Negócios do Esporte

Arquivo : abril 2014

Por que o Flamengo se tornou o mais rico do Brasil?
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Erich Beting

Qual é o principal cliente de um clube de futebol?

A resposta a essa pergunta pode ser dada pelo balanço financeiro do Flamengo, que em 2013 alcançou o recorde de R$ 273 milhões sem a contabilização de receitas com a transferência de atletas (leia os detalhes aqui). O que levou o Rubro-Negro a se tornar o mais rico do Brasil foi, finalmente, olhar com carinho para aquele que é seu principal cliente, que é o torcedor.

Com receitas de patrocínio inferiores às do Corinthians, o Flamengo foi em busca da conexão com o torcedor para fazer com que aumentasse a receita do clube e, assim, ampliassem as condições de se montar times mais competitivos. Bilheteria e sócio-torcedor são, hoje, os alicerces de ampliação do faturamento.

Aqui no blog já fiz duras críticas a diversas atitudes tomadas pela diretoria Rubro-Negra sob a gestão de Eduardo Bandeira de Mello. Mas é inegável que o maior mérito do clube foi reconectar o torcedor e levá-lo a consumir. Não foi nada de outro mundo, tanto que isso é algo que também foi o ponto de resgate do Corinthians após a queda à Série B e que é o que move o esporte como negócio nos Estados Unidos e na Inglaterra e na Alemanha, principalmente. Mas que, aqui no Brasil, vira diferencial competitivo.

Só para se ter uma ideia do que isso significa, o Fla conseguiu só em bilheteria R$ 48 milhões. E, com o sócio-torcedor, R$ 16,5 milhões. Há potencial para crescer ainda mais. Para isso, o marketing rubro-negro precisa ser ainda mais agressivo para propor ao torcedor bens muito mais interessantes do que jogos em estádios por todo o país e ingressos mais acessíveis para os sócios-torcedores.

O caminho começou a ser trilhado. Como a própria candidatura de Eduardo Bandeira de Mello pregava, o Fla era um gigante em estado letárgico. Será que ele realmente acordou? Os números começam a dizer que parece que sim…


Somos todos bananas!
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Erich Beting

Sim, título é título. Feito para vender, chamar a atenção do leitor. Mas confesso que, desde ontem, tenho remoído, e muito, a repercussão do caso Daniel Alves. E a conclusão é de que, nessa história toda, estamos mais para bananas do que para macacos.

O gesto audacioso do lateral-direito brasileiro do Barcelona de comer a banana que lhe foi atirada foi, realmente, muito interessante. Mas não acho que a iniciativa de Neymar em tornar ainda mais popular o feito ao criar o seu “#somostodosmacacos” seja, de fato, tão louvável quanto isso.

Ao louvarmos a campanha pelas redes sociais, imitando o gesto de comer bananas, focamos o debate no que realmente não está em questão, que é a resposta do indivíduo ao preconceito sofrido. É preciso ter uma autoestima em alta para ter coragem de comer a banana. E, convenhamos, é muito mais fácil fazer isso sendo lateral-direito do Barcelona do que um menino pobre do interior da Bahia como foi Dani Alves. É um ato de bravura, mas que leva o foco do debate para o caminho errado.

Legal não é ser macaco, mas sermos humanos.

Os estádios de futebol são, há anos, locais de reunião de movimentos de ultradireita. Na Itália, na Espanha, na Alemanha, na Inglaterra, na França, em Portugal, na Rússia, na Ucrânia, etc. Não é, como disse o técnico Pep Guardiola, um “privilégio” dos espanhóis. Ainda mais numa Europa em crise econômica e com crise de desemprego, o cenário preocupa. Isso para não falar dos casos recentes em estádios sul-americanos.

Por isso mesmo, não podemos nos assumir “macacos”. Nós raciocinamos, sabemos, ou pretendemos saber, conviver em sociedade.

A resposta de Dani Alves é linda, mas muito mais correto fez o Villareal ao banir seu torcedor dos estádios. Punição severa para crimes severos é uma forma inteligente de se criar, pelo menos, o receio do delito. Se, como acontece desde sempre, formos apenas banir estádios, aplicar multas e/ou pedir “respeito”, não conseguiremos evoluir como sociedade. Isso não inibe o preconceito, isso não ajuda a criar a consciência de quão errado é destratar o outro, por qualquer motivo que seja.

