Negócios do Esporte

A nada sadia disputa da Copa do Brasil

Erich Beting

O nome é Copa Sadia do Brasil. Patrocínio bem pago pela Sadia para dar nome à segunda competição mais importante do país. Mas que, após a noite desta quarta-feira, parece que foi rebaixada a uma condição de sub-competição no Brasil. Nada que desabone as classificações, na bola, de Ceará, América de Natal e Bragantino. Mas que ficou, na torcida, na imprensa e até no comportamento pós-jogo de alguns a sensação de que os ''grandes'' se apequenaram propositadamente, ficou…

A eliminação de Internacional, Fluminense e São Paulo antes das oitavas de final da Copa Sadia do Brasil levou os times, automaticamente, para a disputa da Copa Sul-Americana, segunda competição mais importante do continente. Quer dizer. O Fluminense ainda depende de o Santos não perder do Londrina para ficar com a vaga como ''consolo''.

O fato é que é muito, mas muito estranho, acreditar que os três clubes, que estão na disputa pelas primeiras posições da Série A do Campeonato Brasileiro, puderam ser facilmente derrotados em casa para três times que não estão na elite nacional (sendo que o Fluminense levou cinco gols do América-RN e o São Paulo, três do Bragantino).

Não por acaso, a soma dos públicos de São Paulo e Fluminense não chega a 15 mil pessoas, enquanto, em Fortaleza, quase 50 mil pessoas lotaram o estádio do Castelão para acompanhar o Ceará voltando a fazer ótima campanha na Copa do Brasil após exatos 20 anos da inédita disputa da final, quando perdeu para o Grêmio.

A saída precoce dos times de maior torcida não apenas esvazia de público a Copa do Brasil. Sem eles, diminui o interesse da televisão em mostrar o campeonato e, na ponta final, do patrocinador em manter-se associado à competição.

Quando justificou o patrocínio à Copa do Brasil, ainda usando a marca da Perdigão, a BRF dizia que aproveitaria o evento para realizar ações em diferentes praças do país. O apelo para isso, logicamente, era a disputa do time grande contra o pequeno em cidades desacostumadas a receber grandes eventos. Ter o patrocínio significava poder falar com o consumidor de forma distinta.

Na época, a BRF ainda não havia fechado com a CBF, que tinha acordo com a concorrente Seara. Agora, a Sadia já patrocina a seleção. Qual motivo será dado a ela  para que queira continuar a investir numa competição em que os clubes de maior apelo comercial decidem não jogar?

Numa época em que a Globo, principal fonte de financiamento do futebol na atualidade, começa a questionar os clubes e a CBF sobre o produto que está sendo entregue para o torcedor, o que se viu na noite de quarta-feira foi um acinte à inteligência do consumidor do futebol (sim, a começar por manter o horário de início dos jogos às 22h, a mando da emissora).

A disputa da Copa Sadia do Brasil, hoje, não é nada sadia para o futuro do futebol no país. E, muito menos, para os demais 11 patrocinadores que estão, de uma forma ou de outra, vinculados à competição.

Ou o futebol começa a receber a resposta do mercado, ou continuará a achar que é possível matar o produto lentamente. Perder propositadamente um jogo é uma das maiores afrontas que existe no esporte.