Negócios do Esporte

Arquivo : abril 2015

A Lusa tem um plano. Essa é a grande notícia
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Erich Beting

Leio no Blog do Menon, parceiro aqui de UOL, que Luis Paulo Rosenberg tem um plano de colocar a Portuguesa na disputa da Copa Libertadores da América em 2020 (detalhes aqui). A “nova loucura de Rosenberg”, como brinca Menon em seu texto, é exatamente o que mais falta no futebol. Um planejamento de, pelo menos, cinco anos dentro de um clube.

Esse foi o diferencial do Corinthians de Rosenberg. Um time que, na Série B, projetava voltar ao topo do futebol nacional em até cinco anos. No período, chegou ao inédito topo da América e reconquistou o mundo.

Não é só a Portuguesa que precisa de um plano. Qualquer empresa precisa traçar metas e buscar esses objetivos. No futebol das cartolas trocadas a cada dois ou quatro anos, o dirigente sempre está no cargo pensando no ano, semestre, mês, rodada, próximo jogo. O clube se atrapalha por achar que é preciso vencer todo campeonato que disputar, cada partida que entra em campo.

Por isso, a Lusa ter um plano é uma grande notícia. Ambicionar o caminho para voltar à Série B, depois à A e, por fim, brigar por vaga na Libertadores, é uma estratégia a se considerar. Quando, pressionados por mídia e torcida, dirigentes prometem títulos, acabam ganhando a pecha de “marqueteiros”, ou então de “falastrões”.

Colocar metas, seguir planejamento e buscar recolocar no trilho o que está fora de rota é algo que precisaria ser rotina no futebol, mas que está quase sempre num segundo plano.

Esse foi parte do segredo do Corinthians na gestão Andrés-Gobbi entre o fim de 2007 e 2012, quando Rosenberg estava por trás auxiliando nesse planejamento e, principalmente, na execução desse plano.

Agora, com a Lusa, Rosenberg tem um desafio ainda maior. Um clube que foi jogado às traças, está restrito ao torcedor mais fanático e, pior ainda, não conta com qualquer previsão de arrecadação suficiente para construir um time forte que consiga cumprir as metas iniciais do plano.

Loucura não é montar uma meta dessas, mas querer gerenciar um clube de futebol no Brasil hoje sem ter um caminho pré-estabelecido. A Lusa tem um plano. E, por conta disso, conseguirá se sobressair em relação aos concorrentes. Se o futebol no país continuar a funcionar do jeito mambembe da atualidade, até mesmo antes de 2020 a Lusa pode alcançar a Libertadores…


O erro de marketing de Silva no taekwondo
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Erich Beting

Anderson Silva vai tentar uma vaga para competir nos Jogos Olímpicos de 2016 no taekwondo. A polêmica decisão do lutador de tentar competir após ser pego duas vezes no doping no UFC é a típica ação que faz bem no curto prazo para a modalidade e para o lutador. Mas que pode deixar suas consequências para o futuro.

A decisão é meramente marqueteira. No mal sentido.

Ela foi tomada tendo como objetivo apenas a promoção de Anderson Silva no pior momento de gestão de crise de imagem do lutador. E o taekwondo, malandramente, embarcou na onda, usando o amparo legal que permite a inclusão do Spider nas seletivas para as Olimpíadas.

A proporção que Anderson Silva atingiu no mercado faz com que tudo o que ele faça após ter sido flagrado no antidoping vire notícia. Por conta disso, nunca falamos tanto sobre o esporte taekwondo na mídia como agora.

Mas qual o impacto que uma possível classificação dele para a Olimpíada gera?

Possivelmente haverá mais gente interessada em comprar ingressos para acompanhar o taekwondo no Rio. Da mesma forma, haverá um interesse maior da mídia em cobrir o evento.

Mas o que isso gera, de fato, para a modalidade? Qual o exemplo que ela passa para o consumidor? De que, em nome da publicidade e divulgação do esporte, vale tudo?

