Negócios do Esporte

Arquivo : janeiro 2015

Super Bowl é obrigatório a quem trabalha com esporte
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Erich Beting

No domingo, quem trabalha com esporte tem um programa obrigatório. Ligar na ESPN para acompanhar o Super Bowl, a decisão da temporada do futebol americano.

Sim, futebol americano é um esporte peculiar. Mistura estratégia de guerra com uma bola oval, etc. Mas, se você trabalha com esporte, tem de acompanhar o evento!

O jogo em si é o de menos. O que é fundamental entender no Super Bowl é como os americanos transformaram a final de sua principal competição num evento de, pelo menos, uma semana de duração e que tem, na mídia, o maior acontecimento do ano.

Há alguns anos, a NFL criou a NFL Experience. Para resumir, ela faz na cidade-sede da decisão um imenso parque de diversões de quem é apaixonado pelo esporte.

Cada patrocinador tem direito a alguma propriedade dentro do espaço para se relacionar com o público, cada time também pode conversar com o fã, a mídia tem a chance de fazer diversas matérias com os protagonistas do jogo.

Com esse espaço, a NFL criou um meio de dar a toda cadeia produtiva do esporte (torcedor, patrocinador e mídia) uma chance de ter mais contato com o Super Bowl além do jogo em si. Isso garante uma semana de assunto na mídia mundialmente e, localmente, movimenta mais a economia da cidade que recebe o evento.

O que mais é debatido, porém, é o tal do intervalo comercial na transmissão do Super Bowl. Neste ano, a NBC cobrou US$ 4,5 milhões para quem quisesse fazer 30s de propaganda. É o mais alto valor pago pelo anunciante.

Isso acontece porque audiência do Super Bowl tende a ser sempre a maior da TV americana no ano.

Assim, o jogo também representa o momento certo para as marcas lançarem suas novas campanhas publicitárias com mais chance de sucesso. Vale lembrar que a TV, nos EUA, tem um consumo muito pulverizado. É muito canal, o que faz com que raramente se tenha algum momento com mais de 100 milhões de pessoas ligadas num mesmo canal.

A cifra milionária pelos 30s, assim, é justificável.

Tudo isso acontece ao redor do jogo. Assim como o show que acontece no intervalo da partida. Propriedade da Pepsi, costuma ser um evento dentro do próprio evento.

Seria ótimo se, no domingo, quem trabalha com esporte, seja dirigente esportivo ou patrocinador, ligasse a TV para reparar em todos os detalhes que vão além da bola oval dentro do campo…


O preço do ingresso não é só o que vai lotar estádio
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Erich Beting

Em meio à guerra pública no Rio de Janeiro sobre os valores cobrados para os ingressos durante o Estadual do Rio, o futebol brasileiro revela, mais uma vez, todo o seu despreparo com a gestão de seu produto. Com as decisões tomadas, unicamente, no “sentimento”, perde-se tempo demais com coisas que levam o foco da discussão para lugares que não resolverão, de forma alguma, os problemas existentes.

O Estadual do Rio é um campeonato deficitário. Em 2014, dos 126 jogos disputados, 105 tiveram prejuízo. Isso mesmo! Em 83% das partidas do Estadual do Rio, os clubes pagaram para entrar em campo (detalhes aqui).

Ok, isso não é tanta novidade. Tanto que a Federação de Futebol do Rio (Ferj) decidiu, neste ano, criar um pacotão de boas ideias para fazer com que o torcedor voltasse aos estádios. E aí é que entramos no ciclo vicioso que tanto atrapalha o esporte.

Primeiro, a Ferj tabelou o preço do ingresso. O teto a ser cobrado pelos clubes é de R$ 50. Além disso, a federação instituiu a “meia-entrada universal”. Ou seja, tucanou o termo “desconto de 50%”, dizendo que qualquer pessoa pode comprar meia-entrada. Isso, na prática, acaba com o direito à meia-entrada, o que já pode gerar problemas jurídicos. Sem falar no quão estúpido é fazer cair pela metade o valor a ser cobrado pelo jogo, uma vez que isso gera no promotor do evento a certeza de que a previsão de receita dele tem de ser a metade do que ele tinha originalmente.

