Negócios do Esporte

Filas no Rio mostram imaturidade na gestão esportiva no Brasil

Erich Beting

As irritantes filas nas arenas olímpicas persistiram no segundo dia de Jogos. Na tentativa de encontrar os motivos para faltar comida, levar 1h para comprar um refrigerante ou comprar um item e ele ter acabado no tempo em que se esperava, o Comitê Rio 2016 argumentou que há uma ''falha operacional''.

A tradução para a frase é: ''imaturidade''.

O Rio 2016 mostra que não aprendeu absolutamente nada com a Copa do Mundo. Ou mesmo com a realização do Rio Open, desde 2014, na mesma Cidade Maravilhosa. Isso para não considerarmos Carnaval e Copa do Mundo na lista…

O espetáculo esportivo continua sendo encarado, por aqui, como algo que só tem um local para acontecer, que é dentro da arena. O espaço para a competição precisa estar em ordem. E só.

É exatamente essa visão antiquada de como se trabalhar o evento esportivo que o futebol começou a quebrar pós-Copa. Entendemos que não seria possível mais esquecer de olhar para o torcedor, a mídia, o patrocinador. Hoje eles também são importantes para o espetáculo. Não mais do que o atleta, sem dúvida, mas precisam ser bem tratados.

Foi assustador chegar ao Parque Olímpico ontem e me deparar com a logística de compra de alimentos e bebidas, tanto nas arenas quanto nas áreas de conveniência do local que mais recebe gente nos Jogos.

Todos os alimentos e bebidas são comprados num caixa único. Ou seja. Se eu quero uma pipoca, tenho de ir lá na mesma fila de quem quer uma água ou uma cerveja. E, depois, eu tenho de me espalhar pelos diferentes quiosques de entrega de produtos.

O responsável por pensar essa logística, muito provavelmente, nunca foi a uma festa junina de escola primária.

Em vez de pulverizar os canais de compra, concentra-se tanto a compra quanto a distribuição. Não precisa ter nem experiência em megaevento para saber que isso torna até mesmo a compra de cinco pessoas num mesmo lugar inviável.

O Rio 2016, preocupado em erguer ótimas arenas e dar o máximo de qualidade para os atletas, esqueceu-se de que o show também tem um importante ator. O torcedor foi simplesmente ignorado. Esquecem-se, os organizadores, que são eles que espalham a fama do evento.

Quem está em casa vendo pela televisão uma partida de basquete pode achar que o ginásio estava com muitos lugares vazios. Pois saiba que tem muita gente que está na parte interior da arena, há meia hora, esperando para pegar uma ficha, para então ir para outra fila, para pegar apenas um saquinho de pipoca…

E a organização está tão perdida na resolução do problema que continua a importar food trucks, não entendendo que o problema não é apenas a falta de produto, mas os canais de venda.

Muito provavelmente não falharemos como Atenas e o padre irlandês, ou como a  China no sumiço da vara de uma competidora no salto com vara que era favorita à medalha.

Mas erramos num princípio básico dos grandes eventos, que é causar uma ótima impressão para o torcedor levar adiante uma boa imagem dos Jogos e da cidade que o abriga.

As falhas na organização da alimentação dos torcedores são a prova de que seguimos imaturos na gestão esportiva aqui no Brasil…