Negócios do Esporte

Arquivo : dezembro 2014

O ministro e a importância estratégica do esporte
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Erich Beting

George Hilton. Quem trabalha com esporte no Brasil nunca ouviu falar dele. Não é um ponta-direita da seleção do País de Gales dos anos 80, ou um quarterback de um time universitário da NCAA. George Hilton é o novo Ministro do Esporte, que será responsável por conduzir os planos do governo federal relacionados à realização dos Jogos Olímpicos de 2016.

Sim, só estou falando sobre o assunto hoje porque fiz uma pequena pausa nas férias ao me deparar com tamanha bizarrice. Nada contra George Hilton. Mas absolutamente nada a favor à indicação dele para Ministro do Esporte.

Parece que Dilma Rousseff se esqueceu do que foi o período pré-Copa do Mundo para o Ministério do Esporte. Aldo Rebelo foi convocado às pressas para tentar domar a instável relação da Fifa com o governo. Conseguiu, a duras penas, tranquilizar Jérôme Valcke e ganhou pontos a partir do famigerado episódio do “chute no traseiro”.

Agora, quando entramos na reta final da preparação olímpica, a decisão tomada pela presidência é de promover mais uma mudança no quadro do Ministério do Esporte. Não teria muito problema, se para o lugar fosse colocada uma pessoa que tivesse o mínimo de ligação com o tema (como foi com Rebelo) e noção do desafio que virá pela frente.

Mas, mais uma vez, o que se vê é que o governo não tem qualquer preocupação estratégica com o esporte. Nem mesmo quando temos o maior desafio da história do país em relação à organização de um grande evento o governo demonstra estar atento ao peso dessa responsabilidade. Continua a agir como se o esporte fosse algo de menor importância, quando, no momento, ele é estratégico para a imagem do país, inclusive para ajudar a apagar as manchas de petróleo deixadas pelo escândalo da Petrobras.

O trabalho bem desempenhado por Aldo credenciou-o a uma espécie de promoção, que foi assumir um Ministério de maior gabarito. O Esporte, assim, manteve seu status de pasta menos importante.

O comportamento de Dilma ao não dar atenção para o esporte, mantendo-o como um Ministério que serve como moeda de troca de apoios políticos, vai exatamente contra o princípio evocado pelo PT quando assumiu a presidência em 2003 e justificou a separação do Esporte do Ministério do Turismo.

Um governo que se preocupa tanto em melhorar a qualidade de vida das pessoas e que investe bastante em projetos sociais deveria entender o quanto o esporte é uma ferramenta eficiente para ajudar nesse processo.

Nada contra George Hilton. Mas, a menos de 600 dias para os Jogos Olímpicos, esperava-se que o Esporte tivesse uma consideração maior pelo governo. Até para assegurar que o passo dado para ter Copa do Mundo e Olimpíadas em prazo tão curto de tempo não se prove muito maior do que a capacidade que tínhamos para esses dois desafios.

Férias!
O blog ficará sem atualizações até o dia 5 de janeiro. Nos próximos dias colocarei a retrospectiva de 2014 no ar! Um abraço e obrigado pela companhia!


O atleta precisa deixar de ser espectador do esporte
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Erich Beting

O nariz de palhaço usado pelos atletas no vôlei foi a grande imagem esportiva do final de semana no Brasil.

O protesto feito pelos jogadores na Superliga coloca ainda mais pressão para que a cartolagem furada do vôlei se atualize. Com a participação dos principais nomes do país, inclusive aqueles que representam a seleção brasileira, o gesto tem ainda mais força do que aquele do Brasileirão de 2013, feito pelos jogadores de futebol, com o movimento que deu início ao Bom Senso FC.

Os jogadores do vôlei colocaram a CBV numa encruzilhada. Pressionam a entidade a se posicionar, a não deixar a poeira baixar e esperar o escândalo ser esquecido para que as coisas se ajustem. É fundamental, no processo de melhoria da gestão esportiva, que o atleta pense, se posicione, entenda a sua parte na cadeia produtiva do esporte.

Nos Estados Unidos, a classe dos atletas costuma ser bastante ativa. Para o bem e para o mal. Nas últimas semanas, a NBA se viu às voltas com uma situação no mínimo inusitada.