O taekwondo nunca esteve em tanta evidência no Brasil como nas últimas semanas. Isso seria bom caso Silva, campeoníssimo no MMA, decidisse tentar disputar os Jogos Olímpicos como uma espécie de grand finale da carreira. Com o lutador afastado do UFC por doping, o taekwondo parece ter se transformado na tentativa às avessas de resgate da imagem.

Todos só tem a perder. Silva pode passar a impressão de que está usando a modalidade para se promover. E o taekwondo dá a impressão de que aceita o jogo de cena apenas para promover a modalidade.

Seguir estritamente a lei nesses casos pode ser legal do ponto de vista jurídico. Mas, com certeza, não é nada legal do ponto de vista ético.

Ser marqueteiro não é um problema. Desde que o marketing seja usado de forma a promover o bem. Qualquer tentativa de manipulação das pessoas é, com o tempo, desmascarada.

Se o COI se diz tão preocupado com a pureza do “espírito olímpico”, deveria sair do pedestal da indiferença e agir para proteger a marca da mesma forma que faz quando um atleta publica alguma coisa que pretensamente ataque os Jogos.


Clubes mostram como é difícil colocar preço em ingresso
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Erich Beting

O Palmeiras conseguiu, na primeira final de campeonato disputada em seu estádio, exorbitantes R$ 4 milhões de renda e mais de R$ 100 por ingresso cobrado para o jogo contra o Santos no Allianz Parque. Depois das finais de Atlético-MG na Libertadores-2013 e Flamengo na Copa do Brasil daquele mesmo ano, é um dos melhores resultados na equação ocupação de estádio x arrecadação em bilheteria do futebol nacional.

Ao mesmo tempo, o São Paulo anunciou que reduzirá o ingresso mínimo para a partida das oitavas de final da Libertadores contra o Cruzeiro. De R$ 120, o bilhete cairá para R$ 60. Assim, o clube espera voltar a lotar o Morumbi no campeonato que é mais desejado por seu torcedor. Na semana passada, em entrevista ao “Bolg do Boleiro”, de Luciano Borges, o vice são-paulino Douglas Schwartzmann admitiu que o clube errou na precificação dos ingressos (leia a conversa na íntegra clicando aqui).

As duas situações evidenciam a dificuldade que os clubes têm em se adequar à realidade dos novos estádios. A grande diferença que existe, agora, é que manter um estádio custa muito caro. Se, antes, o futebol estava acostumado a praticamente ter o local de graça (ou a baixíssimo custo) para jogar, agora a equação é mais complicada.

Ao mesmo tempo, aos poucos o futebol entende que é preciso tratar seu principal produto, que é o jogo ao vivo, com mais cuidado. É preciso fazer de cada partida um evento único, que leve as pessoas e possa entregar ao torcedor uma boa experiência. Esse são ingredientes fundamentais para que as pessoas queiram ir cada vez mais ao estádio.

O Palmeiras é, neste começo de ano, o ponto fora da curva. O estádio novo ainda causa muita curiosidade nas pessoas. Ao mesmo tempo, a torcida está empolgada com o time, o que faz com que a procura por ingressos seja alta. A arrecadação dos primeiros quatro meses do ano dificilmente se repetirá com frequência. Até por conta disso, o clube já percebeu que seria preciso reduzir a mão em alguns setores do estádio. Fez um estudo dos últimos oito anos de comportamento do torcedor na ida aos jogos e ponderou qual o melhor a ser feito (leia detalhes aqui).

Há dois anos que a Máquina do Esporte faz um acompanhamento do comportamento do público nos jogos da Série A do Campeonato Brasileiro. O dado mais alarmante é o que mostra que a taxa de ocupação dos estádios raramente ultrapassa 50% durante todo o torneio.

Ao mesmo tempo que está mais caro manter os estádios, está desvalorizado, também, o produto que é apresentado nesses locais. Sendo assim, existe um enorme problema para o futebol no Brasil. É preciso encontrar, com base em estudo, tentativa e erro, o preço ideal para os ingressos.

