Negócios do Esporte

Arquivo : junho 2014

Barcelona perdeu mesmo o “més que un club”
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Erich Beting

Em 2006, o Barcelona se tornou o primeiro clube de futebol do mundo a pagar para ter uma marca aparecendo na camisa. Depois de mais de uma centena de anos, o Barça abriu espaço para um “patrocinador”. Mas em vez de receber para isso, o clube pagou para que a Unicef estivesse marcada na parte mais nobre do uniforme azul-grená.

A ação foi espetacular. Reforçou, e muito, o conceito de “Més que un club” que o Barcelona traz consigo desde que estabeleceu como meta se tornar o principal clube de futebol do mundo. O Barça era a vanguarda do futebol. Em vez de abrir espaço na camisa para que os milhões de dólares entrassem nos cofres, o clube buscava outras formas de obter grandes receitas.

O sonho de manter uma equipe de ponta sem precisar de um patrocinador de camisa ruiu assim que Sandro Rosell assumiu o comando do clube catalão. Com excelentes relações com o Qatar (ele foi o maior articulador da candidatura qatari para ser sede da Copa de 2022), Rosell anunciou um acordo inédito na história do Barcelona. Por 30 milhões de euros, a Qatar Fondation tirou a Unicef do peito da camisa do clube.

O conceito acabou ali. E, desde então, o Barcelona se tornou um clube comum. Embora ainda eclipsado pela disputa da Copa do Mundo, foi anunciado hoje mais um patrocinador na camisa. A Beko é a nova parceira do clube. E terá a marca estampada na manga do uniforme do Barça.

Em menos de três anos, de “Més que un club” o Barcelona se tornou um clube comum. Ao não mostrar para os parceiros comerciais melhores alternativas do que a exposição da marca na camisa, o Barça perde aquele charme que o tornava único.

A força da marca do clube, hoje, chegou a um novo patamar. Por incrível que pareça, muito mais baixo do que cinco anos atrás, quando anunciou o acordo de patrocínio de camisa mais valioso do mundo do futebol.

Será que é possível manter um clube com vários parceiros comerciais sem precisar lotear o uniforme? Qualquer equipe de ligas esportivas americanas provam que sim. Mas, para isso, é preciso ser “Mais que um clube”. Pelo menos na concepção de clube que o futebol tem, mundialmente, até hoje.


A Copa ajuda a dar um novo caminho até para o Ibope
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Erich Beting

Afinal, a audiência do futebol na TV aberta durante a Copa do Mundo está mesmo despencando? Foi esse o desafio proposto há uma semana dentro da redação da Máquina do Esporte. A ideia era saber se o fato de a Copa ser aqui mudou a maneira como as pessoas se relacionavam com o evento.

Até então, as reportagens e análises sobre os assuntos comparavam os números divulgados pelo Ibope em outras Copas com aqueles de 2014. E, aí, realmente a ideia que se tinha era de que a audiência estava em baixa.

O Mundial, no frigir dos ovos, seguiria a tendência dos últimos anos da TV aberta. A cada ano, é menos ponto no Ibope que os canais têm alcançado. Isso tem gerado crises e discussões filosóficas sobre o futuro dos programas e de que forma eles poderiam recuperar a audiência, já que temos um crescimento significativo da TV a cabo e da internet no país.

Há quatro anos, acompanhamos semanalmente os resultados da audiência esportiva em TV aberta pelo Brasil. Primeiro só com os índices de São Paulo, e desde este ano em diante também com os números do Rio de Janeiro. A constatação, especialmente no futebol brasileiro, é de que o interesse em acompanhar as partidas ao vivo é decrescente. Mas também percebemos, ao longo desses quatro anos, que é preciso entender muito bem como funciona a métrica do Ibope para conseguir, então, entender o que acontece realmente na audiência da telinha.