Alguns jogadores começaram a se aquecer para os jogos com uma camisa com os dizeres “I can’t breathe” (“Eu não consigo respirar”). A frase foi a última dita pelo camelô Eric Garner quando foi imobilizado por policiais nos EUA. O caso, ainda não solucionado, gerou revolta nos EUA, já que a princípio os policiais foram absolvidos. Há a suspeita de o crime ter motivo racial, já que o policial era branco e o camelô, negro. Os atletas que vestiram a camisa eram quase todos negros. Diante do posicionamento dos atletas, a NBA criticou a atitude apenas pelo fato de os jogadores não cumprirem o acordo que os obriga a usarem uniformes com a marca da Adidas, patrocinadora da entidade. Mas não foi além no caso, aplicando punições aos atletas, exatamente para não gerar uma crise de imagem, evitando passar o recado de que é contra a iniciativa.

No Brasil, não estamos acostumados a ver o atleta tomar posição. Ainda reflexo da cultura militarizada do esporte no país, acostumamos a considerar os esportistas apenas máquinas de competir, não de pensar. Essa falta de atitude, muitas vezes, causa um enorme problema. O atleta que não pensa em nada além da performance é facilmente manipulado. E, assim, permite que os dirigentes pratiquem gigantescos abusos sem serem questionados e pressionados pelos atos.

Em entrevista ao UOL, a frase de Murilo, do vôlei, é emblemática (a entrevista completa pode ser lida aqui).

UOL Esporte – Antes das matérias com denúncias contra a CBV você acreditava que isto acontecia?
Murilo – Não. A gente confiava porque…cara, eu estou na seleção há 10 anos, o Ary (Graça, presidente na época dos desvios) já era presidente e ele sempre foi muito de se vangloriar do modelo de gestão que tinha lá dentro. A conquista do Centro de Treinamento de Saquarema. Conquista atrás de conquista e a gente sempre elogiando, brigando junto. Descobrir isso é praticamente como ser traído. A gente sempre ficou ao lado dele, sempre apoiou as decisões dele e na verdade aquele castelo meio que desmoronou.

O atleta que questiona, que pergunta, que se intromete, geralmente é tachado de “chato”. O posicionamento incisivo dele, porém, é importante para que não se tenha uma geração completamente alienada. Quanto mais questionador o atleta se torna, mais competente precisa ser o dirigente para trabalhar com ele.

O caso do vôlei é a prova disso. Não podemos mais ver a performance esportiva tirar o foco da necessidade de competência na gestão. Desde os tempos de Carlos Arthur Nuzman que o vôlei usou o argumento esportivo para ser visto como exemplo de sucesso. Desde aquela época, porém, o modelo de excelência foi calcado na criação de uma seleção brasileira vencedora, a despeito de nunca termos um histórico sólido de existência de uma liga nacional de vôlei.

Em quase 25 anos de excelência na performance dentro de quadra, o vôlei não conseguiu ser um esporte sólido nacionalmente. Os times que jogam a Superliga não criaram um modelo para sobreviverem sem ser às custas do patrocínio de uma empresa. A cada ano, é sempre um perrengue para justificar o investimento para o ano seguinte.

Se a CBV podia autoproclamava o berço da excelência na gestão, então deveria ter dado aos clubes condições para existirem de forma mais concreta. Mas, pelo contrário, nunca foi feito nada para mudar essa realidade. Não apenas por “culpa” da entidade, mas porque atletas, clubes e mídia nunca cobraram da entidade esse tipo de carência. Em 2009, a revista Máquina do Esporte teve como reportagem de capa o vôlei, e o título da chamada era “Abandono”, mostrando que a Superliga caminhava para a insolvência se o modelo não fosse alterado. A entidade rebateu a reportagem usando os números da seleção como resposta. O problema, porém, sempre foi mais embaixo.

Com o estouro do escândalo no vôlei, é bem possível que os demais atletas comecem a perceber que é preciso se posicionar e ser crítico. Só assim ele poderá ser realmente um profissional do esporte. Quando o atleta perceber que, na verdade, ele que é o dono do show, os pratos da balança vão começar a querer se equilibrar.

O vôlei vai sobreviver ao que aconteceu. E, muito possivelmente, sairá fortalecido dessa situação. Os narizes de palhaço são o indício mais claro de que não dá mais para quem é o artista principal se comportar sempre como um mero espectador da indústria.


