Negócios do Esporte

Arquivo : novembro 2015

Que Brasil queremos ser?
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Erich Beting

O final de semana prometia. As atuais campeãs e vice-campeãs mundiais estariam em Brasília para a disputa de um torneio amistoso de handebol. Desde o Mundial de 2011, esse talvez tenha sido o maior evento de handebol no país.

O Quatro Nações reuniu Brasil (campeão de 2013), Sérvia (vice), Argentina (campeã do Pan-Americano) e Eslovênia. O evento é um exemplo de como os gestores esportivos no país têm sido mais ambiciosos nos últimos anos. Não só eles têm se arriscado a realizar eventos maiores e mais atrativos para o público, mas têm feito algo com alto nível técnico, como prometia ser o último evento pré-Mundial da Dinamarca.

O esforço da confederação em trazer os países para jogar tinha sua compensação. Transmissão ao vivo pelo Sportv dos duelos, presença de público assegurada e, ainda, ações de ativação dos patrocinadores da CBHb, que conseguiam, assim, pegar carona pré-Mundial. O roteiro foi bem desenhado a ponto de o time brasileiro se encontrar com Dilma Rousseff durante a semana, entregar uma camisa para a presidente e ainda anunciar dois anos de renovação do patrocínio com os Correios.

Apesar de ainda depender de verba estatal, o handebol passou um recado de seriedade, de preocupação com o público, com os patrocinadores e com os atletas, que teriam a chance de estar “em casa” pré-Mundial, junto da família e num momento de celebração.

Mas…

Choveu em Brasília, e o ginásio Nilson Nelson, palco dos jogos, ficou encharcado. Sim, um ginásio que há sete anos recebeu R$ 15 milhões para reforma. Mas que, sem manutenção, tinha algumas goteiras que molharam a quadra. O jogo de abertura do Quatro Nações, na sexta-feira à noite, foi adiado para o dia seguinte, com o público recebendo o pedido de desculpas feito pelas jogadoras, ali na quadra.

Ou seja, as atletas tiveram de assumir a bronca pela falha grotesca no ginásio pago com dinheiro do torcedor e, com selfies, autógrafos e afagos, acalmaram os ânimos de torcedores mais exaltados (o ingresso para o jogo era 1kg de alimento não-perecível).

No sábado, novamente com as jogadoras em quadra, as goteiras foram contidas, mas a umidade no ginásio era tanta que, para manter a segurança das atletas, decidiu-se paralisar o Brasil x Eslovênia com 19 minutos jogados. Os jogos foram transferidos para um ginásio fechado e sem condições de abrigar câmeras para a transmissão pela TV.

No final das contas, o Quatro Nações, que tinha tudo para ser o torneio de promoção do handebol brasileiro, se transformou num amistoso fechado para as seleções, sem presença de público, sem transmissão da TV.

O descaso com o ginásio Nilson Nelson não é novidade. Em 2011, um Mundial de patinação foi suspenso pelo mesmo problema. Naquela época, eram só três anos que haviam se passado desde a reforma de 2008, feita para o Mundial de futsal realizado na cidade.

O ponto, porém, é que o problema não é só no Distrito Federal. Hoje, há menos de cinco ginásios em condições de receber eventos esportivos de alto nível no país. E, na lista, quase sempre ficam como opções Maracanãzinho, HSBC Arena e Ibirapuera, todos no concorrido eixo Rio-São Paulo de eventos.

O Brasil é capaz de pensar grande e realizar grandes feitos, como a realização de um torneio amistoso que envolve campeão e vice-mundial de uma modalidade. Mas o Brasil também é capaz de, por descaso, permitir que esse evento acabe simplesmente porque existem goteiras (!!!!) no principal ginásio da capital federal.

Qual o Brasil que queremos ser?

Aquele capaz de grandes feitos ou o Brasil de pequenos defeitos que insistem em nos colocar para baixo?


Marcas ainda deturpam o conceito de ativação de patrocínio
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Erich Beting

A final da Copa do Brasil entre Santos e Palmeiras motivou algumas ações de ativação de patrocínio feitas pelas empresas envolvidas com a competição. No ano passado, o jogo entre Atlético-MG e Cruzeiro motivou, da mesma forma, algumas ativações. Na sexta-feira passada, dia seguinte ao título brasileiro conquistado pelo Corinthians, também vimos alguns patrocinadores do Timão criando ações.