O problema atual dos Estaduais no Brasil é que o torcedor não quer consumir o evento. Prova disso são a audiência quase sempre sofrível da competição na TV e, ainda, o não-público nos estádios.

O Rio é o melhor exemplo disso. Ao limitar em R$ 50 o bilhete, o argumento de que isso faria lotar os estádios cai por terra ao se analisar os borderôs dos jogos de 2014 do Estadual. No ano passado, os jogos que geralmente tinham ingresso mais caro que isso eram aqueles em que o mandante era um time grande. Os clubes pequenos faziam, no máximo, ingressos a R$ 30, alguns a R$ 40. Quase sempre o preço era fixo, de R$ 20.

Resultado: em TODOS os jogos com os clubes de menor torcida como mandante, o resultado financeiro da partida foi negativo. Só teve uma partida que não deu prejuízo, Friburguense x Flamengo, exatamente há um ano. Foi o único dos 21 jogos lucrativos, também, que não foi disputado no Maracanã.

Se tivesse feito essa análise antes de planejar o “pacotão” para levar público aos estádios, a Federação do Rio perceberia que de nada adianta baixar o preço dos ingressos se o produto que é oferecido ao torcedor desperta baixíssimo interesse.

Talvez a Ferj tenha feito essa análise e percebeu isso. Mas, aí, para desviar o foco, criou um factóide para atingir os únicos que ainda conseguem um pouco de lucratividade no Estadual, que são Maracanã, Flamengo e Fluminense. A dupla Fla-Flu, aliás, foi a única que conseguiu ter lucro em 2014 quando jogou contra clubes de menor torcida.

Não é o preço do ingresso que vai levar o torcedor para os Estaduais. É a qualidade do evento.

Para um produto vender, ele precisa, antes de mais nada, despertar o interesse no comprador.


Fuga dos craques do Brasileiro evidencia o status do país
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Erich Beting

Everton Ribeiro, Ricardo Goulart e Diego Tardelli talvez sejam os três destaques dos últimos dois anos do Campeonato Brasileiro. Ídolos no Cruzeiro e no Atlético-MG, os três foram em boa parte responsáveis pelo sucesso dentro de campo da dupla mineira no biênio 2013-2014. Agora, em 2015, os três foram negociados com o exterior, para poderem ajudar nas finanças combalidas dos dois clubes e, também, para ganharem um bom dinheiro com salários.

Naturalmente, como sempre aconteceu, os grandes destaques do futebol no Brasil foram jogar em renomados clubes da Europa. Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique e Manchester United estavam de olhos neles, não é?

Ops…

Al-Ahli (Everton Ribeiro), Shandong Luneng (Tardelli) e Guangzhou Evergrande (Goulart) são os novos destinos dos jogadores.

É sintomático perceber que os principais nomes do Brasileirão só recebem propostas para jogar na periferia do futebol mundial, enquanto os jogadores que realmente interessam aos maiores clubes europeus são aqueles de marcação, como Lucas Silva, que foi para o Real Madrid. Antes, Douglas (Barcelona) e Casemiro (Real Madrid) já tinham tido destino semelhante.

Se a exportação de pé-de-obra é um mal necessário para tentar ajustar as contas desequilibradas pelas cartolas furadas, que pelo menos consigamos produzir jogadores que tenham qualidade para serem protagonistas nos principais mercados da bola.

A cada atleta que se perde para a periferia do futebol, perdemos um pouco mais de identidade sobre o futebol que praticamos. Sem isso, deixamos de ter um bom produto e, naturalmente, estaremos em desvantagem competitiva com diversos outros países.

