Negócios do Esporte

Arquivo : setembro 2015

Existe dinheiro para tanto evento?
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Erich Beting

A proposta de criação da Liga Sul-Minas-Fla-Flu tem uma motivação que parece muito mais política do que de mercado. A própria escolha de Alexandre Kalil como presidente da entidade é uma mostra de que os clubes pensam muito mais numa forma de criar uma frente à CBF e federações do que realmente montar uma liga sustentável e que vire uma considerável fonte de receita para eles.

O projeto de criação da liga é completamente distinto daquele que levou à solidificação da Copa do Nordeste, único regional do país a ser realmente mais vantajoso do que os campeonatos estaduais que seus clubes disputam.

A Sul-Minas-Fla-Flu é uma afronta ao status quo da bola, muito mais do que um projeto sólido de construção de uma liga que arrecade mais que os estaduais e gere mais interesse do público.

Os clubes estão propensos a fazer a liga mesmo sem o aval da CBF. Por isso, estudam entrar, neste primeiro ano, com equipes sub-23 para não atrapalhar a disputa, principalmente, de uma eventual Copa Libertadores. É uma atitude que pode, num primeiro momento, já derrubar o interesse da mídia pela exibição do torneio. E, sem ela, perde-se em público e, naturalmente, não se encontra patrocínio.

Um dos maiores motivos para os Estaduais serem campeonatos que não trazem muito benefício aos clubes de Séries A e B é o fato de que eles são torneios que não possuem valor comercial. O futebol brasileiro não percebeu ainda que, num calendário repleto de competições, uma acaba canibalizando a outra comercialmente.

Hoje, a verba das empresas precisa se dividir entre Libertadores, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Estaduais e Copa Sul-Americana, seguindo uma relativa ordem de importância das competições. No caso do Nordeste, ainda há a Copa do Nordeste à frente dos Estaduais.

É muita competição para pouco mercado. Para o bolso do torcedor, é preciso priorizar o torneio que vai assistir. Para o bolso das empresas, é preciso pesar qual competição tem maior interesse do torcedor, depois aquela que garanta mais tempo de relacionamento e exposição de marca e, por fim, aquela que atrai mais a mídia.

Como é possível achar que há mercado para se patrocinar seis competições ao longo do ano? Não existe tanta empresa disposta a fazer esse tipo de investimento. Não existe mídia com dinheiro suficiente para pagar alto por seis competições.

Um dos segredos do fortalecimento do futebol na Europa foi a racionalização das competições. Os clubes disputam, no máximo, dois torneios nacionais e um internacional durante a temporada. Isso reduz o ponto de relacionamento deles com o torcedor e amplia o interesse em consumir o clube. Assim, mais marcas tendem a se interessar em patrocinar as competições e os clubes, já que é mais difícil ter o time “à disposição” da torcida como ocorre aqui.

Por mais que o propósito da Sul-Minas-Fla-Flu seja interessante, há um obstáculo imenso para fazer a competição vingar e crescer. Os times do Sul, mais Flamengo e Fluminense, recebem uma considerável verba de TV para a transmissão do Estadual, que os exige atuar com equipes principais. Sem nem o apoio declarado da TV, como uma liga como essa vai poder crescer e virar um bom negócio?

Nos anos 90, a IRL e a Cart perceberam que ambas perdiam dinheiro ao fazerem, cada uma por conta própria, a disputa de um torneio de monopostos nos Estados Unidos. Após alguns anos assim, elas decidiram se juntar para criar a Indy. O objetivo, mais do que a conciliação política, era transformar a Indy num bom produto. Conseguiram…


Ronaldinho e a visão deturpada de “negócio” no futebol
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Erich Beting

O Fluminense exaltou o “retorno de marketing” que Ronaldinho Gaúcho proporcionou ao clube em menos de três meses que esteve com um contrato assinado com o clube. Diz o Flu que a presença do astro, mesmo que apagada, gerou maior receita com bilheteria e adesão ao programa de sócio-torcedor do clube.