O movimento do mercado é legal, mostra que há uma evolução das marcas no que diz respeito ao entendimento da importância que tem não ficar estático na camisa do time ou na placa ao redor do campo quando investe um bom dinheiro para patrocinar.

Mas, quando deixam apenas para o “grand finale” suas ações, as marcas mostram um completo deturpamento do que é o conceito de ativação de patrocínio.

Na esteira de desenvolvimento do marketing esportivo, tivemos, nos anos 80, a exposição da marca como grande chamariz para uma empresa. Ao colocar seu nome estampado no uniforme dos atletas, dos árbitros ou na placa de publicidade que aparecia na TV, essas marcas ganharam grande exposição e passaram a ser mais familiares às pessoas. Era um jeito mais eficiente de dar publicidade à empresa.

O problema é que o mundo mudou consideravelmente desde então. Não só tivemos uma enxurrada de novas marcas como passamos a ter uma overdose de informação com a propagação da internet e, hoje em dia, com tudo ao alcance da palma da mão na tela de um telefone celular.

A exposição de marca que antes era um diferencial passou a ser banal. Não é mais a exposição que faz a diferença num patrocínio, mas sim o que a marca faz com ele. É assim que o esporte se promove e, ao mesmo tempo, a marca se envolve com o público de uma forma completamente diferente do usual.

E é esse o conceito que pouco se pratica no Brasil.

As marcas ainda prendem-se muito ao que era o patrocínio no passado. Elas não entenderam que não adianta muita coisa fazer uma ou outra ação pontual, geralmente no jogo mais relevante da competição. É exatamente nessa hora que temos uma explosão de informações sobre a partida, com muita novidade chegando para as pessoas. No final das contas, a ação passa a ser apenas mais uma, sem realmente marcar a cabeça do torcedor.

Logicamente que trabalhar um patrocínio durante todo o ano exige uma dedicação e um gasto de dinheiro bem maiores do que o que são feitos hoje em dia. Mas, no final das contas, tudo isso torna o patrocínio muito mais valioso para a marca.

Para ver esse conceito colocado em prática, basta olhar para a Liga dos Campeões da Heineken. Quer dizer… Liga dos Campeões da Uefa, mas que, graças ao trabalho constante da marca de cerveja, parece ser sinônimo uma da outra. Claro que tudo isso tem um preço. A Heineken investe cerca de US$ 60 milhões ao ano no patrocínio à Uefa. E coloca mais ou menos três vezes essa verba nas ações de ativação relacionadas ao evento.

Foi graças a esse investimento que a Liga dos Campeões da Uefa cresceu mundialmente, da mesma forma que a cerveja conquistou outros mercados. Patrocinado e patrocinador levaram e foram levados para outros mercados a partir dessa relação de ativação das propriedades.

Por aqui, as marcas preferem esperar a final do campeonato para tentarem fazer o torcedor se lembrar de que elas existem…


Mercado esportivo pode ter nova reviravolta
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Erich Beting

O anúncio da compra da Alpargatas pelos mesmos donos da Friboi (leia aqui) e a venda de Topper e Rainha para um novo grupo investidor (relembre aqui) devem gerar uma nova reviravolta no mercado de fornecimento de material esportivo no país.

Após a mudança de comportamento das duas gigantes (Adidas e Nike), da nova realidade após a saída da Vulcabras e dos novos rumos tomados pelo mercado nos últimos dois anos, o mercado de patrocínio a clubes e atletas pode sofrer uma mudança significativa.

É pouco provável que a Mizuno mude o caminho do investimento em corrida de rua e alguns poucos atletas e equipes de esportes olímpicos. Mas é muito provável que a Topper volte a brigar por um time de futebol de médio/grande porte nos próximos anos, já que o futebol é uma importante plataforma para crescimento de marca no país do futebol…

Curiosamente, o mercado de material esportivo começa a se reaquecer num momento de relativa baixa das marcas. Com a queda de vendas no varejo, as empresas têm tido cada vez mais dificuldade para obter retorno financeiro com as operações de patrocínio, especialmente no futebol, que foi inflado nos últimos dez anos.