Nos próximos anos, com os cofres estourados, os clubes precisarão voltar os olhos para a base para formar suas equipes. Isso permitirá que muitos talentos brotem de onde não se espera, em mais um movimento típico de autopreservação da espécie que o Brasil é capaz de produzir no futebol.

O destino da fuga dos craques do Brasileiro serve como um bom sinal de alerta de que é preciso melhorar quem está na base…


Marketing não é vender patrocínio
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Erich Beting

Afinal, para que serve o departamento de marketing de um clube de futebol? Essa pergunta quase sempre é feita e a resposta quase sempre é completamente errada no conceito. Nos últimos dois anos, o que mais se ouviu sobre os bastidores do Palmeiras foi a frase de que o departamento de marketing era incompetente, que não conseguia encontrar, em pleno ano de celebração do primeiro centenário do clube, um patrocinador para a camisa alviverde.

Em menos de cinco dias, o Palmeiras acaba de anunciar o segundo patrocinador para o uniforme do clube. Agora, contrato de um ano de duração, com a Prevent Senior, que já vinha fazendo algumas ações em conjunto com o time. O negócio incrementará em mais R$ 5 milhões os cofres do clube.

O que mudou no clube para que os negócios tenham acontecido?

O departamento de marketing continua com a cadeira de principal executivo vaga desde a saída de José Carlos Brunoro, no fim do ano. Antes dele, Marcelo Giannubilo já tinha passado por lá e não conseguido o tal do “patrocínio master”. As negociações deste começo de ano foram conduzidas por Paulo Nobre, presidente do clube.

O Palmeiras comprova o básico.Para um clube vender patrocínio, ele não precisa de uma estrutura de marketing, mas de um bom vendedor.

A função do marketing, a partir disso, é garantir ao patrocinador uma entrega além da prometida pelo clube e, também, gerar novos negócios em cima do torcedor do clube. Muito mais do que vender patrocínio, o marketing precisa ser o responsável por encontrar formas de o clube ter novas receitas. Criatividade, inovação, boas ideias, criar instrumentos para vincular o torcedor ao clube…

O marketing não é vender patrocínio. É fazer com que o torcedor esteja cada vez mais bem relacionado com sua paixão. Isso inclui, logicamente, saber vender patrocínio. Mas, mais do que isso, entregar o que foi vendido.

Esse é o maior desafio agora do Palmeiras. A venda foi feita. É preciso, agora, cuidar da entrega.


O choque entre o velho e o novo no Rio
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Erich Beting

Imagine que você seja dono de um bar que tem show ao vivo todo fim de semana. Você investiu numa bela reforma do espaço, criou um local que atende tanto ao público comum frequentador do bar quanto aquele cara mais endinheirado, que havia deixado de ir para lá porque ele estava “meio caído”. Você colocou cadeiras mais confortáveis para o cliente, deixou melhor a visão de quem está lá para ver os artistas tocarem, melhorou a qualidade do atendimento dos garçons, aumentou o número de funcionários que trabalham no estabelecimento, fez um belo camarim para as bandas que aparecem, etc.

Com toda essa reforma, os custos aumentaram. Para fechar a conta todo mês, você precisa ganhar mais do que precisava antes. Com isso, para a “conta fechar”, foi preciso tomar algumas medidas. Uma delas foi aumentar o preço da entrada para quem vai acompanhar o show. Outra medida, dura, mas necessária, foi começar a cobrar também daqueles amigos que aparecem a toda hora para te fazer companhia e curtir o bar. Não dá para deixar o pessoal ir lá e, pelo menos, não pagar os custos que você tem com a compra da bebida, o pagamento do cachê da banda, etc.

Agora imagine o seguinte. No estado que você mora, existe uma lei que te obriga a colocar, nos três primeiros meses do ano, artistas locais para se apresentarem. Essa lei foi uma manobra feita pela Associação dos Artistas, que estava perdendo prestígio e conseguiu achar um jeito de manter-se ativa e, mais do que isso, com receita garantida. Afinal, parte do que o artista arrecada com shows vai para ela.