Quando foi anunciado, em julho, Ronaldinho realmente representou um incremento de receita para o Flu. O clube rompeu a barreira dos 30 mil sócios-torcedores pela primeira vez, com um recorde de 9 mil adesões durante o mês. Além disso, no clássico contra o Vasco, teve até então seu melhor público e renda no Brasileirão (detalhes aqui).

Mas a euforia ficou estacionada aí.

Depois que “entrou” em campo, Ronaldinho passou a decepcionar o torcedor. E, com o time mal em campo, o sonho não se realizou. O Flu estacionou no programa de sócios (só teve mais 2 mil novos sócios nos dois últimos meses) e a receita de bilheteria minguou com o time muito mal em campo.

O caso evidencia uma miopia do esporte no Brasil, acentuada desde o fenômeno Ronaldo-Corinthians. O futebol no Brasil precisa entender que não é só pelo fato de o jogador ter tido boa performance esportiva no passado e ser um ídolo nacional que ele, necessariamente, será um bom negócio.

O primeiro motivo para isso é lógico. Um clube tem como seu principal negócio a performance esportiva. Ele não pode achar que o torcedor espera dele, em primeiro lugar, lucro no balanço financeiro ou estupendas arrecadações com contratos comerciais. Sim, de uma forma indireta ele almeja isso, mas desde que essas duas coisas sejam revertidas para a construção de um time vencedor. O torcedor só passou a se preocupar com valores de patrocínio e balanços financeiros nos últimos anos pelo que eles podem representar em termos de performance esportiva.

O erro do Fluminense, como já havia sido do Flamengo, foi acreditar que Ronaldinho poderia gerar retorno dentro e fora de campo para o clube. Já faz tempo que ele não consegue trazer as duas coisas. Na realidade, apenas nos dois anos mágicos do Barcelona que ele foi capaz de trazer retorno nos dois campos.

Se, esportivamente, Ronaldinho foi indiscutível, fora de campo sua capacidade de gerar receita quase sempre esteve restrita ao momento bom que ele viveu dentro de campo. O Atlético Mineiro que o diga.

Em nenhum aspecto a passagem-relâmpago de Ronaldinho pelo Fluminense foi bem-sucedida. Dentro de campo, se é que ele esteve lá, ela foi um fiasco. Fora dele, só correspondeu quando ainda era uma promessa. A partir do instante em que o campo passou a interferir na percepção do torcedor, o encanto se quebrou.

Na esteira do sucesso Ronaldo-Corinthians, os clubes apostaram em nomes que, pretensamente, poderiam ser ótimo negócio para gerar caixa, movimentar a marca e criar um caso de sucesso. Adriano, Kaká e Ronaldinho são a prova de que isso não é possível.

O futebol tem de entender o que é negócio e, mais ainda, como fazer negócio. Achar que é só chamar um medalhão para as vendas dispararem é um erro primário. E que, quase sempre, acarreta num desequilíbrio financeiro – e técnico – para o time.


O que o Rock In Rio ensina ao esporte. E o que precisa aprender
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Erich Beting

O Rio de Janeiro viveu, na última semana, a euforia da realização de mais um Rock In Rio, festival de música que acontece bienalmente desde 2011 na Cidade Maravilhosa. Por algumas críticas que pude ver, o evento chamou a atenção dos analistas mais pela algazarra comercial em que se transformou do que pelo espetáculo em si (leia as opiniões de André Barcinski na Folha e de Alexandre Matias aqui no UOL).

Pelo que deu para ver neste fim de semana no Rio, pelas transmissões feitas pela TV e por um bocado de fotos espalhadas pelas redes sociais, realmente o Rock In Rio esteve mais para Everything In Rio. E os organizadores estão mais do que corretos em agir dessa forma.

Achar que o Rock In Rio deve se restringir aos shows de Rock, de preferência debaixo de chuva e pisando no barro, é ser nostálgico. É voltar a 1985 e achar que o jovem de 18 anos daquela época pensa da mesma forma e tem os mesmos anseios do jovem de hoje, com todas as transformações dos últimos 30 anos pelo caminho.

O que leva uma pessoa a um show (ou a um jogo de futebol, de basquete, de hóquei ou qualquer outra coisa) se não for pelos diferentes tipos de entretenimento disponíveis? Não basta ter um grande músico no palco, é preciso ter uma série de atrações que faça o cara desistir de acompanhar tudo online para decidir ir até lá compartilhar suas emoções online.