Mundialmente, os mercados de cada país possuem seus institutos de pesquisa que mensuram a audiência da televisão. Eles são importantes porque dão, para os anunciantes, uma ideia de qual o impacto de qualquer coisa que é exibida na telinha. Assim, sabe-se onde é melhor colocar o dinheiro e o quanto colocar em cada programa. Mas lá fora, diferentemente daqui, as audiências geralmente são divulgadas por números de pessoas.

E isso é o que causa o grande enrosco em relação à medição do Ibope no Brasil. Os números de pontos que o instituto divulga correspondem a um grupo de residências que ficam sintonizadas naquele determinado canal. E, a cada ano, como aumenta o alcance do Ibope nas casas, aumenta também o número de domicílios atingidos a cada ponto.

No ano passado, por exemplo, 1 ponto de Ibope em São Paulo representava 61.952 lares. Este ano, esse mesmo ponto vale 65.201 domicílios. Ou seja, são cerca de 3 mil novas casas para 1 ponto. Em 2010, eram 58.300 casas representadas em cada ponto. Ou seja, na Copa de 2014, o ponto do Ibope em São Paulo tem 7 mil casas a mais, ou cerca de 21 mil pessoas.

Sendo assim, fomos atrás da audiência em número de pessoas nesta Copa do Mundo, para não cair na análise mais direta dos números do Ibope. E a constatação é interessante. O Mundial pode, no fim das contas, ajudar até mesmo o Ibope a rever a forma como mensura a audiência no país.

Ah, o resultado do desafio proposto pela equipe da Máquina? A Copa do Mundo aumentou a audiência da TV aberta, mas os jogos do Brasil caíram. E por que isso acontece? Clique aqui para ter acesso à reportagem completa que explica e mostra bem esses números.


O caso Suárez explicita a diferença entre Adidas e Nike
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Erich Beting

“A adidas aprova a decisão da FIFA e condena o ato recente do jogador Luis Suárez. A companhia não tem mais previstas ações de marketing com o jogador durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e reforçará com ele e todos os seus atletas o bom comportamento e conduta que espera deles. A adidas vai rever os planos futuros com o jogador e discutir os aspectos da continuidade da parceria diretamente com ele e sua equipe”.

Esse é o curto pronunciamento feito pela Adidas a respeito da punição dada pela Fifa ao atacante uruguaio Luis Suárez, alijado da Copa após morder um adversário. Nele, a empresa deixa claro o descontentamento com a atitude nada correta de seu patrocinado e apoia a decisão da entidade que também é patrocinada por ela.

Mas, mais do que isso,  o comportamento da Adidas no caso mostra como a visão da marca é antagônica a de seu maior concorrente, a americana Nike. O caso de Suárez é muito menos delicado que o protagonizado pelo francês Eric Cantona, em 1995, quando ele atingiu com uma voadora um torcedor que o xingava ao ser substituído em partida da Premier League da Inglaterra.

Cantona ficou fora durante quase um ano, suspenso das competições. Nesse período, massacrado pela opinião pública, continuava a ter o contrato com a Nike em dia e também com o Manchester United, seu clube. No ano seguinte, o bad boy francês era o protagonista da campanha mundial da fabricante de material esportivo chamada “O Bem contra o Mal”. Ele tinha Ronaldo, então despontando no Barcelona, como coadjuvante na peça publicitária.

A relação da Nike com Cantona não só prosseguiu como se intensificou. Até hoje, ele é uma espécie de embaixador mundial da marca nas campanhas publicitárias. A fama de mau só o ajudou nessa relação.

O “azar” de Suárez, nesse caso, é ter o patrocínio da Adidas. A marca alemã sempre se identifica pela discrição no relacionamento com seus atletas patrocinados. Em vez da polêmica, a fabricante prefere aparecer apenas pela boa performance esportiva. É por isso mesmo que a Adidas prefere Lionel Messi a Cristiano Ronaldo, o grande patrocinado da Nike nesta Copa.