A Série A do Brasileirão teve, em 2014, um ingresso médio de R$ 33,87. No ano anterior, o tíquete médio havia sido de R$ 29,05. Em campo, a média de público aumentou, mesmo com o bilhete mais caro. Mesmo assim, a taxa de ocupação dos estádios não chega a 50% do total de capacidade.

Em 2015, pela primeira vez todos os novos estádios estarão disponíveis, o que deve aumentar o número de público nos jogos e o custo médio do ingresso. Isso será fundamental para, em 2016, começarmos a ter mais ciência e menos chute na hora de decidir quanto cobrar pelo bilhete. Está claro, por enquanto, que o torcedor não está disposto a pagar mais de R$ 30 pelo ingresso na média.


Futebol brasileiro perde receita para o europeu
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Erich Beting

Os índices de audiência na TV não deixam mentir. O futebol europeu tem hoje uma força cada vez maior no cotidiano do torcedor brasileiro. Com a Globo transmitindo os jogos de Liga dos Campeões da Europa, as partidas de Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique e cia. começam a atingir, com frequência, a faixa dos 15 a 18 pontos de audiência.

É muita coisa.

O impacto disso não é na formação de uma geração de torcedores que terão como preferência os times europeus aos brasileiros, mas sim de uma perda cada vez maior de receita dos clubes brasileiros para essas potências multinacionais alocadas na Europa.

Há dez anos, sistematicamente, temos exemplos de que isso é cada vez mais uma realidade. Enquanto os clubes brasileiros praticamente estacionaram na fórmula “receita de TV + patrocínio na camisa” para fazer dinheiro, os times da Europa começaram uma expansão nunca antes planejada para o mercado da América do Sul.

Nesta semana, a Gillette apresentou um novo produto ao mercado. Uma lâmina de barbear que leva, na embalagem, o símbolo e as cores do Barcelona. Detentora dos direitos de exploração da imagem do Barça na América do Sul, a empresa está apostando na venda de um produto licenciado do clube espanhol para estourar em vendas a mais de 10 mil km de distância do Camp Nou.

Com o Barcelona comandado pelo trio Messi (Argentina), Suárez (Uruguai) e Neymar (Brasil), faz total sentido para a Gillette ter um acordo desse gênero para a América do Sul. Dois dos principais mercados do continente são, de uma forma ou de outra, impactados pelo Barcelona quase que diariamente.

Mas por que não existe nada similar ao que é feito com o Barcelona para os clubes de maior torcida do Brasil? Será que é muito difícil buscar um negócio similar a esse e vender para o público daqui?

O Barça tem, hoje, um departamento comercial cuja missão é trabalhar pensando 100% do tempo em soluções para a América do Sul. Foi o primeiro clube a expandir a marca para cá, depois de uma entrada tímida do Manchester United no acordo com a Concha y Toro. Cada vez mais, o Barcelona é um concorrente direto dos times brasileiros na busca por receita de patrocínio.

Se, antes, era mais difícil engajar as marcas nas ações com os times de fora pela penetração restrita praticamente à TV fechada, agora a situação é outra. Quando, semana após semana o Barcelona consegue pelo menos 15 pontos de audiência, ele é um produto cada vez mais massificado dentro do mercado brasileiro.

O futebol do Brasil não perderá torcedor para o do exterior. A transmissão do amor pelo time de futebol entre gerações é forte demais para permitir isso. Mas, sem dúvida, o futebol do Brasil perderá muita receita para os times europeus, cada vez mais presente dentro do dia a dia das pessoas.


Por que as mulheres são o novo alvo das marcas esportivas
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Erich Beting

No final do ano passado, a Nike fez um evento na Coreia do Sul com jornalistas do mundo todo. Na ocasião, a fabricante de material esportivo apresentava um projeto voltado para o universo da corrida de rua focado no público feminino. Quase meio ano depois, a empresa líder do mercado, com faturamento de US$ 17 bilhões, anunciou uma campanha toda voltada para as mulheres.