Bom, a associação consegue impor essa lei. Os artistas geralmente são caras que estão em começo de carreira, que não arrastam público para os eventos onde tocam. No máximo vai a família do cara. Não é todo dia, mas pelo menos umas duas vezes por mês, quem toca, além dos caras bons, são esses menos atrativos para o seu público. Você não tem alternativa. É isso que precisa ser feito para aquele bar continuar a existir, até para não ser injusto com o cliente assíduo e com os caras que sempre tocam naquele lugar e que têm um público fiel sempre presente.

Neste ano, a Associação dos Artistas tem uma nova ideia. Ele diz que não é mais você quem determina o quanto vai cobrar do teu cliente para ir ao seu estabelecimento. Você está obrigado a limitar em R$ 50 o preço do couvert artístico. Não importa se o cara faz shows que as pessoas pagam até R$ 800 para ver, não importa se naquele dia haverá muita gente que seria a chance de você fazer o lucro do ano. Nada disso. Teu limite é R$ 50.

Essa regra foi imposta depois que um dono de um boteco que também está na sua cidade, não muito distante, decidiu fazer pressão com essa associação. Esse cara tem influência, estava há muitos anos no pedaço, tinha vendido o bar, mas recomprou-o para não vê-lo acabar e, agora que voltou, está tentando colocar a casa em ordem, mas antes ele precisa reduzir o poder da concorrência.

Aí surgiu essa regra que impede o bar de cobrar mais. É o mesmo valor para o dono do bar que custa pouco para ser mantido em pé daquele outro que acabou de ser reformado e tem investido para dar ao cliente mais conforto.

Parece um tanto quanto injusto que o dono do bar reformado tenha de se submeter a essa regra, não? Quem deve determinar o quanto ele cobra do cliente não pode ser uma regra da Associação de Artistas, mas o dono do lugar. E ele vai saber se está cobrando mais caro ou mais barato por conta de quanto cliente tem na casa, não é? No dia em que houver os dois melhores artistas do estado tocando, ele vai cobrar mais caro, afinal o público vai querer ver. Quando as atrações não forem tão legais assim, naturalmente ele não poderá cobrar tão caro, se não haverá pouca gente no bar e possivelmente ele vai ter de pagar para abrir o estabelecimento naquele dia, não é?

Pois essa é a situação atual do Maracanã. A Federação de Futebol do Rio criou uma série de regras para tentar aumentar o público nos jogos. Entre elas estão o limite de R$ 50 para o ingresso, independentemente se o jogo é no estádio do Madureira ou no da final da Copa do Mundo, se ele reúne Flamengo x Duque de Caxias ou Flamengo x Fluminense na final do campeonato.

Não é APENAS o preço do ingresso que determina a quantidade de gente no estádio. Com certeza não é por causa do valor do bilhete que os Estaduais tenham menos de 5 mil pessoas por jogo de média de público. Acho que tem muito mais a ver com essa decisão tomada pela CBF (ops, pela Associação dos Artistas) de que o campeonato estadual precisa ser mantido com 19 datas e sem o menor grau de atratividade para o público.

O Rio sente na pele o choque do novo com o velho. E, possivelmente pelos comentários que veremos abaixo, esse texto vai provocar a mesmíssima situação…


A piada da prefeitura com o Pacaembu
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Erich Beting

A prefeitura de São Paulo teve, em 2010, a chance de privatizar o estádio do Pacaembu. O projeto apresentado pelo Corinthians para a utilização do espaço por uma concessão de 30 anos, porém, caiu por terra. O argumento da Câmara dos Vereadores era de que não se poderia beneficiar apenas um clube para o uso de um espaço público.