O movimento, porém, mostra uma certa maturidade do segmento. As marcas já encontraram a fórmula para fazer o futebol ser um negócio. Mais do que colocar verba para garantir o clube, elas trabalham para ter o maior número de venda de produtos oficiais sem precisar colocar tanto a mão no bolso para isso.

Os clubes, por outro lado, têm entendido cada vez mais a necessidade de atuarem como parceiros comerciais das fabricantes, estimulando vendas, buscando soluções que vão além da tradição secular que os rege.

Ter dois novos atores no cenário das marcas esportivas, embora seja por meio de marcas tradicionais, representa uma nova mudança nos rumos desse negócio. Há dois anos, o futebol não percebeu que a Under Armour preparava a entrada no país e não desenharam a estratégia para fisgar a empresa.

Por isso mesmo, seria bom que alguns departamentos de marketing de clubes estivessem de olho no noticiário econômico nos últimos tempos…


Patrocínio não é publicidade. E as marcas deveriam saber disso!
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Erich Beting

O ruído provocado em torno da campanha da Lacta para promover o chocolate 5Star a partir do Vasco é a mostra cristalina de que patrocínio não pode ser confundido nunca com publicidade. Um erro que é recorrente no universo das marcas que decidem investir em ações pontuais no esporte é imaginar que a lógica que permeia a paixão pelo esporte é a mesma de um consumidor em busca de uma ação “divertida” feita por uma marca.

A campanha da Lacta com o 5Star procura brincar com situações que parecem impossíveis. O mote é dizer que, ao comer o chocolate, você alcança o impossível. Mas nos vídeos divulgados pela marca, a assinatura que sempre vinha após a peça era o “mas não”. Ao lançar a campanha “#VascoNoG16”, a Lacta tentou brincar com o mote da campanha do chocolate usando a situação do clube carioca na tabela do campeonato. Suprimiu, logicamente, o “mas não”.

A campanha vai ganhar prêmio em Cannes!

Mas não…

Quando a empresa entrega para a agência de publicidade uma ação de investimento em patrocínio esportivo, quase sempre esse é o resultado. Uma ideia divertida que se transforma numa grave crise para a marca. Já falei disso há três anos, quando a Zurich Seguros fez tudo errado numa ação com Santos e Palmeiras (relembre aqui).

A frase que usei para exemplificar o ocorrido daquela vez é a mesma que vale para agora.

“Aprender o limite que existe entre a paixão do torcedor e o engajamento de consumo é um dos maiores segredos das boas ações de marketing esportivo”.

O que a Lacta feriu, nesse caso, foi o amor do vascaíno. Em vez de a ação se tornar “engraçada”, ela se transformou numa espécie de tiração de sarro antecipada do clube.

E é isso que a publicidade não consegue entender. Na cabeça do torcedor, futebol não é brincadeira. O amor pelo clube é maior do que qualquer outra coisa, e isso exige de quem vai se comunicar com ele respeito. O maior erro que uma marca pode cometer é querer fazer graça com um time. O torcedor quer, sim, ser exaltado. Mas, de forma alguma, aceita que tripudiem em cima de sua paixão.

É impressionante como as empresas ainda acham que investir em esporte tem a mesma lógica de investir em publicidade. As marcas e suas respectivas agências de publicidade não entenderam que a margem para erro, numa ação de marketing esportivo, é praticamente zero.


Carta ao subprefeito de Itaquera
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Erich Beting

Caro sr. Mauricio Luis Martins.

Gostaria de pedir desculpas caso o artigo intitulado “Coisas do Brasil” publicado no Blog do Juca Kfouri tenha ferido de alguma forma sua honra. Revendo todo o processo de entrada da documentação necessária para a realização da segunda edição da Timão Run Caixa, corrida de rua do Corinthians, percebemos que houve uma falha da empresa contratada por nós para dar entrada em todo o processo burocrático relacionado ao evento.

Havíamos sido informados pela empresa de que o processo inicial de entrada para a prova fora feito no dia 14 de outubro de 2015, conforme protocolo enviado para nós.

Hoje, em reunião feita com o senhor, descobrimos que o processo havia sido feito de forma errada, tendo como única validade o protocolo de entrada para a licença da prova no dia 11 de novembro de 2015.

