Negócios do Esporte

Arquivo : maio 2015

A terra arrasada no futebol teria um novo líder?
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Erich Beting

É emblemática a votação que acontece logo mais na Fifa. Em meio ao turbilhão em que a entidade se meteu, a disputa está restrita a Joseph Blatter, concorrendo à quinta reeleição, e a Ali Bin Al Hussein, que tem 39 anos e há 16 preside a confederação de futebol da Jordânia, mesmo tempo de liderança de Blatter na Fifa.

O porquê de chegarem dois candidatos com esse perfil à votação final mostra bastante a dificuldade que o futebol terá pela frente. Ainda é cedo para mensurar os desdobramentos das investigações que já ocorrem há três anos nos Estados Unidos e que devem se arrastar por mais algum tempo.

A sensação que se dá é de que começou a existir um movimento que pode deixar arrasada a terra do futebol. E isso abre o caminho para que apareça um novo líder dentro de todo o negócio. Mas será que existe esse novo líder?

Ao que tudo indica, o francês Michel Platini quer assumir essa condição. É só ver o discurso que ele fez para justificar o apoio à candidatura de Hussein, pedindo na verdade a saída de Blatter e a marcação da eleição apenas para o início do ano que vem. Apoiado pela pujança da Liga dos Campeões da Europa, Platini quer ratificar sua condição de candidato e aparecer como uma alternativa “limpa” no meio.

Grande ídolo do futebol francês até Zidane, Platini tem a seu lado a entidade que é o maior sucesso no futebol. A Uefa que cada dia mais divide a riqueza entre os seus filiados, não sugando a maior parte do dinheiro que entra nos cofres, é o que de menos pior existe entre as entidades esportivas.

Mas seria Platini ou o próprio ambiente da Uefa os responsáveis por isso? Vale lembrar que o francês está metido até os bolsos na história de compra de votos do Qatar para a escolha do país à sede da Copa de 2022.

O problema é que, se realmente as investigações iniciadas pelo FBI forem levadas à frente, os dirigentes terão de começar a rever seu passado e tentar não ter qualquer história de, pelo menos, troca de favores em seu currículo. Se realmente começar uma “limpeza” no futebol, dificilmente os dirigentes que hoje estão no poder não terão história para contar. E se enrascar…

Como bem mesmo mostrou a investigação americana, são pelo menos duas gerações de dirigentes esportivos funcionando nesse modus operandi de troca de favores, comissões e propinas, abuso do status do cargo, etc. São, portanto, pelo menos 30 anos em que não há qualquer mudança de liderança no futebol pelo mundo todo.

A terra arrasada é um cenário interessante para quem pretende ver o futebol governado de forma honesta por seus dirigentes. O maior problema é saber se, em meio a isso, haverá alguém capaz de assumir o barco, tocar os negócios e resgatar a credibilidade perdida.

É só ver o mercado no Brasil. Ricardo Teixeira deu lugar a Marin, que deu lugar a Del Nero… Existe uma liderança nova em algum clube ou federação que possa entrar, assumir o leme e retomar a navegação num mar revoltoso?

O processo pelo qual o futebol começa a passar é importante para que o esporte seja cada vez mais valorizado no futuro. Resta saber se haverá possibilidade de entrar alguém que consiga provocar essa transformação sem que seja mais do mesmo, só com um terno alinhado de forma diferente.

A eleição de hoje da Fifa é a síntese dessa situação. Concorrem à presidência duas pessoas que estão em seus cargos de presidente há 16 anos…


O escândalo de hoje no futebol começou há quatro anos
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Erich Beting

O estouro do escândalo de corrupção envolvendo dirigentes do futebol, especialmente nas Américas do Sul, Central e do Norte, começou a ser desenhado há quatro anos, antes da eleição para presidente da Fifa. O grupo que “debandou” de Joseph Blatter e tentou apoiar Bin Hamman é o mesmo que tem muito, mas muito a ver com as investigações que resultaram em todas as prisões desta quarta-feira.

