Negócios do Esporte

São Paulo acertou e errou no “fico” de Maicon

Erich Beting

Em 2007, o Porto, de Portugal, se viu órfão de Pepe, zagueiro que conquistou o país ao apresentar um bom futebol que lhe valeu a ida para o Real Madrid e para a seleção portuguesa. Dois anos depois, o Porto conseguiu ''curar'' a ferida aberta com a saída de Pepe pela contratação de Maicon. O zagueiro chegou do Nacional com o status de ser do mesmo estilo do antigo capitão. Jogador que não afina nenhuma bola, joga sério, se impõe. Rapidamente caiu nas graças da torcida e foi apontado como o substituto de Pepe. 

No começo deste ano, desesperado na busca por um zagueiro, o São Paulo foi até o Porto e conseguiu trazer Maicon, que não era mais o líder incontestável da defesa do Porto, pelo contrário. Havia sido afastado depois de pedir para sair alegando contusão num jogo em que falhou bastante.

Sem dinheiro, assolado pela saída de um presidente acusado de corrupção e num clima político instável como nunca antes, o São Paulo fez o que podia. Empréstimo de Maicon até o fim de junho, quando possivelmente o clube estaria começando a disputar o Brasileirão após ter saído melancolicamente da Libertadores. O começo do Tricolor não era nada promissor, com derrota em casa para o The Strongest, da Bolívia.

Sob esse clima, Maicon chegou. Sem se esperar algo dele, com prazo de validade acordado, possivelmente o Tricolor teria ali um zagueiro para ajudar a não ficar tão feio o primeiro semestre de reconstrução do clube. Aí, Maicon jogou muita bola, foi fundamental na classificação do São Paulo à fase final da Libertadores contra o mesmo The Strongest e ajudou a levar o time de volta à semifinal da competição. 

O investimento de 6 milhões de euros mais a cessão de 50% dos direitos econômicos de dois atletas jovens do São Paulo para o Porto foi o negócio que dava para ser feito por um São Paulo pressionado para manter um jogador que se transformou em símbolo da ressurreição tricolor. 

Mas será que era necessário fazer isso?

A pressa e a pressão para contratar Maicon levaram o São Paulo a fazer um péssimo negócio. Sim, era impossível não ficar com o jogador, por tudo o que expus acima. Mas qual o preço que se paga por isso?

Quando faz uma aquisição de um jogador, o clube não pode agir com a cabeça de torcedor. Ele precisa colocar na mesa as diversas variáveis que existem. 

Maicon já está com 27 anos. Dificilmente terá mercado no exterior que faça o São Paulo recuperar esse investimento feito na aquisição do atleta. Sendo assim, o retorno que ele precisa dar ao clube é quase todo esportivo. Quase todo porque, pelo momento, há uma comoção do são-paulino em torno do zagueiro. E isso pode servir para gerar receita. Mas um dinheiro que é ínfimo quando comparado ao investimento feito em sua aquisição (R$ 22 milhões, pela conversão atual do euro). 

Esportivamente, como Maicon pode recuperar o investimento do São Paulo? Só a conquista da Libertadores não justifica a grana colocada no negócio. O título de campeão não paga os 6 mi de euros. Ah, mas tem o retorno maior de patrocínio, outras premiações, consumo da torcida, etc. Ok, pode até ser que, se somarmos uma premiação do Mundial de Clubes com um eventual resgate de credibilidade do clube, a conta feche.

Mas esse é o cenário 100% otimista que traz a contratação.

Se, em janeiro, o São Paulo não tinha dinheiro para investir em atleta, como pode, cinco meses depois, o clube ''encontrar'' R$ 22 milhões para trazer um zagueiro?

É essa a pergunta que mais incomoda em todo o negócio envolvendo Maicon. O patrocínio da Prevent Senior não gera esse dinheiro ao São Paulo. Da mesma forma, o programa de sócio-torcedor deve bater hoje essa arrecadação em um ano. O Tricolor, portanto, terá de recorrer a empréstimos para fazer a contratação. 

O expediente é o mesmo que o clube adotou nos dois últimos anos para contratar Wesley, Alan Kardec, Kaká, etc. E é o mesmo que levou o São Paulo a ser um dos clubes com maior dívida de curto prazo do país, tornando insustentável a gestão do clube.

A contratação de Maicon é um acerto pelo momento dentro de campo do São Paulo. Mas ela é um tremendo erro do ponto de vista de gestão do clube, algo que deveria ser a preocupação maior da diretoria nesse instante. 

É perfeitamente compreensível o esforço feito pela diretoria são-paulina para contratar o jogador. Mas é da mesma forma completamente condenável a atitude tomada pelos dirigentes. Cada vez mais a saúde financeira vai impactar no desempenho em campo no futebol do Brasil. E a falta de planejamento cobrará seu preço até para o clube que, há sete anos, era tido como o mais organizado do país…