Dessa forma, não procedem as informações de que o processo de entrada feito em 14 de outubro se perdeu na burocracia do departamento, bem como não recolhemos em duplicidade a taxa de licença do uso de solo.

Agradeço todo o esforço feito pelo senhor para conceder o alvará de permissão para a prova.

Aposto que os 3,5 mil torcedores inscritos para a prova poderão desfrutar de um excelente momento de alegria pela iminente conquista do sexto título nacional pelo Timão.

Atenciosamente,
Erich Beting, jornalista, blogueiro do UOL e um dos organizadores da Timão Run


Crefisa evidencia o risco do patrocínio passional
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Erich Beting

Há cerca de dois meses escrevi por aqui que o patrocínio no futebol era guiado pela paixão (relembre aqui). Mais do que olhar um negócio, os executivos de empresa investem no clube por amor. Isso não significa que depois o acordo não se transforme num negócio, mas o primeiro passo só é dado pela paixão que algum executivo na empresa tem.

O risco que está embutido num patrocínio cuja decisão é guiada prioritariamente pela paixão é que, em algum momento, esse cordão que liga a relação se rompe de forma tão abrupta quanto o que os uniu. E o exemplo da vez nessa história é dado pela Crefisa, que soltou os cachorros para cima do Palmeiras, do presidente Paulo Nobre e da relação com o clube (leia detalhes aqui).

A polêmica entrevista dada por Leila Pereira, dona da Crefisa e da FAM, mostra o quão tênue é a linha que separa a decisão racional de patrocínio da passional. Ao procurar um veículo para reclamar publicamente do clube, a executiva mostra um tremendo despreparo para atuar com patrocínio esportivo. Isso fica claro quando Leila chega a ameaçar ir patrocinar o Flamengo, que dá “maior visibilidade”.

A resposta é sintomática. Ela mostra o quão irracional foi a decisão de patrocinar o Palmeiras e quão passional é o motivo que a mantém ligada ao clube.

Se está em busca apenas de exposição, a Crefisa deveria ter feito uma análise e percebido que o Palmeiras deixou de ser um time exibido pela TV aberta há quatro anos. Saberia que, se quisesse apenas exposição de marca, deveria procurar Flamengo, Corinthians ou São Paulo. Aliás, a afirmação não deixa de ser uma confirmação daquilo que já se sabia desde o início, que a Crefisa estava praticamente acertada com o São Paulo mas que, na última hora, seus executivos decidiram patrocinar o Palmeiras por serem torcedores do clube.

Na continuação da entrevista, Leila Pereira também mostra que a empresa dela faz, no patrocínio, exatamente o oposto do que rege o seu negócio!

Ao afirmar que a Crefisa tem dado dinheiro ao clube para investir em contratação de jogadores “de quinta categoria”, ela literalmente mostra que não faz, no patrocínio, o princípio básico de uma empresa de concessão de crédito. Por acaso não foi feita uma análise prévia da capacidade de reverter o investimento que seria feito?

Por fim, a entrevista é a prova da miopia das empresas – e dos clubes – na relação de patrocínio. Patrocinar não é assinar um cheque no fim do mês, muito menos investir diretamente na contratação de atletas. Mas não é só a empresa que erra. O clube não pode, em hipótese alguma, deixar insatisfeito um parceiro comercial que investe R$ 42 milhões em patrocínio, sem falar em contratação de atletas e melhoria de infraestrutura.

É inacreditável que o Palmeiras tenha simplesmente repassado um e-mail da Adidas pedindo permissão para criar uma camisa retrô sem a marca do atual patrocinador sem antes olhar o contrato de patrocínio. Impressiona, também, a incapacidade do clube que não monta um núcleo de atendimento a um parceiro que é responsável por quase 40% do faturamento da empresa.

A profissionalização do patrocínio no país só será possível quando as duas partes, patrocinador e patrocinado, entenderem qual o papel de cada um nessa relação. Os dois precisam enxergar o patrocínio sob a perspectiva do outro, buscando propor soluções de negócios que sejam boas para os dois lados.

Até agora, o Palmeiras só viu na Crefisa uma fonte de receita. E a Crefisa só viu no Palmeiras um veículo para exposição da marca. Como o vínculo que uniu as duas partes foi a paixão palestrina dos executivos da empresa, essa relação tende a ficar desgastada pelas frustrações dos dois lados pela falta de performance esportiva.