O alcance mundial do esporte faz dele um dos bons instrumentos para educar pessoas. Aprender que se ganha e se perde, que é preciso trabalhar duro para alcançar um objetivo, que o trabalho em equipe gera as conquistas, que o talento individual necessita do apoio coletivo para brilhar, que todos somos iguais… Tudo isso pode ser inserido e ensinado para as pessoas numa partida de futebol.

Estamos, há anos, ensinando também que o estádio é um lugar em que há total permissividade para o preconceito. Há tempos que os atos racistas são vistos e passados impunemente. Quer dizer que foi preciso a pessoa alvo dos insultos responder a eles para que uma punição exemplar pudesse acontecer? Ou começamos a jogar contra o preconceito, a violência e tudo o mais que joga contra a sociabilização do esporte, ou seremos engolidos por eles.

Sinceramente, mais do que macacos, somos todos bananas.


Em dois anos, Neymar vai de promessa a protagonista na Nike
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Erich Beting

A ida para um clube de projeção mundial e a boa performance na Copa das Confederações elevaram o status de Neymar dentro da Nike. Em cerca de dois anos, o jogador brasileiro saiu de promessa a protagonista para a marca.

Em fevereiro de 2012, a fabricante americana promoveu em Nova York um evento para falar sobre as inovações da empresa para os Jogos Olímpicos. Naquela ocasião, a imagem de Neymar começava a ser usada em publicidade e apresentação de produtos sobre futebol.

Agora, dois anos depois, no mesmo tipo de evento, desta vez em Madri e para falar sobre as novidades para a Copa do Mundo, a imagem de Neymar é quase onipresente. O camisa 11 do Barcelona é o rosto principal da Nike FC, linha de produtos de futebol criada pela empresa para vender artigos a quem quer ter a modalidade como estilo de se vestir.

No ano passado, Neymar já havia sido “condecorado” como o principal astro da Hypervenom, chuteira que é um dos pilares da marca para a Copa do Mundo. Agora, o brasileiro é o protagonista de boa parte das campanhas ligadas ao Mundial. Neymar, aos poucos, vai substituindo Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho, os dois últimos grandes garotos-propagandas brasileiros da empresa. Há quatro anos, Trevor Edwards, então vice-presidente de marca da Nike, já dizia estar de olho no jogador, que tinha seu nome lembrado para fazer parte da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2010. Hoje, Edwards, que é o CEO da marca, aposta na chegada de Neymar ao Barcelona para alçar o atleta ao novo rosto mundial da empresa ao lado de Cristiano Ronaldo.

Com um histórico agressivo de comunicação, a Nike costuma apostar nos atletas mais carismáticos como protagonistas de campanha. Neymar, assim como Cristiano, consegue conversar com diferentes tipos de público e induzir o público a consumir. O desempenho da seleção na Copa do Mundo e do Barcelona pós-reformulação poderão fazer com que ele passe a ser o principal rosto mundial da empresa para a próxima década.

Não é nenhuma surpresa que, daqui a dois anos, no próximo evento de inovação da Nike, Neymar esteja por todos os lados e seja o grande astro para a mídia. Ainda mais com ele acontecendo às vésperas das Olimpíadas no Rio de Janeiro. Para isso acontecer, porém, o atleta precisará saber se tornar, cada vez mais, um ator.

* O blogueiro viaja a convite da Nike


Heineken consegue ser mais marcante que Uefa na Champions
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Erich Beting

Como fazer para competir com a Heineken? Essa foi a pergunta feita por um site especializado em marketing esportivo na reportagem sobre o recém-fechado acordo da Nissan para patrocinar a Liga dos Campeões da Europa a partir da próxima temporada. A pergunta não poderia ser mais certeira.

Hoje, a Uefa Champions League é muito mais uma “Heineken Champions League” do que da própria entidade organizadora da competição.

São vários os motivos que levam a isso, mas o fato é que a Heineken conseguiu se apoderar de tal forma do patrocínio que ironicamente passa a representar um problema para a própria Uefa.

Hoje, a cervejaria holandesa concentra quase todo o seu esforço de marketing na promoção da Liga dos Campeões. Nas palavras de Hans Erik Tuijt, vice-presidente de marketing da Heineken, “é preciso investir pelo menos dois dólares para cada dólar gasto no patrocínio. Se não, o patrocínio não será percebido”.

