Negócios do Esporte

Sócio-Torcedor e estádio escancaram a falta de critério do futebol

Erich Beting

O Palmeiras virou o clube ''da moda'' dentro dos programas de sócio-torcedor no Brasil. Com quase 108 mil associados e um crescimento de quase 50 mil associados em praticamente 90 dias, o clube virou o modelo a ser seguido para quem quiser fazer do projeto de sócio-torcedor uma fonte alternativa de receita.

Um dos motivos para o ótimo desempenho palmeirense no programa, além do fato de o programa ser meio que obrigatório para que o torcedor tenha mais facilidade na hora de comprar ingresso, é a precificação do projeto. O clube paulista foi um dos primeiros a criar uma categoria de sócios a R$ 9,90. É um valor relativamente baixo para a contribuição mensal e que, por sua vez, explica o motivo de o Palmeiras ter se transformado no segundo maior programa do país, caminhando a velocidade segura para, até o fim do ano, ser o primeiro.

A lógica seguida pela diretoria palmeirense é a lógica de varejo que permeia, principalmente, o mercado americano. Entre ter 5 compradores pagando R$ 50, é melhor ter 50 pagando R$ 10. Fatura-se o dobro ao oferecer um preço mais acessível, ganha-se mais clientes e, no fim das contas, o lucro começa a ser maior.

Ao oferecer um sócio-torcedor com preço mais baixo, aliado ao resgate da estima do torcedor e da inauguração do novo estádio, o Palmeiras conseguiu um salto significativo no programa, que passou a gerar mais do que o dobro do que gerava e atrair milhares de torcedores (muitos deles que estavam distantes) para se relacionarem com a marca.

O mesmo Palmeiras é, também, avassalador em seu novo estádio. Até agora, em oito jogos pelo Campeonato Paulista, o clube colocou em média 26.777 torcedores no Allianz Parque. A arrecadação, recorde, é de mais de R$ 16 milhões. Nenhum outro clube ganhou tanto dinheiro em seu estádio no país. Aliás, o Palmeiras fatura mais que os outros campeonatos estaduais em bilheteria!

Mas será que o clube não poderia ganhar mais dinheiro?

Segundo a WTorre, construtora do estádio, o Allianz Parque tem capacidade para 43.600 pessoas. Esse é o número de ''assentos cobertos'' que a empresa alega existir no local. Sendo assim, o Palmeiras ocupa, em média, 61,4% da capacidade total de seu estádio.

Essa é uma das melhores taxas de ocupação do país. Mas por que o sócio-torcedor explode enquanto o estádio não consegue encher?

É impressionante como o mesmo Palmeiras que é inteligente na precificação do sócio-torcedor consegue ter uma visão radicalmente oposta quando o assunto é o seu estádio. Com ingresso mínimo a R$ 40 (meia-entrada para o setor mais ''popular''), o clube não conseguiu, neste 2015, encher seu estádio uma única vez.

Enquanto gaba-se com campanha na televisão que só cresce o programa de sócio-torcedor, o Palmeiras segue o caminho inverso na relação com o seu estádio. O ingresso, claramente, está mais caro do que o interesse do público no evento que lhe é ofertado ali.

O curioso é que o Palmeiras faz campanha cada vez mais inteligente para continuar a motivar o sócio-torcedor, mas simplesmente ignora que o seu estádio está com necessidade de encher em mais 40% todo jogo. Por que o clube não lança uma campanha para conseguir 100% de ocupação em seu novo e magnífico estádio?

O estádio novo não pode ser confundido com ingresso caro. Ele é melhor, mais confortável e, logicamente, mais caro para se manter. Será que não é possível reduzir em 25% o valor dos ingressos e aumentar em 40% a lotação do espaço? É questão lógica. Isso já faria com que o clube ganhasse ainda mais dinheiro em bilheteria, sem ser tão maldoso com o bolso do torcedor. Isso sem falar no quanto representam mais 14 mil pessoas dentro de uma arena em geração de outras receitas pelo consumo de produtos.

Se o Palmeiras personifica o que há de mais inteligente no sócio-torcedor do país hoje em dia, ao mesmo tempo mostra o que há de mais arcaico na visão de como fazer para convencer o torcedor a ir a um estádio de futebol.

Falta critério ao futebol.

No sócio-torcedor, percebeu-se que cobrar menos é um bom caminho para se assegurar mais receita. Por que a mesma lógica não se aplica ao estádio?