Negócios do Esporte

A fabulosa história da briga do Guarani com a Schin

Erich Beting

O Guarani é hoje líder de seu grupo na Série C do Campeonato Brasileiro. Após anos de glória, o time de Campinas tenta resgatar um pouco de sua dignidade depauperada por anos e anos de gestões pavorosas que levaram o clube de primeiro campeão nacional do interior a um time praticamente desconhecido para além da região do interior paulista em que está inserido.

Na segunda-feira, o clube divulgou uma nota de repúdio contra o Instituto Própesquisas e a Brasil Kirim, fabricante de bebidas que tem, entre outras marcas, os refrigerantes Schin, patrocinador da Ponte Preta, rival histórico dos bugrinos em Campinas e que hoje disputa a Série A nacional.

O motivo da nota é uma pesquisa, encomendada pela Brasil Kirim e divulgada sem anuência da empresa, sobre o tamanho das torcidas dos clubes de futebol em Campinas. Terceira maior população no estado de São Paulo, Campinas é uma cidade que desperta o interesse das marcas. Com 1,1 milhão de habitantes, é daquelas cidades do interior paulista que concentra riqueza e ainda possui uma população jovem graças à presença de universidades.

Por isso mesmo, para um patrocinador de um time de futebol local, saber tamanho e concentração de torcedores por times é importante. Nesse mapeamento de mercado, a Brasil Kirim viu que o Corinthians é a maior torcida local, seguido de Ponte Preta, São Paulo, Palmeiras e Santos. O Guarani aparece em sexto lugar, dentro da margem de erro, empatado com os santistas.

Segundo o levantamento, 3% da população de Campinas é torcedora do Guarani, enquanto 20% se diz torcedora da Ponte Preta. O resultado causou indignação no Guarani, que propôs então um boicote de seus torcedores à Schin.

A atitude é patética. E ajuda a explicar um pouco o porquê de o Bugre hoje ser um time de terceira divisão nacional.

Mais uma vez, o clube mostra total desconhecimento sobre o que é e para o que serve uma pesquisa de opinião. Quando o Guarani tenta desmerecer a pesquisa por questionar 800 pessoas num universo de 1,1 milhão, afirmando que isso ''não retrata um panorama absoluto de uma cidade'', está simplesmente ignorando a base em que é feita uma pesquisa e a função de se dizer que há uma ''margem de erro'' em todo levantamento, já que ele nunca é capaz de abranger toda a população.

Outro tosco argumento usado pelo clube é o de que é impossível o Guarani ter apenas 3% do universo de torcedores de Campinas se, no domingo, contra a Portuguesa, 7 mil pessoas foram ao estádio. Sem considerar a margem de erro do levantamento, 3% de torcedores num universo de 1,1 milhão de pessoas representa 33 mil pessoas. Ou seja, com 7 mil pessoas no estádio, cerca de 21% do total da torcida do Bugre estaria presente. O argumento é totalmente inútil.

Se quiser fazer uma comparação mais tosca e menos estatística ainda, o perfil do Guarani no Facebook conta com 21 mil pessoas. O da Ponte Preta, com 235 mil. Será que também haveria uma nota de repúdio ao Facebook por isso?

Ao se direcionar dessa forma, colocando a torcida contra a Brasil Kirim, o Guarani afasta um potencial patrocinador do clube. Ao pedir explicitamente o boicote a produtos da marca, o clube pensa com a cabeça do torcedor fanático. Não seria mais fácil propor à Schin um trabalho específico com os torcedores do clube? Ajudar a resgatar o amor pelo Guarani, a comparecer ao estádio, a impulsionar as vendas? A marca poderia ganhar novos consumidores e o clube, certamente, teria algo a mais a ser oferecido para se aproximar da torcida.

Mas a pergunta que fica nessa fabulosa história é até mais simples. Será que o Guarani já fez alguma pesquisa recente para saber qual o tamanho de sua torcida? O clube sabe por que não se vê mais tanta camisa alviverde nas ruas de Campinas? Aliás, será que o Guarani tem ideia de quem é o torcedor do clube, o que ele consome, como ele se relaciona com o time, quando foi a última vez que ele foi ao Brinco de Ouro da Princesa?

A considerar como anda o desempenho dentro de campo do Guarani, o torcedor já deveria ter soltado sua nota de repúdio faz tempo…