É preciso ter a tirolesa para tirar foto e mandar para os amigos. É preciso ter a loja oficial para comprar recordações (ok, a pretensa lama de 1985 passou do limite do bom senso). É preciso ter uma enorme praça de alimentação para que as pessoas se alimentem no local e continuem financiando uma reunião de diversos músicos, de diferentes estilos e gostos.

O Rock In Rio ensina para o esporte que, além do espetáculo, é preciso pensar na diversão de quem vai ao local. A maior revolução que tivemos de 1985 para cá é a de que a experiência de ver um show (ou uma competição qualquer) em casa, com todo o recurso tecnológico das transmissões, é muito mais rica do que estar no local ao vivo.

Sim, a emoção de poder dizer “eu fui” é muito mais valiosa do que esquentar a pipoca no microondas e tirar a cerveja da geladeira para ouvir uma música ou assistir a um jogo. Mas, por mais saudosistas que sejamos, é preciso entender que, para o público querer se deslocar e ver o evento ao vivo, é preciso oferecer muito mais do que o evento.

Há 30 anos, não havia como eu ver o Queen se não fosse indo ao show. Hoje, pelo celular, vejo todos os vídeos possíveis, os bastidores da gravação de um LP (naquela época era o “long play”), os erros e devaneios de um ensaio pré-show, etc. Por que, então, eu sair de casa para ver um show ao vivo?

Seja num estádio, ginásio ou espaço aberto como o do Rock In Rio, o evento de entretenimento precisa se transformar em vários eventos dentro de um só. Para atingir um público que vai além do fanático, para poder aumentar a receita com patrocínio, para poder dar retorno financeiro ao organizador.

No ano que vem o Rio passará pela experiência de receber os Jogos Olímpicos. De uma forma um pouco diferente, as Olimpíadas promovem diversas atrações para o torcedor que vão além do que só entrar na arena para acompanhar uma competição. São os espaços nos quais os patrocinadores podem fazer ações para o público e criar uma experiência exclusiva só para quem de fato foi ao Parque Olímpico.

Em todo o restante do espaço, a principal atração é a competição em si. Sem desvio de atenção, com a arena lotada e a preocupação de fazer do atleta o astro maior do evento. Se tem algo que o Rock In Rio pode aprender com as Olimpíadas é como fazer com que a sua marca e seus artistas sejam os principais elementos de uma grande festa para as pessoas.

O Rock In Rio pode ensinar muito para o esporte. Mas os organizadores também podem olhar com carinho como o COI trabalha a força da marca dos Jogos Olímpicos e dos seus atletas para fazer com que as lembranças de um dos maiores festivais de música do mundo sejam mais do que voltas numa montanha russa ou numa tirolesa…


Liga das Américas erra ao priorizar negócio em vez do esporte
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Erich Beting

A proposta de criação de uma Liga dos Campeões das Américas (detalhes aqui e aqui) parece coisa de maluco, mas tem por trás um fôlego de investimento e uma capacidade de leitura do mercado de mídia das Américas que justifica em boa parte o “devaneio” apresentado pela agência MP&Silva aos clubes.

O problema da liga, porém, não é tanto não ter olhado para trás e visto o que fez fracassar o mesmíssimo projeto criado pelo empresário J. Hawilla em 2000. O maior erro da liga é priorizar o negócio em detrimento do esporte.

Ao propor um torneio com 64 clubes, a MP&Silva busca a mesma fórmula que consagrou a Fifa com a Copa do Mundo. Com mais clubes, há mais datas de jogos, então cobra-se mais das empresas de TV pela transmissão do evento. É em razão dessa lógica, por exemplo, que os Estaduais não enxugam suas datas, ou que os clubes não querem pensar em tirar o Brasileirão do formato de pontos corridos.

O problema é que, no caso da Liga dos Campeões das Américas, ter 64 clubes é muito para um mercado em que não há tantos times em mesmo nível de competitividade assim. O problema torna-se ainda maior quando a proposta passa a considerar que, dos 64 times, 16 serão do Brasil e outros 16 da MLS, a liga de futebol que reúne equipes dos Estados Unidos e Canadá.