O objetivo? Aumentar em US$ 2 bilhões o faturamento com esse segmento do mercado.

Nos últimos anos, Adidas, Nike e Under Armour as três grandes marcas de material esportivo do mundo, tem feito uma investida consistente sobre o público feminino.

As mulheres são hoje o principal alvo das marcas. Isso acontece, em boa parte, porque há uma mudança significativa no mercado esportivo.
O segmento de running foi sempre o mais impactante para as vendas das empresas. Mas, de uns anos para cá, a corrida começou a ser substituída pelo bem-estar. Não é só o corredor de rua que sustenta as marcas, mas o praticante de atividade física.

E nesse contexto a mulher faz parte de uma lucrativa fatia de mercado. Ioga, academia de ginástica e outras atividades do gênero estão cada vez mais inseridas no cotidiano das pessoas, especialmente nas grandes cidades. Nesse universo, a inserção da moda na roupa para a prática de esportes de “bem-estar” faz da mulher o grande filão do presente.

Se, há quase 30 anos, a Nike marcou seu território ao criar a campanha “Just do It”, transformando cada pessoa num atleta em potencial, agora é a vez de a Under Armour ter levantado a bandeira para o público feminino, com o vídeo feito no ano passado com Gisele Bündchen, contratada a peso de ouro pela marca esportiva.

Agora, Nike e Adidas começam o movimento de retomada de espaço.

Só para se ter uma ideia do tamanho do mercado feminino. Esses dois bilhões de dólares que a Nike espera crescer em faturamento em dois anos com a nova campanha para as mulheres é o mesmo que a empresa conseguiu vender em artigos de futebol no ano passado, quando a realização da Copa do Mundo sempre gera um aumento das vendas das marcas.

A mulher é a nova aposta das marcas para fazer o negócio esportivo se manter em crescimento constante.


As lições tiradas do patético acordo Crefisa-FPF
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Erich Beting

Foi praticamente um Amor de Carnaval o acordo entre Federação Paulista de Futebol e Crefisa-FAM. O anúncio feito na quinta-feira passada virou pó na segunda-feira, depois de a FPF conseguir chamar até mesmo a atenção da Fifa pela lambança que protagonizou.

Mas o que fica desse episódio todo? A decisão de patrocinar os árbitros feita pela Crefisa e pela FAM mostra algumas coisas que ajudam a explicar como a indústria do esporte no Brasil ainda está num período pré-cambriano. Vamos tentar ver se o episódio ajuda a ensinar um pouco mais a todos.

1 – Os donos de Crefisa e da FAM investem no esporte apenas para ter exposição de marca. Esqueça o discurso usado na apresentação do acordo com o Palmeiras, de que o clube passava o conceito de bom pagador, etc. Se estivesse preocupado realmente com isso, o patrocinador gastaria o dinheiro que foi aportar na FPF em ações para se relacionar com o torcedor palmeirense. A Crefisa e a FAM já são grandes anunciantes da Globo. Isso já bastaria para eles não precisarem de mais exposição na mídia. Foram para um clube que assegura mais visibilidade. E continuam a achar que é só isso que o patrocínio gera.

2 – Os dirigentes da FPF – e boa parte da opinião pública – seguem a acreditar que qualquer dinheiro é bem-vindo, sem calcular o prejuízo de imagem que isso pode acarretar para a instituição. É o tal do “Topa tudo por dinheiro”. Não adianta pegar qualquer dinheiro, é preciso ver o quanto a entidade é maior que aquela grana que vai entrar.

