Negócios do Esporte

A terra arrasada no futebol teria um novo líder?

Erich Beting

É emblemática a votação que acontece logo mais na Fifa. Em meio ao turbilhão em que a entidade se meteu, a disputa está restrita a Joseph Blatter, concorrendo à quinta reeleição, e a Ali Bin Al Hussein, que tem 39 anos e há 16 preside a confederação de futebol da Jordânia, mesmo tempo de liderança de Blatter na Fifa.

O porquê de chegarem dois candidatos com esse perfil à votação final mostra bastante a dificuldade que o futebol terá pela frente. Ainda é cedo para mensurar os desdobramentos das investigações que já ocorrem há três anos nos Estados Unidos e que devem se arrastar por mais algum tempo.

A sensação que se dá é de que começou a existir um movimento que pode deixar arrasada a terra do futebol. E isso abre o caminho para que apareça um novo líder dentro de todo o negócio. Mas será que existe esse novo líder?

Ao que tudo indica, o francês Michel Platini quer assumir essa condição. É só ver o discurso que ele fez para justificar o apoio à candidatura de Hussein, pedindo na verdade a saída de Blatter e a marcação da eleição apenas para o início do ano que vem. Apoiado pela pujança da Liga dos Campeões da Europa, Platini quer ratificar sua condição de candidato e aparecer como uma alternativa ''limpa'' no meio.

Grande ídolo do futebol francês até Zidane, Platini tem a seu lado a entidade que é o maior sucesso no futebol. A Uefa que cada dia mais divide a riqueza entre os seus filiados, não sugando a maior parte do dinheiro que entra nos cofres, é o que de menos pior existe entre as entidades esportivas.

Mas seria Platini ou o próprio ambiente da Uefa os responsáveis por isso? Vale lembrar que o francês está metido até os bolsos na história de compra de votos do Qatar para a escolha do país à sede da Copa de 2022.

O problema é que, se realmente as investigações iniciadas pelo FBI forem levadas à frente, os dirigentes terão de começar a rever seu passado e tentar não ter qualquer história de, pelo menos, troca de favores em seu currículo. Se realmente começar uma ''limpeza'' no futebol, dificilmente os dirigentes que hoje estão no poder não terão história para contar. E se enrascar…

Como bem mesmo mostrou a investigação americana, são pelo menos duas gerações de dirigentes esportivos funcionando nesse modus operandi de troca de favores, comissões e propinas, abuso do status do cargo, etc. São, portanto, pelo menos 30 anos em que não há qualquer mudança de liderança no futebol pelo mundo todo.

A terra arrasada é um cenário interessante para quem pretende ver o futebol governado de forma honesta por seus dirigentes. O maior problema é saber se, em meio a isso, haverá alguém capaz de assumir o barco, tocar os negócios e resgatar a credibilidade perdida.

É só ver o mercado no Brasil. Ricardo Teixeira deu lugar a Marin, que deu lugar a Del Nero… Existe uma liderança nova em algum clube ou federação que possa entrar, assumir o leme e retomar a navegação num mar revoltoso?

O processo pelo qual o futebol começa a passar é importante para que o esporte seja cada vez mais valorizado no futuro. Resta saber se haverá possibilidade de entrar alguém que consiga provocar essa transformação sem que seja mais do mesmo, só com um terno alinhado de forma diferente.

A eleição de hoje da Fifa é a síntese dessa situação. Concorrem à presidência duas pessoas que estão em seus cargos de presidente há 16 anos…