A diferença nos estilos se explica. A Nike surgiu no mercado no começo dos anos 70, bem depois da Adidas, que até então era líder absoluta nos artigos esportivos. Justamente no período em que o esporte como negócio se desenvolve, a marca alemã reinava. A Nike, então, assumiu para si a condição de “irmã mais nova” da relação das empresas de material esportivo com a indústria do esporte. Com o espaço ocupado pelo mais velho, coube a ela adotar uma comunicação agressiva. Para chamar a atenção, chocar, se fazer presente.

Deu certo, tanto que hoje a Nike é a líder de mercado em quase todas as categorias. O futebol é o mercado que ainda falta dominar, mas que está cada vez mais numa briga cabeça a cabeça. Ou dentada a dentada.

Se Suárez fosse um atleta da Nike, possivelmente a marca divulgaria um comercial fantasiando-o de vampiro no próximo feriado americano do Halloween. Como é bem capaz que o contrato com a Adidas não seja renovado, seria uma forma perfeita de a Nike anunciar seu novo patrocinado. Será nessa mesma época que a punição de quatro meses do futebol estará vencendo…


A Fifa joga contra seu principal patrimônio
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Erich Beting

É um escândalo a história que envolve a não-reimpressão dos ingressos de torcedores furtados na Arena de São Paulo na última segunda-feira (leia detalhes aqui). A partir do momento em que a Fifa proíbe que os torcedores furtados reimprimam seus bilhetes, ela presta um desserviço contra seu principal cliente.

Um dos maiores aprendizados que o futebol brasileiro tem com a Copa do Mundo é aprender a tratar o torcedor como um consumidor e maior responsável pelo espetáculo em campo. Desde sempre, a Fifa demonstra uma grande preocupação em fazer com que o torcedor tenha sempre uma experiência única nos estádios.

O assento não só está marcado, como é nominal. Nos estádios, sempre há opções de consumo e entretenimento pré, durante e após o jogo. Na cultura brasileira tão maltratada nos estádios, esses exemplos fazem crescer o nível de exigência do torcedor e eleva a qualidade do gestor. É factível que, após o Mundial, tenhamos muito mais críticas para quem maltratar o cliente.

Mas, no caso dos ingressos furtados dos torcedores, a Fifa marca um gol contra. E, pior, joga contra o principal patrimônio dela. Quando ignora uma ordem judicial para pretensamente proteger o seu negócio, ela derruba quem de fato financia todo o show.

Mais importante que Fifa ou Copa do Mundo é o torcedor. Se ele não se interessar por ela, adeus patrocinadores, mídia e, consequentemente, os bilhões de dólares que jorram nos cofres da entidade.

Sim, não é responsabilidade da Fifa a segurança dos torcedores nos estádios. Mas é no mínimo motivo de preocupação o bem-estar com aquele que gastou mais de uma centena de reais para poder ir ao jogo. Se ele foi furtado, ela tem de tentar ajudá-lo a solucionar o problema.

E as próprias regras criadas pela entidade ajudariam a resolver o impasse que pude acompanhar na Arena de São Paulo na última segunda-feira. Bastava alguém da Fifa ir até a cadeira ocupada pelo “dono” e exigir um documento de identificação. Não é o torcedor que comprou o bilhete? Então saia do estádio e vá prestar depoimento de como conseguiu aquele ingresso. Teoricamente é para isso que serve o ingresso nominal. Se não consegue fazer isso no jogo, que encontre um jeito de resgatar sua imagem com os prejudicados. Um ingresso para outra partida, ou o dinheiro todo de volta.

Só não dá para ignorá-lo. Isso é jogar contra quem, no frigir dos ovos, financia o show promovido pela Fifa.


Qualquer Copa latina será a melhor da história
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Erich Beting

“A Copa das Copas”.

O slogan que o governo federal tentou embutir para a Copa do Mundo parecia, até o apito inicial para Brasil x Croácia, uma conversa de lunático. Hoje, após o término das duas primeiras rodadas do Mundial, estamos vivendo, realmente, uma Copa do Mundo como há muito tempo não se via. Para a minha geração, muito possivelmente é a Copa das Copas de fato.