Esse é o grande risco do patrocínio passional. Não entender que a relação que une patrocinador e patrocinado precisa ser de geração de bons negócios para os dois lados…


F-1 voltou a ser esporte de nicho. É o adeus à TV aberta?
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Erich Beting

O Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 de 2015 entrará para a história como a pior audiência na TV aberta na história. O 15 de novembro que valeu a Nico Rosberg o vice-campeonato mundial reforçou a certeza da Globo, de que não há mais apelo para a categoria ter todas as suas etapas transmitidas ao vivo na TV aberta.

Os 10,5 pontos alcançados pelo GP Brasil (leia aqui) representa a mesma audiência que teve o GP do Canadá, até então a melhor performance da temporada 2015 da F1 na TV aberta. O que eles têm em comum? O fato de terem sido exibidos no mesmo horário, com largada às 14h.

O número acende a luz vermelha sobre o futuro da F1 na Globo. Sempre a prova brasileira rendeu os melhores índices para a emissora. Neste ano, apenas igualou o recorde. Isso significa, claramente, que a F1 não é mais um objeto de desejo do público em geral. Ela continua a ser um grande produto, mas voltado para um nicho, que representa, na melhor das hipóteses 10 a 12 pontos de audiência em seu melhor cenário.

Na linguagem da Globo, esse é o primeiro passo para que a Fórmula 1 deixe de ser enquadrada como um bom produto para a TV aberta. Sim, como bem frisou Felipe Massa pré-GP, não é apenas a audiência da F1 que está caindo. A TV aberta, como um todo, perdeu audiência. A mídia pulverizou e, assim, ficou ainda mais difícil emplacar qualquer produto na programação.

O nível de exigência para um produto se adequar à TV aberta é a cada dia maior. Não tanto no conteúdo, mas na aderência do público. O grande dilema nos últimos anos é exatamente como fazer com que esse conteúdo consiga ser aderente ao máximo.

Seguindo essa lógica, quando a audiência da F1 não consegue representar a liderança no Ibope e, mais ainda, quando não consegue sair de um determinado patamar de alcance de público, ela deixa de ser um produto com diferencial para ser exibido em TV aberta.

E aí é que entra todo o enrosco, que deixa o fã de F1 frustrado, mas que representa o retrato fiel da realidade da categoria no Brasil. A categoria vive, hoje, do público que é apaixonado pelo automobilismo. Ela não consegue mais atrair a atenção do não-fanático, do “modinha”, do cara que liga a TV simplificando a disputa na F1 para o “chegar é uma coisa, passar é outra completamente diferente”.

No começo dos anos 80, quando a F1 era restrita um nicho, a Globo decidiu, por um ano, abrir mão dos direitos de transmitir a categoria. Justamente naquela temporada Nelson Piquet foi vice-campeão mundial, e a F1 passou a entrar na era em que mais se transformou num produto de massa no país, com a dobradinha Piquet-Senna colocando quase sempre o país no lugar mais alto do pódio.

Hoje, em período de vacas magras em relação a pilotos carismáticos para o público em geral, a Fórmula 1 voltou a representar um nicho. Dificilmente ela conseguirá justificar a transmissão ao vivo de todas as suas etapas, ainda mais com boa parte delas ocorrendo em horários que são ruins para aumentar a audiência da televisão.

Nunca foi tão fácil para a Globo justificar a saída da F1 da sua grade. A única alternativa plausível para ela permanecer na programação é vender todas as cotas de patrocínio para a temporada. O que, a cada ano que passa, fica mais difícil de acontecer, já que a audiência derrapa a cada curva de um novo ano…


Alemães dão mais uma pista para explicar seu sucesso
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Erich Beting

A Bundesliga se transformou, de uns três anos para cá, em referência de modelo de negócios para diversas outras competições esportivas na Europa. A final da Liga dos Campeões entre Bayern e Borussia, em pleno estádio de Wembley, foi uma espécie de tapa na cara dos ingleses, que até então consideravam que nada superava a Premier League em termos de eficiência na gestão e qualidade nos times.