3 – O mercado brasileiro não está pronto ainda para vender qualquer coisa além de exposição de marca. A FPF poderia oferecer à Crefisa um espaço em cada um dos estádios onde aconteceram os jogos das quartas de final do Paulista para fazer ações com o torcedor. Se tivesse usado parte do dinheiro que arrecadou com o patrocínio para criar um belo evento pré-jogo para o patrocinador, ela não apenas fugiria de qualquer polêmica como ajudaria seu parceiro comercial a gerar receita com ação direta para os cerca de 100 mil torcedores que foram aos quatro estádios no final de semana. É só uma questão de saber vender outras possibilidades de relacionamento com o consumidor que não a cada vez menos eficiente exposição em mídia.

É possível fazer do limão azedo que foi essa história uma boa limonada. Precisa saber se há maturidade, dentro do mercado, para isso. Esporte e Patrocinador precisam ir além do que já foi feito para conseguir eficiência naquele investimento.


Crefisa faz o patrocínio mais inoportuno dos últimos tempos
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Erich Beting

A Crefisa, que foi no início do ano anunciada como patrocinadora do Palmeiras, acaba de adicionar mais uma propriedade de patrocínio. Fechou um acordo com a Federação Paulista de Futebol. O negócio foi anunciado pela entidade esportiva, agora há pouco, em seu perfil no Twitter.

“Para as fases seguintes do campeonato, foi fechado um patrocínio com a Crefisa, que vai arcar com todas as despesas de arbitragem”.

Qual o ganho que a Crefisa tem ao fechar um acordo desse gênero?

O único retorno que a empresa tem já começa a ser medido dentro do próprio perfil da FPF no Twitter. Os torcedores de todos os outros times têm questionado se haverá lisura dos árbitros na condução dos jogos.

Logicamente é errado prever que haverá qualquer alteração no comportamento da arbitragem. Mas, num mundo cercado de exemplos de fácil corrompimento de valores morais das pessoas pelo dinheiro, a ilação que se faz é direta.

A Crefisa não precisava ter de passar por isso. O Palmeiras, idem. A FPF também tem dinheiro de caixa em sobra para bancar os custos de arbitragem nas partidas…

Depois de ter dado um tiro grande ao patrocinar o Palmeiras, a Crefisa consegue outro recorde. Um dos mais inoportunos patrocínios dos últimos tempos.


Esporte, afinal, dá dinheiro ou prestígio?
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Erich Beting

Ontem, 7 de abril, comemorou-se o Dia do Jornalista. A efeméride, além de servir para as tradicionais congratulações pelas redes sociais, foi marcada por uma notícia, no mínimo, emblemática. O jornal “O Estado de S. Paulo” demitiu dezenas de jornalistas e decidiu colocar fim ao seu caderno de esporte. Isso não significa o fim da cobertura do tema, mas sua redução de espaço dentro do veículo, que só terá um caderno específico sobre o tema a princípio nas edições de domingo.

Por que, a 18 meses da primeira edição de um Jogos Olímpicos no Brasil, torna-se inviável manter um noticiário regular de esportes num dos principais jornais do Brasil?

A resposta a essa pergunta, porém, passa por outra pergunta, mais intrigante. Por que o esporte, apesar de movimentar bilhões, não consegue ter uma indústria a ponto de sustentar um caderno sobre o tema num veículo do tamanho do “Estadão”?

Aí chego ao título do post. Esporte, afinal, dá dinheiro ou prestígio? No ano passado, o ex-CEO da Microsoft Steve Ballmer comprou o time do LA Clippers, da NBA. Pagou US$ 2 bilhões por ele, no negócio mais caro envolvendo a compra de times de basquete da história. Ballmer teve a chance de comprar o Clippers e despejou um valor que, dificilmente, voltará a seus cofres.

Os US$ 2 bi não se pagam. E isso pouco importa a quem tem US$ 30 bi como fortuna estimada. Mas por que raios ele foi investir em esporte? Desde fevereiro de 2014, Ballmer, que era notícia por ser CEO da Microsoft, passou a ser notícia por ser o dono do time mais valioso da NBA. E, a partir disso, ele vive constantemente na mídia.