Os dois principais elementos que compõem a Copa das Copas, porém, tem muito mais a ver com situações conjunturais do que propriamente com o esforço e o preparo brasileiros para receber o evento.

Dentro de campo, o futebol prova a sua capacidade de retroalimentação. No pior momento da história fora de campo, com a Fifa envolta até o pescoço em suspeita de compra de votos, com diversos desmandos na congestão do futebol brasileiro e afins, temos um espetáculo dentro dele. Raros são os jogos com os times jogando para não perder. Raras são as vezes em que é previsível o que acontece nas quatro linhas.

Fora dele, porém, a sensação é de que temos muito mais capacidade do que havíamos imaginado. Sim, estamos muito mais bem preparados do que supúnhamos. Os aeroportos passaram com louvor nos testes até agora. A hotelaria está aguentando o tranco (quando o preço fica proibitivo, o torcedor dá um jeito e dorme por aí).

E o turista está fazendo uma baita de uma farra num país com inverno quente como o nosso e receptividade raramente vista em outros lugares. O turista, aliás, que é o principal elemento para fazer com que essa seja a Copa das Copas.

É tudo isso que compõe os ingredientes que tornam o evento, até agora, tão especial. Não é só o espetáculo dentro de campo, mas a relação do torcedor com a Copa. E isso, sinceramente, é algo que tem muito mais mérito na relação do povo latino com o futebol do que realmente com o Brasil.

O fato é que tínhamos nos esquecido de como a realização de uma Copa num país da América Latina é especial. A região é, disparada, a que mais gosta e transpira futebol no mundo. E isso encontra a sua mais perfeita tradução no Mundial de 2014, com todas as virtudes e defeitos do sangue latino no planeta bola.

A última vez que um país latino-americano abrigou a Copa do Mundo foi o México, em 1986. Longínquos 28 anos se passaram desde que o mundo conheceu, pela primeira vez, a “ola”. O leitor mais novo não se recorda, mas foi nos estádios mexicanos que começou a mania de fazer a onda que percorre a arquibancada inteira, numa nítida celebração das pessoas pela alegria de ver a um jogo de futebol.

Mas, em 1986, o futebol não estava tão conectado quanto agora. As distâncias entre os países eram as mesmas, mas os abismos econômicos tornavam muito mais difícil para que os torcedores se deslocassem com tanta facilidade de um continente a outro. A partir de 1994 é que a Copa do Mundo passou a ser um evento também para o mundo dentro dos estádios, e não apenas restrito aos torcedores locais.

E, desde 1994, estamos longe de ter uma Copa num país da América Latina. Agora que a Copa veio para cá, é que percebemos o quanto argentinos, mexicanos, colombianos, uruguaios, equatorianos, costarriquenhos e, claro, brasileiros são tarados por futebol. A ponto de invadir o estádio por não ter ingresso, ou então de dormir na praia para não perder a chance de ir ao jogo pelos proibitivos preços da hotelaria selvagem do Rio de Janeiro.

A Copa de 2014 está sendo a Copa das Copas não por mérito do trabalho brasileiro em receber o evento, mas pela paixão latina pelo futebol e pela Copa do Mundo. O que a torna mais mágica é que, dentro de campo, parece que essa paixão contagiou os jogadores. E, assim, temos um Mundial como há muito não se via.

A Fifa aboliu a ideia de rodízio de continentes para fazer a Copa do Mundo. Pelo bem do seu produto, deveria, pois, começar a pensar em fazer pesquisas de opinião para saber em quais regiões do mundo seria mais interessante para o público receber o evento. O único risco é que, a partir de então, todas as Copas sejam na América Latina.