Nesta semana, na redação da Máquina do Esporte, chegou um relatório impresso sobre o impacto econômico que a Bundesliga gera na Alemanha. Feito pela consultoria McKinsey, o estudo aponta o quanto o futebol gera de empregos, injeta na economia germânica e, mais ainda, onde podem crescer suas fontes de receita.

Um dos itens levantados pela consultoria é os direitos de transmissão do Campeonato Alemão. Por enquanto, os alemães têm um torneio cujos valores de venda para o exterior são baixos quando comparados a Inglaterra, Itália e Espanha.

Como os alemães mudam isso? Uma das estratégias adotadas foi “exportar” o conhecimento sobre a Bundesliga. Os alemães têm mapeado os diferentes mercados em potencial e adotado estratégias agressivas de negociação. Isso fica claro quando um veículo brasileiro sobre negócios do esporte recebe o relatório que fala sobre os negócios do futebol na Alemanha.

Entre os inúmeros itens que temos levantado para tentar explicar o sucesso do futebol alemão, algo que saltou aos olhos nos 7 a 1 e na posterior conquista do título mundial, quase nunca destacamos a eficiência do marketing e promoção da Bundesliga, principal produto de exportação do futebol da Alemanha.

Há cinco anos a liga decidiu que precisaria começar a ganhar o exterior para incrementar as receitas dos clubes. Tudo isso para fazer com que uma receita não mudasse, a de venda de ingressos. Sim, os alemães não aceitam encarecer o custo do futebol para o torcedor ir ao jogo. E, assim, busca ampliar as fontes de arrecadação.

Hoje, não por acaso, mais de R$ 30 bilhões são injetados na economia alemã pelo futebol. A taxa de crescimento do segmento só não é maior que o de aeronaves. Os detalhes você pode conferir aqui. Se o futebol quiser sair da mesmice, vale, bastante, passar um período de aprendizado na Alemanha…


A 9ine rompeu com o UFC ou ele já não é bom negócio?
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Erich Beting

O pomposo comunicado divulgado pela 9ine ontem, anunciando que “rompia negociações com o UFC” é, na prática, muito mais um jogo de cena do que realmente uma preocupação de negócios da agência presidida por Ronaldo Nazário.

Em fevereiro de 2011, quando Ronaldo se aposentava dos gramados, sua agência dava o grande salto midiático ao anunciar um acordo para gerenciar os contratos de Anderson Silva, que começava a se transformar no grande astro do UFC também para o Brasil.

Nesses anos subsequentes, especialmente até 2013, quando Ronaldo se afastou da 9ine para embarcar no trem do Comitê Organizador da Copa do Mundo, Spider e 9ine faturaram bastante com patrocínios. O UFC, naquela época, tinha a política de permitir aos lutadores ostentarem marcas nos seus calções.

No melhor ano de Spider como negócio, a 9ine gerou cerca de US$ 6 milhões em contratos para o lutador. Nas lutas, os patrocínios que eram fechados pontualmente, renderam aproximadamente US$ 500 mil. O grosso da verba, naturalmente, veio dos acordos de longo prazo, como os assinados com Bud e Nike, entre outros.

O grande negócio para as marcas, naquela ocasião, não era aparecer no octógono, mas poder se aproveitar do prestígio de Anderson Silva para sua plataforma de comunicação. Foi a época em que Spider desafinava no comercial do Burger King, vendia seguros da HDI, lutava em comercial de cerveja, etc.

Qual o motivo, então, para a nova política do UFC atrapalhar os negócios da 9ine?

O UFC vive hoje um momento de reconstrução de marca. Chegou ao fim a era dos grandes heróis e vilões, personalizados em Anderson Silva e Chael Sonnen. Após os escândalos de doping que nocauteou algumas das maiores estrelas do MMA, a liga de lutas tenta se reinventar como negócio.

E isso significa, aqui no Brasil, um vácuo de exposição em mídia. Há quatro anos, Anderson Silva era o rei das aparições na TV entre os atletas. Com a queda do UFC em atrativos para o torcedor, especialmente nos dois últimos anos, os ídolos brasileiros foram desaparecendo da grande mídia.

Após o doping de Anderson Silva, o UFC reformulou completamente sua equipe de gestão no Brasil. Os eventos por aqui vão se tornar mais raros, porém mais atrativos. As ações promocionais nas lutas serão o grande atrativo para as marcas. E os ídolos serão pincelados a partir de pesquisas com o público. A geração que popularizou o UFC pelo mundo e principalmente no Brasil se aposentou, e o esporte passa agora por um momento de reformulação.