É exatamente esse o conceito que a marca tem aplicado aqui em Madri. A Heineken aparentemente é a única a ter entendido que, nesta semana, Madri é a capital do futebol na Europa. Espertamente, a marca foi quem mais se apropriou do melhor espaço que existe fora do estádio para falar com o consumidor. Nos bares pelas ruas da capital espanhola, diversas promoções são atreladas à transmissão dos jogos de Atlético e Real na cidade. O torcedor sem ingresso vai ao bar acompanhar a partida e ainda pode sair com a bola da Champions ou um ingresso para a festa que a Heineken fará na final no balneário de Ibiza (veja as fotos no final do post).

Segundo a cervejaria, mais de 50% das pessoas que acompanham a liga sabem que a marca é quem patrocina o torneio. Mas apenas 5% das pessoas já tomou alguma vez na vida a Heineken. A meta é fazer com que a associação cada vez mais direta da cerveja com o campeonato faça esse número saltar para 6%, o que representaria quase 1 milhão de pessoas a mais comprando a marca.

No fim das contas, dá para entender o porquê de tanto esforço de divulgação do patrocínio. Agora, porém, cabe à Uefa conseguir desassociar a sua principal competição de seu principal patrocinador. Do contrário, ela começará a ter dificuldade para vender tão caro as outras cotas de patrocínio.

É o curioso preço que a Uefa paga por ter tido um patrocinador tão interessado em seu evento…

Cartaz da Heineken em frente a um bar em Madri, com ação promocional para a final

Cartaz da Heineken num bar em Madri, com ação promocional para a final

Ação em outro bar premiava torcedor com a bola da final da Champions

Ação em outro bar premiava torcedor com a bola da final da Champions

O blogueiro viaja a Madri a convite da Nike


A Copa, finalmente, vai começar!
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Erich Beting

Nesta terça-feira o Brasil começa, finalmente, a entrar no clima da Copa do Mundo. O início do giro da taça do Mundial, pelo Rio de Janeiro, é o emblemático começo da instalação do “clima de Copa” para o torcedor. A taça vai passar por todas as capitais do país, numa chance única de cidades que não receberão o evento serem impactadas por ele. Da mesma forma, as propagandas da televisão começam a usar o motivo da C0pa do Mundo, tanto para o bem quanto para o mal.

Mas por que só agora o clima de Copa começa a pegar?

O maior problema para isso foi, exatamente, demorarmos tanto para nos prepararmos para o Mundial. Se tivéssemos cumprido à risca os prazos da Fifa, desde dezembro de 2012 todos os estádios estariam prontos. Isso faria com que o debate sobre o torneio ficasse muito mais concentrado na bola do que no que rola fora dela.

Sem todos os estádios prontos a menos de dois meses do Mundial, a preocupação real deixa de ser a escalação do time brasileiro, mas a conclusão das obras faltantes e, consequentemente, as críticas para a incompetência na gestão do torneio pelo país. Com isso, a mídia toda direciona a cobertura para as obras inconclusas do evento, e o clima de que o Mundial está desembarcando por aqui fica em segundo plano.

A simbologia da chegada do Tour da Taça acaba resumindo bem o que acontece hoje no país. Cabe à Coca-Cola, promotora do evento, fazer com que o clima da Copa “pegue”. Da mesma forma, a publicidade cada vez mais relacionada ao Mundial é o que vai colocando, aos poucos, o sentimento de que o torneio está próximo.

A falta de clima para a Copa é só mais uma evidência das inúmeras falhas de gestão do Mundial no Brasil. A má gestão da comunicação do torneio é um dos mais evidentes dele…


Luciano, o maior empreendedor do esporte brasileiro
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Erich Beting

Se você nasceu entre 1970 e 1985 e trabalha com esporte, muito provavelmente deve isso a Luciano do Valle. Foi graças ao “Show do Esporte”, nos domingos da TV Bandeirantes, que foi cunhada boa parte da atual geração da indústria do esporte no Brasil.

Além do espetacular narrador que foi, Luciano foi o maior empreendedor do esporte brasileiro. O boom de popularização que existiu no esporte nos anos 80 se deve a ele. Um cara que teve a visão da importância da mídia na massificação do esporte.

Que colocou sinuca ao vivo nos domingos, que trouxe NBA e NFL para cá antes mesmo de essas ligas montarem uma estratégia de internacionalização, que promovia grandes encontros do esporte nos seus “Verão Vivo” e “Inverno Quente”, que fez existir o vôlei no país, que deu novo salto ao basquete, que deu à Band, por diversas vezes, a liderança na transmissão esportiva.

