio São Paulo-Rio de Janeiro, a preferência do atleta amador de elite foi mudando. Com muito mais verba que as concorrentes, a marca americana rapidamente foi crescendo dentro da cabeça desses corredores. O desafio entre as duas principais capitais do esporte também foi fundamental para isso. E, de intrusa, a Nike passou a realidade em pouco mais de dois anos.

Mais rápida, a Asics conseguiu manter um público cativo, oferecendo uma gama maior de produtos e, principalmente, criando um circuito de meias-maratonas feitas para atletas rápidos e que leva o nome da marca, o Asics Golden Four. Além disso, a fabricante japonesa se posicionou por meio de patrocínios a alguns eventos importantes para esse tipo de corredor, como o Ironman, ampliando o alcance e o burburinho em cima da marca entre a elite dos amadores.

Agora, a Mizuno decidiu ir para o contragolpe.

A empresa, que também tem origem no Japão, passou a ser mais agressiva na relação com a nata dos atletas amadores, algo que foge um pouco do perfil da marca, mas que era absolutamente necessário pela realidade no mercado nacional. No ano passado, já havia feito a Mizuno Uphill Marathon, que foi a primeira maratona em subida do país. O desafio foi para apenas 50 corredores convidados.

Agora, o segundo passo do plano de comunicação direta com esse corredor foi dado. As provas de 10 milhas, que atingiam diversos tipos de corredores, foram substituídas por um circuito de seis meias-maratonas. A maratona de Porto Alegre, uma das mais concorridas do país, passou a ser patrocinada pela empresa. Nas próximas semanas, o apoio a mais um circuito concorrido de provas voltadas para atletas amadores de elite será anunciado. Enquanto isso, o atleta de baixo desempenho, que é responsável pela maior proporção de corredores, segue atingido pela marca, por meio de patrocínios de circuitos de provas curtas, com distâncias de 5 e 10 km.

A chance de crescimento da Mizuno dentro do mercado está exatamente na perda de fôlego da Nike. A marca americana, com os esforços centrados em Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, diminuiu o apetite pela corrida. Até por não ter muito mais com o que inovar depois do sucesso estrondoso da Nike 600k, a marca entrou num estágio meio de inércia nos últimos dois anos.

O grande desafio da marca, porém, reside exatamente naquilo que mais exige o atleta de ponta, mesmo que não sendo profissional. Ele precisa de bons produtos para correr. A boa qualidade do material oferecido ao atleta, ao lado do ineditismo da marca, foi o grande diferencial da Nike no crescimento dentro do mercado. Da mesma forma, a Asics conquista os atletas pela gama variada de produtos indicados para a chamada alta performance.

O maior entrave que pode existir para a Mizuno nessa nova estratégia da marca é não conseguir atender à demanda de produtos. Afinal, por mais aspiracional que seja a atuação de uma marca esportiva, ela precisa atender ao princípio básico, que é oferecer bons produtos para a performance do atleta. De nada adianta um ótimo plano de comunicação com o consumidor se o produto não for entregue à altura.