Negócios do Esporte

Os estádios estão meio cheios ou meio vazios, afinal?

Erich Beting

Nunca antes na história do Campeonato Brasileiro os clubes faturaram tanto com bilheteria nos estádios. A conta, em valores brutos, é de que o Brasileirão de 2014 arrecadou R$ 214 milhões e uns quebrados com a venda de ingressos (detalhes aqui). É um ótimo desempenho, se formos pensar que, há dois anos, a arrecadação não chegou a R$ 150 milhões.

Mas, olhando na lupa, será que realmente o desempenho está ótimo?

O fato é que, nas novas arenas, a arrecadação recorde não significa necessariamente público recorde. Pelo contrário. Os novos estádios, que são em boa parte responsáveis por injetar mais dinheiro na economia da bola, seguem sem um bom aproveitamento dos espaços disponíveis.

Neste Brasileirão, foram oito estádios novos sendo utilizados com bastante frequência pelos times: Arena Corinthians, Arena da Baixada, Arena do Grêmio, Beira-Rio, Itaipava Arena Fonte Nova, Itaipava Arena Pernambuco, Maracanã, Mineirão. Além deles, o Mané Garrincha abrigou algumas partidas e, recentemente, o Allianz Parque teve dois confrontos do Palmeiras.

O saldo é curioso. As novas arenas foram responsáveis por gerar R$ 151 milhões dos R$ 214 milhões que o Brasileirão levantou em 2014. É cerca de 70% de tudo o que foi arrecadado. Em relação ao público, a proporção é um pouco menor: dos 6,336 milhões de torcedores que pagaram para assistir a jogos do Brasileirão, 57% deles estavam presentes nos jogos disputados nas novas arenas.

E aí entra o ponto crucial da história.

Esses 3,6 milhões de torcedores que foram ver os jogos nas novas arenas poderiam ser, pelo menos, o dobro disso. Os novos estádios, à exceção de Arena Corinthians e Beira-Rio, não conseguiram atingir 50% de toda a sua capacidade. O que explica essa situação?

A primeira resposta, é claro, é a precificação dos ingressos. O torcedor não tem condições de pagar os salgados preços cobrados nas novas arenas. Não a cada jogo, sem que haja uma mudança de valores conforme o grau de importância da partida.

Os sinais mais evidentes disso foram o Mineirão quase sempre com a parte mais nobre do estádio vazia por causa de uma política absurda de preços implementada pelo Cruzeiro e o ''Setor Oeste'' da Arena Corinthians, que não consegue receber gente e fica ''escondido'' da imagem da televisão, dando a falsa impressão de que o estádio está uniformemente abarrotado de gente.

Na lógica ilógica da cartolagem, mais vale muito dinheiro na mão com pouco público do que muito dinheiro na mão com alto público. O argumento de que ''com mais gente o custo do estádio é maior'' é absolutamente infundado, já que é possível chegar a um preço ''ótimo'' dentro dessas circunstâncias de modo a atingir o máximo de faturamento sem precisar esfolar o bolso do torcedor.

O que se viu nesse Brasileirão foi o estádio meio vazio, em vez de completamente cheio.

Acomodados sob a lógica de que o estádio é ''novo'', os clubes aumentaram bastante o valor cobrado pelo bilhete. Com isso, perderam uma ótima oportunidade de arrecadar ainda mais. Pelos números coletados nos 156 jogos disputados nas novas arenas, seria bem provável conseguir encher os estádios cobrando cerca de 40%  a menos no valor dos ingressos. Isso poderia representar cerca de 10 a 15% a mais de receita para os clubes, mesmo tendo de gastar um pouco mais para abrigar mais gente nos estádios.

Isso sem falar no apelo que traz um estádio lotado para a imagem do evento e, também, do aumento paralelo de consumo que acontece quando se coloca mais gente no estádio.

Se o Brasileirão de 2013 serviu de teste para começar a entender como os novos estádios podem ser trabalhados, o de 2014 deveria servir para se concluir o óbvio. É só começar a cobrar um preço mais adequado à baixa qualidade do jogo de futebol apresentado que a receita com bilheteria só tende a aumentar…