Imagine como ficaria a disputa do Brasileirão se ele passasse, de um dia para o outro, a ter o G-16 e o Z-4? Qual a atratividade da competição? Ou, então, que a Copa do Brasil desse oito vagas para a Liga, e o Brasileirão outras oito? E a Argentina e o México teriam oito times cada um para levar a uma competição dessas?

O funil de competitividade esportiva iria para o buraco dentro do projeto de Liga dos Campeões das Américas. E isso é o primeiro passo para o insucesso comercial dela.

Nunca foi tão fácil, conjunturalmente, criar uma competição que desse uma banana para Conmebol e Concacaf. Os clubes têm esse poder para peitar as entidades como nunca tiveram. Mas, no único projeto apresentado até agora, o sonho megalomaníaco de fazer um torneio que se equipare à Liga dos Campeões da Uefa não passa de uma apresentação comercial que carece de um estudo histórico de como a Liga dos Campeões e até mesmo a Libertadores conseguiram se tornar um torneio atrativo para os seus participantes.

O grande segredo do negócio no esporte é que o mérito esportivo é sempre maior que o comercial.


Lógica da grana começa a se destacar no Z-4 do Brasileiro
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Erich Beting

A lógica da bola é a lógica da grana num campeonato disputado pelos pontos corridos. Num sistema em que a imprevisibilidade é reduzida ao máximo possível, quanto mais dinheiro um time tem, mais possível se torna a sua conquista. Geralmente por haver melhor estrutura, pelo dinheiro poder fazer o time contar com melhores atletas e, também, por dar mais fôlego para aguentar a competição em alto nível.

No cenário em que os direitos de transmissão são negociados individualmente, os patrocínios sofrem com o abismo criado pela região econômica do país e o tamanho da torcida, esse cenário tende a ficar ainda mais evidente. Mas, no Brasil, essa lógica raramente se aplica, uma vez que a má gestão dentro dos clubes praticamente anula o efeito da grana sobre a bola.

Só que, em relação ao rebaixamento, a lógica da grana começa a ficar evidente. Os clubes com menor arrecadação começam, na fase final da competição, a abrir o bico. Negociando jogadores e tendo problemas de lesão sem conseguir substituir os atletas titulares à altura, os clubes de menor poder aquisitivo começam a ficar para trás.

Hoje, o Z-4 nacional é composto por Joinville, Vasco, Figueirense e Chapecoense. A presença de três catarinenses, mais o Avaí, logo ali perto, não é de se estranhar. Com quatro clubes do estado na Primeira Divisão, até mesmo o fôlego de investimento das empresas nos times locais teve de ser dividido. E isso, no fim das contas, causou uma perda de receita em potencial pelos clubes.

Todos os clubes possuem patrocinadores distintos. Mas, muito provavelmente, alguns não conseguiram um outro aporte por conta do receio que algumas empresas ainda têm de se associar a uma equipe e deixar a outra “órfã”. Isso acontece com frequência em estados polarizados, como Rio Grande do Sul e Minas Gerais. A verba acaba sendo “dividida” pelos clubes, que ganham menos quando poderiam faturar mais. No caso de Santa Catarina, com quatro clubes para serem agraciados, a conta simplesmente não fecha, e a empresa desiste de investir no futebol.

Ah, mas o que faz o Vasco no Z-4 mesmo tendo uma das cinco maiores torcidas do país? Como dito no começo do post, a lógica da grana só não se aplica mais no país por conta das falhas na gestão. O Vasco é o exemplo perfeito dessa realidade na ponta de baixo da tabela…


São Paulo “estraga” maior ação de patrocínio no país
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Erich Beting

O São Paulo conseguiu, mesmo sem querer, “estragar” a maior ação de ativação de patrocínio do futebol brasileiro nos últimos anos. Nesta tarde, a Copa Airlines, patrocinadora do clube, vai apresentar na Cidade do Panamá três aviões com as cores do time paulista, que passarão a fazer parte da frota diária de voos da companhia.