Muito mais do que a nova política de patrocínios do UFC, a 9ine sofre com a perda de atratividade do UFC para a grande massa. E isso torna muito mais difícil conseguir realizar fenômenos de mídia e patrocínio como Anderson Silva. A 9ine, assim como diversas outras agências que trabalham com lutadores, sofre muito mais pela falta de bons produtos comerciais do que pela baixa exposição de patrocinadores.

Até porque o próprio histórico de faturamento que a agência teve com Anderson Silva mostra que há muito mais atrativos para uma marca do que a exposição no octógono.


UFC tenta fazer o que Fifa e COI não conseguiram
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Erich Beting

A decisão da 9ine de se afastar das relações com o UFC é apenas mais um episódio envolvendo a atitude tomada em 2014 pela principal competição de MMA, quando anunciou um acordo com a Reebok. A revolta da 9ine é só mais uma. Nos EUA, a gritaria contra a decisão de fazer com que o atleta seja apenas um funcionário do UFC quando está dentro do octógono já é antiga.

Na prática, o que o UFC tenta fazer é algo que nem Fifa, nem COI, conseguiram. A liga de MMA quer fazer com que os direitos sobre a arena de luta sejam exclusivos dela. Ou seja, qualquer marca que for aparecer no octógono só pode se for parte de um negócio fechado pelo UFC.

A maneira radical com a qual o UFC trata o assunto tem explicação. Após a era dos grandes lutadores, o MMA vive hoje um vácuo de ídolos. Saiu a era dos brasileiros liderados por Anderson Silva e dos americanos comandados por Chael Sonnen e entramos num período em que Ronda Rousey é o maior expoente midiático do UFC, que claramente passou a apostar no apelo das lutas femininas.

O ponto é que o modelo de negócios do UFC é completamente diferente daquele que norteia o esporte. Os atletas são funcionários da liga. No período de consolidação do MMA, a geração de receitas tinha um caminho mais claro. O UFC ganhava em acordos de patrocínio e, principalmente, direitos de transmissão e pay-per-view, enquanto os atletas, além das bolsas de luta, tinham como receita os patrocínios pontuais e/ou acordos mais longos.

Só que isso causou um negócio em que o UFC perdia patrocínio para o próprio atleta contratado dele. A propaganda da Renault usando todos os principais lutadores brasileiros talvez seja o exemplo mais claro disso para o Brasil. Em vez de fechar com o UFC, a marca procurou os atletas e fez uma campanha com eles, voltadas para o país.

Agora, o UFC quer coibir exatamente esse tipo de atitude de seus funcionários. Assim, no octógono, apenas as marcas que são dele terão o direito de aparecer. É uma forma de melhorar a entrega para os patrocinadores, de profissionalizar a exposição das marcas e, consequentemente, de embolsar mais dinheiro.

O problema é que a primeira marca a entrar nesse novo esquema foi a de um fornecedor de material esportivo. E, ao fazer isso, a Reebok tirou dos atletas a chance de fechar o acordo que lhes é mais fácil de conseguir. Ao perderem essa fonte de receita, os atletas começaram a chiar.

Agora, sem poder mostrar outras marcas, os lutadores passam a reclamar ainda mais. Tudo, afinal, é uma questão de distribuição de receita. Na história das Olimpíadas e da Copa do Mundo, o artista ganhou a queda de braço. O problema, agora, é que o artista, no caso, é um funcionário contratado do UFC, e não um atleta que chegou até o octógono por índice técnico, em decorrência de seu desempenho esportivo.

A ruptura da 9ine é só mais um capítulo de uma briga que, nos EUA, até agora, tem o UFC como vencedor. O futuro apresenta três caminhos possíveis. A ruptura dos atletas e a criação de uma liga paralela que consiga se tornar um grande negócio como é hoje o UFC, a “vitória” do UFC, com os atletas aceitando buscar parceiros comerciais apenas para fora do octógono, ou então uma via de conciliação, que parece muito pouco provável dado o apetite da Reebok em reposicionar sua marca a partir do acordo com o UFC.