Chuck Balzer, Jack Warner, Nicolas Leoz, Ricardo Teixeira e Julio Grondona eram os principais nomes da política da bola na Concacaf e na Conmebol. Os cinco, numa tentativa orquestrada, se uniram a Bin Hamman para tentar mudar o comando da Fifa e, naturalmente, terem maior influência na entidade mundial.

Blatter percebeu antes a articulação e desmantelou o grupo, revelando escândalos envolvendo esses cinco nomes, que num espaço de dois anos foram perdendo espaço no mundo do futebol.

E aí é que entrou toda a história revelada hoje. No desmantelamento do grupo, a Fifa deu argumentos para o governo americano passar a ir atrás de dinheiro que deveria ter recebido em impostos. Apertou o cerco a Chuck Blazer desde aquele instante. E, assim, foi trilhando o caminho. No ano passado, com o engavetamento, feito pela Fifa, do relatório sobre a gestão temerária da entidade elaborado por Michael Garcia, ex-promotor federal americano, o cerco se apertou ainda mais.

As contribuições com a Justiça feitas por J. Hawilla, Blazer e os filhos de Jack Warner são fundamentais no processo. Mas tais revelações acontecem porque muita gente foi “tirada” do jogo da Fifa há quatro anos.

E aí é que entra o grande ponto de onde toda essa história pode chegar. Ao desmantelar o modus operandi do futebol nas Américas, a Justiça dos EUA mostra o caminho para poder derrubar o modus operandi do futebol na Fifa. Caso isso venha realmente acontecer, muita gente poderá ainda estar envolvida.

O que isso impacta no negócio? A pergunta foi repetida diversas vezes para mim ao longo do dia. Acho que o ponto crucial é que ele torna mais limpo todo o processo envolvendo o esporte. E isso traz enormes avanços.

Quando há uma melhoria na qualidade dos profissionais envolvidos em qualquer segmento de mercado, há um forte crescimento daquele setor. O futebol poderá, finalmente, desenvolver todo o potencial que existe nele como esporte que mais movimenta as pessoas no mundo. Quando a ganância for substituída pela produtividade, não há como todos não ganharem.

É essa lufada de esperança que existe no momento.


David Luiz deveria esperar. Pelo menos antes de tuitar
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Erich Beting

Afinal, David Luiz resolveu ou não esperar? Não sei, nem me preocupo em saber, mas o zagueiro do PSG e da seleção brasileira deveria saber, muito bem, que é preciso esperar. Pelo menos antes de se engajar numa campanha pelas redes sociais.

Para tentar entender o caso. Nesta semana, um pastor evangélico deu início a uma corrente pela internet com o mote “Eu resolvi esperar”, incentivando as pessoas a esperarem para fazer sexo após o casamento. Evangélico, batizado pelo mesmo pastor que iniciou a campanha, David Luiz aproveitou sua popularidade nas redes sociais para ajudar a fazer a campanha ganhar mais repercussão (detalhes aqui).

A vida pessoal dele é o de menos, mas logicamente que repercutiu em tudo que é lugar o fato de ele se “declarar” virgem. E aí é que entra a lição que, se ainda não sabia, David Luiz passará a saber sem nem piscar os olhos da próxima vez…

Uma figura pública tem de tomar muito, mas muito cuidado, antes de se engajar em qualquer campanha por redes sociais. Por mais que seja um “favor” a um amigo, ou valha muito dinheiro na conta.

Qualquer história que não se sustente vira contra o mensageiro da tuitada. David Luiz tornou ainda mais “fake” sua defesa do “Eu resolvi esperar” ao declarar que não, ele não esperou. Na realidade, deixa o menino fazer o que ele quiser. A vida é dele, a religião é dele, o pensamento é dele.

Mas, se David Luiz não quiser ter a vida particular exposta, ele precisa saber que isso só se faz não defendendo publicamente assuntos que, teoricamente, são de interesse privado. A partir do momento que 6,8 milhões de pessoas acompanham aquilo que ele escreve no Twitter, outros milhões estão no Instagram e no Facebook, a vida de David Luiz é pública. E, como tal, ele precisa pensar, e muito, antes de publicar qualquer informação, engajar qualquer campanha, etc.