A ação, mais uma envolvendo a patrocinadora do clube, talvez seja a maior ativação de patrocínio feita no futebol do país recentemente. Após um período de trevas em que patrocínio foi confundido com exposição de marca na camisa (em muitos casos, superexposição), o São Paulo tem conseguido, a duras penas, fazer com que os patrocinadores enxerguem outras possibilidades no relacionamento com um clube.

A tarefa são-paulina é árdua.

O clube projeta, atualmente, “desmembrar” o patrocínio máster em diversos aportes de menor valor, mas com entrega constante de mídia alternativa para os parceiros. O caso com a Copa, que vai agora para cinco meses de existência, é o mais bem-sucedido até aqui. A empresa tem comemorado aumento no uso das redes sociais após as ações com o clube. Agora, vai levar para um segundo patamar o patrocínio, que é tentar transformar esse engajamento nos meios digitais em compra efetiva de passagens aéreas.

Não se pode esquecer que é para isso, afinal, que serve o marketing. Aumentar as vendas.

Mas, além da empresa aérea, apenas a Gatorade, que já era parceira do São Paulo, se engajou no projeto do clube. Segundo o departamento de marketing são-paulino, mais de 170 reuniões foram feitas apresentando formas de o patrocinador se relacionar com milhões de pessoas pelas redes sociais do clube. Até agora, os acordos fechados foram menos de cinco.

O anúncio dos aviões envelopados do São Paulo nesta tarde tinha tudo para ser um ponto de virada nessa história, com as marcas percebendo um melhor valor para trabalhar o relacionamento com um clube do que apenas colocar a marca na camisa e esperar a exposição espontânea na mídia.

Mas aí entra a política para tumultuar o ambiente de negócios. A viagem que o São Paulo faz para o Panamá tem como foco da cobertura da mídia a briga pública entre o presidente Carlos Miguel Aidar e o ex-CEO do clube Alexandre Bourgeois. Com isso, pouco se fala da ação de marketing do clube e do patrocinador.

Como sempre digo por aqui, a política, muitas vezes, atrapalha os negócios no esporte. Os dois ambientes são conflitantes na maior parte do tempo. O político não está comprometido com o negócio, enquanto o negócio, mesmo que bem-sucedido, é sufocado pela turbulência política.

O São Paulo tinha tudo para ter feito um gol de placa nesta semana com a ação de marketing da Copa Airlines. O negócio é muito bom e um alento dentro de um mercado que andava carente de ações de ativação de patrocínio que fossem além de posts nas redes sociais. Mas a política, sempre ela, ofuscou um pouco o trabalho do marketing…


O futebol não tem espaço para um CEO
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Erich Beting

Durou pouco mais de três meses o trabalho de Alexandre Bourgeois como uma espécie de CEO do São Paulo. A saída do executivo sem ter tido tempo para apresentar minimamente qualquer resultado é só mais uma queda de um CEO no mercado do futebol. E deverá ser a realidade para qualquer novo executivo que queira se aventurar no cargo.

O problema não é do futebol em si, mas da cultura de empresa familiar que impera na maioria dos negócios no país.

O futebol, assim como a maioria das empresas, tem uma estrutura de gestão completamente centralizadora e cujas tomadas de decisão são feitas por um núcleo muito pequeno de gente, geralmente de confiança de quem está “no comando”.

Esse cenário é tão enraizado na cultura brasileira que é só acompanhar um pouco o noticiário de economia e negócios para perceber como o tema de “governança corporativa” é recorrente. As empresas procuram profissionalizar a gestão, trazem isso no discurso mas, na prática, a teoria é outra.

São poucas as corporações com faturamento similar ao dos clubes de futebol que possuem, em sua gestão, um corpo técnico altamente profissionalizado e não tenha ainda as principais decisões sendo tomadas com base no “feeling” do dono ou da família controladora da empresa.

Se já é difícil ver algo assim no mundo dos negócios, o que dizer de um ambiente ditado pela paixão e pela política?

