Negócios do Esporte

Para que serve uma lista de venda de camisas?

Erich Beting

A rede de varejo esportivo Centauro ganhou considerável espaço na mídia nos últimos dias ao divulgar um site que tem um ranking, atualizado em tempo real, de venda de camisas dos times de futebol. A lista, que computa as vendas nas lojas físicas e virtual do maior ponto de venda do varejo esportivo brasileiro, ganhou a mídia exatamente por conter algumas ''surpresas'' como a presença de clubes de menor torcida em posições mais altas do ranking.

Os números divulgados pela Centauro, porém, não podem ser usados como parâmetro para absolutamente nada. Eles não representam, sobremaneira, o comportamento do consumidor brasileiro de camisas oficiais de clubes de futebol. Apesar de ser a loja esportiva de maior penetração do país, a Centauro está longe de ser a única loja do gênero.

Mais do que isso, nos últimos anos, os clubes conseguiram desenvolver suas lojas próprias e, assim, se transformaram em canais de venda poderosíssimos. Outra significativa mudança no mercado foi a proliferação das lojas próprias das marcas, que também conseguem expressivos resultados de venda.

Isso tudo leva à óbvia constatação. Uma lista de venda de camisas feita por apenas uma empresa que atua no mercado nada mais é do que um bom tema para discussão em mesa de bar, compartilhamento em redes sociais e nada além disso. Nem mesmo para os jornalistas deveria servir como pauta, uma vez que o resultado de uma rede de lojas não expressa, necessariamente, o desempenho daqueles clubes e fabricantes pelo restante do país. Ainda mais num país de dimensões continentais como o Brasil.

Outro importante ponto a se destacar. A Centauro não compra as camisas dos clubes cuja distribuição do produto é feita pela Netshoes, concorrente da empresa no e-commerce. Assim, torcedores de Santos e Coritiba não encontram sua camisa nas lojas, físicas e virtual, da rede mineira.

Muito possivelmente, a base para criação do ranking pela Centauro tenha sido o ''Torcedômetro'', criado pela Ambev para dar um parâmetro aos clubes que participam do Movimento por um Futebol Melhor. Lá, porém, o único fornecedor dos programas de sócio-torcedor é o próprio Movimento. Assim, o resultado que se vê ali é, via de regra, o desempenho dos clubes dentro de um mesmo universo.

É muito difícil imaginar que, ao criar o ranking das camisas vendidas, a Centauro consiga converter uma única compra pelo torcedor que sinta o orgulho ferido de ver um rival mais bem colocado no ranking. Pelo contrário. A marca pode até mesmo ganhar a rejeição do torcedor por não ter seu clube em melhor posição na lista.

O debate sobre um ranking de venda de camisas de clubes só terá validade quando os fabricantes tornarem públicos os resultados que alcançam ao vender os uniformes de seus patrocinados. Como isso é informação guardada a sete chaves pelas marcas, já que ela é valiosa na negociação dos contratos de patrocínio, ficaremos sempre sem saber quem é, realmente, o clube com maior venda no país.

Qualquer outra lista sobre venda de camisas só vai servir para torcedor exaltar seu time. Ou reclamar de quem publica essa lista…