As redes sociais transformaram as pessoas em “donos” da própria mídia. E, como tal, sempre é melhor esperar. Pelo menos antes de tuitar. Nas relações pessoais, aí cada um cuida da sua vida…


Under Armour leva a outro patamar ideia de marca esportiva
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Erich Beting

Em setembro de 2010, quando a Nike lançou a plataforma Nike+, o mercado de material esportivo assistiu a uma nova transformação. Ao criar um sistema integrado de monitoramento das atividades físicas, a fabricante americana mostrou para os concorrentes que a revolução tecnológica iniciada em 2001, com o desenvolvimento do iPod, começava a invadir a indústria do esporte.

Breve linha cronológica para entender o que aconteceu.

Em 2001, a Apple lançou o iPod, o tocador de música que armazenava zilhões de arquivos num único lugar. Foi o início da transformação da indústria fonográfica, sempre baseada na venda de CDs e cobrança cara para a reprodução de uma música. Em 2007, a mesma Apple deu um passo além nessa revolução. Criou o iPhone, colocando as funções de computador num espaço que antes era usado apenas para fazer ligações telefônicas. Passamos, então, a ter tudo reunido ao alcance das mãos.

Três anos depois, em 2010, a Nike levou essa mudança de hábito de consumo da tecnologia entre as pessoas para a prática de atividade física. Paralelamente à revolução provocada pela Apple, YouTube, Twitter e Facebook davam mostras de que o não havia mais volta para o caminho de integração das pessoas por redes virtuais de compartilhamento de informações.

A empresa americana foi visionária nesse sentido. Quando criou o Nike+, a fabricante unia três pontas. A primeira, vinda dela mesma, de incentivar a prática de atividade física para o atleta amador: “Se você tem um corpo, você é um atleta”, é um dos mantras da Nike. A segunda parte foi juntar isso ao fato de que as pessoas queriam tornar a vida privada em pública, a partir da divulgação, para uma rede de amigos, de seus hábitos cotidianos. E a terceira, a grande constatação, foi perceber que a tecnologia começava a ficar ao alcance das mãos.

Já que tudo estava ao alcance das mãos, por que então não unir também os resultados da performance esportiva e permitir que você mostre isso a seus amigos? O Nike+, em resumo, é isso. Uma ferramenta que monitora a sua atividade física, torna-a disponível num site e permite o compartilhamento dos dados em suas redes virtuais de relacionamento.

Essa largada dada pela Nike foi acompanhada, apenas, pela Adidas. Pouco depois, a fabricante alemã colocou em pé o projeto “MiCoach”. O princípio era o mesmo. E, mais interessante, já havia sido testado pela própria marca nos anos 80, quando foi colocado um microprocessador num tênis para medir as passadas dos atletas.

Atualmente em terceiro lugar entre as marcas esportivas, a Under Armour tem se consagrado no mercado americano por apostar alto em inovação. Criada em 1996, a empresa agora começa a querer incomodar as duas gigantes do setor. Em fevereiro, num movimento ousado, a empresa anunciou a criação da plataforma Under Armour Connected Fitness. A ideia é criar um grande centro virtual de “atletas”. Em vez de desenvolver aplicativos próprios, como fizeram as concorrentes, a estratégia foi outra. E muito, mas muito mais interessante.

A Under Armour comprou, em fevereiro, dois aplicativos. O Endomondo, que faz o monitoramento de prática de atividades físicas, e o MyFitnessPal, que é um contador de calorias. A compra do primeiro foi, a grosso modo, para dar sequência ao que Nike e Adidas fazem com suas plataformas próprias. Já que as pessoas praticam atividade física, que possam então monitorar aquilo que fazem. A diferença é que, para o aplicativo funcionar, a pessoa não precisa vestir nenhum produto da Under Armour.

