Negócios do Esporte

O choro, a explosão e o jeito errado de vermos o esporte

Erich Beting

Pedro Henrique chorou pelo erro cometido em um de seus primeiros jogos como atleta profissional de um clube do tamanho do Corinthians. Getterson foi e depois ''desfoi'' apresentado como reforço do São Paulo por ter usado, há cinco anos, quando tinha a idade de Pedro Henrique, seu perfil no Twitter para tirar sarro do Tricolor e exaltar o amor que tem pelo Corinthians.

Pedro Henrique foi prontamente consolado por Dátolo quando caiu no choro pela lambança contra o Galo. Pouco depois vieram Robinho e Fred acalmar o defensor corintiano, além de seus amigos do time. Mas foi o meia argentino o primeiro a perceber a necessidade de dar uma palavra a um colega de profissão, rival daquela noite, companheiro para o restante de todas as horas.

Getterson nem teve direito a defesa. Saiu sem nunca ter chegado. E coube a Edgardo Bauza resumir muito bem o lamentável episódio da não-contratação do defensor: ''O caso de Getterson não tem explicação lógica''.

Não por acaso, Dátolo e Bauza trazem uma visão diferente sobre o olhar que temos do futebol em relação a nossos vizinhos de fronteira.

Os dois sabem que o rival não é inimigo, que a bobagem de ontem será o aprendizado de amanhã. E que o futebol não pode ser tratado, principalmente, com desrespeito.

Errar é aprender. Mas, no futebol brasileiro, aprendemos errado. Mais do que torcer pelo nosso time, somos incentivados a odiar. Odiar o adversário, que é visto como inimigo. Odiar o árbitro, que é visto como conspirador contra o nosso time. Odiar a mídia, que assim como o árbitro é uma célula infiltrada em nome do inimigo.

Isso não vale só para o futebol. Esporte, no Brasil, é sinônimo de guerra.

Somos incentivados a odiar, mais do que a respeitar e admirar. Não torcemos pelo esporte bem disputado, honesto, justo. Torcemos pela aniquilação do outro, pela vitória nem que tenha de ser honestamente, já que ''roubado é mais gostoso''…

Por isso que somos incapazes de ter o olhar de um Dátolo ou um Bauza. Não fomos ensinados a isso. Não respeitamos o adversário. Vemos nele um inimigo que precisa ser aniquilado. Não é a grandeza do rival que nos torna grande, mas a nossa imposição, pela força ou pela arte, sobre o outro.

Getterson é uma vítima desse pensamento. Para ele, não adianta só torcer pelo Corinthians. É preciso menosprezar o São Paulo. O torcedor pensa assim, não é mesmo? A família, os amigos, os clubes e a mídia incentivam isso. Torcer pelo fim do outro, e não pelo bem do esporte.

Teremos, em menos de 50 dias, o evento que tenta ao máximo simbolizar a grandeza do esporte. Os Jogos Olímpicos são feitos de grandes histórias, mais do que de vencedores. Nos comovemos pelo nado cachorrinho de Eric Moussambani em Sydney. Pela não-queda da suíça Gabriele Andersen, 37ª colocada da maratona em Los Angeles-1984. Pelo padre que atropelou Vanderlei em Atenas-2004.

O esporte é feito de respeito às pessoas. Bauza e Dátolo, vindos de uma cultura diferente, sabem enxergar, no oponente, um símbolo de respeito. Getterson e Pedro Henrique, porém, são vítimas de um pensamento que procura primeiro encontrar culpados para o fracasso do que razões para a derrota.

Esse tipo de pensamento só incita o ódio e deturpa o princípio básico do esporte. Temos de aprender com o consolo a Pedro Henrique pelo erro cometido. Ou com a falha de Getterson antes mesmo de se apresentar para jogar num grande clube de futebol.

Rivalidade não é ter um inimigo, mas um adversário. Nem sempre será possível superá-lo, mas a grandeza de um é, necessariamente, a grandeza do outro. Em vez de exaltar o fracasso alheio, é preciso sempre procurar celebrar o próprio sucesso. Só assim encontraremos o caminho para crescer como sociedade.