Sem dúvida não há lugar mais apaixonante para se fazer um Mundial…


Ronaldo e a homenagem salgada a Klose
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Erich Beting

Ronaldo costuma não falhar quando o assunto é fazer propaganda. Raramente o R9 dá um ponto errado quando o assunto é dar retorno para os seus parceiros. Mas, no dia em que é alcançado no recorde de gols como artilheiros da Copa do Mundo, o brasileiro deu uma baita escorregada em seu perfil no Twitter.

Usando o seu perfil @ClaroRonaldo, fruto da parceria com a operadora de telefonia Claro, o Fenômeno escreveu a homenagem ao alemão Klose dando a ele as “boas vindas” ao grupo dos maiores artilheiros das Copas (imagem abaixo).

twitter_ronaldo

Até aí não haveria qualquer problema. Pelo contrário. É uma justa homenagem e uma honrosa lembrança de que só há apenas dois atletas nessa condição. Mas o grande problema foi a frase usada por Ronaldo. Não fosse pelo fato de que, ao dizer “Bem-vindo ao clube”, Ronaldo reproduzir o slogan do concorrente da Claro, patrocinadora do perfil do ex-jogador no microblog.

No trabalho de reposicionamento da marca da Nextel para o mercado, a empresa de telefonia móvel criou o slogan “Bem-vindo ao clube”. Na época, tinha Neymar, ainda começando a deslanchar na carreira, como principal garoto-propaganda.

Ronaldo mandou muito bem ao homenagear Klose. Mas não deixou de ser uma homenagem salgada. Pelo menos para o Fenômeno.

 


A marca Brasil que não sabemos explorar
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Erich Beting

Em 20 jogos, foram marcados 60 gols. Em apenas 10% das partidas disputadas até agora não saiu nenhum gol. Em apenas uma ocasião só foi marcado um gol na partida. Por sete vezes, pelo menos quatro gols foram feitos no jogo. A Copa do Mundo no Brasil tem sido, nessa primeira semana, realmente a Copa das Copas. Pelo menos na era em que o futebol começou a ser mais equilibrado, nos anos 70, que não víamos um Mundial tão festivo quanto o de 2014.

Nem tanto pelo fora de campo, mas especialmente pelo que rola dentro dele.

Curiosamente, no momento em que mais o futebol é maltratado para além das quatro linhas, com diversas suspeitas e comprovações de corrupção, com dirigentes arcaicos e pouco interessados na melhoria do esporte, é que os jogadores dão, dentro de campo, a mostra de que há esperança de melhoria. Se não for na gestão administrativa, que seja na área técnica, pelo menos.

Aí a Copa do Mundo desembarca no Brasil, ainda com receio de se saber o que esperar e como num passe de mágica, os gols começam a brotar, o futebol ofensivo e bem jogado aparece, os estádios enchem, os turistas festejam, as pessoas reduzem os protestos e, como geralmente acontece bem por aqui, transformamos tudo numa grande festa (agora sim dá para imaginá-la e vivenciá-la, Brahma, mas não há dois anos!)

O que mais surpreende nessa história toda não é nem tanto a farra da Copa fora de campo, mas o alto nível dentro dele. A que se pode atribuir isso?

A sensação que dá é que os times vieram para o Brasil dispostos a jogar como ficamos mundialmente conhecidos. Na dúvida, entre se acovardar na defesa ou partir com força para o ataque, ficamos sempre com a segunda opção. É mais genuíno, mais a nossa cara, mais sangue latino.

Esperar isso de um Brasil, Argentina ou Chile é normal. Agora, ver a Alemanha, a Suíça e a Itália atacando, trocando passes, fazendo jogadas ofensivas e se mandando para o ataque sem pensar na defesa, buscando a vitória e a ampliação do placar mesmo quando não precisa. Isso é novidade!

E talvez a vontade desses times seja exatamente essa. Ser um pouco Brasil. Ter a sede de vencer e convencer. De não jogar “por uma bola”, mas para encher a bola. De sair do jogo de cabeça limpa pelo futebol bem jogado, mais do que pelo título alcançado.