A tacada de mestre, porém, foi a compra do aplicativo que serve para as pessoas medirem a ingestão de alimentos. Com 80 milhões de usuários, o MyFitnessPal não é voltado para quem pratica esporte, mas para quem se preocupa com a saúde e alimentação. E isso atende, exatamente, o movimento que deverá acontecer nos próximos cinco anos dentro do mercado.

A terceira onda de evolução da tecnologia ao alcance das pessoas é a saúde. Os aparelhos eletrônicos começam, agora, a mensurar nossa saúde. Não é mais só um relógio que vestiremos, mas uma espécie de central de informações detalhadas sobre níveis de colesterol, ingestão de proteínas, carboidratos, etc. Num mundo cada vez mais obeso e mal alimentado, é preciso saber como estamos. É esse o salto que a indústria de tecnologia calcula que haverá na próxima década. Apple, Samsung, IBM, Microsoft, Sony.

As gigantes do setor têm desenvolvido plataformas que possam aliar tecnologia a saúde. É a preocupação com o bem-estar, mais do que com a prática de atividade física.

Ao comprar o MyFitnessPal, a Under Armour passou a saber o hábito de alimentação de 80 milhões de pessoas ao redor do mundo. E crescendo! Pessoas que compartilham suas informações voluntariamente, preocupadas com o que será da saúde delas no futuro. Elas não sabotam o aplicativo. Pelo contrário, tornam-se aliadas dele.

E o que isso impacta para uma marca esportiva? A Under Armour deixou de ser uma marca esportiva. Ela procura ser uma marca de bem-estar.

“Se você tem um corpo, você tem de cuidar dele”. É o mantra da Nike elevado ao patamar de preservação da espécie. E, convenhamos, há muito mais consumidores preocupados em bem-estar do que em praticar uma atividade física…


Nada mais normal que o contrato da CBF com a ISE
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Erich Beting

Espetacular a reportagem de Jamil Chade no “Estadão” sobre o contrato entre a CBF e a ISE, que prevê as condições para a entrega da organização dos amistosos da seleção brasileira à agência do grupo árabe Dallah Al Baraka. O absurdo do contrato está longe de ser a exigência de que o Brasil tenha força máxima nos amistosos. Isso é até meio óbvio, uma vez que você paga pela marca da seleção brasileira e precisa receber por isso.

Até aí, faz parte do jogo. Só faltava, aliás, a ISE assinar um acordo milionário como esse sem exigir tal contrapartida.

Como disse a própria CBF na resposta à reportagem, “se o Barcelona for jogar com o seu time B, sem contar com suas grandes estrelas, como por exemplo (sic) Neymar, Messi e Suarez, suas cotas comerciais serão menores”.

Aí é que entra o “xis” da questão.

O Barcelona seria incapaz de assinar um contrato do porte desse feito pela CBF. O clube espanhol, que está longe de ser um poço de lisura (vide o enrosco que se meteu Sandro Rossell, seu ex-presidente), simplesmente não faria um negócio em que entregaria para promotores a realização de todas as suas partidas amistosas. O clube negociaria, caso a caso, a realização desses jogos.

O absurdo do contrato CBF/ISE é a sua própria existência. A CBF ganharia muito mais dinheiro se deixasse para negociar, jogo a jogo, data Fifa a data Fifa, as partidas que realizaria. Na reportagem do Estadão, o próprio presidente Marco Polo Del Nero gaba-se de que o contrato assegura um dinheiro que a CBF não faria se organizasse sozinha os amistosos.

Ora, se a cota equivale a cerca de R$ 3,5 milhões, no próximo dia 7 de junho, quando o Brasil enfrenta o México no Allianz Parque, a receita de bilheteria deverá ser, no mínimo, o dobro desse valor.

Se realmente houvesse uma preocupação em aproximar a marca da seleção brasileira do torcedor e dar um novo funcionamento para muitos dos estádios construídos para a Copa do Mundo, a CBF simplesmente deixaria de vender seus amistosos para o exterior, passaria a convidar as seleções de todo o mundo para atuar aqui e, assim, faria, só com bilheteria, o dobro da renda obtida no contrato com a ISE.