Graças a Luciano, conseguimos ter o mínimo de cultura esportiva além do futebol. Gênio com o microfone na mão, ele foi ainda mais visionário no que se referia à relação da mídia com o esporte. Com uma brutal diferença: o modelo criado por ele era completamente rentável para o esporte, para os patrocinadores, para a emissora que exibia os eventos e para os profissionais de mídia que lá trabalhavam.

Mais do que o gogó afiadíssimo para gritar gooooooool, Luciano era o cara que permitia fazer existir toda uma indústria de marketing esportivo no Brasil quando isso ainda era chamado de “promoção”.

Luciano inspirou toda uma geração. Se hoje eu trabalho com aquilo pelo qual era apaixonado na infância, é graças à visão empreendedora dele de levar, para a TV, tudo o que fosse esporte, mesmo que não “desse dinheiro”.

O esporte perdeu Luciano do Valle. E precisa de novos Lucianos para conseguir voltar a ser grande.


As armadilhas no encontro de Dilma com o Bom Senso
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Erich Beting

A presidente Dilma Rousseff vai, finalmente, abrir diálogo com os jogadores de futebol. Pelo menos é isso que dá a entender pelo convite que foi feito aos representantes do Bom Senso FC para que se encontrem com a presidente. Mas há uma série de pequenas dúvidas que cercam essa reunião que podem minar o resultado desse inédito encontro, tal qual aconteceu no ano passado quando o Bom Senso foi recebido pela CBF.

O que move a presidente a querer receber os atletas?

É uma tentativa de politicamente solicitar que os jogadores não entrem em greve antes do início da Copa do Mundo, para não agravar o clima de insatisfação pré-evento?

É uma forma de aproximar a imagem da presidente à do Bom Senso, que tem a simpatia de boa parte da mídia?

É, afinal de contas, realmente uma intenção de a presidência da República se preocupar com os debates levantados pelos atletas?

Ou, no fim, é uma forma bem direta de a presidente deixar claro que não recebe a alta cúpula da CBF, mas tem o interesse de dialogar com os jogadores?

Essas questões são, no fim das contas, armadilhas que cercam o encontro do pessoal do Bom Senso com a presidente da República. É muito, mas muito bom, saber que Dilma está atenta às reivindicações dos atletas. Mas, de maneira alguma, essa reunião pode ser infrutífera.

No fim das contas, a bola do Bom Senso está sendo colocada na marca do pênalti. Resta saber se os atletas é que estarão prontos para fazer ou para evitar o gol. Em qual lado da cobrança eles estarão, só as portas fechadas do gabinete poderão dizer…


Nem a pau, Juvenal!
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Erich Beting

Juvenal Juvêncio viverá hoje o seu último dia na presidência do São Paulo. O eclipse da “Era Juvenal” foi feito, como quase todo o período dele à frente do clube, de forma midiática. O dirigente passou os últimos dias de seu mandato concedendo entrevista para a imprensa e rememorando a quase uma década no comando do Tricolor paulista.

Só na última terça-feira, Juvenal passeou de carrinho pelo estádio do Morumbi com Tiago Leifert, no “Globo Esporte”, da TV Globo, e terminou o dia numa longa entrevista ao programa “Bola da Vez”, na ESPN Brasil. Antes, já havia aparecido em quase todos os grandes veículos da capital paulista.

Em todas as entrevistas, muitas frases de efeito, grandes tiradas de sarro, momentos que oscilaram entre o folclore e a insanidade… Enfim, nada mais Juvenal.

Só que o fenomenal de toda essa saída midiática de Juvêncio do futebol é exatamente o comportamento da mídia em relação a isso.

Todo esse folclore que cerca o presidente são-paulino é, na sua maior parte, fruto da própria benevolência dos jornalistas no relacionamento com o dirigente. Cartolão das antigas, Juvenal deveria ser espécie extinta num futebol em estágio de semiprofissionalização como o nosso. Não é, nem será, enquanto tiver, na imprensa, respaldo para as atitudes arcaicas de gestão que geralmente acompanham esse tipo de dirigente. Seja a gestão de pessoas, seja a do negócio.

O que você acharia se o presidente da empresa para a qual você trabalha decidisse atropelar a ordem de seu chefe direto e simplesmente te colocar para trabalhar em outro cargo de um dia para o outro? Ou, então, que o deixasse de fora de um projeto sem uma explicação minimamente razoável? Ou, ainda, que chegasse, no meio de uma reunião, e prometesse dar dinheiro para todo mundo se sua empresa ganhasse um novo cliente? Qual grau de profissionalismo existe num presidente que atua dessa forma? Quais seriam as manchetes que um veículo de mídia traria no caso de ter um presidente que agisse assim e, mais do que isso, confirmasse que faz isso mesmo e que só assim a empresa dele vai para a frente?