Cinco anos depois, a prefeitura, em outra gestão, anuncia as condições para iniciar o processo de conversas para uma possível (e necessária) privatização do Pacaembu. Diz o prefeito Fernando Haddad que haverá um diálogo com os moradores locais, que as características serão preservadas, etc.

O morador do Pacaembu é contra o estádio. Não importa que ele tenha chegado antes de todo mundo à região. O morador se acha no direito de proibir shows e eventos para grandes públicos no Pacaembu. A força da “Sociedade Amigos do Pacaembu” é tamanha que expulsou de lá qualquer evento que torne minimamente rentável o espaço.

Até o ano passado, porém, a prefeitura não tinha esse desespero em privatizar o espaço. Até maio, o Pacaembu recebia os jogos do Corinthians e do Palmeiras. Depois, até novembro, continuou recebendo as partidas do alviverde. Com um evento a cada fim de semana, no mínimo, o estádio era garantia de receita para a prefeitura.

Com a Arena Corinthians e o Allianz Parque prontos, o Pacaembu perde sua função de “casa” de algum time de futebol na cidade. Sendo assim, se antes era um evento por fim de semana, agora é um evento a cada sabe-se lá quanto tempo. Para piorar, com a pressão da “Sociedade Amigos”, não existe qualquer hipótese de se fazer alguma coisa além de um jogo de futebol no Pacaembu.

É uma piada, agora, a prefeitura tentar convencer quem sempre jogou contra o Pacaembu (“Sociedade Amigos” e Vereadores) de que a saída para o espaço é sua privatização. Está mais do que provado que, para um estádio dar dinheiro, é preciso que haja um evento capaz de levar pelo menos 20 mil pessoas a ele toda semana. Sem o futebol como atrativo, é praticamente impossível de isso acontecer.

O Pacaembu não é um bom negócio se não há um time de futebol para ser o “âncora” do local. Wembley, na Inglaterra, é a melhor prova disso. A cada ano, apesar de mais de cem eventos realizados, o lendário palco do futebol inglês acumula prejuízo. Se quisesse salvar o seu estádio mais tradicional, os vereadores da cidade de São Paulo deveriam ter tirado a camisa de torcedor e analisado a proposta que tornaria o espaço rentável e melhoraria a região.

Agora a saída é transformar o local num parque. Para desespero dos “Amigos” que moram lá…


Os bons ventos soprados pela pré-temporada
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Erich Beting

A definição de que o futebol brasileiro teria o mês de janeiro de férias foi tomada apenas no fim de 2014, o que atrasou – e muito – a programação de clubes, promotores de eventos, donos de estádios e patrocinadores. Isso fez com que, nesse primeiro momento, ainda fossem poucas as possibilidades a serem exploradas para as ações de pré-temporada do futebol.

Mas, pelo que se viu nos últimos 10 dias, o futebol brasileiro começa a soprar novos ares a partir da realização dos amistosos entre clubes. Daqui e lá de fora.

As viagens de Corinthians, Fluminense e Atlético-PR ao exterior não apenas servem para ajudar a expor um pouco a marca do clube no exterior, mas revela a dirigentes e atletas uma outra realidade na gestão do evento esportivo. Os amistosos feitos por Corinthians e Flu dentro do complexo da ESPN na Disney mostram que há um outro tipo de vida no esporte dos Estados Unidos. A participação dos atletas no jogo da NBA, o relacionamento com dirigentes de outras modalidades e outros clubes. Tudo ajuda e dá experiência.

Da mesma forma, a realização de um torneio de pré-temporada em Manaus envolvendo três das cinco maiores torcidas do país (Flamengo, Vasco e São Paulo) é uma excelente oportunidade para esses clubes estreitarem a relação com torcedores locais, ajuda a aumentar as vendas, reforça a aura de “nacional” deles.

Por fim, a parceria entre Palmeiras e Red Bull para o amistoso do próximo domingo (detalhes aqui) é a típica ação que tem tudo para começar a mudar o paradigma de que estádio é um lugar para apenas assistir a futebol.