Logicamente que a entidade teria muito mais trabalho, precisaria de muito esforço para organizar os jogos no Brasil. Ela teria de convidar e pagar cachê a um time do exterior (desconfio que só os de primeira grandeza necessitariam desse tratamento), teria de montar sistema de venda de ingressos, alugar estádio, contratar segurança para a partida, montar um projeto comercial para vender cotas de patrocínio, sentar para negociar com emissoras de TV do mundo todo a transmissão da partida para o exterior, criar ações para engajar o torcedor, etc.

Como a CBF não organiza nenhum jogo de futebol no Brasil, fica difícil ter essa estrutura dentro de “casa” para tocar um amistoso. Muito mais fácil – e rentável – é entregar a um parceiro a organização desses jogos. Afinal, ele se preocupa tanto com a lucratividade do negócio que faz o Brasil jogar no moderno Emirates Stadium, em Londres, com aluguel em libras e público genuinamente nacional.

No fim das contas, nada mais normal que a CBF abrir mão de organizar os jogos amistosos da seleção brasileira. Ela já tem muita coisa para fazer no dia-a-dia organizando as séries A a D do Brasileirão, o futebol feminino, os campeonatos de base pelo país…


Tudo será como antes no reino da Conmebol
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Erich Beting

2012: final da Copa Bridgestone Sul-Americana. O Tigre, da Argentina, não volta a campo para jogar o segundo tempo da partida contra o São Paulo. A equipe alega ter sido agredida no vestiário do estádio do Morumbi por policiais. O time brasileiro é declarado campeão, o caso não se desenvolve e tudo fica por isso mesmo.

2013: em partida válida pela fase inicial da Copa Bridgestone Libertadores, o San Jose, da Bolívia, recebe o Corinthians. Torcedores do clube paulista disparam um foguete sinalizador em direção à torcida do time boliviano. Kevin Spada, um jovem de 14 anos, é atingido e morre em consequência dos ferimentos. O Corinthians perde o direito de ter torcedores no estádio durante toda a primeira fase do torneio. E só.

2014: Tinga, volante do Cruzeiro, sofre insulto racistas de torcedores do Real Garcilaso, do Peru. A Conmebol multa o clube em US$ 12 mil e ameça interditar o estádio caso volte a ter um acontecimento semelhante. Dias depois, o então secretário geral da Conmebol, José Luis Meiszner, diz que “um moreno peruano imitando macaco para um brasileiro um pouco mais escuro do que ele não é discriminação racial. É sim uma provocação mal-educada”.

2015: Boca Juniors e River Plate fazem a partida de maior “tensão” das oitavas de final da Libertadores. Na volta dos jogadores do River para o segundo tempo, um torcedor fura o túnel de proteção para a entrada dos atletas e joga gás de pimenta, queimando jogadores do River e suspendendo a partida.

Em resumo, esses foram os últimos quatro anos de torneios organizados pela Conmebol, entidade que rege o futebol sul-americano. Reger talvez não seja o verbo mais adequado, mas é ela a responsável pela gestão das principais competições do continente.

Pelo Twitter, muita gente me perguntou se Bridgestone e outros patrocinadores não deixariam o torneio após mais um desmando envolvendo uma competição da Conmebol.

Não. Tudo seguirá como antes. A Libertadores já foi Copa Toyota, passou a Copa Santander e, hoje, é Bridgestone. As duas empresas que deixaram o “title sponsor”, que é o direito de dar o nome ao torneio, continuam envolvidas no patrocínio, mas com cotas inferiores. O motivo? A cada renovação, a Conmebol pediu ainda mais dinheiro para renovar o contrato.

Por que isso ocorre mesmo com esses descasos que são cada vez mais recorrentes? O futebol é a plataforma de esportes mais eficiente para engajar o consumidor na América do Sul. A Libertadores é o principal e único torneio que é objeto de desejo dos torcedores no continente. Sendo assim, para marcas globais com atuação pela América Latina, nada mais óbvio do que se associar a esse evento.