Juvenal é, em sua essência, um totalitário. Gosta do poder e sabe o que é preciso fazer para continuar com ele. A mídia, nesse jogo, passa a ser o meio de legitimar esse estilo de ser. Nos dois programas de TV pelo qual passou, Juvenal destilou sua habilidade de encantar jornalistas por meio de frases de efeito que geram grandes manchetes, mas empobrecem o futebol.

Respaldado pelos títulos do passado e pelo folclore do presente, Juvêncio deixa o São Paulo, para o público em geral, pior do que quando entrou. O clube contraiu dívidas, piorou a performance esportiva e desfez a equipe técnica que foi um dos segredos da conquista do terceiro título mundial, em 2005. Isso sem falar no golpe do terceiro mandato, algo que não existia no São Paulo e que já havia sido responsável por debilitar seus principais rivais, Corinthians e Palmeiras, no passado recente. Internamente, a gestão foi marcada por melhorias e grandes polêmicas com o associado, que no fim é quem vota e escolhe o dirigente.

A bajulação ao “estilo Juvenal” de comandar um clube é, em boa parte, responsável pela corda-bamba em que vive o esporte atualmente. A ironia fina nas entrevistas, o sorriso de falso bajulador com o interlocutor, a frase de efeito que o distancia de uma resposta concreta, mas o aproxima de uma manchete desconexa. Tudo isso faz parte de um jogo de sedução. Ao jornalista, sobra um título polêmico, que rende cliques, vendas e pontos no Ibope. Ao cartola, isso dá popularidade.

Ao mesmo tempo que a mídia condena a truculência das torcidas organizadas, ela se satisfaz com o discurso autoritário de um dirigente, visto como único meio possível de se “liderar” dentro do universo do futebol. Sem perceber que uma coisa é reflexo da outra, a imprensa embarca na onda dos Juvenais e deixa o discurso de “profissionalização”, tão em moda nos últimos tempos, esvaziado pela falta de critério na cobrança de quem está no comando.

Não dá nem para rir das entrevistas de Juvenal. Elas são o reforço do esteriótipo que só tem feito o futebol perder grandes oportunidades nos últimos anos. Enquanto continuarmos a louvar o estilo folclórico dos nossos Juvenais, não poderemos ter discernimento para, por exemplo, criticar a gestão da realização da Copa do Mundo no Brasil.

Juvenal é a personificação do passado ainda presente no futebol.


E agora, Ituano?
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Erich Beting

O Ituano conseguiu um feito raríssimo no futebol paulista. Foi o terceiro campeão do interior da competição quando ela envolveu também a participação de todos os clubes “grandes” na disputa. O time de Itu se une, agora, a Internacional de Limeira (1986) e Bragantino (1990), como as zebras interioranas que pintaram no futebol paulista.

Só que a pergunta que se faz no dia seguinte ao título é: E agora, Ituano?

Do time titular que conseguiu a proeza de derrubar Corinthians, Palmeiras e Santos, quatro jogadores já poderão procurar novo clube para trabalhar amanhã. Outro, fica só até o fim do mês. Outros cinco ficam, no máximo, até dezembro. E só um tem contrato até o fim de 2015.

A maravilhosa conquista dentro do campo não pode mascarar o óbvio. O Ituano alcançou o maior feito da sua história, mas não sabe o que fazer disso, literalmente, dois dias depois da conquista.

O Ituano fez, como quase todo clube que tem só os Estaduais para disputar no primeiro semestre, uma aposta. Contratou jogadores por um prazo mínimo, para conseguir chegar até o fim do torneio com o menor prejuízo possível. Os atletas, sem outra alternativa, tiveram de aceitar o risco desse negócio. Arranjar um emprego temporário, na esperança de que, ao mostrar serviço, conseguissem ir para outro clube, numa recolocação no mercado.

E agora qual é o futuro desse time que, no jargão futebolístico, “deu liga”? Nenhuma novidade, o time será desfeito, os jogadores seguirão outros caminhos e, no fim das contas, alguns poderão ou não repetir esse trimestre de glória em outras praias. Quando as pessoas criticam os atletas que encabeçam o Bom Senso FC pelos pedidos de mudança que são feitos, simploriamente defendem que eles querem apenas trabalhar menos e continuar ganhando mais.