Em menos de três meses de preparação, clubes e promotores conseguiram tirar algumas ideias interessantes para explorar o mês de “férias” do torcedor. Isso gera receita e engorda os tão combalidos caixas dos clubes. E mostra que, no ano que vem, com todo 2015 para elaborar planos e criar projetos para as empresas, a tendência é de começarmos a ver um janeiro repleto de eventos interessantes para o público.

Dinheiro para investir em esporte existe. Desde que o produto seja interessante para o público e para os patrocinadores. As pré-temporadas mostram até agora o quanto é importante investir no produto. Não deixa de ser um sopro de esperança para o marketing no futebol…


O dinheiro nunca pode estar acima do esporte
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Erich Beting

Quando faz o regulamento do Campeonato Paulista, a Federação Paulista de Futebol se preocupa em excesso para que não haja qualquer atitude que coloque a competição numa espécie de “segundo escalão” de importância para os clubes. Em meio à disputa de uma competição importante como a Copa Libertadores, as equipes são obrigadas a jogarem com seus principais jogadores para não serem multadas pela entidade.

Da mesma forma, a federação também tenta coibir outras “manobras”, como a escalação de jogadores de categorias menores, para evitar a inferiorização completa de sua competição. Talvez pela preocupação ao extremo com o bem-estar de sua competição, a FPF tenha esquecido de preservar aquilo que é primordial, que é deixar da forma mais equilibrada possível a disputa entre os clubes participantes do torneio.

Neste fim de semana, o Audax confirmou que abriu mão de jogar em seu estádio a partida contra o Palmeiras. Em vez disso, “receberá” o time da capital no Allianz Parque que é, justamente, o estádio do adversário! Sim, é isso mesmo. O time não apenas abre mão de jogar em casa como escolhe jogar no território rival…

Em troca de uma arrecadação quase milionária, a equipe de Osasco vai abrir mão daquilo que é fundamental no esporte, que é a competição.

Ok, pode-se justificar que essa é a melhor maneira de o clube arrecadar um dinheiro nunca visto, que sempre que joga em seus domínios o Audax não leva torcedores, que é uma forma de aumentar a receita, etc. Mas nunca – e vale repetir isso – nunca, o dinheiro pode estar acima do esporte.

O que faz do esporte um grande negócio é justamente o fato de ele ser, na essência, uma competição “limpa” entre atletas em busca da melhor performance. Quando abre-se mão desse princípio para ganhar dinheiro, perde-se aquilo que é a essência do negócio.

O mais impressionante nessa história toda nem é o Audax abrir mão da competitividade em troca de dinheiro. É a federação, tão preocupada com a “grandiosidade” do Campeonato Paulista, não preservar aquilo que é mais primário num torneio, que é a equidade de competição entre os times…


Mizuno mostra que está de volta à corrida
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Erich Beting

O mercado de corrida de rua no Brasil geralmente vive períodos cíclicos. Numa época, uma determinada marca se destaca, depois as concorrentes voltam para o páreo e assim vai. Se pudermos resumir os últimos 15 anos, a ordem foi mais ou menos essa: Adidas (2000-2005), Nike (2005-2010) e Asics (desde 2010). Agora, ao que tudo indica, começa a chegar a vez de a Mizuno ganhar espaço nessa disputa.

Desde 2013, quando a marca criou o projeto da Mizuno Uphill, que voltou a chamar a atenção do corredor de ponta, que é o atleta amador, mas preocupado com a performance. É esse o grande cara para formar a indústria dos corredores. É o atleta que tem outra atividade remunerada, mas tem na corrida uma espécie de atividade de lazer em que a alta performance é o objetivo. É o maluco que consegue fazer uma maratona em subida, ou então sair de São Paulo e chegar ao Rio de Janeiro, ou corre uma meia maratona com o coração saindo pela boca numa velocidade de 17 km/h.