Da mesma forma, bilionários de países emergentes se transformaram em pessoas de prestígio nos últimos anos por investirem em times de futebol na Europa. Chelsea e PSG talvez sejam os casos mais elucidativos disso. Os investidores não estão atrás de um negócio rentável, mas de algo que o coloca com relativa frequência na mídia e na condição de um investidor de algo de status.

No Brasil, se não vivemos a era dos investidores privados nas entidades esportivas, temos o esporte como meio de os dirigentes ganharem mídia para alçarem outros voos, sejam em negócios particulares ou em carreira política. Da mesma forma, os patrocinadores usam o esporte como mídia.

E isso leva à situação que vemos acontecer com as diferentes mídias que precisam “vender” o esporte. Como ter anunciante se o potencial investidor está interessado na mídia espontânea gerada a partir do investimento que ele já faz no esporte? O esporte é conteúdo, é mídia. E, como tal, dificulta a vida de quem precisa viver de vender anúncio.

O Estadão acabar com sua página de esportes faz total sentido quando o modelo de negócios está baseado na venda de publicidade. Hoje, o patrocinador do esporte, quando investe em mídia, pensa na televisão, já que ela tem um modelo híbrido que une jornalismo com entretenimento do evento esportivo.

O esporte não dá dinheiro. Mas assegura prestígio. A mídia é o canal para esse prestígio ser reforçado. A TV já percebeu isso há muito tempo. Os outros meios precisam olhar para esse modelo para conseguir ganhar dinheiro ao falar de esporte…


Sócio-Torcedor e estádio escancaram a falta de critério do futebol
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Erich Beting

O Palmeiras virou o clube “da moda” dentro dos programas de sócio-torcedor no Brasil. Com quase 108 mil associados e um crescimento de quase 50 mil associados em praticamente 90 dias, o clube virou o modelo a ser seguido para quem quiser fazer do projeto de sócio-torcedor uma fonte alternativa de receita.

Um dos motivos para o ótimo desempenho palmeirense no programa, além do fato de o programa ser meio que obrigatório para que o torcedor tenha mais facilidade na hora de comprar ingresso, é a precificação do projeto. O clube paulista foi um dos primeiros a criar uma categoria de sócios a R$ 9,90. É um valor relativamente baixo para a contribuição mensal e que, por sua vez, explica o motivo de o Palmeiras ter se transformado no segundo maior programa do país, caminhando a velocidade segura para, até o fim do ano, ser o primeiro.

A lógica seguida pela diretoria palmeirense é a lógica de varejo que permeia, principalmente, o mercado americano. Entre ter 5 compradores pagando R$ 50, é melhor ter 50 pagando R$ 10. Fatura-se o dobro ao oferecer um preço mais acessível, ganha-se mais clientes e, no fim das contas, o lucro começa a ser maior.

Ao oferecer um sócio-torcedor com preço mais baixo, aliado ao resgate da estima do torcedor e da inauguração do novo estádio, o Palmeiras conseguiu um salto significativo no programa, que passou a gerar mais do que o dobro do que gerava e atrair milhares de torcedores (muitos deles que estavam distantes) para se relacionarem com a marca.

O mesmo Palmeiras é, também, avassalador em seu novo estádio. Até agora, em oito jogos pelo Campeonato Paulista, o clube colocou em média 26.777 torcedores no Allianz Parque. A arrecadação, recorde, é de mais de R$ 16 milhões. Nenhum outro clube ganhou tanto dinheiro em seu estádio no país. Aliás, o Palmeiras fatura mais que os outros campeonatos estaduais em bilheteria!

Mas será que o clube não poderia ganhar mais dinheiro?

Segundo a WTorre, construtora do estádio, o Allianz Parque tem capacidade para 43.600 pessoas. Esse é o número de “assentos cobertos” que a empresa alega existir no local. Sendo assim, o Palmeiras ocupa, em média, 61,4% da capacidade total de seu estádio.