O caso do Ituano é a evidência de que, atualmente, os clubes menores vivem numa situação caótica. Precisam, para sobreviver, fazer uma aposta única durante três meses do ano. Se tudo dá certo, os atletas podem, talvez, ganhar uma sobrevida. O clube, porém, precisa recomeçar o ciclo. Afinal, o título não melhora em nada o status da instituição para quem quer trabalhar nela. Outro campeonato que dê visibilidade ao atleta e possibilidade de trabalho no longo prazo é só em janeiro do ano que vem…

É muito, mas muito legal, que o pequeno ainda consiga derrubar os grandes. Só que é muito, mas muito mais importante, que esse pequeno não deixe de existir dois dias depois de conquistar tal façanha. A vitória do Ituano pode servir como uma excelente reflexão para que se repense como dividimos as competições no futebol brasileiro. Não é necessário acabar com os Estaduais. Mas é preciso saber, e muito, o que fazer com os clubes que disputam o torneio.


Os tropeços das propagandas no álbum da Copa
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Erich Beting

O que era o grande negócio para a Panini, produtora do álbum de figurinhas da Copa do Mundo de 2014, virou-se contra a própria marca e contra quem decidiu fazer parte desse negócio.

A inclusão de publicidade no álbum, que para muitos foi uma “novidade” na edição deste ano, era um antigo desejo da empresa. É, aliás, prática comum nos álbuns. No da Copa, pelo fato de ela ser disputada no Brasil, pela primeira vez esse tipo de venda foi alcançada, já que há um maior interesse das patrocinadoras do Mundial em aparecer com a marca atrelada ao evento.

Só que isso causou revolta. Acostumado a ter os álbuns “limpos”, o consumidor não gostou de ter a publicidade no meio do álbum. Para piorar, a estratégia dos patrocinadores foi péssima. Além de colocar a propaganda, eles tiveram direito a seus próprios cromos promocionais. Aí, erro da Panini, que fez com que a figurinha da empresa estivesse dentro do pacote contando como um dos 5 cromos que o consumidor compra. No fim das contas, o colecionador do álbum “pagava” pela publicidade.

O que era para ser uma grande jogada se transformou, assim, numa grande bola fora. Mais ou menos como um pênalti perdido aos 45 do segundo tempo na final da Copa do Mundo, o álbum chamou a atenção mais pelo incômodo da publicidade do que pela diversão de se colecionar figurinhas. Nunca antes um álbum de Copa teve tanto sucesso no país. Mas, da mesma forma, nunca ele desagradou tanto quanto esse.

O grande erro nessa história, para o patrocinador, foi olhar o álbum como apenas uma propriedade comercial, e não como um objeto de colecionador. Possivelmente, quem decidiu pela compra do patrocínio não pensou com a cabeça de quem já completou um álbum pelo menos uma vez na vida.

Muito mais eficiente do que a propaganda, é gerar uma experiência única para o comprador da figurinha. Não é nada novo pensar assim. Quem tem mais de 35 anos deve ter colecionado, em 1982, o álbum da Copa do Mundo da Espanha. Nada oficial (até porque ele simplesmente não existiria se fosse nos dias de hoje, por ir contra qualquer propriedade da Fifa), ele foi um oferecimento da goma de mascar Ping Pong.

A capa do álbum da Copa de 82, inteiramente feito pela Ping Pong

Quem comprava o chiclete tinha direito a uma figurinha que vinha dentro dele. Uma ação extremamente promocional de uma marca. E que, nem por isso, causava irritação no consumidor. Pelo contrário, fazia com que as pessoas desejassem ainda mais a empresa que lhe proporcionava ter as figurinhas da Copa.

O problema do álbum da Copa de 2014 não foi ter a publicidade inserida nele, mas ter uma má estratégia para quem anunciou dentro dele. O grande erro foi não adaptar a comunicação para o meio em que a publicidade foi inserida. Liberty, Wiseup e Johnson & Johnson vão com certeza ser lembradas pelo torcedor. Mas, sem dúvida, não será do jeito que elas pensavam…

Um álbum de figurinhas não pode, nunca, ser tratado do mesmo jeito que uma revista com periodicidade definida. Em vez de prestar um serviço ao consumidor, essas marcas fizeram com que ele se sentisse usado. Agora é ter um pouco da criatividade para que a crise seja contornada. E isso, claro, vai custar mais dinheiro para essas empresas.