A gestão no esporte tem quase todas as nuances da gestão pública. A sustentação do modelo não está no negócio, mas na política. Um presidente não é eleito e reeleito apenas pelos bons resultados apresentados. Sendo assim, colocar a figura de um CEO no esporte e esperar que, como mágica, tudo se torne profissional é tão difícil quanto imaginar que a solução para os problemas em qualquer governo seria colocar um executivo de mercado abaixo do presidente, governador ou prefeito e, com um excelente trabalho de gestão, tudo estaria resolvido.

No esporte, o maior erro que os dirigentes cometem, ajudados pela falta de conhecimento da mídia, é acreditar que, ao se colocar um CEO, os problemas de gestão serão rapidamente solucionados e, de uma hora para outra, o clube passará a obter desempenho esportivo e resultado financeiro.

Para que se profissionalize a gestão no esporte, não basta apenas ter um CEO. Se nenhum dos departamentos que são responsáveis pela existência do clube estiverem com profissionais que possam se dedicar integralmente ao negócio, o CEO será apenas um para-raio para a crise que vai acontecer invariavelmente numa entidade sem estar bem estruturada.

Essa é a mesma realidade encontrada pelos executivos em empresas de médio porte que decidem profissionalizar a gestão, mas ainda têm uma estrutura completamente centralizada no fundador da companhia, ou na família dele. Muitas vezes, o CEO não resiste à cultura familiar da empresa, que não abre mão da tomada de decisão centralizada e, mais ainda, não respeita toda a tecnicidade que o executivo possui.

No cenário do esporte, essa realidade é ainda mais crítica. O CEO precisaria, antes de tudo, ser político. Uma pessoa que teria de entender que a manutenção dela no cargo necessita de costura com quem é o dirigente “estatutário”, aquele que não recebe salário mas está todo santo dia no clube, influenciando as tomadas de decisão, mesmo sem ter qualquer comprometimento com a gestão.

É preciso, urgentemente, acabar com o mito de que um CEO é, obrigatoriamente, sinônimo de gestão profissional dentro de uma instituição esportiva. O cargo está longe de representar isso no ambiente corporativo, o que dirá então dentro do esporte, onde toda a estrutura de poder está atrelada à política, e não ao negócio.

O futebol não tem espaço para um CEO. Não da maneira como é hoje concebida a imagem dele.


Alemanha segue goleando o Brasil fora de campo
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Erich Beting

Acabou há pouco a palestra de Ulrich Voigt, diretor executivo de comunicação da Federação Alemã de Futebol, durante o fórum “O Esporte como Potencial Econômico”, promovido pela Câmara de Comércio Alemanha-Brasil e realizado no Rio de Janeiro.

Voigt participou por meio de uma videoconferência do evento, já que a greve dos pilotos na Alemanha impediu que ele viesse ao Brasil. Nos quase 40 minutos em que relembrou o projeto de “conquista” do Brasil por parte dos alemães em 2014, Voigt deu algumas declarações que só ajudam a explicar o abismo maior que os 7 a 1 que nos separou dos germânicos dentro de campo.

“Uma das chaves para o sucesso foi a escolha de que seríamos não apenas jogadores de futebol, mas embaixadores da Alemanha durante a Copa”, afirmou o executivo da DFB. Isso fez com que os atletas precisassem não vir para o país dispostos apenas a jogar futebol, mas a interagir com os brasileiros e a ganhar a simpatia da torcida local.

“Ficamos surpresos quando saímos de Santa Cruz Cabrália após a conquista do título e fomos aplaudidos pelos brasileiros. Isso era muito mais do que esperávamos”, disse Voigt.

Que o planejamento muito bem feito e, mais ainda, executado, foi uma das chaves da conquista da Copa do Mundo pelos alemães, isso não há dúvida. Mas que a preocupação germânica se estende para muito além disso é ainda mais interessante.

“Todo ano fazemos uma doação de 100 mil euros para o município de Santa Cruz Cabrália investir em educação e saúde. É uma forma de deixarmos alguma coisa para a cidade, de não ter usado o local apenas como parte de nossa preparação para a Copa”, contou Voigt.

Como se vê, fora de campo a goleada é muito maior que os 7 a 1. Por acaso alguém sabe se já foi definido onde serão alocados os milhões de reais que o Brasil recebeu para distribuir no fundo de promoção do futebol que a Fifa reserva ao país-sede do Mundial?