A saída do BB pode ser a melhor solução para o vôlei
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Erich Beting

A crise estourou. O relatório da Controladoria Geral da União apontando falhas na gestão da Confederação Brasileira de Vôlei causou de vez um problema para a entidade. Agora, o Banco do Brasil alega que é preciso “limpar” o que seria o modus operandi da CBV para que volte a pagar os milhões que deposita mensalmente na entidade.

Talvez a saída do BB seja o momento de ruptura que o vôlei precisava para depender menos da estatal e, mais do que isso, deixar de viver o sufoco que passa por conta da mão de ferro que o banco tem sobre os demais contratos de patrocínio do vôlei.

Como, a cada ano, o BB se tornou mais atuante dentro do vôlei, a CBV praticamente não tem direito a fazer quase nada sem pedir o aval do banco. Até mesmo o uniforme do time brasileiro quem decide e aprova é o patrocinador.

No passado, quando a verba era escassa no esporte e só havia chance de conseguir dinheiro das estatais, era possível aceitar uma ingerência tão grande de quem pagava boa parte da conta. Hoje, num mercado em que o vôlei é o objeto de desejo das empresas, já que é quase certeza de que terá quatro pódios nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, o BB mais atrapalha do que ajuda.

Na Superliga, a força do banco em determinar placas de publicidade e até mesmo em usar a imagem dos jogadores na seleção foram elementos importantes para que algumas marcas decidissem frear investimentos e deixar a modalidade.

Na CBV, os contratos com Nivea, GOL e Olympikus só não são mais vantajosos pelos limites que o próprio BB impõe para continuar pagando o que paga pelo patrocínio.

O vôlei, ao lado do futebol e do judô, talvez seja uma das poucas modalidades no país que consiga atrair o interesse do capital privado para investimentos independentemente do cenário pré-Olimpíadas.

O momento é grave para a CBV. Mas é possível fazer, do limão, uma boa limonada. O BB não precisa, hoje, ter a mesma força e peso de 23 anos atrás, quando colocou a modalidade no colo e ajudou-a a começar a andar. É possível encontrar mais parceiros que invistam até mais dinheiro e tornem mais duradouro ainda o sucesso do vôlei no cenário mundial.

Para o banco, a crise pode ser um bom caminho para encerrar a parceria. Com tanto tempo de patrocínio, não é preciso mais investir um centavo para ter a marca lembrada e associada ao sucesso da modalidade. Pelo contrário. É até melhor buscar outros públicos e outros atributos com quem se associar. Se não quiser perder o bonde das Olimpíadas, que o BB faça uma reavaliação dos investimentos, reduza o quanto paga ao vôlei e abra espaço para o esporte poder oferecer mais a outros parceiros.

A crise no vôlei pode ser um bom divisor de águas para o esporte. Ela pode representar o início de uma era profissional de fato na gestão do marketing da confederação. Resta saber se há vontade para se promover um choque tão grande assim.


Clubes não aprenderam. O paitrocínio é que acabou
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Erich Beting

O futebol brasileiro passará por um 2015 de vacas pretensamente magras, mas que poderá ter um reflexo muito grande, e importante, para um futuro mais sólido da indústria. O momento, agora, é de readequação após quatro anos de uma loucura desenfreada dos cartolas.

Para tentar resumir e relembrar o que aconteceu.

Tudo começou em dezembro de 2008, quando o Corinthians anunciou a contratação de Ronaldo. À época, o negócio estava completamente bem resolvido. Ronaldo recebia um valor fixo de salário (R$ 400 mil em carteira de trabalho) e tinha uma participação sobre os negócios que poderiam ser fechados pelo clube, à exceção do patrocinador máster da camisa.

Paralelamente a isso, o Brasil vivia na seguinte realidade. A economia estava bem, mesmo com a quebra dos EUA, e o país vivia a euforia de ter conquistado o direito a sede da Copa do Mundo de 2014. A incursão de mais gente na classe C fazia com que o consumo estivesse em alta e, assim, vivíamos um período de muito dinheiro na economia.

Com esse cenário, a operação Ronaldo-Corinthians foi um sucesso. O clube loteou a camisa, as empresas, com dinheiro em caixa e boa perspectiva de faturar, mergulharam de cabeça achando que faziam um excelente negócio e investiram no projeto.