Essa é uma das melhores taxas de ocupação do país. Mas por que o sócio-torcedor explode enquanto o estádio não consegue encher?

É impressionante como o mesmo Palmeiras que é inteligente na precificação do sócio-torcedor consegue ter uma visão radicalmente oposta quando o assunto é o seu estádio. Com ingresso mínimo a R$ 40 (meia-entrada para o setor mais “popular”), o clube não conseguiu, neste 2015, encher seu estádio uma única vez.

Enquanto gaba-se com campanha na televisão que só cresce o programa de sócio-torcedor, o Palmeiras segue o caminho inverso na relação com o seu estádio. O ingresso, claramente, está mais caro do que o interesse do público no evento que lhe é ofertado ali.

O curioso é que o Palmeiras faz campanha cada vez mais inteligente para continuar a motivar o sócio-torcedor, mas simplesmente ignora que o seu estádio está com necessidade de encher em mais 40% todo jogo. Por que o clube não lança uma campanha para conseguir 100% de ocupação em seu novo e magnífico estádio?

O estádio novo não pode ser confundido com ingresso caro. Ele é melhor, mais confortável e, logicamente, mais caro para se manter. Será que não é possível reduzir em 25% o valor dos ingressos e aumentar em 40% a lotação do espaço? É questão lógica. Isso já faria com que o clube ganhasse ainda mais dinheiro em bilheteria, sem ser tão maldoso com o bolso do torcedor. Isso sem falar no quanto representam mais 14 mil pessoas dentro de uma arena em geração de outras receitas pelo consumo de produtos.

Se o Palmeiras personifica o que há de mais inteligente no sócio-torcedor do país hoje em dia, ao mesmo tempo mostra o que há de mais arcaico na visão de como fazer para convencer o torcedor a ir a um estádio de futebol.

Falta critério ao futebol.

No sócio-torcedor, percebeu-se que cobrar menos é um bom caminho para se assegurar mais receita. Por que a mesma lógica não se aplica ao estádio?


A encruzilhada na qual jogaram Ana Moser
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Erich Beting

O convite do governo a Ana Moser para a presidência da Autoridade Pública Olímpica (APO) é a típica situação que coloca a ex-jogadora e uma das mais influentes figuras da política esportiva brasileira numa encruzilhada.

O mico que se transformou o cargo de presidente da APO (detalhes na reportagem de Bruno Doro, do UOL, estão aqui) faz com que o convite sirva muito mais para usar a credibilidade de Ana Moser no mercado para dissipar dúvidas sobre o andamento da candidatura brasileira às Olimpíadas.

Caso o orçamento das Olimpíadas estoure, tenhamos de fazer obras a toque de caixa e sem cuidado com o caixa, e vivenciemos uma situação parecida com a do Pan-2007, é Ana Moser que “corroborará” com isso. Se ela avalizou algo que não foi como se planejava, terá imensa dificuldade em mostrar que não era a única responsável por isso.

Se a Olimpíada for executada à perfeição, tudo correr bem, cumprirmos o orçamento quase à risca e entregarmos um pós-evento bom para o público e para o esporte no Brasil, Ana será ainda mais valorizada no mercado.

Não é difícil imaginar que é esse o dilema que mais deve passar pela cabeça de Ana Moser no momento. Se estiver como presidente da APO, ela tem muito a perder caso a Olimpíada não saia como o esperado. Como uma batalhadora do esporte como meio de inclusão social que é, ela sabe, por outro lado, que tem a oportunidade única de ser, a 18 meses dos Jogos, uma das mais influentes figuras do evento.

Com certeza era mais fácil encarar o bloqueio triplo de Cuba naquela maldita semifinal em Atlanta-96 mais uma vez do que tomar essa decisão.

Uma coisa é certa. O convite a Ana Moser para a presidência da APO é uma baita encruzilhada para ela, mas também um atestado da enorme importância que ela tem para o esporte no Brasil.