É difícil cobrar a eficiência germânica em diversos aspectos da nossa sociedade. Mas é impossível não olhar algumas coisas que foram feitas por eles por aqui no ano passado e não pensar em como reproduzir isso. Nem que seja um pouquinho só…


O marketing nunca sobrevive ao mau desempenho esportivo
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Erich Beting

Já bati ferozmente aqui na frase cunhada por Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético Mineiro, quando disse que o “marketing é bola na casinha”, para justificar a injustificável extinção do departamento de marketing atleticano ao assumir a presidência que se consagrou pela obtenção das maiores vitórias do Galo em sua história apesar de uma tremenda irresponsabilidade na gestão das contas.

A frase de Kalil, porém, tem uma meia verdade embutida dentro dela. É impossível achar que marketing é só bola na casinha, mas da mesma forma é impossível achar que o bom trabalho de marketing sobrevive a um péssimo desempenho esportivo.

No estraçalhado Vasco deste ano, talvez a única coisa que esteja andando relativamente bem, com muito trabalho e obtenção de alguns bons resultados é o marketing. O departamento, que foi um dos poucos sem mudanças na transição de presidência (a saída de Roberto Dinamite e o regresso de Eurico Miranda), tem feito um esforço tremendo para tentar manter o vascaíno próximo de seu clube e minimamente empenhado em ajudar o time a sair do buraco.

Mas o campo precisa ajudar! A campanha “Eu escolhi acreditar” talvez tenha sido o último suspiro do marketing do Vasco neste ano. Um time que é a representação da caricatura mal-acabada do presidente vascaíno não consegue ajudar o marketing a envolver o torcedor, por melhor que seja o trabalho do departamento.

No esporte, o limite do trabalho do marketing é exatamente a performance nas competições. Quando tudo vai bem, o marketing serve para alavancar as receitas, ampliar a relação de consumidores e ampliar o alcance do bom desempenho esportivo.

Quando tudo vai mal, o marketing ajuda a amenizar a dor, a manter o consumidor próximo, a reduzir o impacto negativo do mau desempenho esportivo.

Mas para tudo há um limite. Uma coisa é você lançar uma campanha de engajamento após um rebaixamento à Série B. Outra é você ter de tentar amenizar a dor de ser o pior time do campeonato e estar à beira de cair pela terceira vez para a Segunda Divisão.

O melhor marketing para o Vasco da Gama, agora, é ficar à espera de um milagre. Mais ou menos como está o clube desde que a nau ficou à deriva, naquela queda de alambrado de São Januário em 30 de dezembro de 2000.


O futebol já está preparado para 2016?
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Erich Beting

A Vitton 44 dá cada vez mais indícios de que não seguirá no futebol em 2016. Isso significa, para o trio de clubes do Rio de Janeiro na Série A, possivelmente a perda do seu grande financiador nesta temporada (detalhes aqui).

E a pergunta que fica é. O futebol já está preparado para 2016? Setembro chegou. Com ele, as definições de planejamento e orçamento das empresas. E o futebol, já está no mercado conversando para projetos de patrocínio no ano que vem? Ou a preocupação é meramente com a posição do time na tabela?

Após o turbilhão que tem sido o primeiro ano do segundo mandato de Dilma, a tendência é de muito reajuste de orçamento e prioridades para o ano que vem nas empresas. Os clubes que não se anteciparem a esse movimento, certamente, terão na ponta da língua o motivo da crise para justificar a ausência de patrocínio em 2016.

Com cenário de crise, as empresas tornam-se mais precavidas na hora de investir. Isso significa gastar menos, ou concentrar mais o investimento em propriedades que dão mais exposição de mídia e/ou retorno em alcance de pessoas.

O futebol se enquadra perfeitamente nesse segundo cenário. Mas será que ele já começou a fazer o dever de casa para perceber quais marcas poderiam querer atuar com o esporte?

O Brasileirão ainda está no meio, mas o prazo para os clubes assegurarem o resultado financeiro de 2016 está chegando ao fim…