Isso fez com que, ainda em 2009, os demais clubes saíssem à caça de projetos parecidos. Com mais dinheiro no mercado, não foi difícil encontrar quem quisesse estampar a marca num uniforme. O ano que terminou ainda coroando o Rio como sede das Olimpíadas de 2016 fez com que desse a “louca” no mercado. Todo mundo queria investir no esporte. E, com Ronaldo elevando o interesse da mídia pelo futebol, as camisas dos times se transformaram em abadás de carnaval.

Num primeiro momento, os clubes aumentaram o quanto ganhavam com patrocínio, mas criaram um grande problema para o mercado. Abrindo espaço para várias marcas, reduzia-se o retorno sobre o investimento dessas empresas. No fim das contas, elas percebiam que o negócio não era tão vantajoso assim. O dinheiro gasto era alto demais para um retorno não tão grande assim.

Para piorar ainda mais o jogo, no começo de 2011, o Clube dos 13 ruiu. Impulsionado por uma manobra encabeçada pelo Corinthians, os clubes acharam que era melhor negociar os contratos de TV individualmente do que de forma coletiva. Em vez de todos se unirem, cada um foi buscar o seu quinhão.

Num primeiro momento, parecia o negócio perfeito. De uma hora para a outra, os clubes começaram a ganhar, pelo menos, o triplo do que recebiam pela transmissão do Campeonato Brasileiro.

E foi aí a bolha começou a se formar…

Com mais dinheiro, ter o próprio “Ronaldo” passou a ser fácil. Os clubes, então, começaram a buscar no exterior um craque já perto do fim de carreira. O raciocínio era o mesmo que motivou o Corinthians lá atrás. Contratação de peso gera a atração da mídia e da torcida. Isso leva o patrocinador a nos procurar e, claro, mais dinheiro vai entrar nos cofres.

O problema é que só existe um Ronaldo, assim como, depois do contrato individual de TV, praticamente só existem Corinthians e Flamengo para a Globo exibir na TV aberta…

O cenário em 2011 estava longe de ser o mesmo de 2009. A economia já não ia tão bem. A classe C, endividada, já reduzia o furor das compras. As empresas tinham de rever, para baixo, seus orçamentos. Os valores dos clubes, ainda no alto, não seduziam mais os patrocinadores de ocasião.

Só que, turbinados pela Globo, os clubes gastaram o que  tinham disponível e, também, o que viria pela frente. Contratações acertadas, mas caras, como a de Seedorf no Botafogo, ou completamente desastradas, como a de Carlos Eduardo, no Flamengo, refletem bem essa realidade. Os jogadores que vieram simplesmente não se pagavam. Nem por patrocínio, nem pela mídia.

Nos últimos dois anos, a Globo foi o “bombeiro” de boa parte dos clubes. Sem patrocínio, eles foram bater na porta da TV para pedir adiantamentos de contratos. No malabarismo, conseguiram manter seus “craques” e alimentar uma falsa solvência financeira.

Ano após ano, os balanços financeiros têm se encerrado no vermelho, mas os clubes continuam contratando e propondo salários astronômicos para seus atletas.

O que mudou agora?

A Globo fechou a torneira. Por uma determinação da alta cúpula da emissora, não se adianta mais nenhum centavo para os clubes. Como a maioria deles não tem patrocínio ou vive de aporte da Caixa, não dá mais para buscar os outros parceiros para manter o caixa funcionando.

O problema é que os dirigentes não conseguiram acompanhar a lógica do mercado nesses anos todos. Eles seguem achando que o patrocínio valerá R$ 20 milhões, quando as empresas estarão propensas a investir, no máximo, metade disso num patrocínio máster de camisa. A diferença, agora, é que acabou o “paitrocínio”. Não há mais um bombeiro apagando o incêndio com adiantamento de dinheiro.

O ano de 2015 pode ser essencial para ensinar aos clubes a importância de diversificar as fontes de receita, de não depender só da TV e, mais importante, de baixar a bola e compreender qual o real valor de suas marcas. O maior risco que existe é o refinanciamento das dívidas ser aprovado em Brasília e, dessa forma, os clubes terem um alento de empurrar para debaixo das asas do governo a incompetência dos últimos anos na gestão de suas marcas.