Por mais erros que cometa, a Conmebol está “blindada” pela importância, para o torcedor, do torneio que ela teima em estragar a cada ano. O reino da Conmebol é encantado, por mais maltratado que esteja. E o patrocinador, de mãos atadas, tem na Libertadores o melhor caminho para falar com o consumidor de um jeito mais barato e eficiente.

A única chance de mudar isso é se os clubes se rebelarem contra a entidade. Como isso envolve uma batalha política que respingará na Fifa, a possibilidade de haver engajamento das equipes é, também, próxima a zero.

O futebol sul-americano agoniza. E, para piorar, o cenário não parece propenso para se mudar os responsáveis por tamanha agonia…


Juventus e Corinthians; a interferência da gestão no campo
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Erich Beting

Nesta quarta-feira, a Juventus voltou a uma final de Liga dos Campeões da Europa após dez temporadas. E o Corinthians voltou a ser eliminado em casa por um time de menor expressão na Copa Libertadores, com direito a jogadores expulsos e um pífio desempenho em campo.

Os dois acontecimentos têm, entre si, um ponto em comum. A gestão fora de campo explica, em boa parte, o resultado dentro dele!

A Juventus é, hoje, o único time italiano minimamente bem administrado. Depois da revelação dos escândalos de manipulação de resultados nos anos 2005 e 2006, a Vecchia Signora foi para a Série B, afastou os dirigentes corrompidos e corruptores e, mais além, repensou toda a gestão de seu clube.

Tendo a Fiat como maior acionista, o clube reordenou a casa e tomou uma decisão que explica, em boa parte, o que acontece agora. Em 2008, decidiu que construiria um novo estádio, moderno, para se adequar à nova realidade no futebol europeu. Enquanto os rivais seguiram (e ainda seguem) atuando nos elefantes brancos construídos para a Copa do Mundo de 1990, a Juve passou a atuar num estádio moderno, menor e com maior capacidade de arrecadação.

O estádio ficou pronto em 2011. Agora, a Juventus conseguiu renovar o time e teve verba suficiente para contratar bons jogadores. No ano passado, foi à semifinal da Liga Europa, e, neste, chega à decisão do torneio mais concorrido do continente. Quem sabe, agora, os demais grandes da Itália acordem para melhorar a gestão de seus clubes.

Por aqui, o Corinthians vive a situação inversa. Em 2008, decidiu remodelar a gestão do clube. Ajustou o caixa, renegociou as dívidas e investiu bastante na marca do clube. Aumentou a arrecadação e passou a ser referência. Em quatro anos, conquistou a Libertadores de forma inédita e foi campeão do mundo. No meio do processo, assumiu a bronca de erguer um estádio, antigo sonho e que sempre havia ficado suprimido por devaneios de dirigentes do passado.

O problema, porém, foi que a gestão das finanças descontrolou-se. O clube não soube investir, errou no fluxo de caixa, tomou empréstimos, teve casos absurdos de gestão indevida do dinheiro revelados e, hoje, encontra-se esganado financeiramente. Pior ainda, a conta do estádio começa a ser cobrada. O plano de negócios para pagamento dos empréstimos tomados não parece ser realista, o que faz com que a arrecadação milionária em dias de jogos não seja suficiente para cobrir o que é preciso pagar pelo estádio.

O reflexo se vê em campo.

Para o bem e para o mal, é a gestão quem mais vai influenciar no desempenho dentro de campo. Ainda mais com o futebol cada vez mais profissional, em que o bom atleta terá boa performance se estiver satisfeito no ambiente de trabalho (ganhando bons salários e tendo-os pagos em dia, como é em qualquer segmento de mercado).

Juventus e Corinthians mostraram, nesta quarta-feira, a máxima que consagrou Ferran Soriano, ex-CEO do Barcelona. A bola não entra por acaso. Se o fora de campo não estiver organizado, o que acontece dentro dele dificilmente estará.


