Negócios do Esporte

O erro de marketing de Silva no taekwondo

Erich Beting

Anderson Silva vai tentar uma vaga para competir nos Jogos Olímpicos de 2016 no taekwondo. A polêmica decisão do lutador de tentar competir após ser pego duas vezes no doping no UFC é a típica ação que faz bem no curto prazo para a modalidade e para o lutador. Mas que pode deixar suas consequências para o futuro.

A decisão é meramente marqueteira. No mal sentido.

Ela foi tomada tendo como objetivo apenas a promoção de Anderson Silva no pior momento de gestão de crise de imagem do lutador. E o taekwondo, malandramente, embarcou na onda, usando o amparo legal que permite a inclusão do Spider nas seletivas para as Olimpíadas.

A proporção que Anderson Silva atingiu no mercado faz com que tudo o que ele faça após ter sido flagrado no antidoping vire notícia. Por conta disso, nunca falamos tanto sobre o esporte taekwondo na mídia como agora.

Mas qual o impacto que uma possível classificação dele para a Olimpíada gera?

Possivelmente haverá mais gente interessada em comprar ingressos para acompanhar o taekwondo no Rio. Da mesma forma, haverá um interesse maior da mídia em cobrir o evento.

Mas o que isso gera, de fato, para a modalidade? Qual o exemplo que ela passa para o consumidor? De que, em nome da publicidade e divulgação do esporte, vale tudo?

O taekwondo nunca esteve em tanta evidência no Brasil como nas últimas semanas. Isso seria bom caso Silva, campeoníssimo no MMA, decidisse tentar disputar os Jogos Olímpicos como uma espécie de grand finale da carreira. Com o lutador afastado do UFC por doping, o taekwondo parece ter se transformado na tentativa às avessas de resgate da imagem.

Todos só tem a perder. Silva pode passar a impressão de que está usando a modalidade para se promover. E o taekwondo dá a impressão de que aceita o jogo de cena apenas para promover a modalidade.

Seguir estritamente a lei nesses casos pode ser legal do ponto de vista jurídico. Mas, com certeza, não é nada legal do ponto de vista ético.

Ser marqueteiro não é um problema. Desde que o marketing seja usado de forma a promover o bem. Qualquer tentativa de manipulação das pessoas é, com o tempo, desmascarada.

Se o COI se diz tão preocupado com a pureza do ''espírito olímpico'', deveria sair do pedestal da indiferença e agir para proteger a marca da mesma forma que faz quando um atleta publica alguma coisa que pretensamente ataque os Jogos.