Negócios do Esporte

As lições tiradas do patético acordo Crefisa-FPF

Erich Beting

Foi praticamente um Amor de Carnaval o acordo entre Federação Paulista de Futebol e Crefisa-FAM. O anúncio feito na quinta-feira passada virou pó na segunda-feira, depois de a FPF conseguir chamar até mesmo a atenção da Fifa pela lambança que protagonizou.

Mas o que fica desse episódio todo? A decisão de patrocinar os árbitros feita pela Crefisa e pela FAM mostra algumas coisas que ajudam a explicar como a indústria do esporte no Brasil ainda está num período pré-cambriano. Vamos tentar ver se o episódio ajuda a ensinar um pouco mais a todos.

1 – Os donos de Crefisa e da FAM investem no esporte apenas para ter exposição de marca. Esqueça o discurso usado na apresentação do acordo com o Palmeiras, de que o clube passava o conceito de bom pagador, etc. Se estivesse preocupado realmente com isso, o patrocinador gastaria o dinheiro que foi aportar na FPF em ações para se relacionar com o torcedor palmeirense. A Crefisa e a FAM já são grandes anunciantes da Globo. Isso já bastaria para eles não precisarem de mais exposição na mídia. Foram para um clube que assegura mais visibilidade. E continuam a achar que é só isso que o patrocínio gera.

2 – Os dirigentes da FPF – e boa parte da opinião pública – seguem a acreditar que qualquer dinheiro é bem-vindo, sem calcular o prejuízo de imagem que isso pode acarretar para a instituição. É o tal do ''Topa tudo por dinheiro''. Não adianta pegar qualquer dinheiro, é preciso ver o quanto a entidade é maior que aquela grana que vai entrar.

3 – O mercado brasileiro não está pronto ainda para vender qualquer coisa além de exposição de marca. A FPF poderia oferecer à Crefisa um espaço em cada um dos estádios onde aconteceram os jogos das quartas de final do Paulista para fazer ações com o torcedor. Se tivesse usado parte do dinheiro que arrecadou com o patrocínio para criar um belo evento pré-jogo para o patrocinador, ela não apenas fugiria de qualquer polêmica como ajudaria seu parceiro comercial a gerar receita com ação direta para os cerca de 100 mil torcedores que foram aos quatro estádios no final de semana. É só uma questão de saber vender outras possibilidades de relacionamento com o consumidor que não a cada vez menos eficiente exposição em mídia.

É possível fazer do limão azedo que foi essa história uma boa limonada. Precisa saber se há maturidade, dentro do mercado, para isso. Esporte e Patrocinador precisam ir além do que já foi feito para conseguir eficiência naquele investimento.