O curioso caso de “Você Sabe Quem” Parque
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Erich Beting

O Brasileirão estreou mostrando a que veio no sábado. A tosca cobertura do nome da Allianz nas placas dos túneis de acesso ao gramado do Allianz Parque ajudaram, mais um pouco, para que o nome da empresa de seguros seja rapidamente associado ao estádio do Palmeiras.

Melhor ainda foi, no dia seguinte, o comunicado da CBF com o “Esclarecimento sobre o ocorrido na Arena do Palmeiras” (leia aqui).

Segundo a entidade, o “excesso de zelo” causou a gafe de cobrir o nome da Allianz dentro do estádio. A CBF se prontifica a não mais vetar os naming rights nos estádios, afirmando que o “problema não se repetirá nos jogos do Campeonato Brasileiro”. A frase é emblemática. Na placa de publicidade estática que fica no centro do gramado está bem claro que o campeonato se chama “Brasileirão Chevrolet”.

O caso revela o quão despreparada está a própria CBF para cuidar comercialmente do Campeonato Brasileiro. Não há qualquer padronização no que é feito, vendido ou permitido nos estádios.

Ainda no sábado, o Palmeiras afirmou que nada poderia fazer sobre o veto ao nome do patrocinador de seu estádio, já que seria uma determinação da Globo e da CBF a cobertura do nome, para que não houvesse uma “segunda linha” de patrocinadores na transmissão da TV.

Poderia ser. E não estaria errado. Mas seria preciso que existisse uma coerência para isso. Não teria sentido permitir o “Allianz Parque” no “Paulistão Itaipava” que havia acabado de acabar e não fazer o mesmo no “Brasileirão Chevrolet”.

A prática do “naming right” é ainda nova no Brasil, mas só na frase acima dá para ver que é um movimento sem volta e, mais ainda, crescente. Clubes, entidades, mídia e patrocinadores ainda vão quebrar um pouco mais a cabeça para tentar se adequar a essa realidade. Assim como já o fizeram nos anos 80, quando começaram os patrocínios nas camisas dos times.

A diferença, hoje, é que há a formação de um quinto poder, que é a mídia social. A voz das pessoas, amplificada pelas redes sociais, faz com que ações de veto às coisas como elas são tenham baixa eficácia. Crescemos acostumados ao controle da transmissão de informação feito pela empresa de mídia. Agora, é impossível colocar limites na produção de conteúdo feita pelas pessoas nas redes sociais.

Um exemplo disso veio ontem. Publiquei no Twitter uma foto da coletiva do técnico Marcelo Fernandes, do Santos, em que o câmera do Sportv cobria o boné que era usado pelo entrevistado, fazendo com que o rosto dele ficasse estampado na tela. Critiquei o que poderia ser um retrocesso da Globo, que deixou há tempos de fazer esse desserviço com seu telespectador. Na entrevista seguinte, com o técnico Doriva, do Vasco, a imagem estava aberta, podendo-se ver os patrocinadores do clube. Um leitor já comentou no Twitter a mudança e a falta de critério da emissora. Pouco depois, recebi, por WhatsApp, a imagem do treinador, em entrevista exclusiva para o Sportv, sem o boné. O comentário do leitor que me mandou a mensagem: “pelo visto mandaram tirar o boné para ele falar”.

Marcelo Fernandes, durante a entrevista coletiva (esq.) e, depois, sem o boné para a exclusiva

Marcelo Fernandes, durante a entrevista coletiva (esq.) e, depois, sem o boné, para a entrevista exclusiva

O controle da informação já não está mais nos meios tradicionais. Isso faz com que seja absolutamente inócua a tentativa de suprimir o nome dos patrocinadores de estádios, torneios e afins. A justificativa de que isso é fazer “propaganda gratuita” para a empresa é de uma visão absolutamente tosca do negócio.