O futebol chegou na beira do precipício. E, o que é pior, ele está vendado. Resta saber se ele saberá tirar a venda dos olhos e mirar o horizonte do longo prazo ou terá de esperar alguém chegar lá para recolocá-lo andando sem risco, mas para trás…


Santos mostra como unir o ídolo do passado ao presente
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Erich Beting

O Santos teve uma ideia simples e, como toda boa ideia simples, sensacional. Colocou a maior dupla da história do futebol para tabelar em outro tipo de campo. O clube acaba de divulgar o novo vídeo da Santos TV, canal do clube no Youtube. Um vídeo de quase 10 minutos, em que Pelé e Coutinho tentam reeditar suas tabelas históricas no videogame.

É simplesmente espetacular. E mostra como deixar o ídolo do passado bem vivo no presente. Além, é claro, de fazer com que os patrocinadores apareçam, tenham exposição e todo o restante que pode ser explorado numa ação como essa.

Ganhe dez minutos de seu tempo dando boas risadas no vídeo abaixo…


O COI tenta se reinventar para manter-se vivo
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Erich Beting

“Estou aqui para entender direito o que estão fazendo com meu dinheiro. Nove bilhões de libras é muita coisa, não é mesmo?”.

Era março de 2010 quando, em meio a um canteiro de obras no que seria o futuro Parque Olímpico, um senhor aposentado me disse o que o motivava a se deslocar quase 40 km para acompanhar as obras para as Olimpíadas que seriam só em 2012.

Da mesma forma, uma excursão de crianças passeava pelo local, que tentava criar na cabeça das pessoas uma ideia do que eles veriam dali a dois anos e para os séculos seguintes. Era, basicamente, uma aula de “legado” que Londres dava.

A cobrança do contribuinte britânico sobre o uso de seu dinheiro na construção da Olimpíada foi enorme. Ainda mais depois da tragédia grega que se transformou os Jogos de Atenas, em 2004, cuja população deverá pagar por muitos anos por instalações que já vão se deteriorando como se fossem parte do antigo parque olímpico da Grécia Antiga.

A pressão popular tem afastado dos países mais desenvolvidos os grandes eventos esportivos. A escolha da sede das Olimpíadas de Inverno de 2022 é prova disso. Alemães e noruegueses disseram, em plebiscito, que não queriam o evento.

O COI percebeu que é preciso mudar o seu estilo de ser para ter sobrevida. Há 30 anos, o comitê havia percebido que era hora de mudar para manter as Olimpíadas vivas. Deu certo. A chance de continuar a acertar ficou maior desde o último final de semana, quando o comitê aprovou mudanças no sistema de escolha de sedes para as Olimpíadas.

O que o COI fez foi basicamente entender que, para o movimento olímpico continuar a existir nas cidades e entre as pessoas, é preciso que as Olimpíadas se tornem mais flexíveis. Em outras palavras, o comitê desceu um pouco do salto em que estava. É uma bela lição para que a Fifa estude com carinho…


Os estádios estão meio cheios ou meio vazios, afinal?
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Erich Beting

Nunca antes na história do Campeonato Brasileiro os clubes faturaram tanto com bilheteria nos estádios. A conta, em valores brutos, é de que o Brasileirão de 2014 arrecadou R$ 214 milhões e uns quebrados com a venda de ingressos (detalhes aqui). É um ótimo desempenho, se formos pensar que, há dois anos, a arrecadação não chegou a R$ 150 milhões.

Mas, olhando na lupa, será que realmente o desempenho está ótimo?

O fato é que, nas novas arenas, a arrecadação recorde não significa necessariamente público recorde. Pelo contrário. Os novos estádios, que são em boa parte responsáveis por injetar mais dinheiro na economia da bola, seguem sem um bom aproveitamento dos espaços disponíveis.

Neste Brasileirão, foram oito estádios novos sendo utilizados com bastante frequência pelos times: Arena Corinthians, Arena da Baixada, Arena do Grêmio, Beira-Rio, Itaipava Arena Fonte Nova, Itaipava Arena Pernambuco, Maracanã, Mineirão. Além deles, o Mané Garrincha abrigou algumas partidas e, recentemente, o Allianz Parque teve dois confrontos do Palmeiras.