Esse corredor é o grande foco das marcas porque ele é a inspiração para todos os demais corredores. São menos de 200 mil atletas amadores de “elite” no Brasil, mas eles espalham, para os mais de 2 milhões que correm sem estar preocupados com a performance, quais são as tendências do mercado, o que é melhor consumir, etc.

Eles são, a grosso modo, aquele primo ou tio que você tem e que sempre pergunta qual o melhor tênis ou relógio para correr, se não tem perigo de correr 10km, se a meia maratona dá muito medo, etc.

A Uphill marcou essa mudança dentro da Mizuno. Ela passou a focar a mensagem para o atleta amador de ponta e, então, ele espalha a marca para os demais segmentos da indústria.

A melhor sacada desse novo posicionamento veio neste começo de ano, com o projeto “Invisible Runners”. O vídeo traduz, na essência, que a marca fala com o corredor amador de elite. Mas que a inspiração é o atleta do dia-a-dia. É só ver abaixo.

A Mizuno, sem dúvida, está de volta à corrida!


Por que todos (ainda) querem a CBF?
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Erich Beting

A Vivo renovou até 2023 o patrocínio à CBF (detalhes aqui). O vínculo com a seleção não só foi estendido como ampliado. Agora, não só a Vivo, mas todas as empresas do Grupo Telefónica poderão associar sua marca ao time nacional. Passou o ano da Copa do Mundo e a CBF já trocou a Volkswagen pela Chevrolet, acertou com a Michelin e ampliou o acordo com a Vivo. Todos esses acordos com valores anuais que superam o que é pedido pela maioria dos grandes clubes que buscam um patrocinador máster no uniforme.

Por que todos ainda querem a CBF ao passo que os clubes de futebol no Brasil penam para encontrar patrocinadores?

Nenhuma confederação de futebol fatura tanto no mundo quanto a brasileira. E o problema é a fraqueza dos clubes por aqui!

Não temos um campeonato nacional forte, os clubes vivem assolados com problemas de gestão que interferem no resultado dentro de campo, não existe uma cultura de patrocínio esportivo clara e duradoura no país e, ainda, falta um projeto de longo prazo a ser apresentado pelos clubes para as marcas.

Os primeiros pontos são evidentes quando analisamos os últimos anos de Brasileirão por aqui. O futebol está nivelado por baixo e os clubes sofrem com problemas extracampo (a antecipação de receitas e, agora, a saída de jogadores por falta de pagamento evidenciam isso).

A questão da ausência de cultura de patrocínio esportivo é a parte que mais interfere quando falamos das empresas. A Copa veio ajudar um pouco nessa relação, mostrando às marcas que, para o patrocínio valer a pena, é preciso pensá-lo muito além da exposição de marca. O projeto não pode ser de curto prazo, a relação não pode ser apenas como se a empresa tivesse comprado uma mídia para aparecer na TV e internet. É preciso ir além, se engajar, “comprar” o lado do time que você apoia, conectar-se e comunicar-se com os torcedores.

Por fim, é preciso que seja apresentado um projeto de longo prazo para as empresas que mostre que vale o esforço de se fazer esse investimento, de que ele retorna para a marca em imagem, em dinheiro, em negócio. Para isso, é preciso não olhar apenas a necessidade de curto prazo, mas a relação de longo prazo. E essa visão, hoje, é o que mais falta ao futebol.

Quando a Vivo decide chegar a 18 anos de relacionamento com a CBF, aumentando os valores envolvidos a cada renegociação, é sinal de que o patrocínio compensa. Nos outros mercados, geralmente é só depois que os grandes clubes e campeonatos não estão mais disponíveis que as marcas vão buscar a seleção para se relacionar. Aqui, a relação ainda é a inversa.

O primeiro investimento, sempre, é na seleção. Está na hora de os clubes começarem a bater na porta de quem não está com a CBF…