Não será por conta de uma coisa ou de outra que a empresa fará a propaganda no veículo. Mas é por conta de atitudes que vão contra o dever de informar corretamente as pessoas que o veículo perde a credibilidade com o próprio público.

É curioso o caso de “Você Sabe Quem” Parque. Ele mostra que, aos poucos, vamos evoluindo e entendendo que é possível caminhar todos juntos para um mercado mais maduro de investimento no esporte. Ganha, com isso, o próprio torcedor, que vê o time com mais receita podendo ter melhor performance dentro de campo por ter mais jogadores.


A concentração de patrocínios é um risco ao futebol
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Erich Beting

Começa neste fim de semana o Brasileirão. Os 20 clubes que disputam o título terão, em suas camisas, 40 diferentes marcas estampadas nesta primeira rodada. Esse é o número de patrocinadores, entre fornecedores de uniforme e empresas de outros segmentos, que têm acordos fixos com os clubes da Série A pelo menos até o final deste ano (alguns detalhes a mais estão aqui).

Essas marcas vão investir cerca de meio bilhão de reais nesses patrocínios. O número é expressivo, possivelmente a maior arrecadação com patrocínios na camisa de uma Série A de Brasileirão na história. Essa é a boa notícia.

MAS…

Sempre tem um copo meio vazio a se olhar.

Excluindo-se os nove fornecedores de material esportivo, sobram 31 marcas diferentes patrocinando os clubes. No peito da camisa, o patrocínio máster, que é o mais valioso, estão envolvidas apenas seis marcas, que patrocinam um total de 14 times. Há, ainda, seis clubes que não conseguiram vender essa propriedade.

Isso acarreta num enorme risco para o futebol.

Há muito dinheiro concentrado em poucas empresas. Dos cerca de R$ 350 milhões que esses patrocinadores colocam nos clubes, praticamente 50% da verba se concentra em quatro grupos: Caixa, Vitton 44 (dona de Guaravita, Matte Viton e Guaraviton), Banrisul e Tim. Outros R$ 45 milhões são de Crefisa e FAM, no Palmeiras.

Essa concentração de receita é um enorme risco.

A Caixa, com a gestão mais austera que começou a ser praticada pelo governo federal, tende a fazer um corte brusco nos investimentos no futebol a partir do ano que vem (detalhes aqui). Só para se ter uma ideia da dependência que existe hoje de um único patrocinador, se a Caixa saísse neste ano, a Série A teria 14 clubes (70% do total) sem um patrocinador principal, sem falar que o torneio “perderia” quase R$ 100 milhões da verba de patrocínio (20% do total).

Da mesma forma, se a Vitton 44 for realmente vendida, que é o projeto de seu dono, Neville Proa, pode de uma hora para a outra deixar “órfão” os clubes do Rio de Janeiro, levando embora, cerca de R$ 50 milhões em receita.

O futebol precisa, urgentemente, diversificar as fontes de arrecadação. O sócio-torcedor, entre os times de maior torcida, começa a ser um diferencial. Mas é preciso repensar o modelo de negócios oferecido às empresas. O São Paulo, com o projeto que não envolve exposição de marca, já obteve alguns bons resultados, tendo dois parceiros que asseguram uma receita de quase R$ 10 milhões e não estão na camisa.

Nunca um Brasileirão começou com tanto dinheiro nas camisas. Mas nunca a maior parte dessa conta foi paga por tão poucas marcas.


O começo arrasador da Under Armour no São Paulo
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Erich Beting

A Under Armour surgiu, como diz o próprio nome, para ser uma “roupa de baixo”. No meio dos anos 90, Kevin Plank, jogador de futebol americano, desenvolveu a roupa para ser usada por baixo da armadura que os atletas vestem (daí a origem do nome).

Ontem, a Under Armour fez a estreia no futebol brasileiro, com o patrocínio ao São Paulo. A ação feita para a primeira apresentação do time com a camisa foi espetacular. Uniu a história da empresa com a paixão que todo torcedor tem pelo seu time. O vídeo evidencia que o sucesso dos americanos no mercado esportivo não é por acaso.