O saldo é curioso. As novas arenas foram responsáveis por gerar R$ 151 milhões dos R$ 214 milhões que o Brasileirão levantou em 2014. É cerca de 70% de tudo o que foi arrecadado. Em relação ao público, a proporção é um pouco menor: dos 6,336 milhões de torcedores que pagaram para assistir a jogos do Brasileirão, 57% deles estavam presentes nos jogos disputados nas novas arenas.

E aí entra o ponto crucial da história.

Esses 3,6 milhões de torcedores que foram ver os jogos nas novas arenas poderiam ser, pelo menos, o dobro disso. Os novos estádios, à exceção de Arena Corinthians e Beira-Rio, não conseguiram atingir 50% de toda a sua capacidade. O que explica essa situação?

A primeira resposta, é claro, é a precificação dos ingressos. O torcedor não tem condições de pagar os salgados preços cobrados nas novas arenas. Não a cada jogo, sem que haja uma mudança de valores conforme o grau de importância da partida.

Os sinais mais evidentes disso foram o Mineirão quase sempre com a parte mais nobre do estádio vazia por causa de uma política absurda de preços implementada pelo Cruzeiro e o “Setor Oeste” da Arena Corinthians, que não consegue receber gente e fica “escondido” da imagem da televisão, dando a falsa impressão de que o estádio está uniformemente abarrotado de gente.

Na lógica ilógica da cartolagem, mais vale muito dinheiro na mão com pouco público do que muito dinheiro na mão com alto público. O argumento de que “com mais gente o custo do estádio é maior” é absolutamente infundado, já que é possível chegar a um preço “ótimo” dentro dessas circunstâncias de modo a atingir o máximo de faturamento sem precisar esfolar o bolso do torcedor.

O que se viu nesse Brasileirão foi o estádio meio vazio, em vez de completamente cheio.

Acomodados sob a lógica de que o estádio é “novo”, os clubes aumentaram bastante o valor cobrado pelo bilhete. Com isso, perderam uma ótima oportunidade de arrecadar ainda mais. Pelos números coletados nos 156 jogos disputados nas novas arenas, seria bem provável conseguir encher os estádios cobrando cerca de 40%  a menos no valor dos ingressos. Isso poderia representar cerca de 10 a 15% a mais de receita para os clubes, mesmo tendo de gastar um pouco mais para abrigar mais gente nos estádios.

Isso sem falar no apelo que traz um estádio lotado para a imagem do evento e, também, do aumento paralelo de consumo que acontece quando se coloca mais gente no estádio.

Se o Brasileirão de 2013 serviu de teste para começar a entender como os novos estádios podem ser trabalhados, o de 2014 deveria servir para se concluir o óbvio. É só começar a cobrar um preço mais adequado à baixa qualidade do jogo de futebol apresentado que a receita com bilheteria só tende a aumentar…


Bayern mostra que dá para vencer e lucrar
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Erich Beting

O Bayern de Munique anunciou recentemente que atingiu a receita recorde de 528,7 milhões de euros na temporada (leia aqui). Semifinalista da Liga dos Campeões, vencedor com o pé nas costas do Campeonato Alemão, potência cada vez maior na Europa, é natural que o time bávaro consiga atingir números equivalentes aos de Real Madrid, Barcelona e Manchester United na arrecadação.

Mas a grande notícia do Bayern não foi nem tanto a expressiva marca de geração de receita. Com o Allianz Arena cada vez melhor, com a venda de parte do clube para a seguradora concretizada e com a expansão internacional do futebol alemão, é natural que o clube arrecade mais.

O legal foi o lucro anunciado pelo clube: 16,5 milhões de euros. Ok, é um lucro relativamente pequeno para uma empresa que arrecada 32 vezes esse valor. Só que o fato é que, há 22 anos, o Bayern termina a temporada distribuindo lucro a seus acionistas. O clube é um dos poucos no futebol que pode dizer que é possível conciliar a equação desempenho dentro de campo x equilíbrio no caixa.

O desempenho do Bayern foi pior que o do Real Madrid, por exemplo. Além de ganhar a Liga dos Campeões, os merengues tiveram cerca de US$ 51 milhões de lucro. Mas a grande diferença é que o Real não consegue ser tão consistente na equação títulos e lucratividade quanto os alemães.

