Negócios do Esporte

Futebol é religião, não é esporte. Mas e o restante?

Erich Beting

A frase do título é uma espécie de mantra repetido por quem não trabalha com futebol. Quase sempre é usada essa ''desculpa'' de que é difícil trabalhar os outros esportes num país que tem o futebol como religião.

Mas a absurda ausência das camisas do basquete e do vôlei nas prateleiras em meio à disputa dos Mundiais das duas modalidades (leia os detalhes aqui) revela que a situação é ainda mais complicada.

Se o futebol está começando agora a descobrir o potencial da venda de produtos licenciados, é possível dizer que não existe uma indústria esportiva de fato no país. E a prova mais banal disso é que não existe qualquer vontade das próprias marcas em vender artigos de outras modalidades esportivas por aqui.

A situação é ainda mais absurda quando pensamos que, na semana passada, a mesma Nike que fabrica (mas não vende) as camisas do time de basquete do Brasil fez estardalhaço para anunciar que colocou à venda uniformes dos times de futebol americano no país.

Se um esporte que começa a ser consumido aqui via televisão já tem produtos à venda para o público, porque o basquete, que está entre as cinco modalidades mais consumidas no Brasil, não tem?

O problema não está apenas no fornecedor de material esportivo. Se o produto vendesse, fatalmente ele inundaria as prateleiras com ele. Falta, ao gestor do esporte, preparar sua modalidade para ser uma potência econômica. Pode ser pequena, mas precisa dar resultado financeiro.

O esporte precisa saber quem é seu consumidor e de que forma ele pode consumir aquela modalidade. Isso significa dar acesso à modalidade na televisão, permitir que se tenha acesso a diferentes produtos, ter um campeonato atraente, etc. Não é só montar um time competitivo para ter performance que vai garantir todo o restante. É preciso fazer com que tudo funcione em conjunto. Do contrário, o negócio não deslancha.

Enquanto os outros esportes se esconderem na desculpa de que o futebol é uma religião e de que nada mais do que isso funciona no país, continuarão a viver de sobressaltos, sem de fato construir uma gama de clientes interessados em consumir aquela modalidade.

Futebol é religião no Brasil porque o esporte se transformou em algo maior do que até mesmo ele tem capacidade de ser. Os outros esportes não podem, por outro lado, ficarem escondidos nessa desculpa para não buscarem o seu consumidor. Todo fã de esporte tem uma modalidade que acompanha religiosamente. A questão é quem comanda o esporte saber quem são essas pessoas e se preocupar em atrair novos consumidores.