Negócios do Esporte

A falta que faz a união dos clubes

Erich Beting

Quando, motivados por um aumento substancial no dinheiro recebido da televisão, os clubes decidiram acabar com o Clube dos 13, lá em 2010, eles regrediram alguns bons anos na gestão comercial do Campeonato Brasileiro.

Não que o C13 fosse uma entidade que representasse bem os clubes. Mas, com erros e acertos, a instituição era um ponto único de negociação coletiva para os clubes no Brasil.

O fim de uma entidade representativa de classe significou o fim de qualquer possibilidade de se facilitar a negociação de acordos comerciais coletivos para o futebol no Brasil.

O problema entre a EA Sports e os clubes para ter os times brasileiros na versão do Fifa 15 é mais uma prova de como pode ser maléfico o fim das negociações em conjunto dos clubes.

Na lógica do negócio da EA, foi mais simples deixar de ter os clubes do Brasil do que ter de sentar e, um a um, renegociar todos os contratos. A avaliação é de que é mais simples ter de abrir mão dos times locais do que perder tempo e dinheiro renegociando os acordos previamente firmados.

A questão que envolve os games não é financeira. Com o calendário inchado e desconexo da Europa, os jogos são uma forma de levar a marca dos times para o exterior. Ao não ter os brasileiros no game oficial da Fifa, a perda dos clubes é significativa.

A Europa ensina há décadas que viver só do dinheiro da TV é um risco. E o futebol no Brasil parece que só tem olhos para essa fonte de receita. Enquanto não houver um trabalho para fazer com que os clubes voltem a ter alguém que os represente de forma única, será cada vez mais raro uma empresa querer fechar um projeto conjunto envolvendo o futebol no Brasil.

Os dirigentes continuam com a mentalidade tacanha de achar que os clubes são rivais entre si também fora de campo, quando a lógica deveria ser completamente oposta. Para ganhar maiores margens financeiras e conseguir ampliar o alcance de suas marcas, os clubes precisariam, urgentemente, voltar a pensar coletivamente.

Parece que só no futebol os principais executivos não acreditam que, às vezes, a união é o melhor para os negócios…