Por que o lucro é tão importante?

O grande negócio do futebol é a performance esportiva. Só que, desde que o esporte começou a se profissionalizar cada vez mais, a boa performance está atrelada, quase sempre, a uma boa conduta financeira da instituição. Para ser campeão, quase sempre é preciso arrecadar bastante e gastar com equilíbrio o dinheiro que se arrecada.

Há 22 anos que o Bayern sabe controlar as finanças e obter performance. Na Alemanha, o clube reina, com 12 títulos ganhos nas últimas 21 edições do Campeonato Alemão. Na Europa, volta e meia o time chega às fases decisivas da Liga dos Campeões, tendo ganho a temporada 2012-2013.

No Brasil, não há, hoje, time que consiga ter o mesmo equilíbrio que o Bayern. Os três times que venceram as principais competições na temporada passada encerraram o ano com déficit: Atlético-MG (R$ 22,5 milhões), Cruzeiro (R$ 22 milhões) e Flamengo (R$ 19,5 milhões). A mesma história deverá ser aplicada ao futebol brasileiro neste ano.

Ser campeão ou ter ótimo desempenho dentro de campo é o principal negócio de uma equipe esportiva. Mas para sobreviver dentro do estágio atual de desenvolvimento do futebol como negócio é fundamental que os clubes aprendam que, além de ir bem dentro de campo, eles precisam manter-se saudáveis fora dele.

Algum dia a conta que não fecha precisará ser paga… Isso é algo que o Bayern aprendeu ao longo dos anos e que, atualmente, faz diferença para o clube no cada vez mais competitivo mercado do futebol europeu.


O difícil caminho para o empreendedorismo no esporte
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Erich Beting

No último final de semana e pelos próximos dias, quatro países asiáticos vão receber os melhores nomes do tênis mundial para um torneio de exibição denominado “Liga Internacional de Tênis”. Contando com os melhores do mundo de hoje e do passado, o evento é uma espécie de grande encontro da nata do esporte (detalhes aqui).

Um evento que custa caro para acontecer, mas que por isso mesmo pode gerar bons frutos para quem é seu organizador.

Desde que descobrimos a pauta na Máquina do Esporte e discutimos o viés de abordagem da notícia, fiquei pensando no que impediria o Brasil de realizar algo parecido com o que está sendo feito lá na Ásia.

O principal entrave, é claro, é o alto valor a ser pago para um evento desse tipo. Cada cidade-sede botou R$ 50 milhões para ter os atletas, que atuam como uma espécie de embaixadores do local (é só acompanhar as postagens de Roger Federer no Facebook para entender a amplitude que é dada ao evento e ao país anfitrião do atleta).

Investimento público em um torneio de exibição é um tema mais do que polêmico por aqui e, atualmente, praticamente difícil de acontecer. Poderia ser justificado pelo retorno em mídia, promoção turística, etc., mas desde os protestos de junho de 2013 que esse tipo de conta simplesmente deixou de existir.

Ao fazer uma competição com os grandes nomes mundiais do tênis, atuais e passados, a organização atraiu público, mídia e, naturalmente, patrocinadores. Para alcançar isso, porém, foi preciso empreender. Em fazer um projeto grandioso e entregá-lo ao público – a faixa com “obrigado por virem a Filipinas” é a melhor tradução do feito alcançado.

Talvez aí esteja o grande problema da indústria brasileira. Falta coragem para o empreendedorismo, especialmente nos grandes eventos. Só que o problema não está só na pretensa falta de coragem dos organizadores.

Falta coragem para a indústria toda.

Que patrocinador “paga para ver” antes de um primeiro evento? Que mídia exibe o torneio sem esperar alto índice de audiência na primeira edição? Sem estímulo da indústria, quase nunca há uma segunda vez. Todo projeto leva tempo para vingar. Com o esporte, não é diferente.

O empreendedorismo no Brasil já é um caminho espinhoso. No esporte, em que a própria indústria não entende a necessidade de “fazer diferente”, em que o funcionário de uma empresa tem mais medo da demissão do que ousadia para ganhar a promoção, é ainda mais complicado conseguir montar projetos que realmente causem impacto. Geralmente, o tombo é sempre maior do que dá para aguentar.


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