O único 0 a 0 acovardado desta Copa foi em Irã x Nigéria. Não por acaso, os dois times saíram devidamente vaiados da Arena da Baixada. Foi o único não-jogo do Mundial até agora. Todos os outros, bem ou mal, tiveram times dispostos a vencer.

A Copa do Mundo de 2014 viu na quarta-feira o fim de uma era de grande campeão da Espanha. Particularmente, nunca fui fã de um futebol que não deixa o adversário jogar por não lhe dar o direito de ter a bola nos pés. Mas foi uma ruptura na forma como se jogava o esporte nos últimos anos. O jogo coletivo no lugar dos espasmos individuais.

O que se vê nessa Copa tem muito dessa vontade de vencer que o Brasil criou há meio século e que a Espanha ajudou a ressuscitar nos últimos anos. Curiosamente, perdemos esse gene de nosso DNA na busca desesperada por um novo Mundial após 1970.

Chegou a hora de resgatar esse espírito. E, definitivamente, de criar uma marca Brasil para ser explorada. É ela quem vai permitir que tenhamos, de volta, um futebol interno que encha os olhos tanto quanto o que se joga desde o dia 12 de junho nos estádios brasileiros. Mas que não é produzido por nós.

A cada quatro anos, geralmente o futebol apresenta uma certa reciclagem proporcionada pela Copa do Mundo. O recesso dos times brasileiros bem que poderia estar sendo usado para que treinadores e jogadores vissem o Mundial pensando em resgatar esse DNA do nosso futebol.

Essa é uma “marca Brasil” que perdemos no tempo, que deixamos de explorar. Se voltarmos a procurá-la em nosso dia-a-dia. Nas categorias de base, nos times principais, na qualificação dos treinadores, certamente será mais fácil atrair mais receita para o futebol.

A Copa prova que gente interessada em consumir esse tipo de futebol não falta. Resta voltarmos a ser o melhor produtor dele.


Cristiano Ronaldo e o risco da inovação
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Erich Beting

No fim de abril, a Nike preparou um evento para a mídia em Madri para mostrar sua grande inovação vestida por seu maior astro. Cristiano Ronaldo mostrou para quase 400 jornalistas do mundo todo a Mercurial Superfly, chuteira que ele usaria na Copa do Mundo. Como grande diferencial, a estética do calçado: um cano um pouco mais alto. Num mercado há 70 anos estacionado no mesmo modelo de chuteira, o cano alto marca uma grande inovação da Nike.

Quando foi questionado, CR7 declarou que quase nada mudava em relação ao tradicional calçado.

“No máximo o cano protege o tornozelo de tomar umas porradas”, afirmou o jogador.

Aí chega a Copa do Mundo e…

Cristiano Ronaldo entra com o modelo da Superfly com um cano não tão alto assim. Segundo a Nike, a marca customiza o produto de acordo com o interesse do freguês. Na prática, a empresa sofre com o risco da inovação. Ao criar um produto que é muito diferente do usual, ela choca e se faz presente, mas corre o risco de a inovação virar contra.

Foi exatamente isso que aconteceu. O risco para a marca é que, sem o seu principal garoto-propaganda endossando o produto, o público não se sinta confiante para comprá-lo. Cristiano Ronaldo pode ter causado um problema bem maior do que simplesmente livrar-se de umas porradas ao usar o cano alto…

Abaixo veja a diferença entre a chuteira apresentada em abril e a usada na segunda-feira pelo ídolo português.

Germany v Portugal: Group G - 2014 FIFA World Cup Brazil

Cristiano e a chuteira usada contra a Alemanha

A chuteira, com o cano mais alto, apresentada em abril

A chuteira, com o cano mais alto, apresentada em abril

 


Na TV, Copa dá mostra da grandiosidade. Do futebol!
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Erich Beting

Mais da metade das televisões no Brasil estão ligadas na Copa do Mundo (leia aqui). Pelo mundo, outros milhões de espectadores estão assistindo ao Mundial, com algumas quebras de recordes de audiência segundo informações da Fifa. A explosão de audiência na telinha dá a mostra da grandiosidade nem tanto que a Copa do Mundo atingiu, mas principalmente que o futebol alcançou.

Curiosamente, muito desse aumento está relacionado não tanto à Fifa e ao Mundial, mas ao trabalho de dia-a-dia que os clubes e entidades europeias têm feito para que suas marcas se expandam internacionalmente.

Processo que começou, principalmente, no início dos anos 2000, a internacionalização da marca dos clubes europeus ajudou a levar, para o cotidiano das pessoas, os grandes jogadores desses times. Não por acaso, vemos o interesse, nos campos e fora dele, por Cristiano Ronaldo, Messi, Neymar e outros astros que já fazem parte do noticiário não apenas esportivo.

Esse salto de popularidade dos clubes e atletas europeus ajudou, nos últimos 15 anos, a elevar o grau de interesse das pessoas “comuns” pelo futebol e, consequentemente, pela Copa do Mundo. É por isso que, hoje, o Mundial consegue atrair tanta audiência. No Brasil, sentimos muito menos esse efeito, já que o futebol esteve culturalmente fincado em nossas raízes, ainda mais numa Copa.

Mas é nos outros lugares do mundo que a Fifa celebra essa expansão mundial. Quando cerca de 2% da população da Eslováquia está ligada, entre 0h e 2h de um domingo para assistir a Argentina x Bósnia Herzegovina, é sinal de que a coisa anda boa. Não sem razão, esse foi também o jogo em que o craque mundial Lionel Messi estreou nos gramados brasileiros.

A popularização da Copa é, para a Fifa, uma tremenda notícia. Além de ganhar cada vez mais da TV, ela conseguirá, mesmo em meio a tantos escândalos envolvendo escolhas de sede de Mundial, renovar contratos de patrocínio sem qualquer dúvida. E por valores maiores!

O futebol está cada vez maior no mundo todo. E a Copa do Mundo se beneficia disso.


Copa eleva o nível de exigência do torcedor
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Erich Beting

O blogueiro Julio Gomes escreveu neste sábado uma interessante análise sobre a Copa do Mundo no Brasil. Ou melhor. Como ele bem definiu, a Copa do Mundo da América do Sul. Sim, porque é isso o que está acontecendo até agora. Os países vizinhos do Brasil desembarcaram por aqui para poder torcer. E isso gera uma mudança gigantesca de patamar para o torcedor por aqui.

Não estamos acostumados a ter futebol em alto nível em terras sul-americanas. Nem tanto dentro de campo, mas especialmente fora dele. Reflexo da negligência das cartolas furadas que gerenciam o futebol do continente, o torcedor, aqui no Brasil e redondezas, está acostumado a achar que estádio de verdade tem de ser um lugar velho, com péssimas condições de conforto e insegurança. É o tal “espírito da Libertadores” que muitos veneram, mas que na realidade são o que são pelo fato de o torcedor não ter mais base de comparação.

E esse talvez seja um dos “legados” de Copa do Mundo para a população local (não só aqui no Brasil, mas na América Latina como um todo). Vamos aprender a exigir mais de um evento esportivo. Não apenas na qualidade do jogo, mas especialmente no tratamento que é dado ao torcedor.

Lugares marcados, respeito ao bilhete comprado, bom serviço de comida e bebida no estádio… Tudo isso passa a ser não mais um sonho distante, mas uma realidade palpável para o torcedor. Isso não significa deixar de ser vibrante dentro do estádio, mas sim de exigir melhores condições como artista do espetáculo que é.

É só conversar com quem foi pela primeira vez a um jogo de Copa neste Mundial. A mudança no nível da conversa já demonstra que, pós-Copa,  a exigência de experiência dentro de um estádio será outra. Ainda bem…